quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O Mistério do Sexo Parte 19 (Ufa!! a última!!!)

11 - CONCLUSÃO:

A existência do sexo tem desafiado a mente de grandes evolucionistas desde o século passado. Muitas hipóteses foram propostas tentando identificar o principal benefício da reprodução sexuada.

Muitas obtiveram certa popularidade por algum tempo, mas depois foram deixadas de lado. Outras foram revistas e voltaram ao cenário científico após terem sido quase esquecidas.

A teoria da Rainha Vermelha, desde sua apresentação, foi inúmeras vezes desafiada, o que é demonstrado pelo grande número de trabalhos já publicados a seu respeito. No entanto, ao que tudo indica, a Rainha Vermelha, assim como Alice, continuam correndo à frente de seus adversários.

Os parasitas evoluem constantemente para maximizar sua infecciosidade e otimizar sua virulência, enquanto os hospedeiros tentam, por sua vez, evoluir rapidamente minimizar essas propriedades dos parasitas. Se um deles conseguir uma vantagem evolucionária significativa, isso poderá levar à extinção do outro.

A bem da verdade, se parasitas tivessem desenvolvido consciência, a última coisa que iriam desejar seria a morte de seu hospedeiro. Sem hospedeiro, sem lar e sem alimento.

Assim, o sistema imunológico dos hospedeiros tentará combater os parasitas que aos poucos vão se modificando para driblar o contra-ataque do organismo e, assim, sucessivamente.

Dessa forma, parasitas bem sucedidos e hospedeiros bem sucedidos estão sempre em um “equilíbrio” competitivo, no qual não há perdedores nem vencedores definitivos, apenas a co-evolução constante que mantém o status quo. Esse equilíbrio foi denominado de a dinâmica da Rainha Vermelha.

À primeira vista, a co-evolução de parasitas e hospedeiros pode não parecer bem balanceada, pois sabemos que os parasitas evoluem mais rapidamente do que os hospedeiros, por três motivos: maior tamanho populacional, tempos de geração mais curtos e elevadas taxas de mutação. Por essa lógica, os parasitas deveriam ganhar sempre.

Entretanto, sabemos que isso não é o que ocorre em populações naturais. A solução para esse aparente paradoxo foi fornecida pela primeira vez pelo grande evolucionista inglês William D. Hamilton (1936-2000), que mostrou que o equilíbrio podia ser mantido se os hospedeiros adotassem a reprodução sexuada.

Em reproduções assexuadas (onde não há troca de gametas), indivíduos se reproduzem praticamente produzindo clones de si mesmos, como é o caso de bactérias. Obviamente, nada na natureza é perfeito, apesar de parecer tudo lindinho a um primeiro momento. Reproduções assexuadas proporcionam pouca variação genética.

Em contrapartida, quando você tem uma reprodução sexuada (com troca de gametas), genes do pai se combinam com genes da mãe. Nem sempre dá pra se prever como será essa combinação e o que vai resultar dela.

A taxa de ariação genética é muito maior e, portanto, maior probabilidade de termos proles com variabilidade genética maior. Se somarmos a isso o fator das mutações, elevamos essa variabilidade, tornando cada hospedeiro um ambiente singular para o parasita e dificultando a sua adaptação.

Assim, mesmo que o pai não tenha resistência a um determinado agente infeccioso, características maternas poderão compensar isso, dando aos filhos maiores chances de combater as infecções.

Claro que essa combinação também poderá acarretar numa doença genética; na natureza nada é perfeito.

Ainda assim, geralmente esse mecanismo é tão eficiente que permite que o hospedeiro tenha resistência natural à infecção por parasitas que ele sequer encontrou. A partir desse raciocínio, Hamilton propôs que, evolucionariamente, o sexo emergiu como uma estratégia para lidar com parasitas e que representa uma real vantagem para as espécies.

O sexo propiciou uma melhor adaptação e condição de sobrevivência, indivíduos que se reproduziam sexuadamente tiveram melhores capacidades de continuarem vivos e gerarem mais descendentes.

Como vimos, seres humanos e seus parasitas, muito especialmente o Plasmodium, estão há milênios aprisionados no processo coevolucionário antagonístico constante da Rainha Vermelha.

Mas a nossa espécie é a única que tem consciência da própria evolução. E ela desenvolveu uma nova maneira mais rápida e eficiente de evoluir, por meio da cultura.

A evolução cultural é muito mais rápida e eficiente que a biológica, pois não depende de transmissão genética vertical. Em vez disso, ela recorre ao uso da linguagem e do aprendizado para transmissão vertical bidirecional (de pais para filhos e vice-versa) e também transmissão horizontal (entre indivíduos não-aparentados).

Nesse sentido, a evolução cultural é altamente “contagiosa” e se tornou muito mais importante para a espécie humana que a evolução biológica. A evolução cultural permitiu o desenvolvimento da ciência e da medicina e, mais recentemente, levou ao estudo detalhado e elucidação dos genomas do ser humano e de seus principais parasitas.

Pode parecer otimismo excessivo, mas é possível que o estudo detalhado da constituição genômica de seus inimigos parasitas finalmente permita ao Homo Sapiens adquirir a vantagem evolucionária que lhe permita escapar do jugo da Rainha Vermelha.

Também vale citar que os avanços tecnológicos nos permitirão ocupar os mais diversos ambientes, seja aqui mesmo na Terra, seja em outros mundos, nos fazendo também escapar das artimanhas do bobo da corte.


Desse modo, tratar a origem do sexo como algo que somente uma entidade sobrenatural ou infinitamente inteligente pudesse ter idealizado é uma grande tolice que não explica nada.

A função deste argumento da ignorância é “chutar” o problema adiante sem resolvê-lo além de gerar mais dúvidas que somente seriam respondidas por questões teológicas, as quais não fazem parte do escopo científico.

Argumentos retóricos como faz o criacionismo e a sua “carinha” nova, o DI, não são nada quando se tratam de ciência. Estes argumentos não podem estar baseados em meras convicções pessoais, mas em observações e confirmações científicas, conforme tentamos fazer ao longo deste trabalho.

Podemos especular, mas de forma alguma estas especulações devem ser tomadas como verdades absolutas acima de tudo. A verdade, que jamais pode ser entendida como absoluta, o que a tornaria imune a qualquer contestação, somente ganha respaldo por meio das devidas confirmações de nossas hipóteses.

A partir das confirmações ou não confirmações de nossas hipóteses é que construímos as teorias, as quais a todo tempo são submetidas a testes que não importa se as sustentarão ou as rechaçarão.

O que importa é que nos aproximemos da verdade objetiva a fim de podermos entender como a natureza funciona, assim nos aproximando de verdades universais sob determinadas condições. E.G. água ferve a 100o C a 1 atm, ao nível do mar seja no Japão, Austrália, França, Brasil, Sibéria ou Madagascar.

Os desígnios dos deuses, jamais devem ser considerados como respostas plausíveis aos questionamentos da natureza e da vida, pois estão presentes no subjetivismo de cada cultura e de cada indivíduo, não se tratando, de forma alguma, de verdades universais, mas de verdades absolutas a cada um dos círculos culturais onde se originaram. Tais concepções de deuses e seus desígnios seriam muito diferentes, no Japão, Austrália, França, Brasil, Sibéria ou Madagascar.

O Mistério do Sexo Parte 18

10.2.3.3 - Sistemas de complexidade irredutível:



Quanto aos sistemas de complexidade irredutível, estes não são tão irredutíveis assim, conforme apregoou Behe e como vivem a repetir os “neo-criacionistas”. Este tópico merece esclarecimentos mais profundos no que se refere à abertura da “Caixa Preta de Behe” e os segredos nela encerrados.


Vejamos:

10.2.3.3.1 - Resposta da Comunidade Científica para a complexidade irredutível

Da mesma forma que o design inteligente, o conceito que pretende apoiar, a complexidade irredutível falhou em obter aceitação notável dentro da comunidade científica. Um autor sobre ciência chamou ela de "estratégia da rendição intelectual completa."


10.2.3.3.2 - Redutibilidade de sistemas "irredutíveis"

Caminhos evolutivos potencialmente viáveis foram propostos para todos os sistemas alegados irredutivelmente complexos, como a coagulação do sangue, o sistema imune, e o flagelo, que eram os três exemplos que Behe usou. Mesmo seu exemplo de uma ratoeira foi demonstrado como redutível por John H. McDonald.

Se a complexidade irredutível é um obstáculo intransponível para a evolução, não deveria ser possível sequer conceber estes caminhos - Behe comentou que estes caminhos plausíveis derrotariam seu argumento.

Niall Shanks e Harl H. Joplin, ambos da East Tennesse State University, mostraram que os sistemas que Behe caracterizou como tendo complexidade bioquímica irredutível podem surgir natural e espontaneamente como resultado de processos químicos auto-organizados.

Eles também apontam que os sistemas bioquímicos e moleculares que evoluíram apresentam "complexidade redundante"-um tipo de complexidade que é o produto da evolução de um processo bioquímico.

Eles também apontam que Behe superestimou a significância da complexidade irredutível por causa de sua visão simples e linear das reações bioquímicas, resultante na sua seleção de instantes de funcionalidades seletivas de sistemas, estruturas e processos biológicos, ao mesmo tempo que ignora a complexidade redundante do contexto em que estas funções estão naturalmente inseridas. Também criticaram sua dependência de metáforas simplistas demais, como a da ratoeira.

Além disso, a pesquisa publicada no Nature, uma publicação que faz peer-review, demonstrou que as simulações de computador da evolução demonstraram que é possível que a complexidade irredutível evolua naturalmente.

É esclarecedor comparar uma ratoeira com um gato, neste contexto. Os dois normalmente funcionam para controlar a população de ratos. O gato tem muitas partes que podem ser removidos deixando-o ainda funcional.

Por exemplo, sua cauda pode ser encurtada, ou ele pode perder uma orelha em uma luta. Ao comparar o gato e a ratoeira pode-se ver que a ratoeira (que não é um ser vivo) apresenta melhor evidência, em termos de complexidade irredutível, de design inteligente, que o gato.

Mesmo para a analogia da ratoeira, vários críticos demonstraram formas em que as partes da ratoeira poderiam ter usos independente ou poderiam ser desenvolvidas em estágios, demonstrando que ela não é irredutivelmente complexa.

Além disso, mesmo os casos onde a remoção de um certo componente em um sistema orgânico causa a falha do sistema, não demonstram que o sistema não poderia ter sido formado em um processo evolucionário, passo-a-passo.

Por analogia, arcos de pedra são irredutivelmente complexos - se você remover qualquer pedra o arco irá colapsar - mesmo assim eles são construídos facilmente, uma pedra de cada vez, se usarmos de um molde que será removido depois.

De forma similar, arcos de pedra que acontecem naturalmente são formados pelo desgaste de blocos de pedra que foram formados anteriormente. A evolução pode trabalhar para simplificar ou para complicar. O que leva à possibilidade que funções biológicas irredutivelmente complexas podem ter sido obtidas em um período de complexidade crescente, seguido por um período de simplificação.

Em abril de 2006 uma equipe de cientistas liderada por Joe Thornton, professor assistente de biologia no Centro de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade do Oregon, usando técnicas para ressurreição de genes antigos, pela primeira vez reconstruiu a evolução de um sistema molecular de complexidade aparentemente irredutível. A pesquisa foi publicada no exemplar de 7 de abril da revista Science.

Parece que a complexidade irredutível não existe realmente na natureza, e os exemplos dados por Behe e outros não são de fato irredutivelmente complexos, mas podem ser explicados em termos de precursores mais simples. Há também uma teoria que desafia a complexidade irredutível chamada variação facilitada.

A teoria foi apresentada em 2005 por Marc W. Kirschner, um professor e chefe do Departamento de Biologia de Sistemas na Escola de Medicina Harvard, e John C. Gerhart, um professor em Biologia Celular e Molecular, da Universidade da Califórnia, em Berkeley.

Em sua teoria, eles descrevem como certas mutações e mudanças podem causar uma complexidade aparentemente irredutível. Assim, o que parece ser uma estrutura irredutivelmente complexa é apenas "muito complexa", ou então elas não são bem compreendidas, ou não são bem representadas.

10.2.3.3.3 - Adaptação gradual a novas funções

Os precursores de sistemas complexos, quando não são úteis por si mesmos, podem ser úteis para executar outras funções não relacionadas. Biólogos evolucionistas argumentam que a evolução muitas vezes trabalha desta forma cega e atrapalhada, em que a função de uma forma anterior não é necessariamente a mesma função da forma posterior.

O termo usado para este processo é "exaptação". O ouvido médio dos mamíferos (derivado de um osso da mandíbula) e o polegar do panda (derivado de um osso do pulso) são considerados exemplos clássicos.

Um artigo de 2006 na Nature demonstrou estados intermediários que levaram ao desenvolvimento do ouvido em um peixe do Devoniano (cerca de 360 milhões de anos atrás). Além disso, pesquisas recentes mostraram que os vírus representam um papel inesperadamente grande na evolução, ao combinar genes de vários hospedeiros.

Os argumentos da irredutibilidade geralmente assumem que as coisas começam da mesma forma que elas terminam, como as vemos hoje. Entretanto, este pode não ser necessariamente o caso.

No julgamento de Dover uma testemunha da acusação demonstrou esta possibilidade usando a analogia da ratoeira de Behe. Ao remover várias partes, a testemunha tornou o objeto inútil como ratoeira, mas apontou que era agora um prendedor de gravata perfeitamente funcional, embora feio.

10.2.3.3.4 - Falseabilidade e Evidências Experimentais

Alguns críticos, como Jerry Coyne (professor de biologia evolucionária na Universidade de Chicago) e Eugenie Scott (antropólogo físico e diretor executivo do Centro Nacional para Educação de Ciências) argumentaram que o conceito de complexidade irredutível, e de forma mais genérica, a teoria do design inteligente não é falseável, e, portanto, não é científica.

Behe alega que a teoria de que sistemas irredutivelmente complexos não podem ter evoluído pode ser falseada por um experimento onde tais sistemas evoluam. Por exemplo, ele propõe pegar bactéria sem flagelos e impor uma pressão seletiva a favor da mobilidade. Se, após alguns milhares de gerações, a bactéria evoluir um flagelo, então Behe acredita que isto iria refutar sua teoria.

Outros críticos tomaram uma abordagem diferente, apontando para evidências experimentais que eles acreditam falsearem o argumento da complexidade irredutível do Design Inteligente. Por exemplo, Kenneth Miller cita o trabalho em laboratório de Barry G. Hall na E. coli, que ele aponta ser uma evidência que "Behe está errado."

Outra evidência de que a complexidade irredutível não é um problema para a evolução vem do campo da ciência computacional, onde análogos computacionais dos processos da evolução são rotineiramente usados para projetar automaticamente soluções complexas para problemas.

Os resultados destes Algoritmos Genéticos são freqüentemente irredutivelmente complexos já que o processo, como a evolução, tanto remove componentes não essenciais com o passar do tempo, como acrescenta novos componentes.

A remoção de componentes não usados sem função essencial, como o processo natural onde a rocha sob um arco natural é removida, pode produzir estruturas com complexidade irredutível sem a necessidade da intervenção de um projetista. Os pesquisadores que aplicam estes algoritmos estão produzindo automaticamente projetos humanos competitivos - mas nenhum projetista humano é necessário.


10.2.3.3.5 - Apelo à ignorância

Os proponentes do design inteligente atribuem a um designer inteligente as estruturas biológicas que eles acreditam serem irredutivelmente complexas, onde não há uma explicação natural ou a explicação é insuficiente.

Entretanto, os críticos vêem a complexidade irredutível como um caso especial da alegação "complexidade indica design", e, portanto, um apelo à ignorância e um argumento do tipo "Deus das lacunas".

Eugenie Scott, com Glenn Branch e outros críticos, alegou que muitos pontos levantados pelos proponentes do design inteligente são apelos à ignorância.

Behe tem sido acusado de usar a "argumentação pela falta de imaginação", e o próprio Behe tem reconhecido que simplesmente por que os cientistas não podem atualmente ver como um organismo "irredutivelmente complexo" evoluiu, isto não prova que não existe nenhuma forma possível da evolução ter acontecido.

A complexidade irredutível está no centro da argumentação contra a evolução. Se sistemas realmente irredutíveis fossem encontrados, a alegação é que o design inteligente é a explicação correta para sua existência.

Entretanto, esta conclusão é baseada na suposição que a teoria evolucionária atual e o design inteligente são os dois únicos modelos válidos para explicar a vida, o que se trata de um falso dilema.

Sigamos, na seqüência, uma abordagem de Francis Collins no que se refere ao DI.


10.2.3.3.6- Quando a ciência precisa de ajuda divina:


Segundo Francis Collins em “A Linguagem de Deus”, explica que assim como ocorre com o criacionismo, design inteligente parece abranger uma vasta gama de interpretações de como a vida aconteceu no planeta e a função que deus pode ter tido neste processo.

Todavia, a expressão Design Inteligente – DI é uma expressão moderna que traz consigo conclusões acerca da natureza, em especial o conceito de “Complexidade Irredutível”.


10.2.3.3.6.1 - Afinal existe um Design Inteligente?

O DI se concentra nas deficiências percebidas na Teoria da Evolução no que concerne a esta justificar a posterior complexidade da vida, sem, no entanto, considerar os primeiros organismos que se auto-copiavam.

O criador do DI é Phillip Johnson um advogado cristão da Universidade da Califórnia, em Berkeley, que apresentou pela primeira vez sua “teoria” no livro Darwin on trial. Posteriormente, seus argumentos foram ampliados, especialmente por Michael Behe no livro Darwin´s black Box, onde está elaborado o conceito de complexidade irredutível.

O matemático com formação em teoria da informação Willian Dembski assumiu papel de liderança como comentarista do movimento DI.

O DI surgiu como sucedâneo de uma série de derrotas judiciais referentes ao ensino do criacionismo em escolas dos EUA, sendo um contexto cronológico que gerou críticas ao se referir ao DI como criacionismo sub-reptício ou criacionismo 2.0.

No entanto, tais termos não fazem justiça à consideração e sinceridade dos defensores do DI. Porém sob a perspectiva de Francis Collins este movimento merece sérias reflexões.

O movimento DI repousa sobre três propostas:

1 – A evolução gera uma visão de mundo ateísta e, portanto, aqueles que crêem em deus devem se opor a ela.

Phillip Johnson não era guiado por um desejo científico de entender a vida, mas por uma missão pessoas de defender Deus contra o que ele notou ser uma visão de mundo puramente materialista. Essa preocupação encontra repercussão na comunidade da fé, e lá, os pronunciamentos em tom de triunfo de alguns dos mais francos evolucionistas levaram a sensação de que uma alternativa respeitável em termos científicos deve ser identificada a todo custo (assim o DI seria o filho ilegítimo e rebelde de Dawkins e Denett).

O Instituto Discovery, incentivador do DI e onde Johnson trabalha como consultor, levou as intenções deste adiante, em seu “documento escora” (The Wedge), o qual pretendia ser um memorando interno, porém ganhou caminho na internet. Tal documento tem o cunho de influenciar a opinião pública a executar uma subversão no materialismo ateísta e substitui-lo por uma compreensão amplamente teísta da natureza. Assim, o DI apesar de ser apresentado como teoria científica, não nasceu da tradição científica.


2- A evolução tem fundamentos falhos, pois não pode justificar a complexidade da natureza.

O argumento utilizado pelo DI, de que a natureza possui um planejador é o mesmo proposto por W. Paley no início do século XIX, sendo que Darwin achou tal lógica bastante atraente antes de chegar às explicações sobre a evolução por meio da seleção natural. Mas para o DI, tal perspectiva ganhou nova roupagem, mais especificamente para a bioquímica e biologia molecular.

Behe explora esta perspectiva em Darwin´s black Box, de forma persuasiva, ao examinar os trabalhos internos da célula, bem como se impressiona com o trabalho das “máquinas celulares” (o flagelo), bem como quando se trata de órgãos completos (o olho humano) e mecanismos bioquímicos (coagulação).

Conforme alega Behe, estes exemplos não poderiam ter surgido da seleção natural, estando seus argumentos concentrados em estruturas complexas, as quais envolvem interações de muitas proteínas, cuja função se perde caso uma destas proteínas reste inativa.

Por exemplo, o caso do flagelo bacteriano, cuja estrutura é formada por 30 proteínas distintas, que caso uma delas fique inativa, o sistema como um todo pararia, ou funcionaria de forma inadequada.

Behe supõe que um componente deste motor possa ter evoluído ao acaso, durante um extenso espaço de tempo, mas sem uma pressão seletiva dos para mantê-lo, a menos que os demais 29 componentes se desenvolvessem ao mesmo tempo.

Behe alega que nenhum deles teria aproveitado a vantagem seletiva até que toda a estrutura estivesse montada e Dembski traduziu esta informação em elementos matemáticos, resultando numa probabilidade infinitamente pequena dessa evolução acidental em paralelo.

Assim, o principal argumento científico do DI compõe uma nova versão do argumento do ceticismo pessoal de Paley, expresso hoje na linguagem da Bioquímica, da Genética e da Matemática.

3 – Se a evolução não pode explicar a complexidade irredutível, deve então ter existido um planejador inteligente de algum modo, e ele entrou em cena para fornecer os componentes necessários durante o curso da evolução.

O DI toma cuidado para não especificar a identidade do planejador, mas a perspectiva cristã da maioria dos líderes deste movimento sugere que esta força viria de deus em pessoa.


10.2.3.3.7– As objeções científicas ao DI

As argumentações contrárias á Teoria da Evolução, apresentadas pelo DI, parecem atraentes, o que animou aqueles que procuram atribuir a deus um papel no processo evolucionário.

Mas de acordo com biólogos, mesmo aqueles que acreditam em deus, não mostraram interesse nessa idéia, relegando o DI a uma linha de pensamento de pouca credibilidade para a comunidade científica.

Isso ocorreu porque o DI não possui modo fundamental para se qualificar como teoria científica. As teorias científicas representam uma estrutura que dá sentido a um conjunto de observações experimentais, sendo sua função olhar para frente, prevendo novas descobertas e sugerindo abordagens para verificações experimentais adicionais.

Logo, apesar de seu apelo àqueles que crêem em deus a proposta do DI a respeito da intervenção de forças sobrenaturais para justificar entidades biológicas complexas, com numerosos componentes é um beco sem saída científico, exceto se usarmos uma máquina do tempo a fim de se verificar tal teoria.

A teoria do DI também não fornece elementos a fim de se verificar como a intervenção sobrenatural teria ocorrido para gerar a complexidade. Behe sugeriu que organismos primitivos teriam passado por um “carregamento prévio” com todos os genes necessários ao desenvolvimento de máquinas moleculares complexas formadas por diversos componentes considerados por ele como complexos.

Behe declara que tais genes latentes foram despertados num período de centenas de milhões de anos depois quando se fizessem necessários. Deixando de lado o fato de que não podemos encontrar nenhum organismo primitivo com tal esconderijo de informações genéticas para uso futuro, nossos conhecimentos sobre o índice de genes mutacionais ainda não utilizados tornam altamente improvável que tal armazém de informações sobreviva o bastante para ter utilidade.

Atualmente, parece que muitos exemplos de complexidade irredutível não sejam na verdade irredutíveis, fazendo que a argumentação do DI se encontre em processo de esfacelamento.

Desde o surgimento do DI (1991) a ciência avançou de modo considerável, especialmente no estudo do genoma de diversos organismos, partindo de várias partes diferentes da árvore evolucionária.

Com isso pôde-se perceber que os defensores do DI cometeram o erro de confundir o desconhecido com o desconhecível ou o insondado com o insondável.

Para os exemplos utilizados por Behe, têm-se as seguintes explicações:


10.2.3.3.7.1 - A Coagulação:

O sistema aparentemente começou com um mecanismo simples para sistemas hemodinâmicos com baixa pressão e baixo fluxo, que evoluiu para um sistema mais complicado necessário a animais com sistema cardiovascular de alta pressão, onde vazamentos têm de ser rapidamente interrompidos.

Uma característica importante desta hipótese evolucionária é o fenômeno bem estabelecido da duplicação genética. Ao serem examinadas as proteínas na cascata de coagulação a maioria dos componentes se mostra correlacionada ao nível de seqüências de aminoácidos.

Isso não é porque foram criadas proteínas totalmente novas por meio de informações genéticas totalmente aleatórias que enfim convergiram para o mesmo tema. Ao contrário, a semelhança de tais proteínas pode ser mostrada para refletir duplicações de genes antigos que então permitiram a nova cópia, libertados por uma necessidade de manter suas funções originais, uma vez que a cópia antiga ainda fazia isso, a fim de evoluir, gradativamente, e assumir uma nova função, guiados pela força da seleção natural.

Não se pode esboçar com exatidão as etapas que levaram á cascata de coagulação para humanos, e, talvez jamais possamos fazê-lo, uma vez que os organismos predecessores deste processo se perderam para sempre.

De acordo com a teoria da evolução, deve ter havido etapas intermediárias possíveis e muitas foram encontradas em espécies que ainda sobrevivem (vermes, moluscos), mas o DI faz silêncio sobre isso.

Assim, a premissa de que a cascata de coagulação deve surgir totalmente funcional, com bases em histórias sem sentido sobre o DNA é totalmente sem fundamento.


10.2.3.3.7.2 - O olho:

Darwin admitiu a dificuldade em se explicar o olho, porém propôs uma série de etapas na evolução deste órgão, sendo que a Biologia Molecular vem as confirmando rapidamente.

Organismos simples possuem sensibilidade à luz, seja como células fotossensíveis ou ocelos.

O nautilus exibe um avanço modesto em que a cavidade simples pigmentada que contém células fotossensíveis se transformou em um pontinho para a entrada de luz, aprimorando a aparelhagem com uma sutil mudança na geometria do tecido ao redor.

Ao ser acrescentada a substância gelatinosa, superposta às células fotossensíveis, isso permitiu a outros organismos focar a luz. Assim, não há problemas em se chegar ao olho humano com uma retina fotossensível e lentes para focar a luz. Basta acompanharmos o sistema visual dos seres vivos atuais.

Também há que se perceber que o design do olho não é tão perfeito assim. Os cones e bastonetes, camada mais baixa da retina, captam a luz. Esta precisa atravessar nervos e veias sanguíneas para atingi-los.

10.2.3.3.7.3 – O flagelo:

O argumento da complexidade desta estrutura repousa no fato de que suas subunidades não poderiam ter tido funções anteriores e úteis e, portanto, o motor não poderia ter sido montado agrupando-se tais componentes em etapas conduzidas pelas forças da seleção natural.

Pesquisas recentes rebatem tal posição. Especificamente, a seqüência comparada de proteínas de diversas bactérias demonstrou que os vários componentes do flagelo se relacionam a uma aparelhagem completamente diferente, usada por determinada bactéria para injetar toxinas em outras bactérias sob ataque (aparelhagem de secreção tipo III), o que proporciona vantagem para a sobrevivência do mais apto no organismo que a apresente.

Conclui-se que os elementos dessa estrutura foram duplicados e, em seguida convocados para um novo uso, por combinação dessa estrutura com proteínas que executavam funções mais simples, o que gerou todo o “motor”.

A aparelhagem de secreção tipo III é apenas uma peça do quebra cabeças denominado flagelo e, ainda estamos longe de determinar toda sua seqüência.

Assim, de acordo com os exemplos acima, cada peça fornece uma explicação natural às etapas que o DI abandonou ao sobrenatural. Portanto, os critérios de Darwin para destruir a sua teoria (a demonstração de que qualquer órgão complexo existiu sem poder ter sido formado por inúmeras modificações sucessivas e sutis destruirá completamente a minha teoria) ainda não foram atingidos, sendo que uma avaliação honesta dos conhecimentos atuais leva á mesma conclusão que segue na próxima frase de Darwin: “Mas não encontro semelhante caso”.


10.2.3.3.8– As objeções teológicas ao DI

De modo científico, o DI não consegue apresentar sustentação, pois não fornece oportunidade para a validação experimental nem base forte para a sua alegação sobre complexidade irredutível.

O DI também falha no sentido de ser uma preocupação daqueles que crêem em Deus, uma vez que se tornou a teoria do “Deus das lacunas”, uma vez que introduz a necessidade de intervenções sobrenaturais em fatos que seus defensores alegam inexplicáveis pela ciência.

Os avanços científicos preencheram muitas lacunas que antes eram supridas pela fé, sendo que religiões de “Deus das lacunas” correm o risco de ser desacreditada de forma muito simples.

Sem considerar o fato de que o DI retrata deus como um criador atrapalhado que de tempos em tempos tem de intervir para consertar as insuficiências de seu plano original, o que dá uma imagem insatisfatória de Deus.


10.2.3.3.9 – O futuro do DI

Dembski enfatiza a busca da verdade ao afirmar que o DI não deve se tornar uma mentira nobre para visões desestimulantes que consideramos inaceitáveis.

Em vez disso o DI tem de nos convencer de suas verdades e de seus méritos científicos. Isso acaba por pressagiar a morte do DI, uma vez que, segundo Dembski, se pudéssemos mostrar que sistemas biológicos formaram-se por meio dos processos darwinianos, o DI seria rejeitado, uma vez que causas não inteligentes teriam sido trazidas à baila quando as causas naturais se encarregam disso. Nesse caso, a navalha de Occam acabaria com o DI de forma bem eficaz.

Assim, numa visão sóbria das informações científicas atuais, as lacunas que o DI percebera na evolução estão sendo preenchidas pelos avanços científicos e não por deus, o que traça um rumo para o DI que trará sérios danos à fé.

A forma com que a teoria de Darwin foi retratada (teoria ateísta), torna compreensível porque evangélicos adotam com tanta convicção o DI. Mas e se tal teoria for derrubada, como vem sendo, o que acontecerá com Deus e com a fé?

Collins se posiciona que jamais seja como a visão de Dawkins, um mundo sem propósito, sem design, sem finalidade, sem mal, sem bem que é como esperaríamos que fosse, ou seja, indiferente, cego e impiedoso.

Neste ponto, Collins manifesta sua fé, porém como verdadeiro cientista, a relega a sua subjetividade, não compartilhando com a visão subjetiva de Dawkins.

Dessa forma, de acordo com o exposto nos três itens acima, nada tem piorado para a TE, muito pelo contrário, os estudos realizados sobre as alegações de complexidade irredutível, somente vieram a corroborar os modelos evolucionistas e a rechaçar a hipótese da complexidade irredutível.

Mas a coisa ficou muito ruim mesmo para o DI, pois seu principal argumento foi ceifado na base, pois a complexidade irredutível, não é tão irredutível assim. As estruturas alegadas irredutíveis são claramente explicadas pelo modelo evolucionista, em uma ascensão gradual do menos para o mais complexo.

Todavia, os criacionistas e os adeptos do DI levianamente silenciam quanto aos estudos realizados contra seus argumentos. Insistem em sua validade apenas se valendo de blá blá blá sem pé nem cabeça, sem trazer qualquer evidência que apóie cientificamente suas crenças.

Bem, acredito que com as explanações acima eu tenha desfeito o mal causado pelas notas apresentadas, não sei se por falta de conhecimento ou má fé, mas com o nítido fito de causar confusão em pessoas não familiarizadas com a biologia evolutiva e a genética.

O Mistério do Sexo Parte 17

10.2.3 aparelhos reprodutores, informação complexa especificada e complexidade irredutível.

alguns já perceberam o problema: sobra cada vez menos tempo para a evolução de sistemas tão complexos (isso que aqui se está tratando apenas de características anatômicas; quando a discussão caminha para os domínios da biologia molecular, com as dificuldades relacionadas com a origem da informação complexa especificada e os sistemas de complexidade irredutível, a coisa piora e muito para o darwinismo.[MB]

A nota, neste ponto apresenta um raciocínio um tanto confuso, pois em um momento está tratando de características anatômicas para a cópula e num segundo momento passa para biologia molecular, assuntos que estão muito distantes um do outro para fazerem parte da mesma discussão, mas vamos tentar. Dividiremos a questão em três tópicos:

10.2.3.1 - Aparelhos reprodutores:

No que concerne aos aparelhos reprodutores, convém o leitor se reportar aos itens 3 a 8 deste texto, uma vez que necessita-se de prévio conhecimento de como as espécies se reproduzem, pois há que se ter uma noção clara de como as formas de reprodução ocorrem ao longo das espécies hoje existentes.

Quanto à questão do tempo, tivemos aproximadamente 3.8 bilhões de anos para a vida acontecer e se desenvolver.

Cerca de 630 a 540 milhões de anos, durante o período Edicarano, que antecedeu o período Cambriano, surge a fauna edicarana que parecem representar os primeiros organismos multicelulares, inclusive verdadeiros animais, sendo, porém sua classificação incerta.

Não está muito claro que seres eram. Os fósseis ediacaranos podem ter sido organismos marinhos multicelulares, com formas variadas; ovulares, frondosos ou fusiformes.

Alguns fazem lembrar celenterados, outros vermes e ainda outros parecem antepassados sem carapaça dos artrópodes.

Já foram considerados como algas, líquenes, "protozoários gigantes" e até como formas de vida que não cabem nos reinos atualmente aceitos. Já se propôs para eles, inclusive, um novo filo (Vendobionte), que teria sido extinto durante aquele conturbado período da vida da Terra.

È muito provável que durante esta época tenha ocorrido a diversificação dos cromossomos sexuais, estabelecendo diferenças entre machos e fêmeas e, conseqüentemente, o surgimento dos órgãos sexuais masculinos e femininos, bem como a fecundação interna e a cruzada.

Dessa forma a vida teve todo o tempo do mundo para lançar-se em sua aventura sexual a fim de passar os genes das espécies adiante e, possivelmente, defender-se de parasitas e lanças mão de vantagens para ocuparem novos nichos ecológicos que pode ter culminado na explosão cambriana.

10.2.3.2 - Informação complexa especificada:

Quanto à questão da origem da informação complexa especificada seria interessante dizer o que criacionistas entendem por informação complexa especificada. Estaria isso se referindo ao aumento da informação genética?

Se este for o caso, de acordo com Ernst Mayr na obra “O que é Evolução”, novos genes são produzidos por duplicação de um gene já existente e sua inserção no cromossomo, em posição adjacente ao gene parental.


No devido tempo, este novo gene poderá adotar uma nova função. O gene ancestral com sua função original denomina-se gene ortólogo, por meio dos quais se traça a filogenia dos genes.

O gene derivado denomina-se gene parálogo, os quais são os responsáveis, em grande parte, pela diversificação evolutiva. Esta duplicação afeta não apenas um gene, mas um conjunto inteiro de cromossomos, ou mesmo o genoma inteiro.

Há também que se considerarem os genes saltadores. Um "gene saltador" é constituído de seqüências de DNA que, inserem-se aleatoriamente ao genoma. São conhecidos como "
transpósons" ou "elementos de transposição".

Assim os elementos de transposição, ou transposons, são regiões de DNA que podem se transferir de uma região para outra do genoma, deixando ou não uma cópia no local antigo onde estavam.
A transposição pode ser para o mesmo cromossomo, para outro cromossomo, para um plasmídio ou para um fago.

Descobertos inicialmente no milho, por
Barbara McClintock, em torno de 1950. Bem mais tarde em bactériase depois descobriu-se que estão presentes em todos os organismos.



Existe uma enzima associada com a transposição, denominada transposase.A transposase normalmente é codificada pelo próprio elemento de transposição, que, portanto, carrega consigo o mecanismo para a transposição.
Outros elementos importantes da transposição são as extremidades do mesmo, geralmente repetições invertidas na faixa de 30bp.

De acordo com Francis Collins na obra “A Linguagem de Deus”, ao serem analisadas seqüências de DNA estes elementos adquirem muitas mutações se comparados ao gene saltador originalo que lhes faz parecer muito antigos. São denominados Elementos repetitivos Antigos – ERA.

Collins menciona que há ERAs encontrados em locais semelhantes em genes de humanos e de camundongos. Há exemplos em ambos os genomas de que o ERA foi truncado em um exato par de bases no instante da inserção, perdendo parte de sua seqüência de DNA e toda a possibilidade de função futura.

Embora muitos possam ter se perdido em ambas as espécies, o encontro de determinados ERAs em mesmos locais tanto no genoma de camundongo como no genoma humano é prova convincente de que tal evento de inserção deva ter ocorrido em um ancestral comum ao humano e ao camundongo.

O processo de transposição em geral danifica o gene saltador. Mas é curioso notar que tanto em genomas humanos como de camundongos apresentam ERAs truncados em posições paralelas.

Há também o caso de fusão de cromossomos por extremidades. Um exemplo claro disso é o que ocorreu com o cromossomo 2 dos seres humanos, os quais se apresenta nos pongídeos (gorilas, orangotangos, chimpanzés e bonobos – apresentam 24 pares de cromossomos) como cromossomos 2a e 2b.

De acordo ainda com Collins, seqüências especiais ocorrem nas extremidades de todos os cromossomos de primatas, não acontecendo, em geral, em nenhum outro lugar. Todavia são encontradas onde a evolução as teria predito, ou seja, no nosso caso, no meio de nosso segundo cromossomo fundido.

De acordo com estudos atuais, acredita-se que a transposição descrita por McClintock esteja envolvida com a evolução dos organismos, pois os transposons, ao se moverem para outros locais do genoma, podem afetar a estrutura e o funcionamento de outros genes, ou seja, os transposons podem causar mutações.

Embora mutações possam proporcionar vantagens evolutivas para seus portadores, elas são maléficas na maioria dos casos. Assim, os transposons foram considerados uma forma parasitária de DNA, com cerca de 2-12 mil pares de nucleotídeos de extensão.

Além disso, devido a algumas similaridades entre os transposons e os vírus, alguns cientistas acreditam que esses dois grupos de organismos possuam uma origem ancestral comum.

Atualmente, os transposons têm sido utilizados por cientistas para gerar mutações em genes vegetais. Alguns estudos indicam que esses elementos genéticos móveis e as seqüências deles derivadas podem corresponder a até 45% do genoma humano.

Além disso, diversas doenças como o mal da vaca louca (encelofalopatia espongiforme bovina) e patologias humanas como hepatites A e B e distrofia muscular de Duchenne têm sido associadas com esses “genes cangurus”.

Como os genes em geral, os transposons passam verticalmente, de uma geração à seguinte. Um estudo realizado (aqui) trata da transferência horizontal de transposons de um organismo a outro, talvez mesmo de uma espécie a outra, idéias absurdas em face dos conhecimentos da genética convencional.

Essa estranha possibilidade foi sugerida por experimentos de Margaret G. Kidwell e Marilyn A. Houck, que encontraram indícios da passagem de um gene chamado de elemento P entre duas espécies de drosófila.

Se confirmada a passagem de transposons de uma espécie a outra, esses elementos poderão ser considerados como agentes de mudanças evolucionárias, ou mesmo participantes de papel na origem das espécies.

Neste último caso reforçariam a hipótese recente da evolução pontuada ou em saltos, segundo a qual as mutações não ocorreriam de maneira progressiva pelo acréscimo de pequenas alterações, mas de maneira abrupta após longos períodos de estabilidade.
Outro estudo (
aqui) trate de um estudo sobre a origem de DNA 'saltador' em espécies, sendo que tais fragmentos genéticos colonizaram vários animais independentemente.

Estes pedaços de DNA estranhamente independentes, colonizaram o genoma de uma quantidade impressionante de espécies animais, de morcegos a lagartos.

A descoberta dos chamados SPACE INVADERS, ou SPIN, para encurtar, pode ser a primeira prova de peso sobre a importância da transferência de DNA de uma espécie para outra na evolução dos vertebrados terrestres, sendo que, em pelo menos um caso, o troca-troca de material genético deu até origem a um novo gene em camundongos.

Em muitos casos, a quantidade de cópias de SPIN é tão abundante que ela seria capaz de reorganizar boa parte do genoma.

O rearranjo desses elementos saltadores com outros pedaços do genoma de camundongos parece ter sido responsável pela criação de um novo gene, segundo a análise feita neste estudo.

É provável que a abundancia de transposons afetem outras áreas do genoma, levando a modificações potencialmente importantes para a evolução das espécies.

O fato de apenas algumas espécies sem parentesco direto terem sido afetadas pelos SPIN indica que eles as contaminaram de forma independente, não tendo sido transmitidos de ancestral remoto para descendentes ao longo da evolução.

Para os pesquisadores, o mais provável é que um vírus, como o da varíola, tenha capturado o ancestral comum do transposon há milhões de anos e infectado várias espécies diferentes com ele, pois os vírus, têm a capacidade de inserir material genético estranho no genoma de seus hospedeiros.

O Mistério do Sexo Parte 16

10 – Notas criacionistas

Neste ponto analisaremos e tentaremos responder aos questionamentos feitos por criacionistas.

Tais questionamentos, devido ao seu teor, se tratam, em sua maioria, de argumentos da ignorância “pró-deus das lacunas”, uma vez que é evidente o seu teor malicioso no que concerne a gerar confusões ao universo leigo.


10.1 - primeira nota

A respeito do artigo “9.8 - Você gosta de sexo? Agradeça a um parasita” segue uma nota extraída daqui: (nota em azul, sendo minha resposta em vermelho)


E nos ambientes em que não há tantos parasitas, para que sexo? E nos seres que conseguem lidar bem com esses parasitas de forma mais simples, para que "inventar" um meio de reprodução tão complexo e dispendioso do ponto de vista do gasto de energia e dos riscos envolvidos no processo todo?
Bem, minhas perguntas a serem feitas seriam:

Qual seria um ambiente imune de agentes parasitários (bactérias, protozoários, vírus, vermes, ácaros, insetos hematófagos, peixes parasitas, etc)?

Será que os sistemas imunológicos de seres que se reproduziam assexuadamente “sabiam” antes de serem infectados como lidar bem com tais parasitas?

De acordo com o teor da pergunta, talvez o Jardim do Éden fosse um ambiente asséptico imune de micróbios, de vermes, e toda a sorte de parasitas. Será que Adão e Eva e os demais habitantes do Éden tinham flora intestinal e sistema imunológico?

Sabemos que na natureza, a fim da vida poder ter continuidade, esta vida se adapta aos diversos meios.

Respondendo a questão, parasitas podem ter tido mutações que proporcionaram eles a invadirem os clones produzidos por reprodução não sexuada e, portanto, causado uma mortalidade em massa, ou até mesmo extinguido algumas espécies.

Entretanto, como a vida evolui, indivíduos mutantes que possuíam cromossomos sexuais distintos ou quase idênticos (conforme visto no item 5), que já praticavam a troca de material genético (que ocorre desde as bactérias) sobreviveram, o que pode ter originado a reprodução sexuada.

Como vimos anteriormente, sexo não é particularidade de animais ou plantas considerados “mais evoluídos”, os metazoários; mas também de bactérias, protozoários, algas e fungos.

Quanto às espécies que se reproduzem assexuadamente hoje existentes, é provável que tenham desenvolvido mutações em outros genes, que não aqueles dos cromossomos sexuais (ver item 10.2.3.2 – Informação Complexa Especificada), e, assim, aprenderam a se defender dos parasitas e das adversidades do meio.

Logo, a invenção do sexo poderia já existir antes mesmo de ter ocorrido qualquer problema quanto à infestação por parasitas, para resolver questões relacionadas à adaptação, em relação ao meio, ou para integrar genes de outra espécie, como a conjugação em bactérias e determinados protozoários, a fim de se diversificarem e ocuparem outros nichos ecológicos.

O estudo apenas prova, mais uma vez, que o sexo é o melhor e mais vantajoso meio de reprodução, mas evita, como sempre, tocar no delicado e difícil tema da origem da reprodução sexuada e da complexidade envolvida na interdependência dos órgãos sexuais femininos e masculinos, que precisariam ter evoluído separadamente e, mesmo assim, ser perfeitamente compatíveis - um tipo de mutação dupla independente, na mesma geração e funcional.

O problema dos órgãos sexuais também se resume a uma questão meramente evolutiva relacionada à seleção natural das espécies.

Obviamente aqueles que eram incapazes de se acoplarem ou fazer a troca de material genético foram eliminados, e restaram os mais capacitados à execução da tarefa.

Quanto à origem da reprodução sexuada, nos tópicos acima (itens 5 e 9) foi explorada a possível origem de acordo com estudos realizados em cromossomos sexuais e com base na Teoria da Rainha Vermelha e do Bobo da Corte.

Para o caso de animais realizam fecundação cruzada, a resposta não está em se saber por que se desenvolveram pênis ou vaginas ou órgãos semelhantes com as mesmas funções, bem como todo o aparato reprodutor.
Tal informação é determinada pelos genes presentes nos cromossomos X e Y ou assemelhados. Assim, a questão se resume em saber por que surgiram pares de cromossomos sexuais distintos para machos e fêmeas e qual a influencia destes cromossomos nos genomas das espécies.

Todavia, salienta-se que há animais cujo sexo é determinado por temperatura, conforme exposto acima, se relaciona ao controle da regulação da enzima aromatase. Ver item 6.1 - DETERMINAÇÃO DO SEXO PELA TEMPERATURA EM REPTILA.
Parece que, mais uma vez, a melhor explicação está no design inteligente: o livro de Gênesis afirma que Deus criou o sexo como um presente para o primeiro casal, para ser desfrutado dentro do casamento, numa relação de amor e compromisso. O sexo, segundo a Bíblia, serve tanto para prover prazer e satisfação no relacionamento (e basta ler Cantares para descobrir isso, já que ali não se fala em filhos), quanto para possibilitar a reprodução da espécie.[MB]

Sim a explicação se encontra no DI, cujo desenhista/projetista é denominado seleção natural e não “criador inteligente”, deus, Shiva, ET, predador ou coisa que o valha.

Quanto ao cunho religioso, moral do sexo ou o sexo visto como tabu, tais formas de pensar variam de acordo com a cultura em que vive o indivíduo.

Mas sob a ótica científica e da natureza, sexo é meio para a espécie garantir a sua sobrevivência e uma via para que ela evolua e se adapte ao meio em que vive, interagindo entre si, com as outras espécies habitantes deste meio e com o próprio meio.

Faz-se ressalva de que em algumas espécies de primatas (macaco de Gibraltar e bonobos), incluindo o homem, sexo é fonte de prazer e serve como poderosa moeda de troca para as fêmeas garantirem sua sobrevivência e da sua prole, além de estreitarem os laços entre os membros do bando.

10.2 - Segunda nota
10.2.1 - Esta se relaciona ao item 4.1.2.4.1 - Descoberto aparelho reprodutor de peixe de 350 mi de anos;

Nota: Para o criacionista, o achado sugere outras coisas: (1) em tantos milhões de anos, o sistema reprodutor do Incisoscutum é praticamente o mesmo do tubarão moderno, assim, não houve "evolução";

Errado!!! Conforme segue abaixo:

A explicação se encontra no item 4.1 – Peixes.

Desse modo, de acordo com o exaustivamente explicado, dizer que tubarões não passaram por evolução ao longo destes 450 milhões de anos é dar as costas ao que está demonstrado pelo registro fóssil. Há que se comentar também que o Incisoscutum não se trata de um tubarão primitivo (Chondrichtyes), mas de um placodermo já extinto.

Ressalva-se também que os tubarões atuais não se tratam dos mesmos tubarões que viveram à época do Incisoscutum, durante o período carbonífero (entre 360 a 300 milhões de anos atrás).

De acordo com os registros fósseis, calcula-se que os
tubarões existam desde há 400 milhões de anos (desde o período devoniano), sem grandes alterações em sua morfologia, o que sugere um bom nível de adaptação e evolução.

Muitos deles já estão extintos, sendo que outras espécies de tubarões evoluíram e tomaram o lugar de seus antecessores, porém mantiveram seu aparelho reprodutor (clásper nos machos e cloacas nas fêmeas) e forma de reproduzir viviparidade.

Os tubarões ocuparam e ainda ocupam diversos nichos ecológicos, desde os mares tropicais aos oceanos Ártico e Antártico.

A nota sugere o mesmo que porque humanos se reproduzem como homo habilis (introdução do pênis na vagina) não houve evolução no gênero homo, ou seja, é pura falácia de criacionistas desinformados ou agindo de má fé (voto por esta), sugerindo um argumento da ignorância.


10.2.2 – Relacionada à complexidade da reprodução sexuada; anatomia e fisiologia:

(2) complexidades como a da reprodução sexuada - que depende de modificações anatômicas e fisiológicas simultâneas e compatíveis em dois seres diferentes - estão sendo observadas em seres cada vez mais antigos, como já ocorreu com as águas-vivas;

Errado !!!! Veja aqui.

Conforme exposto no item 3.9 - Cnidária os órgãos sexuais dos celenterados não são tão complexos quanto a nota apregoa, uma vez que a reprodução sexuada não se faz somente por acoplamento de genitais.

O exemplo claro de reprodução sexuada em cnidários é a hidra, cujo macho elimina espermatozóides na água; estes deslocam-se até uma hidra feminina, onde o óvulo é fecundado.

Para os demais cnidários a reprodução é assexuada.

Conforme exposto no item 3.10 - Os vermes, é onde tem início de fato a fecundação cruzada em que macho e fêmea se acoplam. Certamente foi a partir daqui que houve a seleção natural para melhor definir os órgão sexuais.

Ou seja, se os órgãos sexuais não permitirem o acoplamento entre macho e fêmea, não haverá cruzamento e, portanto aqueles que não acasalam não passam seus genes adiante e assim são eliminados os caracteres desfavoráveis, ou seja, estão fora da brincadeira.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

O Mistério do Sexo Parte 15

9.6 - Willian Hamilton (1936 - 2000); O Darwin do século XX:

Além de suas contribuições seminais para o entendimento da evolução do sexo e da seleção sexual, Hamilton desenvolveu uma brilhante e rigorosa teoria matemática das bases genéticas e evolucionárias do altruísmo por meio da seleção de parentes (kin selection) e aptidão inclusiva (inclusive fitness), conceitos que infelizmente têm sido usados abusivamente pela sociobiologia e pela psicologia evolucionária.

Seu brilho foi tal que o britânico Richard Dawkins, outro grande evolucionista, escreveu que “W.D. Hamilton é um bom candidato para o título do darwinista mais gabaritado desde o próprio Darwin”.

Acontece, às vezes, de grandes homens de ciência cometerem grandes erros. Sempre agressivo e polêmico, Hamilton desenvolveu durante a década de 1990 a teoria excêntrica e idiossincrática de que o vírus HIV havia evoluído a partir de vacinas orais de poliomielite contaminadas, usadas na década de 1950.

Em 2000 ele organizou uma excursão científica ao Congo para investigar sua hipótese. Durante a viagem ele contraiu malária, que evoluiu para forma cerebral. Hamilton foi transferido de volta à Inglaterra para tratamento, mas faleceu após seis semanas de hospitalização, com uma hemorragia cerebral.

É triste e curioso que esse grande evolucionista, que tanto contribuiu para o entendimento do papel evolucionário dos parasitas, tenha sucumbido exatamente ao Plasmodium falciparum, um parasita de extraordinária relevância evolucionária, pois acompanha a humanidade desde os seus primórdios.

Hamilton foi enterrado na Inglaterra. Nisso, não foi obedecido seu desejo, expresso no artigo intitulado “My intended burial and why” [‘Meu enterro desejado e por quê’], de ser enterrado em uma floresta brasileira.


“Deixarei um pedido no meu testamento para que meu corpo seja carregado para o Brasil e para essas florestas [...] e estes grandes besouros Coprophanaeus me enterrarão. Eles penetrarão em minha carne e a comerão; na forma de cria deles e minha, escaparei da morte. […] Zumbirei no lusco-fusco como uma grande mamangaba. Serei muitos, zumbindo como um enxame de motocicletas, alçarei voo, corpo ao lado de corpo no ar, voando na selva sob as estrelas, suspensos sob esses belos élitros [asas dos coleópteros] que teremos nas nossas costas. Finalmente, também reluzirei como um escaravelho violeta sob uma pedra.”

Essa é a idéia de imortalidade de um verdadeiro evolucionista...

Outro estudo extraído daqui, ratifica a questão da vantagem da reprodução sexuada em detrimento da reprodução assexuada, conforme segue:


9.7- Você gosta de sexo? Agradeça a um parasita.

Há muito se pergunta por que o sexo se tornou tão importante, mesmo quando a vida evoluía com criaturas se reproduzindo assexuadamente.

Essas criaturas nem precisavam encontrar um parceiro. Enquanto isso pode parecer nada divertido, certamente é eficiente, fazendo com que a capacidade de reprodução de um número de organismos possa ser dobrada.

Então por que a reprodução eventualmente evoluiu para transformar o sexo como o conhecemos? Uma teoria afirma que tudo possa ter sido uma reação a parasitas. Sabe, o problema sobre a reprodução sem sexo é que você cria clones, e clones e mais clones.

Cada organismo tem o mesmo DNA, com uma ou outra mutação causada pelo tempo. Se um parasita descobrisse como explorar uma vulnerabilidade dos organismos, a espécie inteira estaria condenada.

Para resolver isso, o sexo com parceiros diferentes faz combinações de DNA e cria indivíduos geneticamente únicos.

Parasitas podem matar vários organismos, mas é provável, deste modo, que alguns indivíduos sejam menos vulneráveis ao ataque, e a espécie continua a sua vida normalmente. Tudo isso já era teorizado, mas o verdadeiro teste para qualquer teoria está na natureza.

Nos últimos dez anos, cientistas estudaram a Potamopyrgus antipodarum, uma lesma da Nova Zelândia, que tem reprodução assexuada e sexuada.

Os pesquisadores contaram a população das lesmas e o número de infecções parasitárias sofridas por cada variedade.

Os clones estavam saudáveis no início do estudo, mas se tornaram cada vez mais suscetíveis a parasitas.

Com o número de infecções por parasitas aumentando, o número de lesmas desse tipo diminui, enquanto algumas populações de lesmas do tipo clonado desapareceram completamente.

Enquanto isso, a população de lesmas com reprodução sexuada permaneceu mais estável. Isso, de acordo com os pesquisadores, é exatamente o padrão previsto pela hipótese dos parasitas.

“A ascensão e declínio dessas linhagens exclusivamente femininas foi rápida e consistente com a previsão dos parasitas sobre o sexo”, afirma Jukka Jokela, do Instituto de Ciência Aquática e Tecnologia da Suíça, que participou do estudo.

“Estes resultados sugerem que a reprodução sexual provê uma vantagem evolucionária em ambientes com muitos parasitas”, diz Jokela.

Tais resultados se somam a um estudo realizado em 2005 com leveduras, sendo que aquelas que realizavam a reprodução sexuada se saíram melhor na procriação quando estavam sem alimentos que aquelas que realizavam reprodução sem sexo.

Dessa forma este estudo vem a confirmar a teoria de que sexo representa uma grande vantagem evolutiva, seja na proteção contra parasitas, seja contra as adversidades do meio ambiente, confirmando a Teoria da Rainha Vermelha e do Bobo da Corte como não mutuamente excludentes.

O MIstério do Sexo Parte 14

9.4 - O suporte para a teoria da rainha vermelha:

Imaginemos o exemplo abaixo:

Numa população de organismos (de preferência com reprodução sexuada -o porquê veremos mais para frente) parasitada por um ser vivo de geração curta, o que não é muito difícil, lembrando que uma das bactéria que se encontra no nosso intestino, a E. coli quando em condições ideais se divide a cada vinte minutos e a Clostridium perfringens que causa intoxicações alimentares e em alguns casos gangrena, a cada nove minutos.

Imagine agora, que este parasita utiliza um receptor celular específico para se aderir ao hospedeiro (não é que o hospedeiro tem receptores feitos para adesão de patógenos, mas sim o inverso, invasores utilizam receptores que já estão presentes realizando outras funções, como comunicação celular).

Considere no desenho abaixo que o receptor celular é a fechadura, e a proteína do invasor é a chave.

Na primeira geração, o tipo mais comum de receptor é o vermelho. Em pouco tempo, o parasita que passa a utilizar este receptor é o mais bem sucedido (pois tem mais hospedeiros para infectar) e os hospedeiros vermelhos deixam menos descendentes.

O hospedeiro com o receptor azul tem mais descendentes e na geração seguinte, passa a ser o mais comum.

Novamente, dentre os parasitas, aquele que utilizar o receptor azul vai ser mais bem sucedido, de maneira que o hospedeiro azul tem menos descendentes.

Esse ciclo se mantém, perpetuando uma situação onde hospedeiro e parasita estão mudando para permanecerem na mesma condição. A reprodução sexuada é importante nesse caso, pois permite uma propagação mais rápida das características que foram benéficas na geração anterior.

É difícil de acompanhar a confirmação da teoria da rainha vermelha, uma vez que, exige a observação de várias gerações do organismo em estudo, envolve mudanças que muitas vezes não são detectadas, mas há exemplos:


9.4. 1 - A Daphnia Magna
Trata-se do crustáceo de água doce Daphnia Magna ou pulga-de-água, como é conhecido pelo movimento feito quando contrai as antenas, movendo-se na água como se fosse um pulo.




Ellen Decaester e colaboradores em um artigo da Nature, coletaram amostras de sedimento no fundo de um lago onde se encontravam várias camadas de deposição, cada camada correspondendo a um intervalo de tempo, totalizando 24 cm de sedimento e 39 anos de registro.

Nas camadas de sedimento se encontravam ovos de Daphnia e esporos de um parasita que a ataca, a bactéria Pasteuria ramosa.

A idéia, muito elegante por sinal, foi expor a pulga-de-água de cada ano a bactérias de todos os anos, passados, presente e futuros, para determinar o sucesso de infecção da bactéria.

Eis o resultado: bactérias do passado (da camada anterior de sedimento), não infectam tão bem quanto bactérias do presente(da mesma camada de sedimento), pois a geração de Daphnia presente já foi selecionada para resistir à infecção, e as bactérias do futuro (da camada seguinte de sedimento) também não infectam tão bem, pois já foram selecionadas para infectar as futuras pulgas-de-água.

No total, a taxa de infecção das bactérias do presente se manteve constante, em torno de 60%, ou seja, ambos parasita e hospedeiro, mudaram a cada camada de sedimento para permanecer no mesmo lugar...

9.4.2 - Plumas: arma contra parasitas

Quando o inglês Charles Darwin (1809-1882) publicou sua obra máxima, A origem das espécies, em 1859, propondo que a diversidade biológica poderia ser explicada pela evolução através do processo de seleção natural, ele tinha consciência de que alguns fatos desafiavam essa grande teoria.

Se a evolução realmente ocorre pela “sobrevivência dos mais aptos”, como a seleção natural poderia explicar a evolução do elaborado arranjo das plumas multicoloridas da cauda dos pavões?

O excesso de cores, formas e materiais dessa magnífica cauda, que mais parece um traje carnavalesco, dificilmente pode ser atribuído a um processo tão econômicoquanto a seleção natural.

De fato, ao invés de promover a sobrevivência, tal estrutura parece ser um fardo,que torna os pavões machos mais suscetíveis à ação dos predadores. E é evidente que isso não precisa ser assim, já que o ‘traje’ das fêmeas dos pavões é tão conservador quanto os das senhoras vitorianas.

Em 1871, Darwin publicou um enorme tratado denominado A origem do homem e a seleção em relação ao sexo, no qual reconheceu que a evolução de muitas das diferenças entre machos e fêmeas (chamadas de características sexuais secundárias) só poderia ser explicada por um processo de seleção que privilegiasse o sucesso reprodutivo, mesmo que isso acarretasse certo custo em termos de sobrevivência. Para descrever esse processo, Darwin criou o termo ‘seleção sexual’.

Ele notou que em muitas espécies ocorre competição entre machos, na disputa por fêmeas reprodutivas, e que alguns poucos machos monopolizam grande parte das oportunidades de reprodução, enquanto os outros têm poucos filhos ou até morrem virgens.

Assim, qualquer característica fisiológica, morfológica ou comportamental que aumentasse a probabilidade de sucesso no conflito entre machos seria selecionada.

Para Darwin, esse processo explicaria, por exemplo, porque machos são em geral maiores e mais fortes que as fêmeas e possuem estruturas poderosas usadas como verdadeiras armas em combates físicos com outros machos (como os chifres dos veados, as grandes presas dos elefantes e as fortes patas dos caranguejos).



Darwin percebeu ainda que em muitas espécies o poder de escolher o parceiro reprodutivo está com as fêmeas. Nesse caso, os melhores machos seriam aqueles com mecanismos de sedução desenvolvidos. Isso explicaria, por exemplo, a evolução de cantos, danças e exibições altamente elaboradas dos comportamentos de corte de muitas espécies, assim como o aparecimento das majestosas plumas dos pavões.

Em 1982, com a publicação do artigo de William Hamilton (e de sua então aluna de pós-graduação Marlene Zuk), os parasitas ‘infectaram’ o cenário dos debates sobre seleção sexual e evolução de características sexuais secundárias.

No mundo da Rainha Vermelha, no qual os parasitas estão a poucos passos evolutivos atrás dos hospedeiros, acasalamento é coisa séria.Como em geral as fêmeas investem mais recursos na prole que os machos e dedicam mais tempo ao cuidado das crias, espera-se que sejam extremamente cuidadosas na escolha dos parceiros reprodutivos, pois uma má escolha pode comprometer de maneira vital a sobrevivência de seus filhos.

Acredita-se, portanto, que as fêmeas, ao decidir com quem se acasalar, buscam sinais que evidenciem a presença de ‘bons genes’ contra parasitas, para aumentar as chances de que seus filhos adquiram essas defesas. Ao mesmo tempo, espera-se que machos possuidores de bons genes façam ‘propaganda’ disso.

Assim, cores vistosas, exibições atléticas prolongadas e cantos elaborados podem ser vistos como ‘propagandas genéticas’ que sinalizam as qualidades relativas entre potenciais parceiros reprodutivos. Além disso, os combates entre machos e a evolução de muitas outras características sexuais, como os chifres dos alces, seriam uma forma de ordenar os machos quanto às suas qualidades genéticas antiparasitas.

Nesse mercado reprodutivo competitivo, porém, pode-se esperar que nem todos os machos sejam honestos quanto às suas qualidades. A tentação de produzir adornos um pouquinho mais elaborados do que o vizinho, mesmo sem ter bons genes, é muito grande.

Isso leva ao surgimento de propagandas não-fidedignas. Para que isso não ocorra, segundo o evolucionista israelense Amotz Zahavi, daUniversidade de Tel-Aviv, as características sexuais secundárias têm que ser custosas, de modo que apenas indivíduos com genes realmente bons possam produzi-las.

Em outras palavras, se o custo da mentira é grande, não vale a pena mentir. É interessante notar que enquanto Darwin considera o custo das características sexuais secundárias um subproduto não-desejável da seleção sexual, a teoria da Rainha Vermelha vê em tal custo uma condição essencial para o funcionamento do modelo.

Essa nova teoria também resolveu um antigo problema dos modelos de seleção sexual baseados em vantagens genéticas, identificado em 1930 pelo geneticista norte-americano Ronald Fisher (1890-1962).

Se há genes ‘bons’, e se as fêmeas preferem se acasalar com os machos que os possuem, tais genes tenderiam a se espalhar na população e a se fixar rapidamente, e as fêmeas não conseguiriam mais fazer essa escolha. Assim, como as vantagens genéticas seriam mantidas através das gerações, levando à seleção de características tão elaboradas como a cauda dos pavões?

A dinâmica coevolutiva entre hospedeiros e parasitas foi o truque que Hamilton usou para contornar o problema. Para ele, as fêmeas sempre procuram se acasalar com o melhor genótipo da população, mas no mundo da Rainha Vermelha a seleção depende de freqüência, e os genes que conferem resistência aos parasitas de hoje provavelmente não serão os melhores para as pressões de amanhã. Ou seja, o que é ‘bom’ muda continuamente.

Esse ambiente teórico admite ciclos coevolutivos longos, que permitem o desenvolvimento de características sexuais secundárias elaboradas.
Diversos estudos recentes, de campo e de laboratório, têm verificado algumas predições da teoria da Rainha Vermelha. Em andorinhas (Hirundo rustica), machos parasitados por carrapatos têm caudas mais curtas do que machos não-infectados, e as fêmeas preferem acasalar-se com machos com caudas longas.

Além disso, um interessante experimento trocou a metade dos ovos entre ninhos e revelou que a carga de parasitas dos filhos é mais relacionada com a carga de parasitas dos pais genéticos do que com a dos ‘padrastos’. Isso revela que a resistência aos parasitas é hereditária, um dos fatores-chave para a teoria de Hamilton e Zuk funcionar.

9.4.3- Em galinhas selvagens (Gallus gallus):
Descobriu-se que galos não-parasitados têm cristas mais desenvolvidas do que galos contaminados por vermes intestinais, e que a preferência de acasalamento das galinhas está mais associada às cristas do que ao tamanho do corpo do galo.





9.4.5 - peixe barrigudinho (Poecilia reticulata):
No machos mais parasitados exibem o comportamento de corte com menos freqüência. Com isso, as fêmeas tendem a se acasalar com os menos parasitados. Machos de pererecas (Hyla versicolor) parasitadas por vermes helmintos emitem menos chamados de corte e têm baixo sucesso reprodutivo.




9.4.6 - Piranga olivacea

O teste mais difícil que a teoria da Rainha Vermelha enfrentou talvez tenha sido o chamado teste da previsão interespecífica.

Segundo a teoria, espécies submetidas durante sua história evolutiva a uma maior pressão de parasitas deveriam exibir características sexuais secundárias mais elaboradas. Para testar tal hipótese, Hamilton e Zuk cruzaram dois tipos de dados. Marlene Zuk ordenou as espécies de aves norte-americanas em função do grau de desenvolvimento de características sexuais secundárias.

Aves com colorações ultraelaboradas, como Piranga olivacea (da família dos tangarás) ganharam nota 6, enquanto pássaros monocromáticos receberam nota 1. Ao mesmo tempo, Hamilton pesquisou a bibliografia veterinária e zoológica para calcular um índice da pressão de parasitas (causadores de infecções sangüíneas crônicas) para cada uma dessas espécies.

Se a teoria estivesse correta, aquelas com penas mais coloridas e elaboradas deveriam ter mais parasitas. E foi exatamente isso que eles encontraram.

A relação entre parasitismo e menor sucesso reprodutivo também foi confirmada em moscas-das-frutas (Drosophila testacea).


9.5 - Um estudo atual:

Um simples fungo está ajudando a ciência a entender as causas que promovem a diferenciação entre os sexos. A novidade ganhou a capa da edição desta quarta-feira (09/1) da revista Nature.
O Phycomyces blakesleeanus é um fungo filamentoso conhecido pela sensibilidade à luz, o que faz com que a maioria dos estudos que o envolvam estejam relacionados a fenômenos como o fototropismo. Mas na nova pesquisa o foco é outro: sexo.

Como em outros fungos, a determinação do sexo no P. blakesleeanus não é controlada por um cromossomo completo, mas por uma pequena região do genoma denominada locus (posição) sexual.

Por meio de recursos de bioinformática e de mapeamento genético, a equipe coordenada por Joseph Heitman, do Departamento de Genética Molecular e Microbiologia da Universidade Duke, nos Estados Unidos, identificou dois alelos (formas alternativas do mesmo gene) sexuais, que chamaram de mais e menos e que têm papel fundamental na determinação do sexo.

Assim como o gene SRY, regulador-chave no processo de diferenciação sexual em embriões humanos, os alelos codificam fatores de transcrição. "Cada alelo sexual contém um único gene que codifica uma proteína do grupo de alta mobilidade [envolvida com o processo de transcrição], implicando que tais proteínas são uma forma inicial dos locais de diferenciação sexual no fungo", descreveram os autores.

Segundo eles, os resultados da pesquisa indicam e existência de "um mecanismo geral para os passos iniciais na evolução da determinação sexual e da estrutura cromossômica ligada ao sexo em eucariontes".

Para a Nature, embora mais pesquisas sobre o tema sejam necessárias, o estudo agora publicado "dá um passo fundamental rumo à compreensão da trajetória evolucionária da região de determinação sexual no reino dos fungos".

O artigo Identification of the sex genes in na early diverged fungus, de Joseph Heitman e outros, pode ser lido por assinantes da Nature aqui.

O Mistério do Sexo Parte 13

9 - A Rainha Vermelha e o Bobo da Corte:

É natural que sexo seja bom, mas bom para que? Se perguntaram os cientistas; há controvérsias.
Em 1889, o biólogo alemão August Weismann (1834-1914) notou que a função do sexo não poderia ser a de permitir a multiplicação dos organismos, pois diversas espécies reproduzem-se sem recorrer ao sexo.

Muitas espécies de plantas ‘pegam de galho’: basta enterrar um pedaço de um ramo para obter novo indivíduo.

Outros organismos, como as planárias (vermes de vida aquática), podem gerar novo organismo pela fissão do corpo. Micróbios unicelulares simplesmente dividem-se em dois, por um processo semelhante à mitose.

Muitos insetos, como os pulgões, passam parte do ano produzindo ovos que geram cópias genéticas do indivíduo que os produziu -- tal processo, chamado de ‘partenogênese’, é uma forma de reprodução assexuada bem comum entre os animais, e ocorre até em animais mais complexos, como alguns lagartos, peixes e anfíbios.

A maioria dos animais e plantas, porém, reproduz-se sexuadamente, misturando genes do pai com genes da mãe (reprodução cruzada). Para que a reprodução sexuada seja possível, machos e fêmeas (ou estruturas masculinas e femininas, nas plantas) precisam produzir gametas (células reprodutivas, masculinas ou femininas) que em geral têm apenas uma das duas cópias de cada gene que esses indivíduos possuem.

A redução do número de cromossomos (de 2n para n) na produção de gametas ocorre através de um processo celular complexo, a meiose. A fusão de um gameta masculino de um indivíduo com o gameta feminino de outro é chamado de fertilização. Durante essa fusão, os genes recebidos da mãe e do pai misturam-se em novas combinações. Isso explica por que os filhos de um mesmo casal são sempre diferentes. De maneira simplificada, pode-se dizer que sexo é reprodução cruzada mais recombinação.

Em 1971, o evolucionista inglês John Maynard Smith (1920-) notou que um indivíduo sexuado passa apenas metade do seu material genético aos filhos, enquanto um indivíduo assexuado passa todos os seus genes. Ou seja, na corrida evolutiva, onde passar os genes para a próxima geração é um dos maiores ‘objetivos’, organismos sexuados partem com desvantagem de quase 50%, que ficou conhecida como “o custo da meiose”. Sexo, portanto, parece ser um luxo que não deveria existir.

Como a existência do sexo é inegável, os biólogos têm quebrado a cabeça para descobrir qual o grande benefício que ele traz para os seres vivos. Maynard-Smith argumentou que o sexo só poderia ter evoluído se esse benefício misterioso pelo menos contrabalançasse o grande custo da meiose. Mas, afinal, que benefício é esse?

Desde Weismann, vários cientistas tentam identificar essa vantagem, capaz de justificar a origem e a manutenção da reprodução sexuada (ver ‘O sexo serve para quê?’). Algumas das hipóteses lançadas apontam para benefícios genéticos e outras para vantagens ecológicas. Este artigo apresenta em detalhes uma das propostas, a teoria sosigônica (ou ‘teoria da Rainha Vermelha’, como é também conhecida), que vem recebendo muita atenção da comunidade científica nos últimos tempos.

9. 1 - A rainha vermelha:
O primeiro modelo, cujo nome faz alusão à Rainha Vermelha, personagem do livro Alice através do espelho, de Lewis Carroll (1832-1898), foi sugerido pelo biólogo norte-americano Leigh Van Valen, em 1973. Segundo esse modelo, as interações entre os seres vivos seriam os principais condutores da mudança evolutiva. É o que ocorre, por exemplo, quando um novo tipo de defesa surge em uma população de presas.

Essa audaciosa teoria sobre a origem e a manutenção do sexo foi proposta pelo evolucionista inglês William D. Hamilton (1936-), da Universidade de Oxford, em 1980. Segundo ele, os parasitas estão em toda parte e procuram sempre, por sua natureza, explorar seus hospedeiros. Além disso, apresentam virulência específica, afetando apenas determinados genótipos dos hospedeiros, enquanto estes têm genes que conferem resistência ao ataque.

Com isso, o surgimento de todo e qualquer tipo de contra-ataque por parte dos predadores passa a ser algo extremamente vantajoso.

Não há soluções propriamente definitivas para essas ‘corridas armamentistas’, pois a evolução de novos tipos de defesa (ou de ataque) produz repercussões que vão e voltam. Assim, a exemplo do que ocorre no livro de Carroll, as espécies estão sempre ‘correndo para permanecer no mesmo lugar’, isto é, as linhagens mais bem-sucedidas simplesmente persistem, enquanto as outras vão desaparecendo.

Como o tempo de geração dos parasitas é muitas vezes menor que o dos hospedeiros e por isso suas taxas de evolução são muitas vezes maiores, a única saída para os hospedeiros é produzir filhos com genótipos diferentes dos demais genótipos da população através da reprodução sexuada.

O mundo em que esse modelo está inserido ficou conhecido como o mundo da Rainha Vermelha, nome dado pelo paleontólogo norte-americano Leigh Van Valen, da Universidade de Chicago, em referência a uma passagem da fábula Alice no país dos espelhos, do inglês Lewis Carroll (1832-1898).

Nessa passagem, Alice foge do exército (de cartas de baralho) da Rainha Vermelha, mas não consegue se distanciar de seus perseguidores. Nesse momento, é advertida pela Rainha Vermelha: “Aqui, veja, você precisa correr o máximo possível, para se manter no mesmo lugar.”

Alice só seria pega se parasse de correr. Segundo Hamilton, uma ‘corrida armamentista’ entre hospedeiros e parasitas ocorre desde que a vida surgiu na Terra.

Os parasitas estão sempre quebrando as barreiras defensivas impostas pelo genótipo dos hospedeiros, enquanto estes, com a ajuda do sexo, criam continuamente novas defesas.

Na ausência do sexo, os hospedeiros permaneceriam em essência os mesmos, enquanto os parasitas iriam acumulando adaptações que lhes permitiriam quebrar todos os sistemas de defesa dos primeiros. Cedo ou tarde, os hospedeiros seriam virtualmente devorados de dentro para fora. Só resta a eles, para fugir do batalhão de parasitas que os perseguem, continuar correndo.

O ciclo coevolutivo de parasitas e hospedeiros reflete essa perseguição eterna. Indivíduos com genótipo resistente aos parasitas reproduzem-se com sucesso, o que aumenta a freqüência, na espécie, desses alelos (variações de um mesmo gene). Mas alguns raros parasitas conseguem quebrar essa defesa e começam a se reproduzir com sucesso, espalhando o novo gene da virulência.

Com o tempo, o antigo genótipo do hospedeiro deixa de ser o mais resistente, passa a ter sua freqüência reduzida, e um novo genótipo raro torna-se a melhor defesa, espalhando-se na população.

Em outras palavras, a seleção natural, no modelo de Hamilton, depende da freqüência.

Genótipos comuns são selecionados negativamente (sua freqüência diminui) e genótipos raros são selecionados a favor (sua freqüência aumenta).Um efeito interessante desse tipo de seleção é que a variabilidade genética não é perdida nunca.

É como se soluções genéticas obsoletas em dado momento fossem temporariamente colocadas de lado para serem eventualmente recicladas no futuro. Se isso é correto, a ‘teoria da Rainha Vermelha’ ajudaria a explicar a diversidade de alelos e, em conseqüência, a existência de diferentes formas de proteínas, que tanto intrigaram os geneticistas a algumas décadas.

Muitas das suposições decorrentes do modelo de Hamilton foram confirmadas recentemente. Estudos empíricos demonstraram que populações naturais têm uma substancial variação genética para resistência às doenças e à virulência dos parasitas.

Além disso, mostrou-se que há forte associação entre genótipos, como um sistema ‘chave-fechadura’: parasitas com a ‘chave’ certa atacam o hospedeiro e reproduzem-se com sucesso, enquanto parasitas com a ‘chave’ errada penam para se perpetuar.

Muitos estudos indicam, também, que espécies com reprodução assexuada são mais suscetíveis a ataques de parasitas que espécies aparentadas com reprodução sexuada. Isso também é verdade para variedades de plantas. Qualquer agricultor sabe que monoculturas de cereais geneticamente uniformes são altamente propensas a serem devastadas por pragas.

A teoria da Rainha Vermelha prediz diversos padrões ecológicos que têm sido verificados na natureza. Segundo a teoria, por exemplo, quanto maior a diferença entre o tempo de vida do hospedeiro e o tempo de vida do parasita, maior será a pressão de parasitismo.

Assim, o sexo deve ser mais freqüente em organismos grandes e de alta longevidade, o que foi confirmado em uma grande revisão da literatura científica.Em outro exemplo, prevê-se que organismos com reprodução assexuadada vêm ser mais comuns em ambientes instáveis, onde as relações parasita-hospedeiro são quebradas constantemente.

De fato, tais organismos são mais freqüentes em campos do que nas florestas maduras, em países temperados e em topos de montanhas, condições de maior instabilidade ambiental.

Além disso, organismos de água doce, submetidos a grandes variações de temperatura e de teores de nutrientes, tendem a se reproduzir mais assexuadamente que organismos de ambientes marinhos, mais constantes.As mesmas idéias de coevolução entre parasitas e hospedeiros que ajudam a entender a evolução do sexo podem ser úteis para explicar as diferenças fisiológicas, morfológicas e comportamentais entre machos e fêmeas.


9.2 - O bobo da corte:
O modelo Bobo da Corte [Court Jester, no original em inglês], proposto pelo paleontólogo norte-americano Anthony D. Barnosky, em 2001, ressalta a importância evolutiva das perturbações ambientais promovidas por fatores abióticos, como mudanças climáticas e soerguimento de montanhas.

Mais especificamente, a história das linhagens dependeria, em boa medida, de suas respostas às mudanças imprevisíveis que ocorrem no ambiente físico, lembrando o comportamento caprichoso dos bobos da corte dos tempos medievais.

Cabe ressaltar, porém, que não há ‘corridas armamentistas’ entre linhagens de seres vivos e elementos não-vivos do ambiente, pois estes últimos são evolutivamente inertes – fótons de luz e moléculas de água, por exemplo, não mudam, ao longo do tempo, em função de serem ou não consumidos por seres vivos.

Perturbações no ambiente físico podem exigir a evolução de novos níveis de tolerância, mas isso não desencadeia uma sucessão de ajustes mútuos entre seres vivos e elementos não-vivos.

No entanto, a reprodução assexuada é mais comum em organismos de água doce, onde os teores de nutrientes e a temperatura flutuam bastante, e a reprodução sexuada predomina em ambientes marinhos, mais constantes. Além disso, organismos assexuados são comuns no início da sucessão ecológica, em países temperados e em topos de montanha, onde espera-se maior instabilidade.


9.3 - O responsável; A rainha vermelha ou o bobo da corte:

E quem seria, portanto, o grande responsável por moldar a diversidade das espécies, a Rainha Vermelha ou o Bobo da Corte?

Na opinião de Benton, os dois modelos não são necessariamente excludentes. Eles apenas parecem operar em escalas (espaciais e temporais) distintas.

Assim, enquanto competição, predação e outros fatores bióticos moldariam a evolução no interior de ecossistemas locais por períodos relativamente curtos de tempo, fatores abióticos, como mudanças climáticas e eventos tectônicos ou oceânicos, poderiam moldar padrões de evolução em larga escala e por milhares ou milhões de anos.


Como afirma o autor, resta saber se essa visão pluralista do processo evolutivo vai facilitar o diálogo entre as diferentes escolas de pensamento envolvidas com o estudo da diversidade biológica.