quinta-feira, 16 de julho de 2009

TUDO É ABSOLUTO, DESDE QUE EM MEU CÍRCULO

INTRODUÇÃO

O post abaixo retirado daqui causou-me estranheza, principalmente no que se refere a uma análise crítica acerca de um caso ocorrido numa tribo indígena.

Tal post questiona a existência ou não de verdades absolutas no que tange a forma de pensar dos seres humanos, no que concerne á relatividade desta.


Todavia o Sr. Issac Malheiros comete uma série de atropelos lógico-filosófico-sociológico-antropologicos a fim de examinar a relatividade cultural que existe no seio da humanidade, beirando o discurso dos fundamentalistas.



Issac Malheiros é pastor-capelão do Colégio Adventista de Indaial (SC).


Vejamos o post; em vermelho seguem meus comentários:



Tudo é relativo?

Uma menina de dois anos foi condenada à morte na Amazônia, por não ter se desenvolvido fisicamente. A indiazinha Hakani ficou órfã, pois os pais se negaram a matá-la conforme a lei dos suruwahás e tomaram o veneno destinado a ela. O irmão mais velho ficou como responsável pela execução. Enterrou-a viva, mas alguém ouviu o choro abafado e a resgatou. Então foi escalado o avô, que atirou uma flecha na menina, mas vendo o sofrimento da pequena, suicidou-se. Hakani foi abandonada pela tribo, mas resistiu e sobreviveu como indigente comendo restos de comida e insetos por três anos. Então um irmão a levou a um casal de missionários que finalmente a resgatou e cuidou da menina[1].

Apesar do relato dramático, há quem não veja nada de errado no infanticídio. A justificativa: relativismo e respeito à cultura indígena. Sob a ótica relativista, os direitos humanos não poderiam ser aplicados aos indígenas, pois não fazem parte de sua tradição cultural e valores. Toda e qualquer prática e valor cultural são legítimos e devem ser preservados, pois o conceito de “certo” e “errado” é relativo àquela cultura. Em outras palavras: a morte de Hakani estaria justificada na Floresta Amazônica, mas seria crime numa cidade.

Ao tratar do caso da indiazinha Sr. Issac, para nós é um crime matar uma criança, mas para os índios não. Imagine o que é vc ser nômade, guerreiro, ter que caçar coletar e ter doentes sob sua guarda. Eles se tornam um fardo a esse tipo de sociedade.

Aos olhos de minha forma de pensar, eu pegaria essa criança e cuidaria dela. Para mim seria um crime matá-la, mas não aos olhos dessa tribo.


Mas que tal matar uma vaca na Índia e comê-la num saboroso churrasco? Se vc fizesse isso, certamente responderia um processo terrível e poderia até ser condenado a castigos físicos ou a morte.



Que tal tomar uma cachaça e comer uma feijoada com todos os pertences suínos na Arábia Saudita? Certamente vc seria condenado por alguma coisa perto do tráfico de entorpecentes e por atentado às normas sanitárias do país.


Que tal vc mutilar o pênis de um bebê de 8 dias (judeus o fazem na circuncisão) ou arrancar o clitóris de uma adolescente de 12 anos ( muçulmanos etíopes e da Eritréia o fazem)?



Certo ou errado: isso é sempre relativo? O relativismo é o pensamento que nega a existência de padrões absolutos, universais e imutáveis. Um relativista não crê na existência de verdades absolutas.

Infelizmente, esse pensamento tem encontrado eco entre cristãos. “Deus não é cristão” e “todos deveriam conhecer o Dalai Lama”, aconselhou Desmond Tutu numa reunião ecumênica em Porto Alegre[2]. Essas palavras e fatos não representariam preocupação, não fosse o cenário ecumênico e relativista em que surgiram. O antigo chavão “todos os caminhos levam a Roma” foi ampliado para “todos os caminhos levam a Deus”.[3].

Desde que dentro de seu círculo, essa relatividade morre, mas se expandido para outros horizontes, ela se mantém, conforme os exemplos acima.

Quanto ao ecumenismo, eu o apóio, pois é uma forma de se entender as diferenças entre as pessoas e aprender a lidar com elas, superá-las e respeitá-las.



Agora, cada povo e cada crença têm sua concepção pessoal de deus e de como chegar a esse deus. Assim essa certeza somente se faz verdadeira ao círculo em que vive cada indivíduo.



Para um seguir as palavras de Jesus leva ao paraíso, para outro, ser enterrado com o livro dos mortos e ser mumificado levaria ao paraíso, para outro, reencarnar até a perfeição levaria ao paraíso, para outro, morrer como mártir, explodindo um prédio, leva ao paraíso, para outro ,morrer em batalha leva ao paraíso e assim vai.



Sr. Issac!!!! Analise a cultura e a doutrina por que cada uma das pessoas passa antes de dizer o que é certo ou errado. Essa certeza somente existe para cada um de nós e difere conforme o que pensamos e o que fomos ensinados a pensar.


Em nível individual, o relativismo manifesta-se na defesa de práticas contrárias aos princípios bíblicos (sexo pré-marital, intemperança, diversões impróprias, pornografia), justificadas com clichês como “eu acho que cada um, cada um”. No mundo físico, obviamente, existem absolutos: um poste diante de um carro em alta velocidade ou o chão num salto sem pára-quedas. Mas o mundo das crenças e convicções está submerso num mar de relativismo [4], gerando uma religião individual, self-service, com princípios maleáveis, ao gosto do “cliente”.


Somos seres humanos e aprendemos a pensar e analisar. Não somo robôs que recebem um programa que diz aja assim, embora muitas seitas façam isso com seus fieis, os quais, muitas vezes, precisam ser desprogramados das lavagens cerebrais efetuadas.


Realmente, cada um é cada um, cada cultura é uma coisa. Cada um está certo dentro de seu círculo cultural.


Eu não usaria sarongue nem andaria de mãos dadas com um homem, mesmo se eu fosse morar na Indonésia, nem faria sexo com uma menina de 12 anos se fosse para a Tailândia, pois isso para a minha forma de pensar é algo estranho e absurdo.


Também não colocaria meu pênis dentro de um cano de madeira e andaria nu se fosse visitar os nativos de Papua, como não enfiaria minha mão em um formigueiro para provar que sou homem se fosse visitar determinados índios na Amazônia, ou comeria lagartas se fosse conhecer os bosquimanos e nem sacrificaria um animal a algum orixá se fosse para a Nigéria.


Também, não sou obrigado a aceitar Jesus, ou Maomé, ou Buda, ou beber da água do Ganges, ou andar com uma coleção de cabeças se fosse viver entre os caçadores de cabeças do Camboja, ou dormir com a mulher de um inuit se fosse para a Lapônia.


Formas de pensar (costumes, culturas, religião e ideologias) são particularidades nossas e se referem ao nosso círculo cultural e ela é certa dentro deste círculo e a quem quiser aceitá-la.


O relativismo atingiu até mesmo o ateísmo. O chamado neo-ateísmo não afirma categoricamente que Deus não existe. O que se afirma hoje em dia é que “provavelmente Deus não existe”[5]. A histórica distinção entre agnosticismo e ateísmo foi suavizada, pois o ateísmo deixou de ser encarado como um tipo de verdade absoluta[6].


O ateísmo possui falhas lógicas, pois é incapaz de concluir que o sobrenatural não existe.


Dessa forma, o agnosticismo, em termos lógicos e filosóficos, assume posição mais segura que a do ateísmo, uma vez que tira o caráter da inexistência de deuses como posição de verdade absoluta.


O ateu não crê no sobrenatural por convicção de que este não existe, assim como o místico/religioso crê no sobrenatural por mera convicção de que este existe. Todavia, ambos não demonstram categoricamente (de modo lógico) as posições por eles assumidas.


Caberia ao místico/religioso trazer indícios plausíveis acerca da existência do sobrenatural (deuses, fadas, espíritos, etc.), o que daria a possibilidade de falsear sua tese. Se não for falseada, teremos uma probabilidade de que aquilo se torne uma verdade cada vez mais absoluta a medida que se confirme, sem jamais ser 100%.


Mas a negação se pauta pela inexistência de indícios, o que de forma alguma a torna uma verdade 100% absoluta. Caso tal indício apareça, a veracidade da negação cairá por terra (assumirá probabilidade zero) e a probabilidade do evento ser real começa a ganhar força, à medida que este se confirmar por novos experimentos.


Porém, o mundo das opiniões não demonstra nada disso de forma que possa ser falseado, o que afasta o caráter de objetividade para tais afirmações.


A situação atual está bem descrita em Juízes 21:25: “Naqueles dias não havia rei em Israel; porém cada um fazia o que parecia reto aos seus olhos”. Onde não há um padrão objetivo, a subjetividade (opinião e gosto pessoal) torna tudo lícito e desfaz a fronteira entre certo e errado.


Sr. Issac, o mundo vigente à época dos juízes não pode ser comparado com o mundo atual, pois estamos tratando de uma tribo no meio de um deserto e não de um mundo globalizado. Isso é uma falsa analogia, ou seja, é falácia.



Dentro de uma tribo não dá para cada um fazer o que bem entender. Para que haja união, esta deve ser política, cultural, étnica e religiosa.



Hoje, nossa união se dá em termos de normas jurídicas. Vide o Brasil; há diversidade étnica, cultural, religiosa e mesmo política (padrão subjetivo). Mas nos mantemos unidos por uma Constituição e por meio de normas jurídicas que guiam nossa conduta para que possamos viver em sociedade (padrão objetivo).



A Verdade Absoluta existe

No entanto, não há lógica no pensamento relativista. Se você disser que “não existe verdade absoluta”, então a sua própria frase não é verdadeira. Você precisa provar que é absolutamente verdade que não exista verdade absoluta.

Porém, se o seu argumento estiver certo, ele refuta a si mesmo. E se ele estiver errado, então existe verdade absoluta. A existência da verdade absoluta traz esse problema: você teria que afirmá-la para negá-la. Para acabar com ela, você teria primeiro que concordar com ela. Ou seja: pra você estar certo, você teria que estar errado! Essa confusão demonstra o que é um mundo filosófico e intelectual sem Deus.



Bem Sr. Issac, depois de toda essa ginástica lógico-retórica, o Sr. consegue ou não dizer se há alguma verdade absoluta? Pelo visto o Sr. se engasgou pelo caminho e não conseguiu dizer o que se propôs.

Há muitas falhas lógicas nessa ginástica toda:


Primeiro erro: afirmações negativas (vale para Deus não existe), em raciocínio lógico, não levam a conclusões, pois vc não possui indícios concretos para dizer que tal coisa não existiria, ou que existiria outra coisa em seu lugar, ou seja, não podem ser falseadas. Apenas se podem provar as afirmações positivas.


Se eu digo a vc que tal coisa existe, eu tenho de ter uma confirmação se essa tal coisa existe (ex. cisnes negros existem).


Dizer que tal coisa não existe, simplesmente ainda essa tal coisa não foi verificada (ex. cisnes azuis com bolinhas vermelhas não existem). Não existem, pois não foram verificados, ou seja, é forte a probabilidade de não existirem. Mas será que no futuro não poderiam existir? (ex. veja os porquinhos fluorescentes).


A negativa se dá em virtude da não observação de algo, mas não afirma categoricamente a inexistência desse algo.


Segundo erro: consiste em se considerar tal frase para tudo.

Para a questão da frase "não existe verdade absoluta", há que se considerá-la em termos relacionados às nossas formas culturais, em toda sua diversidade.

Tal frase não é absolutamente verdadeira, mas a sua probabilidade de sê-lo é tendente a 100%. Caso uma verdade absoluta, em termos de formas de pensar for descoberta, certamente a veracidade de tal frase cairá por terra. Mas até agora... nada.


Terceiro erro: pelo fato de algo não ser provado existir vc conclui que outra coisa existe (argumeto da ignorância).


Sr. Issac, simplesmente fez uma conclusão por absurdo, ainda que errônea, da frase “verdades absolutas não existem”, a qual se trata de um paradoxo, se aplicada a tudo e se considerada uma verdade absoluta, o que não é. Porém, já vimos que isso somente se aplica a formas de pensamento externados ao nosso círculo.


Mas o raciocínio deveria seguir a fim de se provar que a verdade absoluta existe e este se dá por meio da demonstração que a tal verdade absoluta tenha indícios de ser absoluta dentro de todos os círculos culturais do planeta, o que até o momento não ocorreu.


O relativismo dá a falsa impressão de que é possível todos estarem certos. Mas há opiniões tão contraditórias que admitir que talvez todos estejam certos é um absurdo ilógico [7]. Respeitar as opiniões diferentes não significa admitir que “tanto faz, pois todos estão certos”[8].


Mais uma vez Sr. Issac, estamos certos em nossa forma de pensar e ela é absoluta em nosso núcleo cultural. Todavia, essa certeza não existe se levada para outros sistemas culturais.


Pessoas têm costumes distintos, crenças distintas sistemas de vida distintos, níveis intelectuais distintos, daí pensarem de formas distintas.


Respeitar uma opinião não significa que terá de incorporá-la a sua vida e nem que tenha de se submeter a ela. Significa deixar o outro viver a vida dele.


O curioso é que o relativismo está tão cristalizado que tem se tornado uma forma de absolutismo dogmático: se você tem opiniões bem definidas sobre Deus e a Bíblia, logo sentirá que nem tudo é “relativo” e receberá rótulos como “fundamentalista”, “fanático” ou “intolerante”. Ser relativista se tornou uma verdade absoluta e “não tenha dogmas” se tornou um dogma relativista – nada mais contraditório!

O que é ter uma opinião bem definida sobre um tema filosófico/teológico, além de sua forma de pensar? Estreito esse seu raciocínio!! Se vc quer impor a sua forma de pensar, sem trazer justificativas plausíveis, vc cairá no dogmatismo.


Sabemos que o cristianismo e o islã são mestres nisso, foram e são destruidores de culturas, pois pessoas acham que tal forma de agir é certa e querem a todo custo impor isso aos demais. Mas qual a lógica iserida nisso tudo?


Ai reside o perigo; é tratar formas de pensar como algo absoluto. Essa é a linha adotada pelo fundamentalismo que leva à intolerância, ao fanatismo, à ignorância e à violência.


Mais uma vez, não se trata de ser ou não relativista, mas de respeitar o outro e deixá-lo viver em paz.


O conceito de Verdade Absoluta é bíblico


A Bíblia lida com verdades absolutas: “Porque eu, o SENHOR, não mudo; por isso vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos” (Ml 3:6).

A sua lei é eterna, bem como suas Palavras (Mt 24:35). Deus estabeleceu a diferença absoluta e não-relativa entre a luz e as trevas: “Deus é luz e nele não há treva alguma” (1 Jo 1:5)). E deixa bem claro que quem não segue sua Palavra está nas trevas (Is 8:20).


Aqui o Sr. cai no quarto erro Sr. Issac. O Sr. considera a sua forma de pensar (bíblia) acima de todas as outras. Que lógica o Sr. utilizou para dar respaldo a tal conclusão?


Esta postura se trata de egocentrismo ideológico, ou seja, é a incapacidade ou recusa sistemática em se pôr de um ponto neutro para analisar alguma coisa, atitude patente em religiões abraâmicas quando guiadas pelo fundamentalismo e pela ignorância na compreensão de seus preceitos.


Um adventista não deveria pensar que ser cristão é apenas uma questão de opinião pessoal. Em termos espirituais, só existem duas classes de pessoas: os filhos da luz e os filhos das trevas. E, ao contrário do que prega o relativismo, é impossível que luz e trevas estejam com a razão ao mesmo tempo. Cristãos relativistas não poderiam ser sal da terra e luz do mundo relativizando o sal e a luz (Mt 5:13 e 14).


Essa forma de pensar Sr. Issac, “em termos espirituais, só existem duas classes de pessoas: os filhos da luz e os filhos das trevas”, não se atém às diversas zonas cinzentas que podem fazer parte da natureza dos “filhos da luz” (os “bons cristãos”, em sua pobre e estreita concepção absoluta) e “dos filhos das trevas” (obviamente o resto, conforme sua pobre e estreita concepção absoluta), os quais são todos seres humanos vivendo em suas diversidades.


Tal ponto é muito bem abarcado pelo Tao, pois no mundo, não é possível apenas se ter Yin e nem só Yang. Ambos convivem a fim de que possa haver o equilíbrio e a harmonia.


O próprio YHWH, se analisar bem sua personalidade, é Yin e Yang, pois é feito de sentimentos positivos (deus de amor e compreensão) e negativos (lado intolerante e punitivo).


Isso vale para humanos, bem como para crenças, ideologias, culturas e comportamentos. Todos têm seu lado Yin e seu lado Yang, como tudo no universo. Ou seja, são as "zonas cinzentas" da vida.

Aliás, grande sacada dos chineses. Até hoje as crenças fundamentalistas do ocidente e do meio oriente não se deram conta disso, dirá lidar com tal problema, exatamente como vejo em seus escritos Sr. Issac.


Essa harmonia e equilíbrio se traduzem nas liberdades individuais, na vida em sociedade, na liberdade de pensar, de questionar e nos direitos fundamentais de todos os seres humanos de viverem dignamente e de ter sua paz, culturas e costumes assegurados e protegidos de formas alienígenas e equivocadas (que é o criacionismo bíblico, quando tratamos de ciências naturais) de pensamento que querem se impor pela força, pelo medo e pela mentira.


Deus tem um padrão, e não deixa a definição ao sabor das opiniões pessoais: “Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal; que fazem da escuridade luz e da luz, escuridade; põem o amargo por doce e o doce, por amargo” (Is 5:20). Longe de ser uma questão subjetiva, ser cristão é ter a Bíblia como Palavra de Deus, única regra de fé e prática para a vida inteira.


Veja, Sr. Issac, pelos exemplos bíblicos, como a crença judaico-cristã é incapaz de lidar com o dual do universo. Tal forma de ver o mundo não se atém às zonas cinzentas.


Mas, o que é mal e o que é bem? O que é claro e o que é escuro? O que é doce e o que é amargo?


Para a crença judaico-cristã isso é uma coisa; e para as demais, será que estes princípios são validos?


Que o Sr. pensaria de tomar banho pelado no Ganges e o que o senhor pensaria em seguir uma procissão católica ou pregar a bíblia na Praça da Sé?


Para um judeu antigo, casar-se com um estrangeiro era um grande mal. Para um cristão antigo, destruir um monumento egípcio era um grande bem.


Para um cristão atual pregar a palavra de deus e mentir desvirtuarando a ciência por meio do criacionismo é um grande bem e, para um indiano, ser um asceta é tornar-se santo, o que é um grande bem.

Quem está certo? O que é bem e o que é mal aqui?


Mais uma vez, ter a bíblia como única regra de fé é um dogma que serve bem ao Sr. e ao seu grupo. Mas será que tais princípios e práticas serviriam para um grupo de xintoístas?


Até onde e com que respaldo o Sr. diz que esta crença (o xintoísmo) é errada? Saiba que ela tem tantas coisas boas quanto a sua crença e acredita em coisas com graus de maluquice semelhantes aos da sua crença, além de se ver tão absoluta quanto a sua crença.


Qual dos dois estaria correto, se apresentados a uma tribo da Africa Central que segue uma crença exótica aos nossos olhos?



A Verdade Absoluta é essencial

No outro extremo do relativismo está o dogmatismo antibíblico, que usa as Escrituras apenas para endossar opiniões humanas. Versos bíblicos descontextualizados e citações distorcidas dos Testemunhos de Ellen White não tornam opiniões humanas um “assim diz o Senhor”.

Muito bem Sr. Issac, qual o uso que deve ser feito das escrituras para um crente, se não é endossar a sua opinião acerca de sua crença e modo de vida? Seria tomando a literalidade?


Toda vez que se age ou se pensa em prol de uma crença, achamos que estamos pensando como os deuses pensariam.

Dessa forma, em qualquer contexto que o Sr. empregar as escrituras estará caindo na sua opinião formada, que se torna o “assim diz o Senhor”.



Não é relativismo discutir se Kaká é melhor que Cristiano Ronaldo, discutir reformas e mudanças na liturgia (dentro dos parâmetros bíblicos), ou (para citar um exemplo teológico) discutir a correta identificação das “sete cabeças” de Apocalipse 17[9].

Esses temas não são essenciais. A verdade absoluta não nega a diversidade e a individualidade, mas nos liberta de dogmas humanos (Jo 8:32).

Pelo contrário Sr. Issac. Estabelecer algo como absoluto e incontestável se trata de dogmatizar a questão, ou seja, se torna um “cala boca” muito poderoso e passa a não mais ver ou respeitar a diversidade e a individualidade do ser.


O dogma, assim como o absolutismo, nos obrigam a jamais pensar de forma diversa, ou seja, “obedecer sempre contestar jamais”.


O problema surge quando, na tentativa de sufocar o relativismo, fossilizam-se tradições e normas em torno de princípios legítimos, gerando confusão entre o que é essencial e o que é periférico no cristianismo. Por isso, identificar o que são princípios bíblicos inegociáveis e o que são assuntos secundários é de extrema importância [10]. Vale o clássico princípio popularizado por Agostinho de Hipona: “No essencial, unidade; no acidental, diversidade; em tudo, caridade”.


O que seriam “princípios bíblicos inegociáveis”? Como o Sr. chega a conclusão do que é ou não negociável em termos bíblicos senão pela sua opinião pessoal o de acordo com aquilo que lhe foi ensinado em sua igreja?


Vejamos:

Para judeus, a circuncisão é inegociável e significa a aliança de YHWH com os homens. Para o cristianismo ela é princípio negociável, senão passível de abandono, pois o homem, segundo a opinião de Paulo de Tarso, deve ser circuncidado em seu coração.


O mais surpreendente é que tudo se encontra na bíblia. Ou seja, o próprio livro é em si contraditório, em se tratando dessa passagem mais especificamente.

Assim, como definir o que é ou não essencial senão pela opinião pessoal, exatamente como o Sr. fez nos exemplos que citou?


Conforme o exemplo de Agostinho de Hipona: “No essencial, unidade (aquilo que estabelecemos segundo nossa opinião e de nosso círculo como essencial); no acidental, diversidade (aquilo que estabelecemos, segundo nossa opinião e a de nosso círculo como acidental); em tudo, caridade” (ou seja, tolerar e respeitar os demais círculos).


Ou seja, tudo, no que se refere a formas de pensamento filosófico/teológico é formado por meio da opinião, a qual é relativa a cada ser pensante e a cada sistema cultural.



A Verdade Absoluta exige posicionamento


A verdade absoluta é Cristo e Sua Palavra (Jo 14:6). Não somos guiados pelo relativismo nem pelo dogmatismo humano, mas pelo claro e absoluto “assim diz o Senhor” (Pv 3:5).


Será Sr. Issac? Prove isso para mim. A frase por si só já se trata de um dogma da sua crença.


Diga isso para um muçulmano e ele dirá que a verdade é Alá e Maomé é o seu profeta e, vai por ai afora.


Assim, não existe nada de claro nem de absoluto a fim de ser estabelecido como regra geral aplicável a qualquer círculo cultural no que foi dito pelo Sr., exceto se aplicado ao seu núcleo cultural/religioso.


Se Pilatos nos fizesse a pergunta “o que é a verdade” (Jo 18:38), mas dessa vez ficasse para ouvir a resposta, responderíamos com um “assim diz o Senhor” ou com um “eu acho que”?

Eu responderia como fazem os orientais: busque dentro de vc mesmo, póis cabe a vc definir qual a sua verdade.


Por que teríamos que aceitar qualquer versão do relativismo? É apenas um retrato do fracasso humano em fazer, sem Deus, afirmações verdadeiras sobre questões essenciais da vida. O relativismo é um pacote amorfo de contradições e confusões.


Não se trata de aceitar o relativismo, mas de aceitar as diferenças, e a liberdade de pensamento, Sr. Issac. O que é essencial para o Sr. pode não ser para mim.


Aliás, a vida é um pacote amorfo de contradições e confusões, basta ver a confusão que o Sr. faz em tratar a diversidade cultural humana. O Sr. não mantém a sua isenção em analisar a sociologia e a psique humana. Somente o faz focado em sua crença que, ao seu ver, é a única correta, a única acima de tudo e o resto, pode jogar no lixo.


Aprender com a diversidade, Sr. Issac, o faria um guia espiritual de verdade, livre do dogmatismo e da tacanhice dos fundamentalistas.


Nós cristãos não devemos ter parte nisso, pois temos base sólida e firme nas Escrituras. Não aceitamos nenhuma espécie de relativismo, pois existe verdade absoluta em temas essenciais. Sendo assim, posicione-se!


Quão sólidas são as escrituras em suas verdades (a premissa adotada como verdadeira por cristãos fundamentalistas)? Sr. Issac, o Sr. já se perguntou isso? Claro que não essa verdade é absoluta e incontestável, o que pode ser traduzido por dogma.


Se existe a verdade absoluta, qual é ela? Qual a prova que assegura ser essa verdade tão absoluta assim em detrimento das demais afirmativas? O que caracteriza um tema para ele ser tratado como essencial?

Ou seja, por seus escritos, que deixaram mais dúvidas que esclarecimentos, tudo se pauta pela opinião formada (a ideologia), a qual é a nossa maneira de interpretar o mundo dos pensamentos, de acordo com o que entendemos ou que nos é passado como correto e, contra as quais estamos proibidos de levantar qualquer contestação.


Ideologias não possuem lógica e racionalidade que as respalde como certas ou erradas. Simplesmente alienam o homem da realidade e da diversidade, cegando-o e tornando-o um instrumento para servir as classes dominantes, para que estas assegurem seus interesses e poder.


Enfim, O Sr. falou, falou e não disse nada de concreto e tão pouco trouxe argumentos convincentes a respeito da existência ou não de verdades absolutas para fora de seu círculo.


Valeu-se de falácias e apresentou pobreza, falta de isenção e falhas de raciocínio lógico - racional em tratar questões referentes à temática filosófico-teológico-sociológico-antropológica.



Pelo que pude concluir de seu texto, a sua análise referente a negação do relativismo acabou por endossá-lo, uma vez que tudo o que disse é pautado pela opinião formada, a qual é relativa a cada indivíduo e a cada sistema sócio-cultural.




REFERÊNCIAS QUE APOIARAM O TEXTO DO SR. ISSAC:


[1] http://hakani.org/pt/historia_hakani.asp
[2] http://www.achanoticias.com.br/noticia.kmf?noticia=4301589 , acessado em 5 de Fevereiro de 2009.
[3] De acordo com a Bíblia, Jesus é o único caminho a Deus (Jo 14:6).
[4] William G. Johnsonn, “Awash in a sea of relativism”, Adventist Review, Agosto de 1997, p. 5.
[5] Mensagem de campanha publicitária em ônibus na Inglaterra. http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult272u458981.shtml
[6] Dawkins, Richard. Deus, um delírio (São Paulo: Companhia das Letras, 2007), pp. 80, 212 e 213. [se você já citou as páginas e frases especificamente, não precisa citar desta primeira menção]
“Acho que Deus é muito improvável e levo minha vida na pressuposição de que ele não está lá”, 80.
“Deus não existe quase certamente”, 212 e 213
[7] É impossível, por exemplo, espíritas e adventistas estarem simultaneamente corretos sobre o estado dos mortos.
[8] É claro que existem assuntos não-essenciais e questões de consciência, nos quais podemos discordar sem comprometer as crenças fundamentais.
[9] O Comentário Bíblico Adventista considera que a evidência é insuficiente para garantir uma identificação dogmática delas. Isso significa que a questão está aberta à discussão. “Siete cabezas" [Ap 17:9]. Comentario biblico Adventista del Séptimo Dia. Editado por . F. D. Nichol. (Boise: Pacific Press, 1985). 7:866.
[10] Ellen White aconselha a não perdermos tanto tempo em “questões de difícil compreensão, que afinal de contas não têm importância vital”, pois essas coisas tendem a “desviar a mente das verdades vitais para a salvação da alma”. White, E.G. Evangelismo (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1985), p. 182.