quarta-feira, 4 de julho de 2007

SÉRIE RELIGIÕES






















PREFÁCIO

Com esta postagem pretendo abrir uma série de outras tratando do assunto religiões.

Tentarei abordar de forma historico-conceitual, porém nao respeitarei a ordem temporal das crenças.

O tema de abertura é o paganismo, uma vez que dentro dela está uma das manifestações mais antigas da conexão do homem com o divino.

O material na Internet é abundante, e terei de fazer coletâneas daquilo que é relevante de modo a esclarecer cada um dos temas abordados.

Devo admitir que a pessoa que me incentivou a realizar tal empreitada foi o PR Douglas Reis com o Artigo que trata sobre o Jesus histórico, o qual faz parte desta abordagem.

Este trabalho não tem a pretensão de ser um tratado, mas de esclarecer as diversas nuances das principais crenças humanas.

Qualquer fonte que possa enriquecer essa empretada será bem vinda.

Boa leitura a todos.

O PAGANISMO

1- INTRODUÇÃO

A palavra pagão tem origem no latim "paganus": Literalmente, "homem do campo", "camponês" ou "aldeão".

O conceito atual, sinônimo de politeísta, de "idólatra", de "não crente" em Cristo, procede da época imperial Romana, na qual, o cristianismo se converteu em religião oficial do Império.


2- O CONCEITO:

Paganismo é, em verdade, um termo designado, formalmente, à caracterização de alguma religião embasada estirpicamente, a representar a ausência de um profeta.

Apesar da difusão errônea (de que "paganismo" denotaria cultura e ramificações étnicas certeiras), a etmologia expõe o termo latino paganus, como sendo diretamente relacionado à terra e agricultura. Sendo, portanto, Paganismo termo apenas classificativo, quanto a ausência de um profeta, mostram-se pagãs todas religiões de tal característica, podendo ser, entre elas, bastante distintas e contrárias (em quaisquer aspectos). A união pagã, apenas ocorre por partilharem a ausência de um profeta.


3- A CULTURA:

Paganismo significa uma série de tradições marcadas pela devoção à natureza e a crença em vários deuses. Teve suas origens na pré-história onde vários povos praticavam rituais à natureza, pois acreditavam que a Terra era sagrada e seus elementos eram associados à divindades.

Realizavam sacrifícios, oferendas e festivais para homenagear os deuses e também para receber o novo ciclo da natureza.
Majoritariamente (principalmente as ramificações germânicas e célticas), os troncos religiosos pagãos (em maioria europeus) mostram-se lineares quanto a algumas características:

1. Por sua raíz paleolítica, dos tempos de grupos nômades de caçadores-coletores, a principal característica é, sem dúvida, uma forte ligação à terra, à natureza, tida como sagrada e viva.
2. Por sua origem matrifocal, há um sentimento bem claro de corresponsabilidade entre todos os membros da comunidade, ligados por laços de parentesco a uma Ancestral comum - a Grande Mãe.
3. Esse sentimento de ancestralidade é partilhado também com a Natureza e particularmente com os seres-vivos, levando a um fundamental respeito a todas as formas de vida e existência.
4. Por isso, a cultura pagã tem uma relação mágica com a natureza, o que inclui a sexualidade.
5. Noção cíclica do tempo, a partir da ciclicidade dos fenômentos naturais (estações, lunação, movimentos do sol, etc), em contraste à noção linear das culturas de matriz abrâmica...
6. ... e o consequente sentimento de profunda responsabilidade e parceria com a Natureza, tornando os humanos corresponsáveis pela continuidade do círculo.
7. O que, por outro lado, também leva a um profundo respeito pelos antepassados, que sacrificaram sua vida para que a comunidade continue a existir; o que inclui um certo tradicionalismo na produção econômica e nos costumes sociais.
8. Organização social baseada na partilha e na fraternidade.
9. Organização politica matrifocal, onde a rainha e/ou a sacerdotisa é uma função permanente e hereditária, que confere, por associação, legitimidade ao rei.
10. Desenvolvimento de uma medicina natural, baseada nas qualidades curativas das ervas, e xamânica, baseada no poder fértil da Natureza e na relação mágica com a realidade.

Havendo uma enorme diversidade cultural entre as milhares de religiões pagãs, tais características ilustram, apenas, algumas poucas correntes semelhantes. Podendo, de fato, não representar respeitosamente as demasiadas características pagãs de todos continentes e sim de algumas específicas áreas históricas e geográficas.


4- A RELIGIOSIDADE

Dos pontos comuns a todas as sociedades da Cultura Pagã, surgem as características das religiões pagãs, ou seja, dos esquemas que dão forma e concretude à espiritualidade pagã. Talvez possamos listar, com pouca margem de erros, as seguintes:

1. Talvez a principal caractetística da religiosidade pagã seja a radical imanência divina, ou seja, ela se encontra na própria Natureza (o que inclui os humanos), manifestando-se através de seus fenômenos.
2. uma religiosidade baseada no feminino, representado pela Grande-Mãe.
3. O masculino surge a partir dessa referência feminina básica, como filho e consorte e, portanto, só conhecido a partir da Deusa. Talvez por isso a maioria dos povos pagãos não tenham desenvolvido a noção de um "Deus-Pai", embora vejam o Deus como provedor e como educador.
4. A ausência de dualismo, ou seja, não têm noções de opostos e/ou complementares (bem x mal, céu x inferno, matéria x espírito, etc, etc).
5. A ausência desse dualismo também leva à ausência da noção de pecado, inferno e mau absoluto. Como a relação com os deuses é sempre pessoal e direta, a idéia de uma afronta à divindade é tratada também pessoalmente, ou seja, entre o cidadão e a Divindade ofendida. Assim, sem noção de pecado, também não há noção de inferno.
6. A sacralidade da Terra também levou à ausência de templos, o que, no entanto, não impede a noção de Sítios Sagrados, em geral bosques, poços ou montanhas. Templos pagãos são um desenvolvimento muito posterior.
7. A imanência dos deuses e a ideologia da ancestralidade divina, confere à divindade características antropomórficas e as relações tendem a ser de igual para igual, o que pode incluir discussões, brigas, xingamentos, ameaças, etc.
8. O calendário religioso se confunde com o calendário sazonal e agrícola, o que lhe confere um caráter de fertilidade. Portanto, as festividades acontecem nos momentos de mudança e auge de ciclos naturais.
9. Essas relações pessoais humanos-deuses, leva à ausência de dogmatismos e/ou estruturas religiosas padronizadas, havendo, pois, uma grande liberdade de culto: cada cidadão tem liberdade de cultuar dos Deuses em sua casa, da forma que desejarem. Basicamente, é uma religiosidade doméstica ou de pequenos grupos com laços de sangue ou de compromisso. No entanto, os Grandes Festivais são sempre rituais comunitários, pois comprometem todos os membros da comunidade.
10. A relação mágica com a Natureza obviamente se traduz numa religiosidade mágica.
11. A sacralidade da Natureza torna todas as religiões pagãs em religiões de comunhão, ou seja, que não visam dominar a Natureza, mas harmonizar-se com ela. Por isso, também são religiões intuitivas e emocionais. Em geral, os pagãos não "pensam" sobre sua espiritualidade; eles simplesmente a vivenciam.
12. O respeito aos ancestrais e o tradicionalismo que isso implica, faz das religiões pagãs uma experiência de continuidade na egrégora ancestral, ou seja, a repetição dos mesmos ritos, na mesma época, cria a união mística com todos aqueles que já celebraram antes. Nesse momento, o tempo é rompido e se estabelece uma relação mágica com ele também: a repetição do rito torna presente o momento primevo de sua realização e todos aqueles que, ao longo dos séculos, dele tenham participado.
13. A perspectiva cíclica do tempo dá a certeza do eterno retorno. Embora alguns povos tenham desenvolvido a idéia de um "Outro Mundo", a vida pós-morte nunca foi um ideal pagão, pois isso significaria ficar fora do ciclo e, portanto, da comunidade. Assim, o "Outro Mundo" (para aqueles que desenvolveram essa idéia) será apenas uma passagem entre uma vida e o renascimento. O encontro com a Deidade se dá sempre na comunhão com a Natureza, e não no Outro Mundo.

Obviamente, diferentes povos da Cultura Pagã desenvolveram suas liturgias e costumes religiosos típicos, locais e ancestrais, o que pode aparecer como "diferenças" entre religiões. No entanto, essas características básicas permanecem, pois são típicas do Paganismo.


5- TIPOS DE PAGANISMO

Paleo-Paganismo: É o pai do paganismo, uma cultura pagã que no havia sido destruída pela "Civilização e/ou por outra cultura -- Os aborígenes australianos modernos (que provavelmente se converteram em meio pagãos. A antiga religião céltica (Druidismo), as religiões de cultura prepatriarcal da antiga Europa, a antiga religião Norse ou nórdica, religiões nativo-americanas pre-colombinas, etc.

Cívico-paganismo: As religiões das comunidades que envolveram as culturas paleo-pagãs Religiões Clásica Greco-Romana, Religião Egipcia, paganismo do Oriente Medio, Religião Aateca,etc.

Meso-Paganismo: Um grupo, pode ou não constituir uma cultura separada, que foi influenciada por uma cultura conquistadora, mas que pode manter uma prática religiosa independente-- muitas nações Nativo Americanas,etc

Sincreto-paganismo: Similar au mesopaganismo, mas estando submergido a si mesmo na cultura dominante, e adotando as práticas externas e símbolos de outra religião--as varias tradicões Afro-diasporicas (Vudu, Santería,etc.)Cristianismo Culdee,etc.

Neopaganismo: tentativa das pessoas modernas para reconectar com a natureza usando imágens e formas de outro tipo de pagãos, mas ajustando-o ás necessidades das pessoas modernas.


6-CURIOSIDADES

O termo pagão surgiu nos últimos tempos do Império Romano, mas o conceito em que se baseia provém do judaísmo. Os hebreus estabeleciam uma nítida divisão entre o povo eleito por Deus, e os gentios, que posteriormente seriam denominados pagãos. A distinção não era étnica ou política, mas fundamentalmente religiosa; os gentios eram "os povos que não conhecem Iavé". O povo de Israel era o depositário das promessas de Deus, mas as nações poderiam também alcançar essas promessas com o ingresso na comunidade religiosa de Israel. O judaísmo alexandrino foi particularmente aberto nesse sentido, como mostra a tradução grega da Bíblia.

Os primeiros cristãos herdaram dos judeus a idéia de que a salvação estava reservada aos que pertenciam ao povo de Deus mas, na medida em que se estenderam pela Anatólia, Grécia e Roma, acentuaram o sentido religioso dessa pertinência. "Os que são pela fé, são filhos de Abraão" escreveu aos gálatas Paulo, que se proclamava apóstolo dos gentios, enviado para evangelizar as nações -- porque os caminhos de Deus levariam à salvação final de todas elas, reunidas com Israel no povo de Deus.

A Partir do século IV, o cristianismo se tornou religião oficial em Roma. Apesar disto, muitos continuaram fiéis ao seus Deuses e Deusas. Os habitantes do campo eram chamados “paganus” e por não terem aderido ao cristianismo passaram a serem perseguidos a forçados a conversão. A partir desta época todo aquele que não fosse cristão era considerado “pagão”. A transição da Antiga Religião Pagã para a Religião Cristã, aconteceu durante um longo período. Nenhum pagão tornou-se cristão do dia para a noite. Os aristocratas foram menos resistentes, porque percebiam o poder da nova crença, mas os habitantes dos campos (paganus), recusaram-se a aceitar a nova fé. Os sacerdotes do cristianismo passaram a adaptar as festas pagãs. Alguns templos pagãos, pouco a pouco, foram usados pela Igreja. A Igreja Cristã foi se tornando uma poderosa instituição. O que ela não podia destruir da Antiga Religião ela adaptava, trasformando crenças pagãs em cristãs. Foi assim, por exemplo, o que a Igreja fez com o Natal. Nesta época os Romanos festejavam Saturno. Com o tempo, os camponeses começaram a aceitar a doutrina que falava de Jesus, um homem que havia se pendurado numa cruz em favor de seus fiéis. Ele lembrava o Deus Odin que havia se pendurado uma árvore para adquirir a sabedoria das Runas. Com o tempo passaram a associar Maria, mãe de Jesus à Mãe Terra. Durante um período, houve uma fé dupla: acreditavam no novo Deus cristão, mas não abandonavam suas crenças. Sabe-se que muitas orações cristãs foram criadas, baseadas em encantamentos pagãos. Algumas invocavam Jesus e diversos santos e deuses Celtas, à um só tempo. A influência do cristianismo faz-se sentir nas inscrições em que se nota uma clara mistura das duas crenças quando lemos em uma mesma pedra a invocação de proteção ao Deus Thor e, ao mesmo tempo, ao Deus cristão. Não vamos pensar que tal dominação ocorreu de forma pacífica ou rápida. Na verdade, a Igreja Cristã nunca conseguiu extinguir, de fato, as crenças classificadas por ela como pagãs. No final do século XIV, começou a temporada da perseguição aos pagãos, às Bruxas e a tudo que era contrário às crenças cristãs. Durante quase 400 anos, muitas pessoas morreram acusadas de prática de bruxaria.


7 NEOPAGANISMO

O Neopaganismo é um sistema de credos bem diversificado, e tende ao sincretismo, tomando de empréstimo mitos e divindades das mais variadas fontes, muitas vezes sem relação histórica entre si. A ênfase do Neopaganismo na liberdade individual de culto, no entanto, tem como conseqüência a criação do que pode ser descrito como uma religião de caráter altamente pessoal. Isso leva à impressão de que existem tantos credos pagãos quanto seguidores dos mesmos.
Apesar de muitos associarem o Neopaganismo com os cultos Nórdicos e Celtas,este possui uma tremenda variedade de religiões variadas...dentre elas existem até religiões que se Entrelaçam,tendo também vários traços Cristãos,e só não sendo aderidos à este por conter em seu conteúdo termos mais "complexos" e diferenciados das demais. Os Panteões tradicionais no Paganismo são os Europeus , por ter sido o berço das suas crenças.

Obs.: Vale lembrar que na história antiga temos fortes registros que o fundamento paganista e contos tem forte influência no cristianismo , sendo que na conquista católica muito destas culturas foram adaptadas no passado e ainda nos dias atuais , com o objetivo de facilitar a implantação ao culto cristão (que sofre influência de uma cultura onde o homem é o centro religioso, como no oriente médio e demais regiões em que a figura feminina não tinha participação).
Sendo assim o Neo-Paganismo busca a união destes valores religiosos Europeus anterior ao período cristão , com a proposta de resgatar valores originais antes da chegada de outras culturas.


FONTES CONSULTADAS:

http://www.fortunecity.com/roswell/price/138/hispagan.htm
http://www.cacp.org.br/paganismo.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Paganismo
http://www.alunosonline.com.br/religiao/paganismo/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Neopaganismo

Quem foi Jesus?

Uma análise resumida do que os escritores antigos dizem sobre Ele.

Por Pr. Douglas Reis





















A chamada "busca do Jesus Histórico" demandou 200 anos de estudos acadêmicos, desde que H.S. Reimarus teve seus estudos postumamente publicados, em 1778.

Tal empreendimento criticava a historicidade da Bíblia, buscando separar o "mito" bíblico de quem realmente foi Jesus.

É claro que houve uma forte influência do racionalismo por detrás. Afinal, os teólogos não podiam conceber um Jesus que realizasse a espécie de milagres que a narrativa canônica lhe atribui, apesar de não duvidarem que alguém chamado Jesus realmente teria existido.

Após o período em que, pelas mãos de Harnack e outros liberais do século XIX, Jesus tinha ganho contornos contemporâneos, Albert Schweitzer publicou The quest of the Historical Jesus.

Neste volume, Schweitzer refutou as vidas de Jesus que haviam sido escritas, reconhecendo que Jesus foi alguém diferente do homem moderno.

Curiosamente, quase no mesmo período, a religionsgeschichtliche Schule realizou estudos paralelos sobre a influência que os primeiros cristãos sofreram de mitos pagãos ao "construírem" o Jesus milagroso do Novo Testamento.

Em anos posteriores, já não se podia considerar (falando da perspectiva da crítica de forma) quase que nenhum Evanfgelho como digno de confiabilidade histórica!

Em resumo, podemos dizer que imperava a idéia de que a tradição oral a respeito de Jesus sofreu adições posteriores, justamente para se adequar às necessidades da igreja primitiva; além disso, os evangelistas teriam incorporada mitos pagãos ou sofrido a influência deles ao escreverem sobre Jesus, chegando alguns teólogos (Rudolf Bultmann, em destaque) a abolir a possibilidade de milagres, concluindo que muito pouco nos evangelhos seria histórico (na concepção moderna do termo).

Um detalhe: nem todos os críticos de forma (os mais radicais) mantinham as mesmas posições de Bultmann, apesar de suas idéias terem grande repercussão.

Pense um pouco: se realmente formos excluir os milagres de Jesus, suas declarações de divindade e duvidar dos eventos neo-testamentários que nos pareçam impossíveis de terem tido lugar, o que sobraria do Novo testamento seria um volume muito escasso!!

O próprio Bultmann realizou o feito em seu Jesus and the world (1934), trabalho que em forma de um folheto(!).

O interessante é que todo esse trabalho exegético, baseado em pressupostos listados anteriormente, tornam ainda mais inviável saber quem foi Jesus; porque, se duvidamos do Novo Testamento, como provar que Jesus de fato existiu?

Há referências dentro da história a Sua Pessoa? E como analisar a historicidade do Novo testamento e testar sua credibilidade?

Sobre referências extra-bíblicas a Jesus: além de Josephus, há outras, que devem ser devidamente consideradas.

Nenhum escritor romano das décadas próximas a Cristo - Velleius Paterculos (década de 30), Fedro (década de quarenta), Sêneca, Lucano, Gaio Petrônio, Pérsio, Plínio o Velho, Ascônio Pediano Cursio Quinto (décadas de 50 e 60), Tácito, Josefo (década de setenta e oitenta), Estácio, Quintiliano, Juvenal (década de 90) - teria realmente interesse em escrever em Cristo e sua história ocorrida em uma província problemática de Roma!

Mas há outros a serem considerados, que mencionam Jesus em seus escritos: Thallus e Phlegon, o próprio Josefo, Plínio, o jovem, Cornélio Tácito, Adriano, Suetônio, Luciano de Samosata, Mara Bar-Serapion.

Thallus:

apesar de seus escritos não terem sobrevivido até nossa época, é um dos primeiros a citar Jesus; sobreviveram poucos fragmentos de suas obras e citações destas existem na patrística (os escritos dos chamados "pais da igreja", escritores e líderes cristãos dos primeiros séculos).

Provavelmente, ou Thallus escreveu na década de 50 ou no final do primeiro século. Ele se refere à cruz e ás trevas que a acompanharam.

"Thallus, no terceiro livro das suas histórias, explica esta escuridão como um eclipse do sol - sem justificativa, em minha opinião", relatou Júlio, o Africano, em cerca de 221 a.D. (cf.: Justino Mártir, Primeira apologia).

E, de fato, não existe eclipse solar por ocasião da Lua cheia, como foi a Páscoa em que Cristo morreu. Thallus também se refere a este evento como tendo ocorrido em 29 a.D.; provavelmente, ele desloca a data buscando uma explicação naturalista para a escuridão que acompanhou o evento.

Phlegon, em cerca de 140 a.D., escreveu obra similar a de Thallus, discorrendo sobre o mesmo evento (as trevas durante a crucificação).

Outro escritor romano, Philopon, no 6° século, disse "E sobre estas trevas... Phlegon as recorda nas Olympiads (título de sua história)".

Apesar de termos certo cuidado ao nos referir a Phlegon, que apresenta algumas inexatidões em seus relatórios, e, embora seja cedo para querermos concluir algo, o que as referências nos sugerem é que o relato da crucificação não era posto em dúvida, nem mesmo que um estranho fenômeno acompanhara o evento - trevas - para o qual buscou-se explicações razoáveis.

Sobre Josefo, quero dedicar mais tempo posteriormente.

Plínio, o jovem (Plinius Secundus): em carta ao imperador trajano, fala dos cristãos em sua província; escrita provavelmente em 112 a.D. (quando Plínio era governador da Bitínia), fornece informações sobre o cristianismo. Vou tentar citar a parte mais importante para o nosso assunto, pois o documento é bem extenso!














Jesus segundo construção
a partir do sudário





Vamos lá:

Eles afirmam, porém, que toda a sua culpa, ou o erro, era terem o hábito de se reunir num certo dia fixo, antes do amanhecer, para cantar em versos alternados um hino a Cristo, como se fosse um deus, e se comprometerem com juramento solene, a não realizar qualquer ato perverso, jamais cometer qualquer fraude, roubo ou adultério, jamais faltar à sua palavra, ou negar uma promessa quando chamados a cumpri-la [...]"

Muitas coisas, dentro do documento, que infelizmente, parece ser extenso demais para ser citado na íntegra, confirma dados do Novo Testamento, dando veracidade histórica ao quadro das igrejas apresentado pelo NT.

Mas o que ele acrescenta para nós? Além de mostrar que para os primeiros crentes Jesus era considerado Deus, ele demonstra de forma impressionante que dentro dos primeiros 80 anos de cristianismo algumas pessoas estavam tão convencidas a respeito da morte e ressurreição de Cristo a ponto de enfrentarem as autoridade romanos e darem até sua vida por causa disto.

Antes de continuar, quero dizer que me senti em falta: o tempo foi contra mim ontem e não pude realizar aquilo a que me propuz. Obrigado, de antemão, pela compreensão!

Deixe-me saudar o meu débito:

Cornélio Tácito:nascido ao redor de 52-55, é tido como um dos mais dignos de crédito entre os historiadores da Antiguidade, especialmente pelo raro senso de acuidade ao examinar as fontes.

Em seus Anais, c.c.116 a.D, fala do incêndo de Roma, obra de Nero. Vou procurar citar um trecho que acredito estar mais dentro de nosso assunto:

"[...] Por consequinte, Nero, para se livrar dos rumores, acusou de crime e castigou com torturas exageradas aquelas pessoas, odiosas por suas práticas vergonhosas, a quem o vulgo chama cristãos. Cristo, autor desse nome, foi castigado pelo procurador Pôncio Pilatos, no reinado de Tibério; e a fatal superstição, reprimida por um pouco, irrompeu novamente, não só na Judéia, sede original desse mal, porém por toda a cidade [Roma], para onde de toda parte tudo quanto é horrível ou vergonhoso aflui e cai na moda."

O estilo da passagem tem sido apontado como o de Tácito, e não há razões suficientes para duvidar da autenticidade do documento.

Provavelmente, Tácito "atualiza" os títulos oficiais, empregando as nomenclaturas correntes em sua própria época (daí chamar Pilatos de "Procurador", um título corrente a partir do final do século I).

Tácito usa os registros oficiais, e, com o fim de explicar a õrigem dos Cristãos, chama o Seu Mestre de Cristo (se a fonte do historiador fossem os próprios cristãos, ele teria empregado "Jesus" no lugar de "Cristo").

Além disso, Tácito afirma sua informação como um fato histórico, não como um mero boato.

Eu havia dito que era comum os cristãos (desde a época de Pedro aos pais da igreja) desafiarem seus preponentes a conferirem os fatos por si mesmos. Os primeiros apologistas como Tertuliano, faziam menção a um registro seculares que confirmavam detalhes da vida de Jesus. Parece que Tácito uso como fonte primária estes mesmos registros. Aliás, por ser cidadão romano, deve ter tido acesso aos melhores documentos disponíveis.

Outra evidência de que o historiador romano não tratava de um boato: nos anais 4.10, quando refuta um boato específico, afirma ter se reportado às "mais numerosas e fidedignas autoridades". (perdão, se você me permite, quero fazer uma digressão: acho válido, em termos de comparação, notar que Lucas, ao escrever seu evangelho, tem uma postura semelhante; cf. Lc 1:1-4).

Tácito é tão criterioso que registra os conflitos em suas fontes. (cf. 15:38, versões diferentes sobre o grande incêndio em Roma). Ele também critica muitas de suas fontes (Anais 4.57, 15.53, 13.20). E evita dar opinião quando outros não o fazem.

Bem, creio que há motivos para aceitarmos esta passagem de Tácido como digna de crédito: assim, pela pena do romano, no período da década de 60, havia cristãos perseguidos em Roma, apenas 30 anos depois da morte de Cristo, cristãos que acreditavam que a história de Jesus (vida, morte, ressurreição) era baseada em fatos reais, pelos quais valia a pena serem perseguidos.
Suetônio: historiador romano e cronista da casa Imperial, escreveu em c.c.120 a.D. nos disse que "Desde que os judeus estavam promovendo distúrbios constantes por instigação de Chrestus, ele os expulsou de Roma".

Chrestus poderia ser qualquer um, até o nome de um escravo grego! Chrestus é um nome grego; muitos judeus recebiam nomes gregos (p.ex.André, Filipe), mas há pouca probabilidade de que este, em especial, fosse nome de um judeu (Josefo, por exemplo, não menciona Chresto). Foneticamente, esta grafia teria um som muito semelhante a Cristo.

Este trecho tem um paralelo com a narrativa de Atos 18 (especialmente vs. 12-17). É razoável que a pregação cristã dirigida aos judeus causasse indisposições de ânimos entre esse povo, motivo da posterior expulsão de todos os judeus de Roma.

Quando o relator anotou o motivo da balbúrdia, deve ter grafado Chrestus, com a grafia mais familiar do que Christus. 70 anos mais tarde, Suetônio, consultando o registro, teria anotado o episódio.

Isso indica que cerca de 16 a 20 anos depois da morte de Cristo, havia cristãos em Roma (a expulsão de judeus foi em 49 a.D) testemunhando sobre Sua vida, morte e ressurreição.

Luciano de Samosata: o satirista romano escreve:

"Os cristãos, como todos sabem, adoram [creio que é válido dizer que "adoração" demonstra devoção, reverência, o tipo de comportamento e sentimento que se tem em relação a um deus] um homem até hoje - o distinto personagem que iniciou seus novos rituais - e foi crucificado por causa disto... Vejam bem, essas criaturas mal orientadas começam com a convicção geral de que são imortais para sempre, o que explica o desprezo pela morte e a dedicação voluntária de si mesmos, tão comuns entre eles. Foi também impresso sobre eles, pelo seu legislador original, que são todos irmãos, a partir do momento em que são convertidos; e negam os reis da Grécia, adoram o sábio crucificado, e vivem segundo as suas leis. Tudo isto eles aceitam pela fé, como resultado de desprezarem todos os bens materiais, considerando-os simplesmente como propriedade comum." Life of Nero, p. 16.

Pelo tom negativo, pode-se perceber que temos alguém aqui que, a despeito de dizer o que diz, não o faz para defender os cristãos!

Mara Bar-Serapion: pouco depois de 70 a.D. (data da destruição de Jerusalém), um sírio que, ao que aparece, era um filósofo estóico, escreveu da prisão ao seu filho:

"Que vantagem os atenienses tiveram ao matar Sócrates? A fome e a praga caíram sobre eles como castigo do seu crime. Que proveito os habitantes de Samos tiveram ao queimarem Pitágoras? Num momento a sua terra foi coberta pela areia. Que vantagem os judeus tiveram ao executarem o seu Rei sábio? Logo após disso o seu reino foi destruído. Deus vingou com justiça esses três homens sábios: os atenientes morreram de fome; os samianos foram destruídos pelo mar; os judeus, arruinados e expulsos da sua terra, vivem completamente dispersos. Mas Sócrates não morreu para sempre; ele continuou vivendo nos ensinos de Platão. Pitágoras não morreu para sempre; ele continuou vivendo na estátua de Hera. Nem o Rei sábio morreu para sempre; ele continuou vivendo nos seus ensinamentos."

Claro que as informações sobre Atenas e samos estão incorretas; mas pelo teor, dá para perceber que o autor não e um cristão (porque nivela Sócrates, Pitágoras e Jesus, tratando-os como homens sábios; também, e isso é essencial para identificá-lo como não cristão, Serapion nada diz sobre uma ressurreição).


BIBLIOGRAFIA
Bruce,F. F. Merece confiança o Novo Testamento? São Paulo: Edições Vida Nova, 1965 (eu sei que existe uma edição mais nova, mas não consegui localizá-la; tente direto com a editora. Se eu ainda o tivesse, o enviaria a você. É um volume bem completo, que ainda serve de referência aos estudos do Novo Testamento).

Paroschi, Wilson - Crítica Textual do Novo Testamento, Edições Vida Nova, São Paulo, 1993. (o autor é um dos mais proeminientes teólogos brasileiros sobre Novo Testamento).

Um outro, que seria mais uma curiosidade: já que falamos tanto sobre Jesus e seu contexto, vou indicar um dos melhores livros que já li sobre Jesus, sua mensagem e cultura: As Parábolas de Lucas, de Kenneth E. Bailey ; Editora Vida Nova. Satisfaz o acadêmico, mas é acessível para todos. É um marco.

Espero, sinceramente, que lhe sejam úteis, de alguma forma.