Na verdade este ponto não se trata de um texto, mas de uma palestra ou um quiz show em que Lane Craig "O senhor Erística" é a principal personagem.
Vejamos os vídeos e breves comentários sobre eles:
Vídeo 1: Aqui Craig analisa o argumento da contingência o qual diz que o Universo e tudo mais tem de ter uma explicação, devido a sua necessidade ou a uma causa externa, e que para o Universo existir tem de haver uma mente pessoal e transcendente.
Ao comparar a causa da existência das coisas Craig faz falsas analogias, pois compara objetos produzidos pelo homem (mente consciente) com coisas que existem na natureza (processo inconsciente) como se deliberadamente fossem a mesma coisa.
A natureza e o Universo, não demandam uma necessidade para existir, por exemplo, qual a necessidade de Eta-Karina existir? Não tenho a menor ideia, mas quem tiver por favor diga.
Sobre os entes matemáticos, estes não existiam na natureza, mas foram criados pelo homem a fim de representá-la em suas propriedades, por meio de modelos que se aproximam em muito da realidade. Daí os axiomas, postulados, teoremas, conforme tratados aqui.
Craig está correto em afirmar que há causas para as coisas existirem, porém extrapola em seu raciocínio ao colocar como a causa uma inteligência suprema, em vez de assumir que explicações científicas racionais suprem perfeitamente boa parte do que ele acha ser inexplicável. Mas por que motivos esta "consciência superior" teria criado o Universo?
Video 2: Neste ponto Craig analisa o argumento cosmológico. Este argumento é dado por:
(1) Tudo o que existe tem uma causa. (premissa 1)
(2) O Universo existe. (premissa 2)
(3) Portanto, o Universo tem uma causa para a sua existência. (conclusão inferida pelas premissas 1 e 2)
Até aqui, o argumento possui premissas verdadeiras, é logicamente válido e é sólido, pois leva a uma conclusão verdadeira.
Mas vemos ver a sequência deste argumento:
(4) Se o Universo tem uma causa para a sua existência, essa causa é Deus.
Deus aqui surge do nada. Qual é a evidência concreta que atesta ser deus uma causa para o universo?
(5) Logo, Deus existe.
Esta conclusão perde o objeto pela conclusão 2 não ser categoricamente verdadeira e não ter nada que a apóie em termos evidenciais. Tampouco a afirmativa de que deus é a causa do universo guarda relação com as premissas anteriormente expostas.
Vejamos a segunda parte deste raciocínio reestruturada:
Deus existe e é a causa primeira para tudo. (1)
Há uma causa primeira para a existência do universo. (2)
Assim, deus é a causa primeira para o Universo. (C)
No argumento, a premissa (1) é no mínimo duvidosa, não podendo ser tratada como verdadeira pois nada a evidencia.
A premissa (2) é evidenciável, portanto verdadeira.
O raciocínio é logicamente válido pois (1) e (2) inferem (C), há a distribuição do termo médio (causa primeira) de forma correta.
Mas não é sólido, pois (C) não pode ser encarada como uma conclusão verdadeira e pelo fato da premissa (1) ser no mínimo duvidosa.
Como todos já sabemos que a lógica não tem compromisso com a verdade, mas apenas com as estruturas de raciocínio. A lógica apenas preserva a verdade, ou seja, se há premissas verdadeiras e se é aplicada uma forma válida de argumento, obter-se-á uma conclusão verdadeira. Assim, o argumento acima não pode ser tomado como verdadeiro, mas apenas logicamente válido.
Quanto ao conteúdo do vídeo, na terceira premissa do argumento (o Universo tem uma causa), deliberadamente, Craig estabelece esta causa como sendo novamente a inteligência superior como sendo as razões para esta causa.
Ao expor que a teoria da Relatividade geral se aplicada ao universo como um todo demarca um início, Craig omite ou desconhece que a teoria quântica não leva a um início do universo como o começo de tudo, mas à existência de vários universos de 4 tipos, sendo que estes surgem e desaparecem em um ciclo infinito.
A teoria da gravitação quântica pretende unificar a teoria quântica (que descreve a força nuclear forte, a fraca e a eletromagnética, para o micro-mundo) com a teoria da relatividade geral (que descreve a gravidade em estruturas de larga escala), ao tratar a gravidade como uma partícula.
A teoria das cordas previu a existência do graviton (sempre atrativos), a suposta partícula responsável pela transmissão da força gravitacional em modelos de teorias quânticas de campo.
A hipótese é que a força gravitacional é similarmente transmitida por esta partícula elementar, ainda não descoberta, ao invés de descrita em termos de curvatura espaço-tempo como a relatividade geral. No limite clássico, ambas as abordagens fornecem resultados idênticos, e compatíveis com a lei de gravitação de Newton (Feynman, R. P.. Feynman lectures on gravitation; Zee, A.. Quantum Field Theory in a Nutshell; Randall, Lisa. Warped Passages: Unraveling the Universe's Hidden Dimensions).
Dessa forma, flutuações quânticas dentre estas 4 forças podem ser a resposta para a origem do Universo ou de infinitos universos antes e após este e contemporâneos deste.
Certamente, para um Universo em particular, somente podemos falar te espaço-tempo, a partir do momento que uma singularidade se dissocia e irrompe em um processo inflacionário (teoria proposta por Alan Guth) criando um novo Universo.
Segundo a teoria, a inflação foi produzida por uma densidade de energia do vácuo negativa ou uma espécie de força gravitacional repulsiva.
é uma energia de fundo existente no espaço inclusive na ausência de todo tipo de matéria. A energia do vácuo tem uma origem puramente quantica.
A energia do vácuo teria também importantes consequências cosmológicas estando relacionada com o período inicial de expansão inflacionária e com a aparente aceleração atual da expansão do Universo. Esta expansão pode ser modelada com uma constante cosmológica não nula. Consequentemente todo o universo observável poderia ter-se originado numa pequena região.
E, é nesta pequena região que podemos falar que houve uma flutuação quântica do vácuo que tenha gerado este Universo.
Segundo o Efeito Casimir, proposto em 1948, pelos físicos holandêses Hendrik Brugt Gerhard Casimir (1909-2000) e Dirk Polder (1919-2001) do Philips Research Laboratories, há a existência de uma força (energia) no vácuo, devido a suas flutuações quânticas. Essa força foi primeiro medida por Marcus Spaarnay, também da Philips, em 1958, mas mais precisamente em 1997 (Physical Review Letters, 78, 5), por Steve K. Lamoreaux, do Los Alamos National Laboratory, e por Umar Mohideen, da University of California em Riverside, e seu colaborador Anushree Roy (1998, Physical Review Letters, 81, 4549).
Ver aqui.
Assim, a argumentação de Craig em torno do argumento cosmológico se esvai, pois cientificamente começamos a ter respostas para muitos de seus questionamentos, que excluem a ideia da inteligência ou consciência suprema, a qual demandaria muito mais explicações ou se fecharia em um ponto estanque característico do dogmatismo religioso.
O argumento cosmológico pode ser válido, em termos lógicos, porém não há solidez, pois suas premissas e sua conclusão podem ser falsas ou no mínimo duvidosas.
É aqui que os argumentos de Craig caem por terra. Eles apenas se revestem de uma aparência de veracidade pela lógica, mas no fundo não passam de irreais, pois a lógica não guarda qq correspondência com a realidade. É isso que religiosos não entendem e, portanto, tomam todo o jogo retórico de Craig como se fosse algo que merecesse crédito.
veja aqui as noções de lógica.
Vídeo 3: Neste ponto, Craig analisa o argumento teleológico. Este argumento apresenta duas variantes teleológicas na premissa 1 (necessidade física ou o design) e uma terceira premissa que seria o acaso.
Deliberadamente o argumento exclui a necessidade física e o acaso, o que demonstra estar a premissa do design (a conclusão esperada) implicitamente escondida na premissa 2.
Portanto o argumento é uma falácia da dispersão, construída em um misto entre falso dilema (necessidade física/design e acaso) com um argumento da ignorância (o qual estabelece o designe como resposta).
A explicação para desconstrur este argumento se encontra no ponto em que discorremos sobre a afinação do Universo (aqui).
Analisando-se as falas de Craig, ele deliberadamente estabelece que o Universo foi construído para ter vida inteligente, como se conhecesse profundamente a geração de universos e as propriedades para haver vida neste universo. Entretanto craig onite o fato do Universo ser uma lugar mortal.
Se o fim do Universo fosse a vida, as estrelas não morreriam, não haveria explosões de raios gama, não haveria planetas infernais, infernos gelados e planetas alternados entre extremo calor e extremo frio devido a órbitas super excêntricas e, tampouco, as "ilhas de calmaria" seriam tão escassas.
Assim, o acaso pode ter existido na flutuação quântica do vácuo (possível choque entre duas ou mais branas ou o inchaço e rompimento de um brana), mas a partir daí, pode ser que haja propriedades para que os universos se formem.
Sobre a vida e sua origem, acredita-se em uma origem química. Mas, todos sabemos que em química o acaso depende choques moleculares. Mas há aqueles choques mais propícios de acontecerem e, portanto, mais prováveis devido a propriedades periódicas e aperiódicas dos elementos. Assim, poderiam ter surgido pequenas moléculas associadas em hipercíclos (teoria proposta por Manfred Eigen) que colhiam matéria do meio para se alimentarem, crescerem e se reproduzirem e, portanto, evoluírem (ver aqui).
Portanto, para questões ligadas à vida, o acaso reside em como se comportará o nosso planeta e o que acontecerá com ele; qual será a próxima erupção, o próximo terremoto, o próximo asteróide, que mudança climática irá ocorrer, dentre outras causas naturais, a fim de que os seres se adaptem e evoluam.
Mas estabelecer probabilidades, partindo-se de um hiperciclo para se chegar a um elefante, é algo errôneo, uma vez que não se trata de um projeto o que estamos discutindo, ou seja, a vida nãop planejou que um elefante existisse (não se pode estabelecer para um fenômeno natural uma finalidade, pois não se trata de um fenômeno consciente). O elefante passou a existir por circunstâncias relacionadas aos problemas que nosso planeta enfrentou, o que determinou os caminhos a serem tomaos pela evolução das espécies.
Ao comentar o acaso, Craig parece demonstrar conhecer tudo sobre o Universo, as origens da vida e a evolução das espécies uma vez que é capaz de falar sobre probabilidades de eventos e excluir deliberadamente o acaso, numa forte alusão ao princípio antrópico fraco.
Craig estabelece que a noção de multiversos seja mera postulação metafísica, como forma de excluir o design, o que é falso. Em sentido aristotélico, a metafísica é algo intocável, que só existe no mundo das idéias.
Obviamente ninguém até o momento sequer viu um universo paralelo, e tampouco sabemos se de fato existem, embora a física quântica leve a estes resultados. Ver aqui e aqui.
Todavia deliberadamente como resposta estabelecer um designer como solução do problema da existência do Universo, não responde absolutamente nada, seja em termos filosóficos ou científicos.
Video 4: Neste ponto Craig explana o argumento moral para a existência de deus. O argumento se resume em:
premissa 1 - Se deus não existe, valores e obrigações objetivas morais não existem;
premissa 2 - Valores e obrigações objetivas morais existem;
conclusão - deus existe
O argumento em si é também falacioso, pois como o próprio Craig diz, embora sendo contrário a esta ideia, de fato os julgamentos morais estão de acordo com a sociedade ou a cultura em que o sujeito vive.
Mas atenção!!! Isso não quer dizer que podemos fazer o que bem entendermos e alegarmos "em nossa cultura ou em nossa sociedade é assim". Para tal temos de nos remeter à noção de sistemas, ou seja, determinadas condutas serão postas de acordo com os três modais deônticos: o obrigatório, o permitido e o proibido.
Mas é claro que se estou vivendo sob um sistema que difere daquele em que cresci, terei de me submeter aos seus modais deônticos, a fim de que não crie problemas que possam prejudicar outros indivíduos e a mim mesmo, o que poderia gerar o conflito e ,os consequentes problemas sociais.
Por exemplo, se nasci em uma sociedade indígena sul americana que não usa roupas, não significa que poderei andar nu em uma sociedade islâmica. É obrigatório que eu me vista segundo um padrão de mínimo aceitável para aquela sociedade.
Caso eu venha de uma sociedade cujo costume é a poligamia, é proibido que aqui no Brasil eu contraia mais de um matrimônio.
Caso eu professe o cristianismo, é permitido que eu o faça no Japão, que é uma sociedade budista e xintoísta.
É por meio destes três modais deônticos que os valores morais ganham um sentido a fim de que em determinada sociedade, os indivíduos convivam uns com os outros, pois do contrário as sociedades entrariam em colápso, o que poderia levar a espécie humana à extinção, fosse em seus primórdios como hoje em dia.
Mas qual a base destes modais deônticos? É necessário criar um padrão de respeito recíproco ao qual todos os indivíduos devem submeter-se, para que o bem comum possa ser garantido. Aqui reside a ética, já em suas fronteiras com a moral. Entende-se, desse modo, que a ética se assenta no conceito sociobiológico de altruísmo, o princípio moral que leva um agente a buscar o bem de outros em vez de defender apenas seus interesses particulares.
Peter Singer, em The Expandede Circle, acredita ser possível explicar a origem da ética a partir do altruísmo.
Singer encontra em Darwin uma melhor explicação da origem da ética (o ramo da filosofia que busca estudar e indicar o melhor modo de viver no cotidiano e na sociedade), pois ele distingue diferentes tipos de altruísmo:
o altruísmo natural de parentesco, voltado à defesa dos interesses de membros da própria espécie;
o altruísmo recíproco, voltado à defesa dos interesses de outros indivíduos não pertencentes à própria linhagem genética, mas capazes de retribuição;
o altruísmo tribal, voltado à defesa dos interesses do próprio grupo.
É por meio destas formas de altruísmo que Henry Sidgwick descreve o desenvolvimento moral humano (fundamentado na obediência a normas, tabus, costumes ou mandamentos culturais, hierárquicos ou religiosos recebidos).
A ética pode encontrar-se com a moral pois a suporta, na medida em que não existem costumes ou hábitos sociais completamente separados de uma ética individual. Da ética individual se passa a um valor social, e deste, quando devidamente enraizado numa sociedade, se passa à lei.
Assim, pode-se afirmar, seguindo este raciocínio, que não existe lei sem uma ética que lhe sirva de alicerce. Mas o que define uma lei ? É a partir da combinatória dos três modais deônticos que se dá a dinâmica operacional do direito e este direito positivado nas sociedades modernas implica o controle do que é ou não lícito, por meio de um sistema jurídico, onde estão as leis.
O altruísmo que é a base para a construção das sociedades humanas é estudado pela sociobiologia.
A sociobiologia é um ramo da biologia que tem estudado o comportamento social dos animais, sendo que ela propõe que tais comportamentos também se verificam nos seres humanos. O termo foi popularizado pelo biólogo Eduard Osborne Wilson, em seu livro Sociobiologia: a nova síntese.
De acordo com esta teoria, o cérebro humano, ao longo de sua evolução, desde nossos ancestrais, sofreu pressões seletivas que o adaptaram a determinadas circunstãncias, sendo uma delas a vida em grupo.
Um organismo geneticamente propenso ao altruísmo, por exemplo, poderia ter ganhos maiores se o ambiente fosse propício a isso, conforme demonstrou o biólogo Robert Trivers. Assim, sentimentos como a compaixão seriam influenciados por fatores genéticos, e portanto deveriam ser estudados com base na biologia.
Entretanto, para a sociobiologia, nenhuma ação humana pode ser considerada genuinamente altruísta.
Para ser ético é preciso que o agente moral seja capaz de fazer uso do intelecto, do pensamento, da razão.
Embora as emoções estejam na base da moralidade, elas se originam-se nas experiências do bom e do ruim, particulares ao indivíduo. Assim, não podem servir de medida objetiva para definir o que se faz de bom ou de ruim a outros seres vivos, especialmente quando esses não privam do mesmo habitat natural, social e emocional do agente moral.
Ao usar a razão, algo que o altruísmo ético (querer o bem dos outros, ainda que disso não tiremos proveito algum) exige, o agente moral pode ser obrigado a contrariar suas intuições morais.
Intuitivamente, seguindo a descrição sociobiológica de nossa natureza, buscamos apenas proteger os interesses dos seres que se parecem conosco. Esta ética tribal animalesca não se presta para reger interações em mundos urbanos compostos por seres absolutamente não identificados uns com os outros.
Ao agir eticamente busca-se o bem-próprio de quem sofre a ação, ainda que este ou esta não se pareça em nada conosco, nem faça parte de nosso grupo, nem possa nos retribuir o ato. O bem desse outro representa para nós o valor a ser preservado.
Os fatos de sua aparência singular, embora não representem valor algum para nós, podem dar-nos algum esclarecimento sobre as condições do paciente moral. Mas fatos não nos levam à ação. Os valores, pelo contrário, são as legítimas motivações para o agir moral. Em suma, nossos genes não escolhem nossas premissas éticas. Nós o fazemos usando nossa razão. Nenhum fato genético mostra direção alguma para nossos atos.
Embora seres humanos também sejam objeto de estudo pela Sociobiologia, eles apresentam um fator que os torna diferentes da maioria dos animais sociais: a cultura.
A cultura é capaz de promover transformações na forma como os humanos interagem com seu ambiente, independente de sua herança genética. Logo, para os sociobiólogos, o comportamento é fenótipo, ou seja, é um produto dos genes com o ambiente.
Mas, predisposições genéticas podem ser influenciadas pelo ambiente, o que pode acarretar o aparecimento de organismos com características comportamentais geneticamente predispostas, sem se esperar chegar ao 100 por cento.
Um tipo de comportamento humano em relação ao qual existe uma forte predisposição genética pode ser considerado como parte da natureza humana. A natureza humana não é vista como algo que force os indivíduos a comportar-se de certa maneira, mas como algo que torna os indivíduos mais inclinados a agir de uma determinada maneira do que noutra.
Entretanto, o conceito de natureza humana é visto com reservas pelos cientistas sociais, sendo que atribuir-lhe um caráter científico é um tanto arriscado. A grande diversidade de sociedades humanas e suas diferenças culturais contradizem a argumentação de uma natureza humana geneticamente determinada e moldada para a seleção natural.
Mas isso não afasta o ser humano da natureza, colocando a cultura como realidade desvinculada das coisas naturais, sem levar suas dimensões biológico-evolucionárias que nitidamente são compartilhadas pelos primatas superiores.
Portanto não são apenas os homens que possuem capacidade de simbolizar. Primatas superiores também o fazem. Mas humanos conseguem fazê-lo de forma muito mais complexa e é isso que leva às diferenças culturais, sendo que hábitos e práticas sociais estão em consonância com a sobrevivência das populações. Porém as diferenças de costumes não se explicam pela necessidade de subsistir, pois o meio ambiente influencia sem determinar.
O costume é o nome dado a qualquer regra social resultante de uma prática reiterada de forma generalizada e prolongada, o que resulta numa certa convicção de obrigatoriedade, de acordo com cada sociedade e cultura específica. O costume se perfaz por duas vias integradas:
Repetição constante e uniforme de uma prática social - o uso - obediência a uma conduta por parte de uma coletividade;
Convicção de que prática social reiterada, constante e uniforme é necessária e obrigatória - psicológico.
A reiteração do uso forma o costume, que, na lição de Vicente Ráo, vem a ser a regra de conduta criada espontaneamente pela consciência comum do povo, que a observa por modo constante e uniforme, e sob a convicção de corresponder a uma necessidade jurídica.
Embora o meio não determine nossos costumes, estes têm esteio também nos três modais deônticos, cuja base estána moral que se assenta na ética a qual se constrói pelo altruísmo sob suas três vertentes.
Assim, a necessidade do altruísmo da ética e da moral humanas, não se trata em meramente subsistir, mas conviver, crescer e progredir, conceitos estes que diferem da consciência animal que busca apenas sobreviver.
Dessa forma, a moral é a chave para o progresso de uma sociedade, no momento em que os indivíduos se vêm obrigados a agir dentro de certos padrões que, enraizados na sociedade, que se tornam, de início um costume. Posteriormente estes costumes convertem-se em regras de Direito e, por fim, normas positivadas ao que denominamos de leis.
Portanto, afirmar com base no argumento moral que a existência de deus é necessária para a moralidade, é algo muito temerário, uma vez que o argumento se assenta na premissa de que existem valores e obrigações morais objetivos, o que é falso, conforme a variedade social em cultural em que o ser humano vive.
Em toda sua exposição, Craig não citou sequer um exemplo de valor moral e obrigação objetivos. Entendemos o que é errado, intolerante e detestável.
Por exemplo, enviar jovens para a travessarem um campo minado para estes morrerem e permitir que tropas avancem em uma ofensiva, nos parece abarcar todos estes conceitos, negativos, mas isso ocorreu na Guerra entre Irã e Iraque. Porém, famílias iranianas vêem estes jovens como mártires.
Fazer genocídios de tribos indígenas matando-se mulheres e crianças e escravizar índios e negros, também nos parece tudo de ruim, mas aconteceu aqui nas Américas, sendo que tudo era visto com normalidade.
Portanto, nossa moral não depende da existência de deus mas de nosso desenvolvimento moral humano, calcado na ética (cuja matriz é o altruísmo), na medida em que não existem costumes ou hábitos sociais completamente separados de uma ética individual, a qual passa a um valor social, (orientado pelos três modais deônticos) e, quando devidamente enraizado numa sociedade, torna-se uma lei.
Ética e moral não nos obrigama seguir condutas, pois a máxima sanção que poderemos ter é de cunho social, mas a lei nos obriga a segur determinadas condutas, pois do contrário teremos sanções penais que podem atingir nossa liberdade e patrimoniais que poderão avançar sobre nossos bens.
Ler: aqui, aqui, aqui , aqui , aqui e aqui
Vídeo 5: Neste ponto Craig trata do argumento da ressurreição. De início Craig se restringe apenas aos monoteísmos judaico, cristão e islâmico.
Todavia ele considera deliberadamente que deus se revelou na pessoa de Jesus, pois este afirmou ser o filho de deus (SIC). Porém, tais afirmativas foram corroboradas pela ressurreição.
Craig se baseia no Novo Testamento, mencionando historiadores experts nesta área. Entretanto, não há menções históricas sobre estes fatos exceto na bíblia. Uma questão se refere ao Testimonium Flavianum, escrito por Flavio Josefo em Antiguidades Judaicas, o qual menciona ter existido Jesus.
Segundo historiadores isso é falso, pois Flavio Josefo teria dito que Jesus era o Cristo e, portanto teria negado sua fé de judeu, o que não se tem conhecimento.
Mas Craig baseia sua argumentação no livro de N.T. Wright, o qual dá sua "opinião profissional" de que a tumba vazia e as aparições pós morte de Jesus são tão bem atestadas que chegam a se comparar com eventos como a queda de Jerusalém e aos Césares.
Craig também aposta na sinceridade das pessoas que escreveram os textos antigos que mencionavam Jesus e afirma serem estes fonte de vasta informação , conferindo a Jesus o título de pessoa mais popular da antiguidade.
Porém, não é o que se verifica historicamente, exceto se analisarmos a bíblia em si.
Entretanto, a fim de concluir que o deus cristão é o verdadeiro, Craig se baseia no argumento da tumba vazia,e das aparições de Jesus, assumindo deliberadamente serem estas premissas c verdadeiras.
Esta premissa leva a hipótese de que Jesus foi ressussitado ser a explicação para o fato da tumba vazia, e das aparições, sem considerar qualquer outra hipótese, como por exemplo o furto do corpo, imaginação das pessoas ou mesmo a hipótese de Jesus ter escapado com vida de seu martírio.
Como consequencia, Craig estabelece que isso foi a revelação de deus na pessoa de Jesus e, portanto o deus verdadeiro é o cristão.
Vemos que em sí o argumento é uma falácia, pois a conclusão já se encontra embutida em suas premissas.
Vídeo 6:Neste ponto Craig trata do problema do mal. Craig começa dizendo que realmente o problema do mal, quando analisado sob a óticas das emoções, causa muitas dúvidas sobre a existência ou mesmo sobre o caráter de deus.
Mas ao se analisar a questão sob a ótica filosófica, é impossível estabelecer um parâmetro para se afirmar que deus é improvável ou que ele não existe. Entretanto, filosofica, científica ou emocionalmente, também é impossível afirmar-se qualquer coisa que ateste a existência deste ser.
Craig se pauta em um argumento que ele diz ser lógico (SIC) em que deus e o mal são incompatíveis e que se um existe o outro não pode existir. Todavia não há contradições entre deus ser "onitudo" e o mal existir.
Craig assenta esta premissa no livre arbítrio, ou seja, as criaturas capazes de raciocinar podem escolher entre bem e mal. Na visão de Craig, se deus criasse então um mundo sem o mal, removeria a capacidade das pessoas conhecerem o bem moral. Assim, para Craig um mundo sem mal seria imperfeito, pois eliminaria a possibilidade de se conhecer o bem moral (como se em um mundo perfeito fosse necessário se ter domínio do que é bom).
Ainda, Craig aventa que a onipotência não significa que deus possa fazer o que bem entender. Mas onipotência, segundo o dicionário Houaiss, significa a capacidade de um ser poder fazer tudo. Portanto deus não é onipotente segundo o que Craig diz.
No que se refere sobre a onibenevolência de deus para um mundo onde não haja o mal, Craig aventa a hipótese de que deve haver muitas vezes o mal para que um bem maior sobrevenha. Mas para que haveria a necessidade de um bem maior em um mundo perfeito onde todos fossem felizes?
Craig prova a compatibilidade entre a existência do mal e de deus no argumento de que deus não poderia criar um mundo que tivesse mais bem que o mundo real mas com menos mal, uma vez que ele tem razões morais para que o mal exista. Por meio deste argumento Craig considera a questão do mal solucionada.
Mas se deus se atrela a questões morais para que o mal exista, então ele não possui onipotência e, tampouco, possui onibenevolência, mas nenhuma destas características se opõe a sua existência ou inexistência. Este foi o erro de Hitchens, que não deveria jamais ter questionado a existência de deus, mas apenas suas características.
A conclusão para estas análises, é a de que Craig cria uma aura de que argumentos filosóficos assumam a característica de reais, o que confunde a platéia leiga. Pelo menos por enquanto, não podemos provar a existência ou não dos deuses, do mundo dos espíritos, ou da veracidade desta ou daquela religião.
Em suma, o compromisso de Craig não é com a verdade, mas em apenas vencer debates por meio de argumentos erísticos que beiram ao ridículo. Caso Hitchens seguisse os conselhos de Craig, em estudar mais a temática da argumentação e a filosofia em si, poderia pegar suas falácias no pulo e evitaria ele próprio em cair nesta classe de argumentos.
Nem ateus e nem crentes estão corretos em suas premissas e conclusões, pois como asseverou Kant, é impossível provar que deus exista, porém isso não implica afirmar que ele não exista.
Vejamos os vídeos e breves comentários sobre eles:
Vídeo 1: Aqui Craig analisa o argumento da contingência o qual diz que o Universo e tudo mais tem de ter uma explicação, devido a sua necessidade ou a uma causa externa, e que para o Universo existir tem de haver uma mente pessoal e transcendente.
Ao comparar a causa da existência das coisas Craig faz falsas analogias, pois compara objetos produzidos pelo homem (mente consciente) com coisas que existem na natureza (processo inconsciente) como se deliberadamente fossem a mesma coisa.
A natureza e o Universo, não demandam uma necessidade para existir, por exemplo, qual a necessidade de Eta-Karina existir? Não tenho a menor ideia, mas quem tiver por favor diga.
Sobre os entes matemáticos, estes não existiam na natureza, mas foram criados pelo homem a fim de representá-la em suas propriedades, por meio de modelos que se aproximam em muito da realidade. Daí os axiomas, postulados, teoremas, conforme tratados aqui.
Craig está correto em afirmar que há causas para as coisas existirem, porém extrapola em seu raciocínio ao colocar como a causa uma inteligência suprema, em vez de assumir que explicações científicas racionais suprem perfeitamente boa parte do que ele acha ser inexplicável. Mas por que motivos esta "consciência superior" teria criado o Universo?
Video 2: Neste ponto Craig analisa o argumento cosmológico. Este argumento é dado por:
(1) Tudo o que existe tem uma causa. (premissa 1)
(2) O Universo existe. (premissa 2)
(3) Portanto, o Universo tem uma causa para a sua existência. (conclusão inferida pelas premissas 1 e 2)
Até aqui, o argumento possui premissas verdadeiras, é logicamente válido e é sólido, pois leva a uma conclusão verdadeira.
Mas vemos ver a sequência deste argumento:
(4) Se o Universo tem uma causa para a sua existência, essa causa é Deus.
Deus aqui surge do nada. Qual é a evidência concreta que atesta ser deus uma causa para o universo?
(5) Logo, Deus existe.
Esta conclusão perde o objeto pela conclusão 2 não ser categoricamente verdadeira e não ter nada que a apóie em termos evidenciais. Tampouco a afirmativa de que deus é a causa do universo guarda relação com as premissas anteriormente expostas.
Vejamos a segunda parte deste raciocínio reestruturada:
Deus existe e é a causa primeira para tudo. (1)
Há uma causa primeira para a existência do universo. (2)
Assim, deus é a causa primeira para o Universo. (C)
No argumento, a premissa (1) é no mínimo duvidosa, não podendo ser tratada como verdadeira pois nada a evidencia.
A premissa (2) é evidenciável, portanto verdadeira.
O raciocínio é logicamente válido pois (1) e (2) inferem (C), há a distribuição do termo médio (causa primeira) de forma correta.
Mas não é sólido, pois (C) não pode ser encarada como uma conclusão verdadeira e pelo fato da premissa (1) ser no mínimo duvidosa.
Como todos já sabemos que a lógica não tem compromisso com a verdade, mas apenas com as estruturas de raciocínio. A lógica apenas preserva a verdade, ou seja, se há premissas verdadeiras e se é aplicada uma forma válida de argumento, obter-se-á uma conclusão verdadeira. Assim, o argumento acima não pode ser tomado como verdadeiro, mas apenas logicamente válido.
Quanto ao conteúdo do vídeo, na terceira premissa do argumento (o Universo tem uma causa), deliberadamente, Craig estabelece esta causa como sendo novamente a inteligência superior como sendo as razões para esta causa.
Ao expor que a teoria da Relatividade geral se aplicada ao universo como um todo demarca um início, Craig omite ou desconhece que a teoria quântica não leva a um início do universo como o começo de tudo, mas à existência de vários universos de 4 tipos, sendo que estes surgem e desaparecem em um ciclo infinito.
A teoria da gravitação quântica pretende unificar a teoria quântica (que descreve a força nuclear forte, a fraca e a eletromagnética, para o micro-mundo) com a teoria da relatividade geral (que descreve a gravidade em estruturas de larga escala), ao tratar a gravidade como uma partícula.
A teoria das cordas previu a existência do graviton (sempre atrativos), a suposta partícula responsável pela transmissão da força gravitacional em modelos de teorias quânticas de campo.
A hipótese é que a força gravitacional é similarmente transmitida por esta partícula elementar, ainda não descoberta, ao invés de descrita em termos de curvatura espaço-tempo como a relatividade geral. No limite clássico, ambas as abordagens fornecem resultados idênticos, e compatíveis com a lei de gravitação de Newton (Feynman, R. P.. Feynman lectures on gravitation; Zee, A.. Quantum Field Theory in a Nutshell; Randall, Lisa. Warped Passages: Unraveling the Universe's Hidden Dimensions).
Dessa forma, flutuações quânticas dentre estas 4 forças podem ser a resposta para a origem do Universo ou de infinitos universos antes e após este e contemporâneos deste.
Certamente, para um Universo em particular, somente podemos falar te espaço-tempo, a partir do momento que uma singularidade se dissocia e irrompe em um processo inflacionário (teoria proposta por Alan Guth) criando um novo Universo.
Segundo a teoria, a inflação foi produzida por uma densidade de energia do vácuo negativa ou uma espécie de força gravitacional repulsiva.
é uma energia de fundo existente no espaço inclusive na ausência de todo tipo de matéria. A energia do vácuo tem uma origem puramente quantica.
A energia do vácuo teria também importantes consequências cosmológicas estando relacionada com o período inicial de expansão inflacionária e com a aparente aceleração atual da expansão do Universo. Esta expansão pode ser modelada com uma constante cosmológica não nula. Consequentemente todo o universo observável poderia ter-se originado numa pequena região.
E, é nesta pequena região que podemos falar que houve uma flutuação quântica do vácuo que tenha gerado este Universo.
Segundo o Efeito Casimir, proposto em 1948, pelos físicos holandêses Hendrik Brugt Gerhard Casimir (1909-2000) e Dirk Polder (1919-2001) do Philips Research Laboratories, há a existência de uma força (energia) no vácuo, devido a suas flutuações quânticas. Essa força foi primeiro medida por Marcus Spaarnay, também da Philips, em 1958, mas mais precisamente em 1997 (Physical Review Letters, 78, 5), por Steve K. Lamoreaux, do Los Alamos National Laboratory, e por Umar Mohideen, da University of California em Riverside, e seu colaborador Anushree Roy (1998, Physical Review Letters, 81, 4549).
Ver aqui.
Assim, a argumentação de Craig em torno do argumento cosmológico se esvai, pois cientificamente começamos a ter respostas para muitos de seus questionamentos, que excluem a ideia da inteligência ou consciência suprema, a qual demandaria muito mais explicações ou se fecharia em um ponto estanque característico do dogmatismo religioso.
O argumento cosmológico pode ser válido, em termos lógicos, porém não há solidez, pois suas premissas e sua conclusão podem ser falsas ou no mínimo duvidosas.
É aqui que os argumentos de Craig caem por terra. Eles apenas se revestem de uma aparência de veracidade pela lógica, mas no fundo não passam de irreais, pois a lógica não guarda qq correspondência com a realidade. É isso que religiosos não entendem e, portanto, tomam todo o jogo retórico de Craig como se fosse algo que merecesse crédito.
veja aqui as noções de lógica.
Vídeo 3: Neste ponto, Craig analisa o argumento teleológico. Este argumento apresenta duas variantes teleológicas na premissa 1 (necessidade física ou o design) e uma terceira premissa que seria o acaso.
Deliberadamente o argumento exclui a necessidade física e o acaso, o que demonstra estar a premissa do design (a conclusão esperada) implicitamente escondida na premissa 2.
Portanto o argumento é uma falácia da dispersão, construída em um misto entre falso dilema (necessidade física/design e acaso) com um argumento da ignorância (o qual estabelece o designe como resposta).
A explicação para desconstrur este argumento se encontra no ponto em que discorremos sobre a afinação do Universo (aqui).
Analisando-se as falas de Craig, ele deliberadamente estabelece que o Universo foi construído para ter vida inteligente, como se conhecesse profundamente a geração de universos e as propriedades para haver vida neste universo. Entretanto craig onite o fato do Universo ser uma lugar mortal.
Se o fim do Universo fosse a vida, as estrelas não morreriam, não haveria explosões de raios gama, não haveria planetas infernais, infernos gelados e planetas alternados entre extremo calor e extremo frio devido a órbitas super excêntricas e, tampouco, as "ilhas de calmaria" seriam tão escassas.
Assim, o acaso pode ter existido na flutuação quântica do vácuo (possível choque entre duas ou mais branas ou o inchaço e rompimento de um brana), mas a partir daí, pode ser que haja propriedades para que os universos se formem.
Sobre a vida e sua origem, acredita-se em uma origem química. Mas, todos sabemos que em química o acaso depende choques moleculares. Mas há aqueles choques mais propícios de acontecerem e, portanto, mais prováveis devido a propriedades periódicas e aperiódicas dos elementos. Assim, poderiam ter surgido pequenas moléculas associadas em hipercíclos (teoria proposta por Manfred Eigen) que colhiam matéria do meio para se alimentarem, crescerem e se reproduzirem e, portanto, evoluírem (ver aqui).
Portanto, para questões ligadas à vida, o acaso reside em como se comportará o nosso planeta e o que acontecerá com ele; qual será a próxima erupção, o próximo terremoto, o próximo asteróide, que mudança climática irá ocorrer, dentre outras causas naturais, a fim de que os seres se adaptem e evoluam.
Mas estabelecer probabilidades, partindo-se de um hiperciclo para se chegar a um elefante, é algo errôneo, uma vez que não se trata de um projeto o que estamos discutindo, ou seja, a vida nãop planejou que um elefante existisse (não se pode estabelecer para um fenômeno natural uma finalidade, pois não se trata de um fenômeno consciente). O elefante passou a existir por circunstâncias relacionadas aos problemas que nosso planeta enfrentou, o que determinou os caminhos a serem tomaos pela evolução das espécies.
Ao comentar o acaso, Craig parece demonstrar conhecer tudo sobre o Universo, as origens da vida e a evolução das espécies uma vez que é capaz de falar sobre probabilidades de eventos e excluir deliberadamente o acaso, numa forte alusão ao princípio antrópico fraco.
Craig estabelece que a noção de multiversos seja mera postulação metafísica, como forma de excluir o design, o que é falso. Em sentido aristotélico, a metafísica é algo intocável, que só existe no mundo das idéias.
Obviamente ninguém até o momento sequer viu um universo paralelo, e tampouco sabemos se de fato existem, embora a física quântica leve a estes resultados. Ver aqui e aqui.
Todavia deliberadamente como resposta estabelecer um designer como solução do problema da existência do Universo, não responde absolutamente nada, seja em termos filosóficos ou científicos.
Video 4: Neste ponto Craig explana o argumento moral para a existência de deus. O argumento se resume em:
premissa 1 - Se deus não existe, valores e obrigações objetivas morais não existem;
premissa 2 - Valores e obrigações objetivas morais existem;
conclusão - deus existe
O argumento em si é também falacioso, pois como o próprio Craig diz, embora sendo contrário a esta ideia, de fato os julgamentos morais estão de acordo com a sociedade ou a cultura em que o sujeito vive.
Mas atenção!!! Isso não quer dizer que podemos fazer o que bem entendermos e alegarmos "em nossa cultura ou em nossa sociedade é assim". Para tal temos de nos remeter à noção de sistemas, ou seja, determinadas condutas serão postas de acordo com os três modais deônticos: o obrigatório, o permitido e o proibido.
Mas é claro que se estou vivendo sob um sistema que difere daquele em que cresci, terei de me submeter aos seus modais deônticos, a fim de que não crie problemas que possam prejudicar outros indivíduos e a mim mesmo, o que poderia gerar o conflito e ,os consequentes problemas sociais.
Por exemplo, se nasci em uma sociedade indígena sul americana que não usa roupas, não significa que poderei andar nu em uma sociedade islâmica. É obrigatório que eu me vista segundo um padrão de mínimo aceitável para aquela sociedade.
Caso eu venha de uma sociedade cujo costume é a poligamia, é proibido que aqui no Brasil eu contraia mais de um matrimônio.
Caso eu professe o cristianismo, é permitido que eu o faça no Japão, que é uma sociedade budista e xintoísta.
É por meio destes três modais deônticos que os valores morais ganham um sentido a fim de que em determinada sociedade, os indivíduos convivam uns com os outros, pois do contrário as sociedades entrariam em colápso, o que poderia levar a espécie humana à extinção, fosse em seus primórdios como hoje em dia.
Mas qual a base destes modais deônticos? É necessário criar um padrão de respeito recíproco ao qual todos os indivíduos devem submeter-se, para que o bem comum possa ser garantido. Aqui reside a ética, já em suas fronteiras com a moral. Entende-se, desse modo, que a ética se assenta no conceito sociobiológico de altruísmo, o princípio moral que leva um agente a buscar o bem de outros em vez de defender apenas seus interesses particulares.
Peter Singer, em The Expandede Circle, acredita ser possível explicar a origem da ética a partir do altruísmo.
Singer encontra em Darwin uma melhor explicação da origem da ética (o ramo da filosofia que busca estudar e indicar o melhor modo de viver no cotidiano e na sociedade), pois ele distingue diferentes tipos de altruísmo:
o altruísmo natural de parentesco, voltado à defesa dos interesses de membros da própria espécie;
o altruísmo recíproco, voltado à defesa dos interesses de outros indivíduos não pertencentes à própria linhagem genética, mas capazes de retribuição;
o altruísmo tribal, voltado à defesa dos interesses do próprio grupo.
É por meio destas formas de altruísmo que Henry Sidgwick descreve o desenvolvimento moral humano (fundamentado na obediência a normas, tabus, costumes ou mandamentos culturais, hierárquicos ou religiosos recebidos).
A ética pode encontrar-se com a moral pois a suporta, na medida em que não existem costumes ou hábitos sociais completamente separados de uma ética individual. Da ética individual se passa a um valor social, e deste, quando devidamente enraizado numa sociedade, se passa à lei.
Assim, pode-se afirmar, seguindo este raciocínio, que não existe lei sem uma ética que lhe sirva de alicerce. Mas o que define uma lei ? É a partir da combinatória dos três modais deônticos que se dá a dinâmica operacional do direito e este direito positivado nas sociedades modernas implica o controle do que é ou não lícito, por meio de um sistema jurídico, onde estão as leis.
O altruísmo que é a base para a construção das sociedades humanas é estudado pela sociobiologia.
A sociobiologia é um ramo da biologia que tem estudado o comportamento social dos animais, sendo que ela propõe que tais comportamentos também se verificam nos seres humanos. O termo foi popularizado pelo biólogo Eduard Osborne Wilson, em seu livro Sociobiologia: a nova síntese.
De acordo com esta teoria, o cérebro humano, ao longo de sua evolução, desde nossos ancestrais, sofreu pressões seletivas que o adaptaram a determinadas circunstãncias, sendo uma delas a vida em grupo.
Um organismo geneticamente propenso ao altruísmo, por exemplo, poderia ter ganhos maiores se o ambiente fosse propício a isso, conforme demonstrou o biólogo Robert Trivers. Assim, sentimentos como a compaixão seriam influenciados por fatores genéticos, e portanto deveriam ser estudados com base na biologia.
Entretanto, para a sociobiologia, nenhuma ação humana pode ser considerada genuinamente altruísta.
Para ser ético é preciso que o agente moral seja capaz de fazer uso do intelecto, do pensamento, da razão.
Embora as emoções estejam na base da moralidade, elas se originam-se nas experiências do bom e do ruim, particulares ao indivíduo. Assim, não podem servir de medida objetiva para definir o que se faz de bom ou de ruim a outros seres vivos, especialmente quando esses não privam do mesmo habitat natural, social e emocional do agente moral.
Ao usar a razão, algo que o altruísmo ético (querer o bem dos outros, ainda que disso não tiremos proveito algum) exige, o agente moral pode ser obrigado a contrariar suas intuições morais.
Intuitivamente, seguindo a descrição sociobiológica de nossa natureza, buscamos apenas proteger os interesses dos seres que se parecem conosco. Esta ética tribal animalesca não se presta para reger interações em mundos urbanos compostos por seres absolutamente não identificados uns com os outros.
Ao agir eticamente busca-se o bem-próprio de quem sofre a ação, ainda que este ou esta não se pareça em nada conosco, nem faça parte de nosso grupo, nem possa nos retribuir o ato. O bem desse outro representa para nós o valor a ser preservado.
Os fatos de sua aparência singular, embora não representem valor algum para nós, podem dar-nos algum esclarecimento sobre as condições do paciente moral. Mas fatos não nos levam à ação. Os valores, pelo contrário, são as legítimas motivações para o agir moral. Em suma, nossos genes não escolhem nossas premissas éticas. Nós o fazemos usando nossa razão. Nenhum fato genético mostra direção alguma para nossos atos.
Embora seres humanos também sejam objeto de estudo pela Sociobiologia, eles apresentam um fator que os torna diferentes da maioria dos animais sociais: a cultura.
A cultura é capaz de promover transformações na forma como os humanos interagem com seu ambiente, independente de sua herança genética. Logo, para os sociobiólogos, o comportamento é fenótipo, ou seja, é um produto dos genes com o ambiente.
Mas, predisposições genéticas podem ser influenciadas pelo ambiente, o que pode acarretar o aparecimento de organismos com características comportamentais geneticamente predispostas, sem se esperar chegar ao 100 por cento.
Um tipo de comportamento humano em relação ao qual existe uma forte predisposição genética pode ser considerado como parte da natureza humana. A natureza humana não é vista como algo que force os indivíduos a comportar-se de certa maneira, mas como algo que torna os indivíduos mais inclinados a agir de uma determinada maneira do que noutra.
Entretanto, o conceito de natureza humana é visto com reservas pelos cientistas sociais, sendo que atribuir-lhe um caráter científico é um tanto arriscado. A grande diversidade de sociedades humanas e suas diferenças culturais contradizem a argumentação de uma natureza humana geneticamente determinada e moldada para a seleção natural.
Mas isso não afasta o ser humano da natureza, colocando a cultura como realidade desvinculada das coisas naturais, sem levar suas dimensões biológico-evolucionárias que nitidamente são compartilhadas pelos primatas superiores.
Portanto não são apenas os homens que possuem capacidade de simbolizar. Primatas superiores também o fazem. Mas humanos conseguem fazê-lo de forma muito mais complexa e é isso que leva às diferenças culturais, sendo que hábitos e práticas sociais estão em consonância com a sobrevivência das populações. Porém as diferenças de costumes não se explicam pela necessidade de subsistir, pois o meio ambiente influencia sem determinar.
O costume é o nome dado a qualquer regra social resultante de uma prática reiterada de forma generalizada e prolongada, o que resulta numa certa convicção de obrigatoriedade, de acordo com cada sociedade e cultura específica. O costume se perfaz por duas vias integradas:
Repetição constante e uniforme de uma prática social - o uso - obediência a uma conduta por parte de uma coletividade;
Convicção de que prática social reiterada, constante e uniforme é necessária e obrigatória - psicológico.
A reiteração do uso forma o costume, que, na lição de Vicente Ráo, vem a ser a regra de conduta criada espontaneamente pela consciência comum do povo, que a observa por modo constante e uniforme, e sob a convicção de corresponder a uma necessidade jurídica.
Embora o meio não determine nossos costumes, estes têm esteio também nos três modais deônticos, cuja base estána moral que se assenta na ética a qual se constrói pelo altruísmo sob suas três vertentes.
Assim, a necessidade do altruísmo da ética e da moral humanas, não se trata em meramente subsistir, mas conviver, crescer e progredir, conceitos estes que diferem da consciência animal que busca apenas sobreviver.
Dessa forma, a moral é a chave para o progresso de uma sociedade, no momento em que os indivíduos se vêm obrigados a agir dentro de certos padrões que, enraizados na sociedade, que se tornam, de início um costume. Posteriormente estes costumes convertem-se em regras de Direito e, por fim, normas positivadas ao que denominamos de leis.
Portanto, afirmar com base no argumento moral que a existência de deus é necessária para a moralidade, é algo muito temerário, uma vez que o argumento se assenta na premissa de que existem valores e obrigações morais objetivos, o que é falso, conforme a variedade social em cultural em que o ser humano vive.
Em toda sua exposição, Craig não citou sequer um exemplo de valor moral e obrigação objetivos. Entendemos o que é errado, intolerante e detestável.
Por exemplo, enviar jovens para a travessarem um campo minado para estes morrerem e permitir que tropas avancem em uma ofensiva, nos parece abarcar todos estes conceitos, negativos, mas isso ocorreu na Guerra entre Irã e Iraque. Porém, famílias iranianas vêem estes jovens como mártires.
Fazer genocídios de tribos indígenas matando-se mulheres e crianças e escravizar índios e negros, também nos parece tudo de ruim, mas aconteceu aqui nas Américas, sendo que tudo era visto com normalidade.
Portanto, nossa moral não depende da existência de deus mas de nosso desenvolvimento moral humano, calcado na ética (cuja matriz é o altruísmo), na medida em que não existem costumes ou hábitos sociais completamente separados de uma ética individual, a qual passa a um valor social, (orientado pelos três modais deônticos) e, quando devidamente enraizado numa sociedade, torna-se uma lei.
Ética e moral não nos obrigama seguir condutas, pois a máxima sanção que poderemos ter é de cunho social, mas a lei nos obriga a segur determinadas condutas, pois do contrário teremos sanções penais que podem atingir nossa liberdade e patrimoniais que poderão avançar sobre nossos bens.
Ler: aqui, aqui, aqui , aqui , aqui e aqui
Vídeo 5: Neste ponto Craig trata do argumento da ressurreição. De início Craig se restringe apenas aos monoteísmos judaico, cristão e islâmico.
Todavia ele considera deliberadamente que deus se revelou na pessoa de Jesus, pois este afirmou ser o filho de deus (SIC). Porém, tais afirmativas foram corroboradas pela ressurreição.
Craig se baseia no Novo Testamento, mencionando historiadores experts nesta área. Entretanto, não há menções históricas sobre estes fatos exceto na bíblia. Uma questão se refere ao Testimonium Flavianum, escrito por Flavio Josefo em Antiguidades Judaicas, o qual menciona ter existido Jesus.
Segundo historiadores isso é falso, pois Flavio Josefo teria dito que Jesus era o Cristo e, portanto teria negado sua fé de judeu, o que não se tem conhecimento.
Mas Craig baseia sua argumentação no livro de N.T. Wright, o qual dá sua "opinião profissional" de que a tumba vazia e as aparições pós morte de Jesus são tão bem atestadas que chegam a se comparar com eventos como a queda de Jerusalém e aos Césares.
Craig também aposta na sinceridade das pessoas que escreveram os textos antigos que mencionavam Jesus e afirma serem estes fonte de vasta informação , conferindo a Jesus o título de pessoa mais popular da antiguidade.
Porém, não é o que se verifica historicamente, exceto se analisarmos a bíblia em si.
Entretanto, a fim de concluir que o deus cristão é o verdadeiro, Craig se baseia no argumento da tumba vazia,e das aparições de Jesus, assumindo deliberadamente serem estas premissas c verdadeiras.
Esta premissa leva a hipótese de que Jesus foi ressussitado ser a explicação para o fato da tumba vazia, e das aparições, sem considerar qualquer outra hipótese, como por exemplo o furto do corpo, imaginação das pessoas ou mesmo a hipótese de Jesus ter escapado com vida de seu martírio.
Como consequencia, Craig estabelece que isso foi a revelação de deus na pessoa de Jesus e, portanto o deus verdadeiro é o cristão.
Vemos que em sí o argumento é uma falácia, pois a conclusão já se encontra embutida em suas premissas.
Vídeo 6:Neste ponto Craig trata do problema do mal. Craig começa dizendo que realmente o problema do mal, quando analisado sob a óticas das emoções, causa muitas dúvidas sobre a existência ou mesmo sobre o caráter de deus.
Mas ao se analisar a questão sob a ótica filosófica, é impossível estabelecer um parâmetro para se afirmar que deus é improvável ou que ele não existe. Entretanto, filosofica, científica ou emocionalmente, também é impossível afirmar-se qualquer coisa que ateste a existência deste ser.
Craig se pauta em um argumento que ele diz ser lógico (SIC) em que deus e o mal são incompatíveis e que se um existe o outro não pode existir. Todavia não há contradições entre deus ser "onitudo" e o mal existir.
Craig assenta esta premissa no livre arbítrio, ou seja, as criaturas capazes de raciocinar podem escolher entre bem e mal. Na visão de Craig, se deus criasse então um mundo sem o mal, removeria a capacidade das pessoas conhecerem o bem moral. Assim, para Craig um mundo sem mal seria imperfeito, pois eliminaria a possibilidade de se conhecer o bem moral (como se em um mundo perfeito fosse necessário se ter domínio do que é bom).
Ainda, Craig aventa que a onipotência não significa que deus possa fazer o que bem entender. Mas onipotência, segundo o dicionário Houaiss, significa a capacidade de um ser poder fazer tudo. Portanto deus não é onipotente segundo o que Craig diz.
No que se refere sobre a onibenevolência de deus para um mundo onde não haja o mal, Craig aventa a hipótese de que deve haver muitas vezes o mal para que um bem maior sobrevenha. Mas para que haveria a necessidade de um bem maior em um mundo perfeito onde todos fossem felizes?
Craig prova a compatibilidade entre a existência do mal e de deus no argumento de que deus não poderia criar um mundo que tivesse mais bem que o mundo real mas com menos mal, uma vez que ele tem razões morais para que o mal exista. Por meio deste argumento Craig considera a questão do mal solucionada.
Mas se deus se atrela a questões morais para que o mal exista, então ele não possui onipotência e, tampouco, possui onibenevolência, mas nenhuma destas características se opõe a sua existência ou inexistência. Este foi o erro de Hitchens, que não deveria jamais ter questionado a existência de deus, mas apenas suas características.
A conclusão para estas análises, é a de que Craig cria uma aura de que argumentos filosóficos assumam a característica de reais, o que confunde a platéia leiga. Pelo menos por enquanto, não podemos provar a existência ou não dos deuses, do mundo dos espíritos, ou da veracidade desta ou daquela religião.
Em suma, o compromisso de Craig não é com a verdade, mas em apenas vencer debates por meio de argumentos erísticos que beiram ao ridículo. Caso Hitchens seguisse os conselhos de Craig, em estudar mais a temática da argumentação e a filosofia em si, poderia pegar suas falácias no pulo e evitaria ele próprio em cair nesta classe de argumentos.
Nem ateus e nem crentes estão corretos em suas premissas e conclusões, pois como asseverou Kant, é impossível provar que deus exista, porém isso não implica afirmar que ele não exista.