1- INTRODUÇÃO:
O Budismo é uma religião e filosofia baseada nos ensinamentos deixados por Siddhartha Gautama, ou Sakyamuni (o sábio do clã dos Sakya), o Buda histórico, que viveu aproximadamente entre 563 e
Os ensinamentos básicos do budismo são: evitar o mal, fazer o bem e cultivar a própria mente. O objetivo é o fim do ciclo de sofrimento, samsara, despertando no praticante o entendimento da realidade última - o Nirvana.
A moral budista é baseada nos princípios de preservação da vida e moderação. O treinamento mental foca na disciplina moral (sila), concentração meditativa (samadhi), e sabedoria (prajña).
Apesar do budismo não negar a existência de seres sobrenaturais (de fato, há muitas referências nas escrituras Budistas), ele não confere nenhum poder especial de criação, salvação ou julgamento a esses seres, não compartilhando da noção de Deus comum à maioria das religiões.
A base do budismo é a compreensão das Quatro Nobres Verdades, ligadas à constatação da existência de um sentimento de insatisfação (Dukkha) inerente à própria existência, que pode no entanto ser transcendido através da prática do Nobre Caminho Óctuplo.
Outro conceito importante, que de certa forma sintetiza a cosmovisão budista, é o das três marcas da existência: a insatisfação (Dukkha), a impermanência (Anicca) e a ausência de um "eu" independente (Anatta).
2- SIDARTA GAUTAMA
Siddhartha Gautama, também conhecido como Siddhāttha Gotama em páli, foi um príncipe que viveu por volta de 563 a.C. até 483 a.C., no reino de Śākya - que hoje em dia seria parte da fronteira do Nepal com a Índia. Gautama era seu nome de família, que significa "a melhor vaca", e Siddhārtha é uma junção do sânscrito Siddhi (realização, completude, sucesso, liquidação de um débito) e Artha (alvo, propósito, meta). Pode ser traduzido como "Aquele cujos objetivos são alcançados" ou ainda "Aquele que cumpriu a meta a que se propôs (na sua vida)".
Casou-se ainda jovem com Yassodhara, teve um filho que foi chamado Rāhula (obstáculo, em sânscrito) e, aos 29 anos, decidiu deixar a vida palaciana para viver como um asceta na floresta. Praticou meditação e severas austeridades por 6 anos até que, aos 35 anos de idade, teve uma experiência religiosa à qual deu o nome de iluminação. A partir daí passou a ser conhecido como o Buda (Título honorífico que, em sânscrito, significa Aquele que sabe, ou Aquele que despertou), mais especificamente como Buddha Śākyamuni (o sábio dos Śākya).
Viveu até os 80 anos de idade, transmitindo seus ensinamentos e conquistando uma grande legião de discípulos, monges ou leigos (sem ordenação monástica). Gautama foi contemporâneo de Mahavira com o qual, segundo fontes religiosas e históricas, travou alguns diálogos como opositores.
Estudos arqueológicos e antropológicos atuais aceitam que, na verdade, Sidarta Gautama foi não um príncipe, mas o filho do dirigente de uma das várias repúblicas aristocráticas que existiam na Índia naquela época (como muito mais tarde foi Veneza).
A versão de príncipe, contudo, é aceita normalmente pelas diversas escolas budistas, inclusive por conta dos mitos do inconsciente coletivo que se manifestam em outras histórias em diferentes regiões do planeta.
O Buda não era um deus. Ele foi um ser humano que alcançou a iluminação por meio de sua própria prática. De maneira a compartilhar os benefícios de seu despertar, o Buda viajou por toda a Índia com seus discípulos, ensinando e divulgando seus princípios às pessoas, por mais de 45 anos, até sua morte, aos 80 anos de idade. De fato, ele era a própria encarnação de todas as virtudes que pregava, traduzindo em ações, suas palavras.
O Buda formou uma das primeiras ordens monásticas do mundo, conhecida como Sangha. Seus seguidores tinham as mais variadas características, e ele os ensinava de acordo com suas habilidades para o crescimento espiritual. Ele não exigia crença cega; ao contrário, adotava o "venha e experimente você mesmo", atitude que ganhou os corações de milhares. Sua, era a senda da autoconfiança, que requeria esforço pessoal inabalável.
3 - HISTÓRIA
Após a morte de Shakyamuni, foi realizado o Primeiro Concílio Budista, que reuniu 500 membros, a fim de coletar e organizar os ensinamentos do Buda, os quais são chamados de Dharma. Este se tornou o único guia e fonte de inspiração da Sangha. Seus discursos são chamados de Sutras. Foi no Segundo Concílio Budista em Vaishali, realizado algumas centenas de anos após a morte do Buda, que as duas grandes tradições, hoje conhecidas como Theravada e Mahayana, começaram a se formar. Os Theravadins seguem o Cânone Páli, enquanto os Mahayanistas seguem os sutras que foram escritos em sânscrito.
A expansão do budismo pode ser dividida em cinco períodos:
3. 1- Séculos VI-V a.C.: o Dharma foi exposto pelo Buddha e difundido por seus discípulos;
Os conceitos de Dahrma:
- O primeiro é que o Dharma, quando iniciado por letra maiúscula, simplesmente quer dizer "os ensinamentos".
- O segundo significado é normalmente associado com o uso em letras minúsculas, dharma, usado para designar "a forma como as coisas são".
Pode parecer vago, até o momento em que se entende que a palavra dharma é usada para denominar "as leis da natureza" ou "aquilo que sustenta o universo".
3. 2 - Séculos V a.C. - I d.C.: foram realizados os concílios budistas e surgiram as primeiras escolas;
Antes do patrocínio real de Asoka (o terceiro monarca da dinastia Maúria, que se tornou budista e fez muito para a divulgação do budismo, através de missionários), o budismo parece ter sido um fenómeno marginal, pouco se conhecendo dos seus primeiros tempos. Dois importantes concílios tiveram lugar, embora o que sabe deles baseia-se em fontes posteriores.
3.2.1 - O Primeiro Concílio Budista (século V a.C.)
O primeiro concílio budista ocorreu em Rajagriha pouco tempo depois da morte de Buda, sob o patrocínio de Ajatasatru, imperador de Magadha, tendo sido presidido por um monge chamado Mahakasyapa. O concílio tinha como objectivo registar os ensinamentos orais do Buda (sutra) e codificar as regras monásticas (vinaya). A Ananda, primo de Buda e seu discípulo, foi pedido que recitasse os discursos do Buda e outro discípulo, Upali, recitou as regras da vida monástica. Estes dois elementos constituem a base do cânone pali, referência de ortodoxia em toda a história do budismo.
3.2.2 - O Segundo Concílio Budista (383 a .C.)
O Segundo Concílio Budista foi convocado pelo rei Kalasoka, tendo decorrido em Vaisali, na sequência de conflitos entre escolas tradicionais do budismo e um movimento de interpretação mais liberal conhecido como os Mahasamghikas. Para as escolas tradicionais o Buda tinha sido um ser humano que alcançou o estado de iluminação, e este poderia ser facilmente alcançado pelos monges seguindo as regras monásticas. Para os Mahasamghikas esta perspectiva era demasiado individualista e egoísta, propondo como verdadeiro objectivo o atingir do estado de budeidade. Tornaram-se proponentes de regras monásticas menos rígidas, que pudessem apelar a um maior grupo de pessoas.
Os Mahasamghikas seriam rejeitados durante o concílio, tendo estes se fixado durante vários séculos no noroeste da Índia e na Ásia Central, como mostram as inscrições Kharoṣṭhī datadas do século I d.C. encontradas perto do rio Oxus.
3.2.3 - O Terceiro Concílio Budista (c. 250 a .C.)
O Terceiro Concílio Budista foi convocado por Asoka em Pataliputra (Patna) por volta de
O cânone pali (Tipitaka;
As tentativas de Asoka para purificar o budismo, acabaram por produzir uma rejeição de movimentos budistas emergentes. Após
3. 3 - Séculos I-VI: surgimento do budismo Mahayana;
Uma dessas pessoas aptas a receber os ensinamentos Mahayana teria sido o monge indiano Nagarjuna (século II-III), cujos trabalhos deram origem à escola filosófica do Caminho do Meio (sânsc. Madhyamaka). Nagarjuna não tinha a intenção de criar uma filosofia, mas sim de elucidar os ensinamentos dos Discursos sobre a Perfeição da Sabedoria (sânsc. Prajnaparamita Sutra), um conjunto de textos Mahayana que ele teria recebido diretamente dos nagas.
Uma das ênfases dos textos Mahayana é o ideal do ser da iluminação, (sânsc. bodhisattva), alguém que está no caminho para alcançar o estado de Buddha, o estado de iluminação. Os bodhisattvas geram a mente da iluminação (sânsc. bodhichitta), que possui duas qualidades: a grande sabedoria (sânsc. maha-prajna), que transcende a existência cíclica (sânsc. samsara) e percebe a verdadeira natureza da realidade, ou vacuidade (sânsc. shunyata); e a grande compaixão (sânsc. maha-karuna), que transcende o estado de liberação (sânsc. nirvana) com a intenção de ajudar todos os seres sencientes a atingir a iluminação. Por isso, a bodhichitta relativa manifesta-se através da aspiração e da ação.
A bodhichitta da ação (ou da aplicação) é realizada através das duas acumulações (sânsc. bodhi-sambhara): acumulação de mérito (sânsc. punya-sambhara) e acumulação de sabedoria (sânsc. jnana-sambhara), também conhecida como acumulação de conhecimento ou acumulação de estado desperto atemporal.
Ao reconhecer a impermanência de todas as coisas, e ao perceber que apenas um buddha — um ser totalmente iluminado — pode trazer benefícios permanentes, a bodhichitta relativa dá origem à bodhichitta absoluta, ou última, que manifesta a grande sabedoria (sânsc. maha-prajna). Esta grande sabedoria não é um conhecimento intelectual, mas sim a compreensão da verdadeira natureza dos fenômenos — a vacuidade (sânsc. shunyata). O vazio (sânsc. shunya) é a ausência de uma essência, entidade ou existência inerente (sânsc. svabhava). A ausência de uma essência não significa que os fenômenos não existam, mas sim que eles são destituídos de "existência própria," de uma "natureza própria", e que eles "existem" apenas relativamente, em dependência de causas, partes e condições. Por causa de nossos obscurecimentos, percebemos os fenômenos de forma errônea, distorcida ou exagerada.
A verdade relativa está relacionada ao samsara ( descrito como o fluxo incessante de renascimentos através dos mundos), aos cinco agregados da forma, sensação, percepção, vontade e consciência.
Nesta experiência ordinária, há a ignorância, que gera os hábitos dualistas de "eu" e "outro", o apego e a aversão, e conseqüentemente o karma do sofrimento.
Neste contexto, para beneficiar os seres que têm esta experiência, foram ensinadas as quatro nobres verdades sobre o sofrimento, a causa, a cessação e o caminho.
A verdade absoluta, entretanto, está relacionada ao nirvana, à vacuidade do agregados. Nesta experiência extraordinária, há sabedoria, destituída dos hábitos dualistas de "eu" e "outro", sem apego ou aversão, e conseqüentemente está além do karma, além do sofrimento.
Neste contexto, os discursos sobre a perfeição da sabedoria apresentam a inexistência do sofrimento, da causa, da cessação e do caminho.
Apesar de, em termos relativos, haver a experiência de samsara e nirvana, no nível da verdade absoluta não há essa dualidade ou separação; o nirvana é a verdadeira natureza do samsara.
3. 4 - Séculos VII-XIII: expansão do Vajrayana.
As origens históricas do Vajrayana são bastante obscuras. No século II, vários textos do buddhismo Mahayana já continham preces curtas chamadas mantras, assim como preces longas chamadas dharanis. Os mantras e dharanis são compostos por seqüências de sílabas que, apesar de não necessariamente terem um significado, são considerados extremamente poderosos.
Estas preces devem ter sido precursoras da recitação de mantras no buddhsimo Vajrayana, influenciado pelos fundamentos filosóficos da escola hindu Mimamsa. As práticas devocionais, a recitação de sutras e a invocação dos nomes de buddhas e bodhisattvas já era bastante comum no buddhismo Mahayana, assim como as práticas de visualização de buddhas e bodhisattvas em suas terras puras.
A evolução gradual do Vajrayana na Índia pode ser dividia em três fases:
-A primeira fase desenvolveu-se na Índia mas não se espalhou para outros países.
-Na segunda fase, por volta do século III, os textos mais antigos do Vajrayana indiano foram levados para a China e traduzidos por eruditos. Os textos não causaram grandes mudanças na comunidade buddhista chinesa, mas a tradição buddhista esotérica acabou criando raízes na China. Houve contatos com o Japão durante a dinastia Nara, mas esta tradição só se estabeleceu lá durante o período Heian, graças aos monges japoneses Saichô e Kûkai. Na época em que eles estiveram na China, durante a dinastia T'ang, os textos do Anuttara-yoga-tantra — marcados pela simbologia de de divindades em união sexual — ainda não estavam presentes na China e portanto não foram levados ao Japão.
-Na terceira fase, por volta dos séculos VI e X, os ensinamentos orais do Vajrayana indiano foram registrados nos Tantras, escrituras esotéricas sobre a transformação da mente através de meditações, visualizações e cerimônias. Nesta época, os complexos textos do Anuttara-yoga-tantra, foram levados ao Tibet e mais tarde à Mongólia. Na dinastia mongol Yuan, estes textos chegaram à China, e na dinastia Chin, chegaram à Manchúria. Os textos do Anuttara-yoga-tantra foram traduzidos para o chinês apenas na dinastia Song.
Entretanto, não causaram impacto porque não havia mestres destas linhagens na China e porque as traduções tinham sido muito editadas. A terminologia sexual e imagens de divindades em união não seriam bem aceitas pela conservadora sociedade confucionista da China.
3. 5 - Séculos XIX-XX: chegada do buddhismo ao Ocidente.
Após os encontros entre o budismo e o Ocidente representados na arte greco-budista, um conjunto de informações e lendas sobre o budismo chegaram ao Ocidente de maneira esporádica. Durante o século VIII as histórias Jataka budistas foram traduzidas para o siríaco e o árabe como Kaligag e Damnag. Uma biografia do Buda foi traduzida para o grego por João de Damasco, acreditando-se que tenha circulado entre os cristãos como a história de Josafat e Baarlam. No século XIV, Josafat seria declarado santo pela Igreja Católica Romana.
O próximo contato directo entre o budismo e o Ocidente aconteceu na Idade Média quando o monge franciscano Guillaume de Rubrouck foi enviado como embaixador à corte mongol de Mongke pelo rei Luís IX de França. O encontro aconteceu em Cailac (actualmente no Cazaquistão), tendo o monge julgado que os budistas seriam cristãos perdidos.
O budismo começou a despertar um interesse no público ocidental no século XX, após o fracasso de projectos políticos como o marxismo.
Nos anos setenta um interesse pela realização pessoal substituiu a importância dos projectos políticos que visavam mudar a sociedade. Neste contexto o budismo tem experimentado uma forte poder de atracção devido, entre outros factores, à falta de deidade e a uma certa centralidade da experiência individual
4 - AS ESCOLAS
O budismo dividiu-se em várias escolas, das quais algumas vieram a se extinguir. A principal divisão atualmente existente é entre a escola Theravada e as linhagens Mahayana e Vajrayana.
Mahayana é a palavra sânscrita para "Grande Veículo", e refere-se às escolas budistas que enfatizam o ideal do Bodisatva, supostamente em contraste com o caminho Hinayana (sânscrito para "Pequeno Veículo") que buscaria apenas a Iluminação do próprio praticante.
A filosofia Mahayana é seguida também pelo Vajrayana ou "Veículo do Diamante", e por esse motivo o Vajrayana pode ser visto como uma especialização do Mahayana.
Alguns estudiosos afirmam que o Vajrayana é Hinayana devido a sua adoção do canon Páli mas a opinião mais comum é que abrange tanto elementos de uma tradição quanto de outra.
Também chamado de Mantrayana e de Tantrayana, é um conjunto de escolas budistas esotéricas. O nome vem do sânscrito e significa "veículo de diamante".
Entre as escolas do Vajrayana encontram-se as Shingon e Tendai (originadas na China e presentes também no Japão) e também as escolas Nyingma, Gelug, Kagyu e Sakya de origem tibetana.
As escolas numericamente mais expressivas na atualidade são:
estabelecida no sudeste asiático;
É uma escola budista, considerada a mais antiga dentre as escolas de Budismo atualmente existentes. Também é a única que não considera canônicas as escrituras adotadas pelas escolas Mahayana e Vajrayana.
Os princípios da escola Theravada estão codificados no Tipitaka. Os principais países onde esta escola está difundida são, principalmente: Sri Lanka, Tailândia, Myanmar, Laos, Camboja e Bangladesh.
Theravada (Pali: thera "anciãos" + vada "palavra, doutrina" ), a "Doutrina dos Anciãos", é o nome da escola de Budismo que tem suas escrituras no Cânone em Pali ou Tipitaka, que os acadêmicos em geral aceitam como sendo o registro mais antigo dos ensinamentos do Buda. Por muitos séculos, o Theravada tem sido a religião predominante no Sri Lanka, Birmânia e Tailândia; atualmente o número de Budistas Theravada em todo o mundo excede 100 milhões de pessoas. Em décadas recentes o Theravada começou a fincar suas raízes no Ocidente.
Theravada é uma das vinte escolas que surgiram nos primórdios do Budismo. O nome Theravada, que significa "doutrina dos anciãos", vem do fato de que esta é uma das mais conservadoras escolas budistas, que tenta conservar os ensinamentos originais tais como foram ensinados pelo Buda -- ou, pelo menos, tais como foram registrados no Cânone Páli.
Theravada é a mais antiga das vinte escolas, e por muitos séculos tem sido a religião predominante do Sri Lanka e do sudeste asiático (partes do sudoeste da China, Camboja, Laos, Myanmar e Tailandia).
Algumas vezes é indevidamente chamada de Hinayana, que etimologicamente é um termo pejorativo (significa algo como veículo inferior).
São escolas com ênfase na meditação . Alguns estudiosos consideram estas escolas como uma linhagem Mahayana. Outros, no entanto, dizem que, pela ênfase ser diferente, e pelo Zen/Chan ser "descendentes" também do Taoísmo, devem ser considerados uma escola à parte;
Foi ou é cultivado sobretudo na China, Japão, Vietnam e Coréia. A prática básica do Zen na versão japonesa e monástica é o Zazen , tipo de meditação contemplativa que visa a levar o praticante à "experiência direta da realidade".
O zazen consiste basicamente em sentar-se em uma posição confortável, com a coluna ereta, em períodos de até 40 minutos, intercalados com meditação andando (Kinhin). Durante esse tempo deve-se procurar observar os pensamentos e sensações que surgem, sem buscar reprimi-los, causá-los ou julgá-los. É tradicional o uso de zafu e zabuton como almofadas, na qual o praticante fica sentado.
No Zen japonês monástico, há duas vertentes principais: Soto e Rinzai. Enquanto a escola Soto dá maior ênfase à meditação silenciosa, a escola Rinzai faz amplo uso dos koans (um conto, ou um diálogo, ou uma afirmação na história, ou uma sabedoria popular referente ao Zen Budismo Chan, a qual geralmente contém aspectos inacessíveis à compreensão racional, que podem ser apenas acessados pela intuição).
Atualmente, o Zen é uma das escolas budistas mais conhecidas e de maior expansão no Ocidente.
Segundo Allan Watts, inglês que se notabilizou por sua divulgação do Zen, este, em sua forma original chinesa, não se encontra mais na China, e o que de mais próximo se pode conhecer desta versão original é encontrado em formas de Arte tradicionais do Japão, que tenham sido cultivadas e transmitidas segundo esta tradição.
- as escolas japonesas devocionais da Terra Pura
(Jodo Shu) e Verdadeira Terra Pura (Jodo Shinshu), e as escolas ligadas à Nitiren, todas Mahayana;
- escolas tântricas do Budismo tibetano
(Nyingma, Kagyu, Gelug, Sakya) que fazem parte da linhagem Vajrayana.
Há muita polêmica e confusão no ocidente em torno do budismo, devido principalmente à falta de informação correta. Muitos movimentos esoteristas e sincréticos procuram se apresentar como "verdadeiros budismos", "adaptações para o Ocidente", etc. Freqüentemente questiona-se quanto ao budismo ser ou não uma religião (por não aceitar a existência de um Deus criador do mundo).
5 - O DAHRMA:
Pouco após a sua Iluminação, o Buddha ("O Iluminado" ou “O Desperto”), proferiu o seu primeiro discurso definindo a estrutura básica sobre a qual se baseariam todos os seus ensinamentos seguintes. Essa estrutura básica são as Quatro Nobres Verdades, quatro princípios fundamentais da natureza (Dharma) que emergiram da avaliação honesta e profunda que o Buddha fez da condição humana e que definem toda a abrangência da prática Budista. Essas verdades não são afirmações de fé. São na verdade, categorias nas quais podemos enquadrar nossa experiência de tal forma a criar condições para a Iluminação.
5.1 - AS QUATRO NOBRES VERDADES
1- A Existência do Sofrimento
2- A Causa do Sofrimento: o Apego
3- A Extinção do Sofrimento: a Eliminação do Apego
4- O Caminho que Leva à Extinção do Sofrimento: o Nobre Caminho Óctuplo, composto por entendimento correto, pensamento correto, linguagem correta, ação correta, modo de vida correto, esforço correto, atenção plena correta e concentração correta.
A Existência do Sofrimento
Toda existência senciente implica em sofrimento (Duhkha). Por "sofrimento", devemos entender que, de uma forma essencial, todo ser está mergulhado em algum tipo de ignorância consciencial. Isso implica que a maioria dos seres humanos "sofrem" por não saberem lidar com a existência de forma equilibrada, seja nas experiências consideradas "prazerosas" ou nas consideradas "dolorosas". O sofrimento ignorante é fundamentado pela angústia da frustração egóica, que se prende em um sem-número de expectativas lineares e ilusoriamente permanentes. Portanto, nós seres humanos sofremos de uma "doença" psico-espiritual, de consciência, que nos leva a lidar com os contatos perceptivos de forma frustrante.
Há oito espécies de sofrimento: nascimento, velhice, doença, morte, contato com o que detestamos, separação do que amamos, objetivos inalcançáveis e o sofrimento inerente ao apego aos cinco agregados (elementos psicofísicos: forma, sentimentos, percepção, constituintes mentais e consciência).
Coletivamente são chamados de numa (nome) e rupa (forma). Assim o composto de nome-forma é um sinônimo dos cinco agregados. Tanto os agregados físicos como mentais são caracterizados pela impermanência, sofrimento e não-eu.
A Causa do Sofrimento
O sofrimento ocorre pelo desejo ignorante (Trshna). Aqui temos a base de todo processo ilusório no qual os seres sencientes estão presos. No plano humano, o desejo ignorante ocorre em função de um estado de delusão ou "não-sabedoria" (avidya). Esta condição é um estado natural nos seres em sua origem, mas que não é impossível de ser superada à medida em que um ser humano esforça-se em direção à reflexão.
O desejo pode ser classificado em três tipos, baseados nos três modos de identificação egóica: Apego (o desejo projetado como forma de anseio passional), Aversão (o desejo projetado como forma de rejeição odiosa) e a Indiferença (os apegos e aversões desviados repressivamente em uma atitude de falso alheamento). a Verdade da Causa do Sofrimento a palavra da Índia traduzida como "causa" significa "vir junto, formar-se conjuntamente e surgir, aparecer".
É possível superar o sofrimento. Embora os processos racionais e sociais sejam muito viciantes e arraigados em nosso complexo psico-emocional, Buddha afirma que eles podem ser superados, e que uma forma nova de visão e percepção do mundo é possível.O Sutra define a Verdade da Extinção do Sofrimento como a eliminação dos apegos e o estado de Nirvana.
Sutras primitivos descrevem Nirvana como eliminação das máculas, extinção da ganância, raiva e ignorância. Neste contexto a extinção do sofrimento é Nirvana.
5.1.1 - O Caminho para a Extinção do Sofrimento: O Nobre Caminho Óctuplo
A última das Nobre Verdades contém a prescrição de como aliviar nossa insatisfação e alcançar a eventual libertação, de uma vez por todas, desse ciclo de vida e morte (samsara) doloroso e desgastante ao qual – pela própria ignorância (avijja) das Quatro Nobres Verdades – estamos presos por tempos incontáveis. O Nobre Caminho Óctuplo oferece um guia prático e completo para o desenvolvimento mental de qualidades e habilidades benéficas que devem ser cultivadas se o praticante desejar alcançar o objetivo final, a liberdade e felicidade supremas, o Nirvana. Embora estudados individualmente cada aspecto faz parte de um todo orgânico e indivisível.
Ponto de Vista Correto - sabedoria e compreensão das Quatro Verdades Nobres e da Origem Interdependente. Alguns consideram como Fé Correta, para os de pouca experiência que ainda não adentraram o nível da sabedoria superior.
Pensamento Correto - pensamento ou determinação que precede ação ou fala. Para uma pessoa ordenada é a prática do pensamento correto através da mente cada vez mais gentil, compassionada e pura. Para os leigos é pensar corretamente sobre sua situação e agir determinadamente de acordo.
Fala Correta - surge do pensamento correto. Não mentir, não usar linguagem pesada, não falar mal dos outros, não caluniar, não falar frivolamente e usar a fala beneficiando a todos e conduzindo à harmonia, pela ternura que nutre a todos os seres.
Ação Correta - surge do pensamento correto. Não matar, não roubar, não cometer adultério. É praticar boas ações como a de proteger e cuidar de todos os seres, observando os valores éticos.
Meio de Vida Correto - conduta correta na maneira de viver, de se manter, com hábitos regulares e saudáveis de dormir, comer, trabalhar, fazer exercícios, descansar. Viver de maneira a melhorar a saúde, ser mais eficiente e criar harmonia, eficiência e saúde para todos. Ter meios de vida que considerem outros seres, outras formas de vida, o respeito e dignidade próprios e dos outros presentes e passados, as futuras gerações, a sustentabilidade e a melhor qualidade da vida.
Esforço Correto - dedicar-se constante e assíduamente ao caminho de obter os ideais de fé religiosa, ética, educação, política, economia e saúde produzindo e aumentando o que é bom e prevenindo e eliminando o que é mal.
Atenção Correta - manter-se atento garante que com a correta consciência e percepção nunca sejam esquecidos os objetivos ideais de fazer o bem a todos os seres. Na vida diária é agir com cuidado e atenção, pois qualquer momento desatento pode causar um desastre. Do ponto de vista Budista tradicional significa manter constante atenção à impermanência, sofrimento, não-eu.
Concentração Correta - aqui a referência é aos Dhyanas ou estados meditativos. Manter a mente calma e concentrada para permitir a manifestação da sabedoria completa e verdadeira a partir da qual surgem os pensamentos e ações corretas. Manter a mente clara e brilhante em tranqüila atividade.
Na prática, o Buddha ensinou o Nobre Caminho Óctuplo aos seus discípulos de acordo com um sistema de treinamento gradual, iniciando com o desenvolvimento de sila ou virtude (linguagem correta, ação correta e modo de vida correto, que na prática estão resumidos nos cinco preceitos), seguido pelo desenvolvimento de samadhi ou concentração (esforço correto, atenção plena correta e concentração correta), culminando com o pleno desenvolvimento de pañña ou sabedoria (entendimento correto e pensamento correto). A prática de dana (generosidade) serve como um apoio para cada passo ao longo do caminho já que atua como um auxiliar na corrosão da tendência habitual ao desejo e também porque pode trazer grandes ensinamentos sobre as causas e resultados das ações de cada pessoa (kamma).
O progresso ao longo do caminho não segue uma trajetória linear simples. Em vez disso, o desenvolvimento de cada aspecto do Nobre Caminho Óctuplo encoraja o refinamento e fortalecimento dos demais, levando o praticante adiante em uma espiral ascendente de maturidade espiritual que culmina na Iluminação.
Vendo por um outro ângulo, a longa jornada no caminho para a Iluminação tem início a sério com os primeiros sinais de alguma movimentação na questão do entendimento correto, os primeiros lampejos de sabedoria através dos quais a pessoa reconhece tanto a validade da Primeira Nobre Verdade e a inevitabilidade da lei do kamma (sânscrito karma), a lei universal de causa e efeito. A partir do momento que a pessoa se dá conta de que más ações inevitavelmente trazem maus resultados e que boas ações trazem bons resultados, o desejo, de viver uma vida moralmente correta e íntegra, de adotar seriamente a prática de sila, cresce. A confiança criada a partir desse entendimento preliminar leva o praticante a ter ainda mais fé nos ensinamentos. O praticante se torna um "Budista" a partir do momento em que expressa uma determinação interior de "tomar o refúgio" na Jóia Tríplice: o Buddha (tanto o Buddha histórico como o potencial de cada um de alcançar a Iluminação), o Dhamma (tanto os ensinamentos do Buddha histórico e a verdade última que eles revelam), e a Sangha (tanto a comunidade monástica que protegeu os ensinamentos e os colocou em prática desde os tempos do Buddha como todos aqueles que alcançaram algum grau de Iluminação). Tendo fincado firmemente os pés no solo através da tomada do refúgio e, com o auxílio de um bom amigo para ajudar a indicar o caminho, a pessoa estará pronta para trilhar o caminho, confiante de que estará seguindo as pegadas deixadas pelo próprio Buddha.
Algumas vezes o Budismo é ingenuamente criticado como uma religião ou filosofia negativa ou pessimista. Apesar de tudo (esse é o argumento utilizado) a vida não é somente miséria e desapontamento: ela oferece muitos tipos de alegria e felicidade. Porque então existe essa obsessão pessimista no Budismo com a falta de satisfação e o sofrimento?
O Buddha baseou os seus ensinamentos em uma franca avaliação da nossa situação como seres humanos: existe falta de satisfação e sofrimento no mundo. Ninguém pode contestar esse fato. Se os ensinamentos do Buddha parassem por aí, os seus ensinamentos poderiam de fato ser considerados pessimistas e a vida totalmente sem esperança.
O Buddha oferece a esperança (a Terceira Nobre Verdade) e a cura (a Quarta).
Os ensinamentos do Buddha portanto permitem ter um alto grau de otimismo em um mundo complexo, confuso e difícil. Um professor contemporâneo resumiu bem: "Budismo é a busca da felicidade levada a sério".
O Buddha alegava que a Iluminação que ele redescobriu está acessível a qualquer um que esteja disposto a fazer o esforço e comprometer-se a seguir o Nobre Caminho Óctuplo até o fim. Cabe a cada um de nós colocar essa afirmação à prova.
5.2 - AS SEIS PERFEIÇÕES
As Quatro Nobres Verdades são o fundamento do Budismo e entender o seu significado é essencial para o autodesenvolvimento e alcance das Seis Perfeições, que nos farão atravessar o mar da imortalidade até o nirvana.
As Seis Perfeições consistem de:
2. Moralidade. Elimina todas as paixões maléficas através da prática dos preceitos de não matar, não roubar, não ter conduta sexual inadequada, não mentir, não usar tóxicos, não usar palavras ásperas ou caluniosas, não cobiçar, não praticar o ódio nem ter visões incorretas.
3. Paciência. Pratica a abstenção para prevenir o surgimento de raiva por causa de atos cometidos por pessoas ignorantes.
4. Perseverança. Desenvolve esforço vigoroso e persistente na prática do Dharma.
5. Meditação. Reduz a confusão da mente e leva à paz e à felicidade.
6. Sabedoria. Desenvolve o poder de discernir realidade e verdade.
A prática dessas virtudes ajuda a eliminar ganância, raiva, imoralidade, confusão mental, estupidez e visões incorretas. As Seis Perfeições e o Nobre Caminho Óctuplo nos ensinam a alcançar o estado no qual todas as ilusões são destruídas, para que a paz e a felicidade possam ser definitivamente conquistadas.
6 - O SAMSARA
É uma palavra sânscrita que vem da combinação de Samsa (ilusão) e Ra (movimento). É a ilusão em movimento, representada de forma cíclica. Tem também o sentido de "perambulação". Muitas pessoas pensam que esse é o nome Budista para o lugar em que vivemos no momento - o lugar que abandonamos quando vamos para nibbana (nirvana). Mas nos textos Budistas mais antigos samsara é a resposta, não para a pergunta "Onde nós estamos?", mas para a pergunta "O que estamos fazendo?" Ao invés de um lugar, é um processo: a tendência de ficar criando mundos e depois se mudando para dentro deles. À medida que um mundo se desintegra, você cria um outro e lá se instala. Ao mesmo tempo, você dá de cara com outras pessoas que também estão criando os seus próprios mundos.
O jogo e a criatividade desse processo pode algumas vezes ser prazeroso. Na verdade, isso seria perfeitamente inócuo se não causasse tanto sofrimento. Os mundos que criamos insistem em desmoronar e nos matar. Mudar para um novo mundo requer esforço: não somente as dores e riscos do nascimento, mas também os severos golpes - mentais e físicos - que resultam ao passar da infância para a maioridade repetidas vezes. O Buda certa vez perguntou aos seus monges, "O que vocês acham que é maior: a água nos grandes oceanos ou as lágrimas que vocês derramaram nessa perambulação?" A resposta dele: as lágrimas. Pense nisso na próxima vez que estiver mirando o oceano ou brincando nas suas ondas.
Além de criar sofrimento para nós mesmos, os mundos que criamos se alimentam dos mundos dos outros, da mesma forma como o deles se alimenta do nosso. Em alguns casos essa alimentação pode ser prazerosa e benéfica para ambos, mas mesmo nesse caso essa situação terá um fim. De modo mais típico, ela irá causar dano a pelo menos uma das partes na relação, com freqüência a ambas. Quando você pensa em todo o sofrimento incorrido para manter apenas uma pessoa vestida, alimentada, abrigada e saudável - o sofrimento tanto daqueles que têm que pagar por essas necessidades, bem como daqueles que labutam ou morrem na sua produção - você verá o quão explorador pode ser mesmo o mais rudimentar processo de construção de mundos.
É por isso que o Buda tentou encontrar o caminho para parar essa 'samsar-ização'. E, uma vez que ele o encontrou, ele encorajou outros a segui-lo também. Porque a 'samsar-ização' é algo que cada um de nós faz e cada um tem que parar isso por si mesmo.
Se samsara fosse um lugar, poderia parecer egoísta que uma pessoa buscasse a escapatória, deixando os outros para trás. Mas quando você compreende que é um processo, não há de modo algum nada de egoísta em dar-lhe um fim. É o mesmo que abandonar um vício ou um hábito abusivo.
Quando você aprende as habilidades necessárias para parar de criar os seus próprios mundos de sofrimento, você poderá compartir essas habilidades com os outros para que eles possam parar de criar os deles. Ao mesmo tempo, você nunca mais terá que se alimentar dos mundos dos outros, portanto, você estará reduzindo o fardo deles também.
É verdade que o Buda comparava a prática de parar o samsara ao ato de ir de um lugar ao outro: desta margem de um rio para a outra margem.
Mas os trechos nos quais ele faz essa comparação, com freqüência concluem com um paradoxo: a outra margem não possui um "aqui," nem um "ali," nem um "no meio". Sob essa perspectiva, é óbvio que os parâmetros de tempo e espaço do samsara não se referem ao contexto preexistente no qual perambulamos. Eles são os resultados da nossa perambulação.
Para alguém viciado em construir mundos, a ausência de parâmetros conhecidos soa perturbadora. Mas se você estiver cansado de criar sofrimento incessante e desnecessário, talvez queira tentar algo novo.
Afinal, você vai sempre poder recomeçar a construir se a falta de "aqui" ou "ali" resultar maçante. Mas dentre aqueles que aprenderam como romper esse hábito, ninguém se sentiu mais tentado a 'samsar-izar' outra vez.
7 - O NIRVANA
O nirvana é a mais alta felicidade, um estado completamente além do sofrimento. Todos aqueles que atingiram algum grau de iluminação desfrutam da paz do nirvana. Aqueles que atingem o nirvana não estão mais sujeitos ao renascimento no samsara — a existência cíclica — porque estão além do ciclo da morte e renascimento.
O samsara é condicionado, isto é, surge de causas e condições; já o nirvana é incondicionado, não depende de causas e condições.
Por isso, o nirvana não é um lugar, pois transcende o espaço; e o nirvana é eterno, pois transcende o tempo. O nirvana não é a "extinção do ser", mas sim a "extinção” do sofrimento.
No Budismo, nirvana é literalmente "extinção", é o culminar da busca budista pela libertação.
De acordo com a concepção Budista, o Nirvana seria uma superação do apego aos sentidos, da ignorância e a superação da existência, que é pura ilusão Siddhartha Gautama, o Buda, descreveu o Budismo como uma jangada que após atravessar um rio, permite ao passageiro alcançar o nirvana.
O Hinduísmo também usa nirvana como um sinônimo para suas idéias de moksha, e fala-se a respeito em vários textos hindus tântricos bem como na Bhagavad Gita.
Os conceitos hindus e budistas de nirvana "não devem ser considerados equivalentes". É o ápice, ou seja é o ponto mais alto de meditação,diz que o espírito se liberta do corpo temporariamente.
8 - O KARMA
Para se definir karma devemos primeiro saber o que o karma não é.
Geralmente as pessoas confundem esse conceito ligando-o muito a um uso causal. Normalmente as pessoas falam resignadamente sobre uma situação em particular e fazem uso da idéia de Karma para se reconciliarem com ela.
Quando as pessoas falam de Karma desta maneira, subentende-se que Karma é um veículo de escape assumindo todas as características de uma crença em predestinação, ou destino. E com certeza este não é o significado correto de Karma.
Em um nível mais fundamental, a Lei do Karma nos ensina que certos tipos de ação nos leva inevitavelmente à resultados similares.
Se fizermos algo beneficente, cedo ou tarde obteremos um resultado beneficente, e se fazemos algo danoso nós inevitavelmente obteremos um resultado danoso. Isto é o que queremos dizer, no Budismo, quando nos referimos que certas causas nos trazem os efeitos particulares que são similares na natureza àquelas causas.
No ensinamento Budista, a lei do karma, diz somente isto: 'para todo evento que ocorre, seguirá outro evento cuja existência foi causada pelo primeiro, e este segundo evento poderá ser agradável ou desagradável se a sua causa foi benfazeja ou não.'
Um evento benfazejo é aquele que não é acompanhado por cobiça, resistência ou ilusão; um evento incorreto é aquele que é acompanhado por uma dessas coisas. (Eventos não são corretos por si só, mas eles são chamados assim somente em virtude dos eventos mentais que ocorrem com eles.)
Logo, a Lei do Karma prega que responsabilidade para as ações incorretas nasce da pessoa que os comete. O Karma não está condicionado à crença na reencarnação, mas sim, é parte daquela doutrina. Você não tem que acreditar em vidas prévias para aceitar o Karma.
Karma significa 'ação'. Literalmente, alguma coisa 'que inicia um movimento 'em algum tempo no passado' tem um efeito em algum outro tempo. Portanto, Karma pode surgir de nossa vida atual tanto quanto de uma outra passada.
O Karma é freqüentemente pintado com alguma coisa negativa ou 'ruim', mas pode ser também positivo e 'bom'. Na verdade Karma é neutro. Karma é um constante equilíbrio de forças entre nós mesmos e o mundo em que vivemos.
É um sistema dinâmico, auto-ajustável no qual existe um feedback constante de acordo com a maneira com a qual nós aceitamos ou recusamos nossas experiências a cada momento. Nossa reação e atitudes diante da experiência é mais importante que a própria experiência.
Os termos "bom karma" e "mau karma" são usados no Budismo não no sentido de "bem e mal", e sim num sentido de (kushala) inteligente, habilidoso, beneficente e (akushala) não inteligente, inábil e prejudicial.
Portanto as ações são beneficentes quando elas são benéficas para a própria pessoa e para os outros, e conseqüentemente são motivadas não pela ignorância, apego e aversão mas, por sabedoria, renúncia ou desapego, e amor e compaixão. Portanto karma é uma ação intencional, consciente, deliberada e voluntária.
Para as ações sem intenção, tais como caminhar,dormir, respirar, não existem conseqüências morais, portanto elas constituem um karma neutro. As ações prejudiciais que devem ser evitadas e estão relacionadas com as chamadas três portas da ação sendo elas corpo, mente e voz.
Existem três ações prejudiciais do corpo, quatro da voz e três da mente.
As três ações prejudiciais do corpo são:
(1) matar
(2) roubar
(3) comportamento sexual impróprio.
As quatro ações prejudiciais da voz são:
(4) mentir
(5) discurso cruel
(6) calúnia
(7) fofoca maliciosa.
As três ações prejudiciais da mente são:
(8) avareza
(9) raiva
(10) ilusão.
Evitando-se estas dez ações prejudiciais nós poderemos evitar as suas conseqüências similares.
Ações insalubres produzem resultados insalubres na forma de sofrimento, considerando que ações saudáveis resultam em efeitos saudáveis, ou felicidade. Os efeitos de ações são semelhantes às suas causas.
Toda causa tem seu efeito. Porém, deve haver condições sob as quais as ações são executadas.
As condições que determinam a força ou peso do Karma aplicam ao sujeito e ao objeto da ação.
Além disso, há cinco condições que modificam a força de Karma:
1. ação persistente, repetida
2. ação feita com grande intenção e determinação
3. ação feita sem pensar
4. ação feita para esses que possuem qualidades extraordinárias
5. ação feita para esses que têm beneficiado alguém no passado
Embora Budismo enfatize o Karma, ele rejeita o destino. A pessoa deveria fazer boas ações o tempo todo, e deixar que todas as condições boas surjam de forma que:
1. uma retribuição má tem pouca chance para vir a um efeito
2. uma retribuição boa fica mais significante para aumentar nossas vidas em felicidade e bem estar.
Pessoas que vêm o Karma com uma coisa fixa ou um destino irrevogável jamais terão suas vida alteradas. Tudo que elas terão que fazer seria seguir o plano traçado para elas e assim elas estarão alinhadas com seus Karmas.
Por outro lado, as pessoas que vêm o Karma como algo fluído, se desenvolvendo o tempo todo, descobrirão sempre uma nova maneira para responder em vez de agir cegamente sempre da velha maneira. Isso significa que esta pessoa é responsável para criar novas situações em vez de lidar com o 'velho karma' de outras vidas.
Vamos tomar como exemplo uma série de eventos. Uma sensação desagradável acontece. Um pensamento surge que a origem desta sensação desagradável foi uma pessoa. (Este pensamento é uma ilusão; logo qualquer ação baseada nele será incorreta).
Um pensamento surge que alguns dessas sensações desagradáveis vieram da mesma pessoa. (Este pensamento é outra ilusão).
Isto é seguido por uma decisão incontrolável de dizer palavras que produzirão uma sensação desagradável na qual é percebida como se fosse uma pessoa. (Esta decisão é um ato de hostilidade.
De todos os eventos descritos até agora, somente este é chamado de karma) Palavras são cuidadosamente escolhidas na esperança de que quando elas forem ouvidas, causarão dor. As palavras são pronunciadas altas. (Esta é a execução da decisão de ser hostil. Isto também pode ser classificado como um tipo de karma, apesar de tecnicamente ser um depois-do-karma).
Existe uma sensação visual das sobrancelhas enrugada e a boca caída nos cantos. O pensamento surge que a outra pessoa foi afetada.
O pensamento surge que o sentimento da outra pessoa foi ferido. Existe uma sensação agradável de sucesso ao perceber que a pessoa foi ofendida verbalmente. Eventualmente (talvez muito depois) exista uma sensação desagradável de arrependimento, talvez tomando a forma de uma sensação de medo que o inimigo possa retaliar, ou talvez tomando a forma de remorso por ter agido impetuosamente, como uma criança imatura, na esperança de que ninguém vá se lembrar dessa ação. (Este arrependimento ou medo é o desagradável amadurecimento do karma, a decisão incorreta de infligir dor através das palavras).
Se não existe nenhuma pessoa, então não existe o eu e o outro. Não existe distinção entre a dor na qual existe uma consciência sensorial direta ( que convencionalmente chamada de "a própria dor") e a dor conhecida por inferência (convencionalmente chamada de "a dor do outro"). Tanto a dor conhecida direta ou indiretamente, existe uma tendência a cultivá-la.
Se alegria é conhecida direta ou indiretamente, pode existir tanto uma necessidade para rejeitá-la quanto para cultivá-la. No modo popular, a necessidade para rejeitar a dor e cultivar toda alegria é conhecida como ser ético ou habilidoso ou (se preferir) bom. A necessidade para se cultivar a dor e rejeitar a alegria é conhecido como sendo inapto, sem ética ou mau.
Ser totalmente ético dizem ser impossível para aqueles que fazem uma distinção entre si - mesmo e o outro e mostra preferência sobre o si - mesmo percebido sobre o outro percebido.
Se todos nós pusermos os ensinamentos de Buda em prática, não há nenhuma dúvida que nós alcançaremos seus benefícios.
Se nós buscamos evitar prejudicar os outros, se nós tentamos nosso melhor para ajudar os outros quando possível, se nós aprendemos a estar atentos, se nós aprendemos a desenvolver nossa habilidade de concentração, se nós cultivamos a sabedoria através do estudo, consideração cuidadosa, e meditação, não há nenhuma dúvida que o Dharma nos beneficiará. Nos conduzirá à felicidade e prosperidade primeiro nesta vida e depois nas próximas. Eventualmente, nos conduzirá a meta da liberação final, a felicidade suprema do nirvana.
9 - O Sangha
Sangha é o nome dado à comunidade buddhista, formada por monges, monjas, noviços e na maior parte das tradições, também pelos praticantes leigos.
A comunidade buddhista, tanto a leiga quanto a monástica, foi se expandido gradualmente. O Buddha delegou o ensino do Dharma aos monges que tinham alguma realização espiritual e capacidade de ensinar. Assim, grupos de monges recitadores, eram responsáveis por memorizar e ensinar determinadas porções dos ensinamentos.
Os primeiros monges eram andarilhos que vagavam pelos reinos indianos a fim de difundir os ensinamentos de Buddha. Assim como os seguidores de outros mestres, os monges buddhistas viviam de maneira muito despojada e se vestiam com mantos cor-de-açafrão.
A única diferença é que eles raspavam a cabeça como sinal de renúncia à vaidade e não aceitavam alimentos crus porque não podiam cozinhar. A cada mês, se reuniam para a cerimônia de upavasatha (páli: uposatha), que incluía uma confissão e a recitação dos votos monásticos.
9.1 - A Sangha como Base de Treinamento
A Sangha corporifica duas qualidades que são verdadeiramente confiáveis. A primeira, o reconhecimento direto da natureza absoluta da mente, faz surgir a segunda, a liberação da delusão, da confusão e dos três venenos da mente — as causas-raiz do sofrimento.
Aqueles que possuem estas qualidades, e que compreendem e mantêm os votos de refúgio, percebem e participam na vida de um modo que não é de qualquer modo ordinário.
Como verdadeiros membros da Sangha, eles são dedicados a se refrear do dano e a ajudar os outros de qualquer modo que puderem. Podemos contar com eles como exemplos, assim como por liderança e orientação.
Nós na Sangha precisamos estar conscientes de que os outros nos olharão como ajudantes e modelos, observando como exemplificamos o Dharma em nossas vidas. Nunca devemos nos comportar de um modo que possa levar alguém a se perder.
Devemos desenvolver fé, devoção, respeito, amizade e suporte entre nós mesmos na Sangha imediata ou interna, assim como com todos os outros na Sangha maior — que inclui os praticantes da tradição buddhista em todo o mundo e especificamente com aqueles das quatro escolas do buddhismo Vajrayana que tomaram os votos de refúgio e bodhichitta. Independente de qual tradição buddhista sigamos, nós recebemos as bênçãos das Três Jóias — Buddha, Dharma e Sangha — através de qualquer professor espiritual que carregue puramente a linhagem inquebrantável dos ensinamentos, de S.S. o Dalai Lama — a manifestação de Avalokiteshvara, o bodhisattva da compaixão em forma humana — a muitas outras emanações de seres iluminados.
Antes de atingir o parinirvana, o Buddha profetizou que em tempos degenerados ele se manifestaria como amigos e professores espirituais. Até mesmo se prostrar na direção dos ossos enterrados de alguém de quem recebemos quatro linhas de ensinamentos do Dharma produz um mérito imensurável.
Por outro lado, ver ou insistir nas faltas dos membros da Sangha é diminuir não apenas nosso voto de refúgio, mas também nosso voto de bodhisattva. Perder nossa visão pura da Sangha interna é quebrar um nível de compromisso ainda mais profundo — o do Vajrayana.
O que podemos fazer para sustentar uma Sangha forte? Primeiro, temos de entender que praticar o Dharma significa corrigir nossas próprias faltas, mudar nossas próprias mentes.
Como seres humanos, todos nós temos falhas. Assim como as irmãs e irmãos de uma grande família têm de aprender como lidar uns com os outros, nós também temos de aprender como ajudar e apoiar um ao outro na Sangha.
Se estivéssemos segurando nossas mãos para ajudarmos um ao outro a atravessar um rio, e se então uma pessoa afundasse, não o deixaríamos lá; iríamos puxá-lo e só então continuaríamos.
Simplesmente ouvir os ensinamento do Dharma não é suficiente para nos transformarmos completamente. Os ensinamentos têm de ser implementados, e começamos aumentando nossa compaixão. Se alguém na Sangha for rude conosco, ao invés de respondermos do nosso modo habitual — sendo raivosos, sarcásticos, danosos ou mantendo rancor —, nós praticamos a compaixão. Como praticantes do Dharma, trazemos nosso entendimento do karma para suportarmos situações difíceis, reconhecendo que alguém que perturba os outros está criando não-virtude. Ao invés de sermos críticos, tentamos ajudar e deste modo criamos virtude. E quando cometermos erros, purificamos o karma que criamos.
Há horas em que ficamos perturbados ou irritados. Às vezes, nosso corpo está cheio de coisas. Às vezes, nossas energias sutis estão fora de equilíbrio e nossa mente está agitada. Às vezes, apenas acordamos do lado errado da cama. Precisamos reconhecer que este turbilhão emocional não é permanente, que isso passará, como as nuvens no céu — e então pacientemente deixe isso ir. Não devemos adicionar combustível ao fogo.
Se uma pessoa irritante disser algo aborrecedor, devemos permanecer pacientes e mantermos o respeito. Não devemos prolongar ou nem mesmo tentar corrigir a situação, e ao invés disso devemos esperar a pessoa se acalmar e então tentar conversar sobre essas coisas. Sempre precisamos focalizar sobre como podemos ajudar os outros, não sobre como podemos beneficiar a nós mesmos.
Quando a raiva surge, a melhor coisa a fazer é jogá-la fora. Mas se não pudermos, permanecemos pacientes e ela eventualmente se dissolverá. Como os membros da Sangha não se agarram à raiva durante meses ou anos, eles não infligem em relacionamentos o tipo de dano que o ressentimento pode causar. Caso se tente desenvolver amor, preocupação e paciência, vagarosamente, far-se-á progresso em nossa prática.
Como os grãos de cevada em um saco, cujas cascas caem conforme os grãos se esfregam, os membros da Sangha trabalhando juntos podem limpar rapidamente os venenos e obscurecimentos de suas mentes, e cada um pode contribuir para o aprendizado e crescimento dos outros.
O mundo não mudará para nós. Desde o início de nossa jornada no caminho do Dharma, realizamos que o que deve ser mudado é a nossa própria mente — a mente é a arena para o treinamento.
Reconhecemos que nada no samsara ou no nirvana está fora da mente; tudo está enraizado nela. Nossas interações com a Sangha servem como um espelho que reflete nossa mente para nós, de modo que podemos usar os métodos do Dharma para nos corrigirmos. Se nos descobrirmos respondendo a situações irritantes de um modo ordinário, perguntamos, "Por que reajo deste modo? Por que me mantenho sobre estas coisas?" Transformando os venenos mentais assim que surgirem, aprendemos a lidar mais efetivamente com nossas circunstâncias imediatas e a avivar nossas metas espirituais.
No começo, a Sangha é como uma coleção de objetos sagrados, como estátuas, em uma sacola: eles inevitavelmente tinem uns com os outros. Mas se as pessoas que tentam criar algo de benefício estiverem em divergência uns com os outros, a negatividade e a desarmonia cortam suas aspirações espirituais.
Por outro lado, se tratarmos uns aos outros com paciência, respeito, amor e compaixão, estas qualidades se irradiam e beneficiam a todos ao seu redor. Quando forem para suas atividades no mundo, onde há menos suporte para a prática espiritual, eles terão hábitos bem estabelecidos de paciência e bondade. Eles não os perderão em situações estressantes. Deste modo, a Sangha fornece um solo de treinamento para aplicarmos o Dharma em larga escala no mundo, que é a verdadeira arena para a nossa prática.
9.2 - Os Benefícios da Sangha
Aqueles que abraçam os ensinamentos do Buddha são os filhos da fala de Buddha, e aqueles que obtêm o reconhecimento da verdadeira natureza da mente são os filhos da mente de Buddha. Uma vez que tenhamos tomado refúgio, recebido os ensinamentos buddhistas e embarcado no caminho, nossa situação não é mais ordinária; algo mudou.
Um inseto preso em uma garrafa de leite, voando e voando desesperançada e desamparadamente, eventualmente encontrará sua saída se houver um único orifício na garrafa. Ao tomarmos refúgio, ouvirmos os ensinamentos e treinarmos a mente, fazemos um furo na existência cíclica. Eventualmente escaparemos. Para os praticantes buddhistas, o samsara não é infinito.
Tomar o voto de refúgio nos fornece uma entrada na Sangha, mas nossa permanência lá depende de nós mantermos seu objetivo espiritual.
Se tomarmos refúgio mas não abraçarmos realmente os ideais da Sangha, seremos como alguém que esconde algo estragado sob o carpete e então cheira em qualquer outro lugar, insinuando que aquele odor é problema de alguma outra pessoa. Mas são a nossa própria esperança, medo e auto-importância — e não os de qualquer outra pessoa — que causam o odor rançoso.
Como praticantes principiantes, somos como crianças agarrando a saia de sua mãe. Encontramos um suporte tremendo naqueles praticantes que reconhecem a natureza da mente. São às qualidades desses membros da Sangha que aspiramos e mantemos. Se os observarmos, podemos ver como controlar nossa mente, como corrigir nossa fala e como nos conduzirmos.
Se virmos alguém recitando mantras, nos lembramos de praticar a fim de ajudar todos os seres. Se virmos alguém ajudando uma outra pessoa, meditando ou trabalhando muito além de seus limites, nós a emulamos.
Se estivermos sempre conscientes das qualidades positivas dos companheiros de nossa Sangha e seguirmos o seu exemplo, se ao mesmo tempo tomarmos conhecimento de nossas próprias faltas e defeitos, e se trabalharmos para reduzi-las, nossa prática melhorará.
Como espiritualmente ainda somos crianças, as pernas de nossa prática são extremamente cambaleantes. Apesar de as crianças olharem para os adultos andando e pensarem que podem fazer isso também, elas muitas vezes tropeçam e caem. Isso os ajuda a agarrar em uma mão que é mais segura que as suas.
Muitas vezes, algo que um amigo da Sangha diz nos impedirá de fraquejarmos em nossa prática — ir a uma direção errada ou descer a um grande desvio. Um único comentário pode ajudar a nos estabilizarmos e a restabelecermos nossa motivação.
Controlando nossa mente, mantendo a integridade moral e sendo cuidadosos, consistentes e diligentes, obtemos o respeito de outros membros da Sangha. Mas devemos tomar cuidado para não desenvolvermos orgulho por sermos parte da Sangha.
Ao invés disso, devemos nos lembrar de que estamos no mesmo caminho com a Sangha porque não somos iluminados. Temos venenos mentais para purificar, o que requer prática e verificar constantemente nossas ações do corpo, fala e mente: estamos reduzindo a não-virtude a aumentando a virtude?
Um dos benefícios de fazer prática com os membros da Sangha é a multiplicação de méritos produzida pelo esforço
Além disso, assim como um esforço conjunto é realizado mais rapidamente e melhor se alguém com as habilidades necessárias estiver envolvido, ou assim como uma carga é carregada com maior facilidade se um membro do grupo for mais forte que os outros, a prática espiritual é melhorada pela presença de praticantes avançados.
O Buddha disse que a um a cada quatro membros da Sangha é uma encarnação de um bodhisattva. A motivação pura, a intenção e as qualidades de um bodhisattva aumentam a virtude criada pelos outros praticantes. É por isso que, tradicionalmente, a Sangha pratica junta.
O benefício da atividade da Sangha em grupo surge não apenas de nos sentarmos em almofadas de meditação, mas a partir de tudo o mais que fizermos — enquanto não estivermos auto-focalizados, mas sim cortando completamente o auto-agarramento ao trabalhar pelo benefício dos outros. Imbuindo cada ação com a motivação pura, superamos o auto-objetivo. Nosso compromisso é continuar a praticar deste modo até que todo o samsara seja esvaziado.
Todos nós na Sangha temos a grande fortuna de estarmos sob a proteção das Três Jóias. Temos as iniciações e ensinamentos do Vajrayana e os métodos de prática que revelam a natureza da mente. Nunca devemos considerar a Sangha como um grupo casual de amigos, mas sim manter cada praticante em grande estima.
Cada minuto juntos é uma oportunidade preciosa e deve ser uma grande fonte e alegria. Conforme praticamos, treinando e re-treinando o corpo, a fala e a mente, permanecemos muito próximos um dos outros, sem barreiras.
Assim, não apenas colhemos os benefícios do suporte da Sangha, mas também contribuímos para esse suporte. Vamos juntos nesta vida e nos nos encontraremos novamente em vidas futuras. Até a iluminação, esta mandala nunca se separará.
Tendo gerado a motivação pura e tendo tomado a prática formal e a atividade do Dharma com a Sangha, dedicamos nossa mérito não apenas aos os membros próximos da Sangha, mas a todos os seres sencientes.
Antes de tudo, dedicamos nossa prática como uma única mandala e nossas atividades do corpo, fala e mente à remoção de obstáculos à vida em si, com a aspiração de que a vida de ninguém seja encurtada nem mesmo por um único dia. Para um praticante, cada dia tem o potencial para a prática e para um atingimento maior.
Além disso, dedicamos nosso mérito com a aspiração de que todos os seres sencientes terão a maior saúde e bem-estar possíveis, que o amor e a compaixão surgirão completamente para eles, e que serão capazes de praticar os métodos do Vajrayana e de atingir a realização completa da verdade absoluta. Deste modo, podemos servir à Sangha em um nível interior, assim como através de nossa motivação pura, preces e dedicação.
10 - AS ESCRITURAS
À semelhança de Jesus Cristo o Buda não deixou nada escrito. De acordo com a tradição budista, ainda no próprio ano em que o Buda faleceu teria sido realizado um concílio na cidade de Rajaghra onde discípulos do Buda recitaram os ensinamentos perante uma assembléia de monges que os transmitiram de forma oral aos seus discípulos. Porém, a historicidade deste concílio é alvo de debate: para alguns este relato não passa de uma forma de legitimação posterior da autenticidade das escrituras.
Por volta do século I a.C. os ensinamentos do Buda começaram a ser escritos. Um dos primeiros lugares onde se escreveram esses ensinamentos foi no Sri Lanka, onde se constitui o denominado Cânone Pali.
O Cânone Pali é considerado pela tradição Theravada como contendo os textos que se aproximam mais dos ensinamentos do Buda. Não existem contudo no budismo um livro sagrado como a Bíblia ou o Alcorão que seja igual para todos os crentes; para além do Cânone Pali, existem outros cânones budistas, como o chinês e o tibetano.
O cânone budista divide-se em três grupos de textos, denominado "Triplo Cesto de Flores" (tipitaka em pali e tripitaka em sânscrito):
1. Sutra Pitaka: agrupa os discursos do Buda tais como teriam sido recitados por Ananda no primeiro concílio. Divide-se por sua vez em vários subgrupos;
2. Vinaya Pitaka: reúne o conjunto de regras que os monges budistas devem seguir e cuja transgressão é alvo de uma penitência. Contém textos que mostram como surgiu determinada regra monástica e fórmulas rituais usadas, por exemplo, na ordenação. Estas regras teriam sido relatadas no primeiro concílio por Upali;
3. Abhidharma Pitaka: trata do aspecto filosófico e psicológico contido nos ensinamentos do Buda, incluindo listas de termos técnicos.
Quando se verificou a ascensão do budismo Mahayana esta tradição alegou que o Buda ensinou outras doutrinas que permaneceram ocultas até que o mundo estivesse pronto para recebê-las; desta forma a tradição Mahayana inclui outros textos que não se encontram no Theravada.
11 - A COSMOLOGIA
A cosmologia budista considera que o universo é composto por vários sistemas mundiais, sendo que cada um destes possui um ciclo de nascimento, desenvolvimento e declínio que dura bilhões de anos.
Num sistema mundial existem seis reinos que por sua vez incluem vários níveis, num total de trinta e um.
O reino dos infernos situa-se na parte inferior. A concepção do inferno budista é diferente da concepção cristã, na medida em que o inferno não é um lugar de permanência eterna nem o renascimento nesse local é o resultado de um castigo divino; os seres que habitam no inferno libertam-se dele assim que o mau karma que os conduziu ali se esgota. Por outro lado, o budismo considera que existem não apenas infernos quentes, mas também infernos frios.
Acima do reino dos infernos pelo lado esquerdo encontra-se o reino animal, o único dos vários reinos perceptível aos humanos e onde vivem as várias espécies.
Acima do reino dos infernos pelo lado direito encontra-se o mundo dos espíritos ávidos ou fantasmas (preta). Os seres que nele vivem sentem constantemente sede ou fome sem nunca terem estas necessidades saciadas. A arte budista representa os habitantes deste reino como tendo um estômago do tamanho de uma montanha e uma boca minúscula.
O reino seguinte é o dos Asura (termo traduzido como "Titãs" ou dos antideuses). Os seus habitantes ali nasceram em resultado de acções positivas realizadas com um sentimento de inveja e competição e vivem em guerra constante com os deuses.
O quinto reino é o dos seres humanos. É considerado como um reino de nascimento desejável, mas ao mesmo tempo difícil. A vida enquanto humano é vista como uma via intermédia nesta cosmologia, sendo caracterizada pela alternância das alegrias e dos sofrimentos, o que de acordo com a perspectiva budista favorece a tomada de consciência sobre a condição samsárica.
O último reino é o dos deuses (deva) e é composto por vários níveis ou residências. Nos níveis mais próximos do reino humano vivem seres que devido à prática de boas acções levam uma acção harmoniosa. Os níveis situados entre o vigésimo terceiro e o vigésimo sétimo são denominados como "Residências Ruras", sendo habitadas por seres que se encontram perto de atingir a iluminação e não voltarão a renascer como humanos.
12 - Tornar-se um Buda
Ao desejar tornar-se budista, deve-se receber refúgio na Jóia Tríplice, como um comprometimento com a prática dos ensinamentos do Buda. A Jóia Tríplice consiste no Buda, no Dharma e na Sangha.
Budistas laicos podem também fazer voto de praticar cinco preceitos em suas vidas diárias. Os Cinco Preceitos são: não matar, não roubar, não ter conduta sexual inadequada, não mentir e não se intoxicar. O preceito de não matar se aplica principalmente a seres humanos, mas deve ser estendido a todos os seres sencientes. É por isso que a Sangha e muitos budistas devotos são vegetarianos. No entanto, não é preciso ser vegetariano para tornar-se budista. O quinto preceito – não se intoxicar – inclui abuso de drogas e álcool. O entendimento deste preceito é uma precaução, por não ser possível manter a plena atenção da consciência e comportamento apropriado quando se está drogado ou bêbado.
Os budistas são incentivados a manter estes preceitos e a praticar bondade amorosa e compaixão para com todos os seres. Os preceitos disciplinam o comportamento e ajudam a diferenciar entre certo e errado. Através do ato de disciplinar pensamento, ação e comportamento, pode-se evitar os estados de mente que destroem a paz interior. Quando um budista incidentalmente quebra um dos preceitos, ele não busca o perdão do pecado por parte de uma autoridade superior, como Deus ou um padre. Ao invés disso, se arrepende e analisa o porquê de ter quebrado o preceito. Confiando em sua sabedoria e determinação, modifica seu comportamento para prevenir a recorrência do mesmo erro. Ao fazer isso, o budista confia no esforço individual de auto-análise e auto-perfeição. Isto ajuda a restaurar paz e pureza de mente.
Muitos budistas montam um altar em um canto tranqüilo de suas casas para a recitação de mantras e a meditação diária. [Um mantra é uma seqüência de palavras que manifestam certas forças cósmicas, aspectos ou nomes dos budas. A repetição contínua de mantras é uma forma de meditação.] O uso de imagens budistas em locais de culto não deve ser visto como idolatria, mas como simbologia. Enfatiza-se o fato de que essas imagens em templos ou altares domésticos servem apenas para nos lembrar a todo momento das respectivas qualidades daquele que representam, o Iluminado, que nos ensinou o caminho da liberação. Fazer reverências e oferendas são manifestações de respeito e veneração aos Budas e Bodhisattvas.
13 - Meditação
A meditação é comumente praticada pelos budistas para obter felicidade interior e cultivar sabedoria, de forma a alcançar a purificação da mente e a libertação. É uma atividade de consciência mental.
A felicidade que obtemos do ambiente físico que nos envolve não nos satisfaz verdadeiramente nem nos liberta de nossos problemas. Dependência de coisas impermanentes e apego à felicidade do tipo "arco-íris" produz somente ilusão, seguida de pesar e desapontamento. Segundo o Budismo, existe felicidade verdadeira e duradoura e todos temos o potencial de experimentá-la. A verdadeira felicidade jaz nas profundezas de nossa mente, e os meios para acessá-la podem ser praticados por qualquer um. Se compararmos a mente ao oceano, pensamentos e sentimentos tais como alegria, irritação, fantasia e tédio poderiam ser comparados a ondas que se levantam e voltam a cair por sobre sua superfície. Assim como as ondas se amansam para revelar a quietude nas profundidades do oceano, também é possível acalmar a turbulência de nossas mentes e revelar pureza e claridade naturais. A meditação é um meio de alcançar isso.
Nossas ilusões, incluindo ciúmes, raiva, desejo e orgulho, originam-se da má compreensão da realidade e do apego habitual à nossa maneira de ver as coisas. Através da meditação, podemos reconhecer nossos erros e ajustar nossa mente para pensar e reagir de maneira mais realista e honesta. Esta transformação mental acontece gradualmente e nos liberta das falácias instintivas e habituais, nos permitindo adquirir familiaridade com a verdade. Podemos, então, finalmente, nos libertar de problemas como insatisfação, raiva e ansiedade. Finalmente, compreendendo a maneira como as coisas de fato funcionam, nos é possível eliminar completamente a própria fonte de todos os estados mentais incômodos.
Assim, meditação não significa simplesmente sentar-se em uma determinada postura ou respirar de uma determinada maneira; estes são apenas recursos para a concentração e o alcance de um estado de mente estável. Apesar de diferentes técnicas de meditação serem praticadas em diferentes culturas, todas elas partilham o princípio comum de cultivar a mente, de forma a não permitir que uma mente destreinada controle nosso comportamento.
14 - MUDRAS
Os Mudras são posturas feitas com as mãos usadas na Ioga na dança e nas imagens sagradas do Budismo para despertar e harmonizar os centros energéticos do corpo. Usados na iconografia Budista e no Vajrayana, cheios de simbolismo e beleza, esses gestos criam uma conexão do praticante com a energia do Buddha que é invocado pela repetição dos mantras. Eles podem ser praticados a qualquer hora, trazendo calma e concentração para sua vida.
O Mudra no budismo está sempre relacionado a um Mantra e um Mandala. Juntos eles formam os três segredos do universo, pensamento, verbo e ação (jap. Sanmitsu).
Mudra, uma palavra com muitos significados, é caracterizada como gesto, posicionamento místico das mãos, como selo ou também como símbolo. Estas posturas simbólicas dos dedos ou do corpo podem representar plasticamente determinados estados ou processos da consciência.
Mas as posturas determinadas podem também, ao contrário, levar aos estados de consciência que simbolizam. Parece que os mudras originaram-se na dança indiana, que é considerada expressão da mais elevada religiosidade. O significado espiritual dos mudras encontra sua expressão perfeita na arte indiana.
Os gestos das divindades representadas na arte hinduísta e budista e os atributos que os acompanham simbolizam suas funções ou aludem a determinados acontecimentos mitológicos.
No decorrer dos séculos, os buddhas e bodhisattvas representados iconograficamente com seus gestos simbólicos e atributos propiciaram o estado de espírito próprio da meditação e criaram uma profunda atmosfera de crença.
14.1 - MANTRAS
O Mantra (do sânscrito Man mente e Tra alavanca) é uma sílaba ou poema religioso normalmente em sânscrito. Os mantras originaram do hinduísmo, porém são utilizados também no budismo e jainismo.
Os mantras são entoados como orações, repetidos como as do cristianismo. Contudo, diferentemente do cristianismo, não constituem propriamente um diálogo com Deus.
Os mantras em geral são muito curtos, um breve verso comportando algumas sílabas e com sentido bem claro. Mas eles também podem consistir numa extensa combinação de sílabas aparentemente desprovidas de sentido. Os "sons-semente", formados de uma única sílaba e que terminam quase sempre por uma nasal, como o m ou n, constituem mantras ainda mais complexos e enigmáticos. Dentro desta categoria, o mantra mais conhecido é OM (AUM), palavra que diz-se contém a chave do universo. OM corresponde às três principais divindades - Brahma, Vishnu e Shiva.
Os mantras são compostos de diferentes formas, eles podem ser o produto de uma inspiração comunicada diretamente pelo Cosmos ou podem resultar também de uma meditação, e nesse caso, ser uma emanação do espírito inconsciente de um iogue. Alguns são recolhidos diretamente no akasha, o éter cósmico ou memória universal, por adeptos de altíssimo grau, outros mantras são obras de poetas, cantores ou de místicos. Muitos mantras, considerados dentre os mais eficazes, foram compostos através de um dos vários métodos usados para reduzir a uma curta fórmula hermética toda uma obra importante, este procedimento é, às vezes, utilizado em proporções inimagináveis, é desta forma por exemplo, que um livro sagrado contendo milhares e milhares de versos podem ser resumido num só capítulo. Este capítulo pode, em seguida, ser reduzido a um só parágrafo, depois a um verso e, finalmente, a uma única sílaba . Esta sílaba última tem um poder tão grande que de forma análoga a um micro ponto da moderna computação, encerra a essência de todo o tratado. O domínio desse mantra conferirá imediatamente ao discípulo uma compreensão intuitiva do conjunto do texto.
Além de OM , existem outros mantras do tipo "som-semente", tais com krim, hrim, vam, gam, ram, shrim, etc ..., cujas vibrações são inicialmente concentradas , e depois projetadas seja para o interior de si mesmo, seja para o exterior, na forma de invocações , ordens, bênçãos com o propósito de agir como instrumento de proteção, de poderes curativos e armas de defesa.
Os mantras "internos" são dirigidos para uma parte do corpo, tal como a cabeça, o espaço entre as sobrancelhas, o plexo solar ou os órgãos sexuais, onde produzem vibrações de energias precisas. Dessa forma, os mantras orientais dirigidos para o crânio provocam ressonância nos alvéolos do cérebro, criando um tipo de iluminação mística. Afirma-se mesmo, na mantra ioga, que certos mantras efetuam uma viagem circular no corpo humano, e que suas reverberações provocam o desaparecimento de tecidos usados e gastos, substituindo-os por tecidos novos. Os mantras podem ser dirigidos para uma parte específica do corpo que tenha necessidade de ser revigorada ou curada.
Acredita-se que existe um mantra para todos os estados e todas as doenças e melhor ainda, para todos os problemas, de qualquer natureza. Todos podem ser resolvidos com a entoação dos sons convenientes e apropriados, porque cada mantra é um som, e as vibrações sonoras constituem a própria base do universo. As doutrinas orientais atribuem enorme importância ao conhecimento e uso dos mantras.
É comum admitir que os efeitos de um mantra são reforçados com a repetição do mesmo : a entoação sem fim da fórmula aumenta o efeito de seus benefícios . O mantra age sobre o espírito, permitindo gradualmente ao praticante compreender seu significado profundo. Sua constante repetição, sobretudo quando combinada com os pranayamas, ou técnicas respiratórias, contribui para suscitar um estado de transe e provocar uma iluminação mística. O mantra penetra nos reinos sobrenaturais, e de certa forma, compele os deuses a responder às preces que lhes são feitas. Se uma pessoa repete (com correção) cem mil vezes um certo mantra que objetiva poder , homens e mulheres lhe obedecerão implicitamente ; se essa pessoa o repete duzentas mil vezes , ela poderá dominar todos os fenômenos naturais ; com um milhão de vezes , conseguirá a faculdade de viajar através de todos o universo. Utilizam-se rosários especiais para controlar o número de repetições. São feitos geralmente de grãos secos, enfiados num cordão.
Por meio de um único mantra pronunciado em voz alta, ou murmurado, ou repetido mentalmente, pode obter aquilo que procura, pois todas as coisas são formas de manifestação do som. E o próprio Brahma é o Som do qual se nutre o universo.
14.2 - MANDALAS
Mandala em sânscrito significa "círculo mágico", um círculo de energia.
A Mandala é constituída por desenhos geométricos - basicamente círculos, quadrados e triângulos - que se inscrevem uns aos outros formando ou se entrelaçando a imagens simbólicas formando um grande círculo contendo várias imagens significativas.
A Mandala é a expressão visual do retorno à Unidade pela delimitação de um espaço - o espaço dentro do círculo - símbolo do "espaço sagrado". A circunferência que delimita a Mandala tem como origem o próprio ponto central e limita esse espaço circular separando-o do restante do Todo.
Este espaço então é preenchido com várias imagens representativas das mais variadas ligações simbólicas, resultando numa representação gráfica da relação dinâmica entre o Homem e o Cosmo.
Desde os tempos mais remotos até os dias de hoje as Mandalas são usadas como focos de meditação, para atrair abundância material e sorte nos negócios, para amenizar as dificuldades, para captar energia, harmonizar o ambiente e transformar vibrações negativas em positivas.
A função da MANDALA pode ser direcionada para o autoconhecimento e desenvolvimento espiritual (Mandalas direcionadas ou específicas), prosperidade pessoal, para atrair relacionamentos harmoniosos (Mandala Pessoal), para harmonização entre elementos humanos como casais, sócios, pais e filhos etc.. (Mandala do Relacionamento) bem como para obter êxito material, profissional e/ou empresarial (Mandala da Prosperidade).
15 – CONCLUSÃO
O Budismo parte da experiência da decadência da condição humana na forma de sofrimento. Isso demanda libertação pelo despojamento, ao esvaziar a mente e permitir que a última realidade surja em nós como experiência, a qual é a essência de cada ser.
A abordagem feita pelo budismo se assemelha mais a um sistema ético de vida, a uma ciência humana que a uma lógica especulativa ou a uma filosofia strictu sensu.
O budismo é uma das grandes tradições espirituais da humanidade. O praticante deve buscar abster-se de ações prejudiciais, cumprir as benéficas e purificar seu espírito.
Não presta culto a deuses, uma vez que não é fruto de uma revelação, mas trata de tudo que se refere ao imaterial, o que lhe dá uma característica de religião e não religião.
O budismo não é teísta nem ateu. Cada ser tem seu livre arbítrio, ou seja, escolhe por que via deseja seguir.
O budismo parece descartar as considerações teológicas e metafísicas de modo voluntário.
Para o budismo, todas as formas se manifestam como sujeitas à decadência e divisão. A fixação em formas específicas, mesmo as espirituais, são consideradas ilusões. Assim, separas um fenômeno de outro é ilusão, pois nada existe de modo independente. Nada é para sempre e nenhuma manifestação única expressa de modo completo a realidade suprema.
A autodisciplina oferece o caminho para fora da ilusão e leva a verdadeira percepção, pois apegar-se ao que não existe leva ao sofrimento.
Não há separações entre entidades, e isso se aplica ao conceito de deuses, pois à medida que se encontram de alguma forma, separados estão à parte da experiência diária.
Assim, Buda ensinou que não devemos buscar pela intervenção divina em nossas vidas. Os deuses existem (no caso os indianos, porém creio que de acordo com a crença budista, possa ser extensivo a qualquer outro deus), porém se sujeitam às mesmas leis universais que os seres humanos devem observar. Logo não exercem qualquer influência sobre nossa vida diária.
16 - BIBLIOGRAFIA
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História Viva - Grandes Religiões – Budismo. Ed. Duetto.
O Guia Completo das Religiões do Mundo. Brandon Toropov e Padre Luke Buckles. Ed Madras.