Em matéria publicada no Estadão, a respeito do poder cerebral com as sinápses, mais uma vez o desserviço criacionista, com sua má retórica atacam. Desta vez disseram o que os cientistas jamais disseram vejamos: aqui
Convém que primeiro leiamos a reportagem:
Poder do cérebro pode vir da complexidade das sinapses
Ao contrário do que se acreditava, não é apenas o maior número de neurônios que faz cérebros mais evoluídos
The New York Times
Uma nova dimensão da complexidade evolutiva emergiu, agora, de um estudo de cruzamento de espécies liderado por Seth Grant do Instituto Sanger no Reino Unido.
Grant olhou para a conexão entre neurônios, conhecida como sinapse, que até agora acreditou-se ser uma função padrão dessas células.
Porém, na verdade, as sinapses se tornam consideravelmente mais complexas a cada grau evolutivo, reportaram Grant e seus colegas no domingo, 8, na Nature Neuroscience. Em vermes e moscas, as sinapses atuam como mediadoras de formas simples de aprendizado, enquanto em animais maiores elas são construídas de um arranjo muito mais rico de componentes protéicos e conduzem aprendizado complexo e reconhecimento de padrões, disse Grant.
O achado pode abrir uma nova janela no conhecimento sobre como o cérebro opera. "Uma das maiores questões na neurociência é responder quais são os princípios de design pelos quais o cérebro humano é construído, e esse é um desses princípios", afirmou Grant.
Se as sinapses são pensadas como os chips de um computador, então o poder do cérebro tem sua forma dada pela sofisticação de cada chip, assim como o número deles. "Da perspectiva evolucionária, os grandes cérebros dos vertebrados não só têm mais sinapses e neurônios, mas cada uma dessas sinapses é mais poderosa - vertebrados têm grandes 'internets', com grandes computadores, e invertebrados têm pequenas 'internets' com pequenos computadores", disse Grant.
Ele incluiu células de levedura em sua pesquisa e descobriu que elas contêm muitas proteínas equivalentes às presentes nas sinapses humanas, mesmo sendo um micróbio unicelular sem sistema nervoso. As proteínas da levedura, usada para percepção de mudanças no ambiente, sugerem que a origem do sistema nervoso, ou pelo menos das sinapses, começou dessa maneira.
As capacidades do cérebro humano podem não depender tanto de sua rede de neurônios, mas dos cálculos complexos que suas sinapses realizam, disse Grant. Sinapses nos vertebrados têm cerca de mil proteínas diferentes, organizadas em 13 máquinas moleculares, uma das quais é construída de 183 proteínas diferentes.
Essas sinapses não são iguais em todo o cérebro, descobriu o grupo de Grant; cada região usa combinações diferentes das mil proteínas para fabricar suas sinapses personalizadas.
Cada ligação entre neurônios pode, presumivelmente, fazer cálculos sofisticados baseando-se em mensagens que chegam de outros neurônios. O cérebro humano tem 100 bilhões de neurônios, conectados em 100 trilhões de sinapses.
Os caminhos de diversas desordens mentais vêm de defeitos nas proteínas sinápticas, mais de 50 das quais já foram ligadas a doenças como esquizofrenia, disse Grant.
Edward Ziff, um especialista em sinapses da Universidade de Nova York, disse que o trabalho de Grant foi o primeiro em que sinapses foram analisadas pela comparação entre espécies. "Eu diria que esse trabalho é único." "Grant foi um pioneiro em fazer esse tipo de análise e merece muito crédito por isso, embora uma considerável quantidade de adivinhações tenha sido envolvida."
Agora vejamos a reportagem em sua forma mal compreendida e deturpada (comentários deturpadores em vermelho):
Complexidade das sinapses – design admitido
Apesar de a matéria do Estadão começar assim: “A receita da evolução para fazer um cérebro mais complexo parece simples demais há muito tempo. Apenas aumente o número de células nervosas, ou neurônios, e as conexões entre eles. O cérebro humano, por exemplo, tem três vezes o volume do cérebro de um chimpanzé”, o texto deixa claro que os pesquisadores, por mais que se esforcem com malabarismo lingüísticos, não conseguem escapar da conclusão de que a complexidade do cérebro aponta para um design (e tudo mundo sabe que design pressupõe um designer).
É obvio que tudo na natureza possui um design a fim de que o ser se adapte ao mundo em que vive.
Realmente existe um designer iteligente e o tal designer se denomina evolução das espécies. e não deus bíblico ou qualquer outra divindade. Assim, não ha malabarismo algum utilizado pela linguagem do jornal exceto pelo comentarista.
A matéria prossegue:
“Uma nova dimensão da complexidade evolutiva emergiu, agora, de um estudo de cruzamento de espécies liderado por Seth Grant do Instituto Sanger no Reino Unido. Grant olhou para a conexão entre neurônios, conhecida como sinapse, que até agora acreditou-se ser uma função padrão dessas células. Porém, na verdade, as sinapses se tornam consideravelmente mais complexas a cada grau evolutivo, reportaram Grant e seus colegas (...) na Nature Neuroscience. Em vermes e moscas, as sinapses atuam como mediadoras de formas simples de aprendizado, enquanto em animais maiores elas são construídas de um arranjo muito mais rico de componentes protéicos e conduzem aprendizado complexo e reconhecimento de padrões, disse Grant.
Até aqui sem novidades.
“O achado pode abrir uma nova janela no conhecimento sobre como o cérebro opera. ‘Uma das maiores questões na neurociência é responder quais são os princípios de design pelos quais o cérebro humano é construído [note as palavras usadas aqui num texto que começa com ‘receita da evolução’], e esse é um desses princípios’, afirmou Grant.
Exatamente, o que a pesquisa quer saber é como cérebro humano é construído, ou seja , é realmente entender o seu design, projetado pela evolução das espécies, bem como suas funções.
“Se as sinapses são pensadas como os chips de um computador, então o poder do cérebro tem sua forma dada pela sofisticação de cada chip, assim como o número deles. ‘Da perspectiva evolucionária, os grandes cérebros dos vertebrados não só têm mais sinapses e neurônios, mas cada uma dessas sinapses é mais poderosa - vertebrados têm grandes ‘internets’, com grandes computadores, e invertebrados têm pequenas ‘internets’ com pequenos computadores’, disse Grant.
[Pequenos ou grandes, internet e computadores sugerem planejamento inteligente, não é mesmo? Por que o cérebro, tremendamente mais complexo, não?] (...)
Aqui já começa a falácia da falsa analogia...
Grant apenas exemplifica como funciona um cérebro, com base no modelo de rede. Mas dai, extrapolar para um criador inteligente, comparando o cérebro a uma máquina comum, isso é demais.
Uma máquina requer o planejamento inteligente, em princípio de seres humanos. Todavia, comparar-se órgãos de um corpo com máquinas é uma estupidez desmedida. Estes se constróem com base no DNA das espécies, selecionados por milões de anos. Aquelas com base em projetos e peças que requerem projetos e maquinário especializado.
Se houvesse tanto planejamento inteligente assim, por que determinados animais, bem como seres humanos nascem com deficiências cerebrais e em outros órgãos?
Então seria o projetista um projetista incompetente e não inteligente, pois seu "controle de qualidade" deixa determinadas falhas passarem, o que é péssimo para o produto.
"Cada ligação entre neurônios pode, presumivelmente, fazer cálculos sofisticados baseando-se em mensagens que chegam de outros neurônios. O cérebro humano tem 100 bilhões de neurônios, conectados em 100 trilhões de sinapses. Os caminhos de diversas desordens mentais vêm de defeitos nas proteínas sinápticas, mais de 50 das quais já foram ligadas a doenças como esquizofrenia, disse Grant." [Se defeitos em algumas proteínas sinápticas já causam desordens, como entender a evolução gradual desse conjunto integrado?] (...)
Defeitos em proteínas não tem como causa o órgão em si, mas o DNA do ser. Ao apresentar a construção sináptica de uma mosca ou de outras espécies, temos um nítido panorama de como a estrutura cerebral evoluiu.
De modo a se entender a evolução gradual de um sistema nervoso, basta dar um pulinho à sala de aulas de biologia do colégio e prestar atenção nas aulas de fisiologia animal - sistema nervoso.
Ou então ir para a universidade e se especializar em sistema nervoso.
Vejamos a evolução de um sistema nervoso nos filos que existem hoje:
Em protozoários, há mecanismos de regulação e adaptação ao meio por processos químicos.
Quanto aos poríferos, há sistemas de regulação para o fluxo de água. Estas espécies não possuem um sistema nervoso, apenas mecanismos regulatórios.
Os celenterados apresentam um sistema nervoso difuso, representado por uma rede de células nervosas sub-epidermais ligadas a células sensoriais (células fotorreceptoras e estatólitos - equilíbrio) formando os ropálios (órgãos sensoriais).
Os Platyhelminthes (vermes achatados) possuem um sistema nervoso formado por dois gânglios cerebrais e dois nervos longitudinais ventrais, sendo que os gânglios e os nervos são ligados transversalmente por comissuras. As planárias apresentam dois ocelos na cabeça (olhos simples) além de dois órgaos auriculares quimiorreceptores também na cabeça.
Os Platyhelminthes já possuem cefalização e centros nervosos coordenadores.
Os Aschelminthes possuem um sistema nervoso simples, sendo o seu esôfago circundado por um anel nervoso. Deste anel saem dois nervos principais longitudinais, sendo um dorsal e um ventral. Não possuem gânglios.
Os Anelídeos possuem sistema nervoso ganglionar (dois gânglios cerebrais e um gânglio sub-faríngeo). Estes gânglios se ligam por meio de um anel nervoso na faringe, sendo que do gânglio sub-faríngeo sai um longo cordão nervoso ventral.
As minhocas possuem células táteis foto e quimiorreceptoras, dispersas no epitélio (especialmente nos primeiros segmentos). Quanto aos poliquetos, há olhos bem diferenciados.
Para os Artropodes (insetos, aracnídeos, crustáceos e miriápodos), o sistema nervoso é representado por vários gânglios concrescidos na cabeça, formando uma massa cerebral.
Há a cadeia ganglionar ventral (gânglios sub-esofageanos) e uma rede nervosa periférica bem desenvolvida.
Seus órgãos dos sentidos são especializados (olhos simples ou compostos, órgãos auditivos, tácteis e olfativos nas antenas).
Nos moluscos, há um sistema nervoso ganglionar por pares (cerebrais, pedais, pleurais e viscerais).
Os órgãos sensoriais são olhos (bem desenvolvidos em cefalópodos, tendo íris e cristalino), estatócitos (equilíbrio) e osfrádios (quimiorreceptores).
Os equinodermos possuem um nervo anelar ao redor da região bucal, de onde partem os nervos radiais. Possuem células tácteis e olfativas em toda a superfície do corpo, sendo que as estrelas possuem células fotorreceptoras nas extremidades dos braços.
Os Cordados tem seu sistema nervoso formado a partir da ectoderme, na linha mediana dorsal, surgindo como um tubo nervoso longitudinal.
Em cordados inferiores, o sistema nervoso é formado por um gânglio ou um tubo neural, tal como os protocordados.Estes nao possuem notocorda típica (bastonete situado na linha mediana dorsal, que nos cordados superiores é substituída pela espinha dorsal).
Para os Hemicordados, o sistema nervoso possui dois nervos longitudinais(um dorsal e um ventral), unidos por um nervo circular na região anterior. Não há olhos ou órgãos sensoriais especializados.
Quanto aos Tunicados (urocordados), o sistema nervoso se compõe de apenas um gãnglio na região da faringe, sendo que na fase larval há um tubo neural. Não possuem órgãos sensoriais especializados, mas apenas mecano e quimiorreceptores.
Os Cefalocordados têm como sistema nervoso um longo tubo com uma pequena dilatação anterior (vesícula cerebral). Não há órgãos sensoriais especializados, sendo que há em sua região bucal células sensoriais e também há uma fosseta olfativa conectada à vesícula cerebral.
Os Vertebrados possuem um sistema nervoso central, representado por encéfalo e pela medula raquidiana, com dez ou doze pares de nervos cranianos.
Nos Cyclostomados o sistema nervoso é formado por encéfalo com as cinco vesículas presentes nos vertebrados, sendo que há dez pares de nervos cranianos. Seus órgãos sensoriais são: olhos, épitélio olfativo, ouvido interno, e linha lateral para a percepção de correntes e pressão da água.
Os peixes possuem encéfalo com telencéfalo e cerebelo, com dez pares de nervos cranianos. Os olhos são desenvolvidos e o cristalino é esférico. Possuem ouvido interno, olfato desenvolvido e linha lateral no corpo. A cabeça possui as ampolas de Lorenzini (órgãos termorreceptores).
Para os anfíbios, o encéfalo é pequeno, com dez pares de nervos cranianos. Seus olhos são desenvolvidos (adaptados à visão de objetos em movimento). Possuem ouvido interno e médio.Possuem épitélio olfativo nas fossas nasais.
Os répteis possuem telencéfalo desenvolvido com doze pares de nervos cranianos.Há olhos, epitélio olfativo nas fossas nasais, ouvido intern, médio e um curto conduto auditivo externo. nas cobras e lagartos há os órgãos de Jacobson (divertículos que se abrem no fundo da cavidade bucal, cuja função é olfativa).
Quanto às aves, o telencéfalo e o cerebelo são bem desenvolvidos e cobrem as demais vesículas, sendo que há doze pares de nervos cranianos.Quanto aos olhos, há a visão de cores, há ouvido interno médio e externo, porém não possuem órgãos gustativos em sua língua.
Os mamíferos possuem encéfalo bem desenvolvido, tendo maior volume o telencéfalo, com dois hemisférios subdivididos em lobos. Há grande superfície de cortex com muitos neurônios (mamíferos girencéfalos - mais evoluídos). Para os lisencéfalos (mais primitivos), o córtex cerebral é liso, sendo menor o número de neurônios.
O cerebelo é bem desenvolvido e apresentam doze pares de nervos cranianos. Possuem olhos com visão de cores, ouvido interno, médio e externo, com pavilhão auditivo (orelha) e possuem, epitélio gustativo e olfativo bem desenvolvido. Sobre a superfície do corpo possuem grsnde número de estruturas sensoriais.
A partir desta breve exposição dos filos hoje existentes, é possível se verificar a gradual evolução do sistema nervoso. À medida que o meio exigiu das espécies, estas tiveram de responder sob o risco de se extinguirem, como aconteceu com muitas desde que a vida surgiu em nosso planeta.
Dessa forma, o nosso designer inteligente ( a evolução das espécies) atuou de forma a moldar seja o siestema nervoso, seja qualquer outro sistema a fim de fazer com que a vida continuasse a existir.
Não há saltos bruscos como afirmam os criacionistas. É nítida a evolução gradual de qualquer órgão ou sistema existente em um organismo.
Infelizmente muitas espécies desapareceram. Certamente a fauna cambriana e a edicarana responderiam muitas de nossas questões acerca da evolução dos órgãos e sistemas que hoje se fazem presentes nas espécies que conhecemos.