domingo, 31 de janeiro de 2010

O ENGODO DE LEE SPETNER















O livro do Dr. Lee Spetner é a nova sensação do criacionismo depois de todo o rol de pseudociência aqui citado.

A argumentação de Lee Spetner não foge ao que Dembski coloca em sua teoria da conservação da informação, embora Spetner o classifique como um “espantalho”.

Aqui, por meio de tradução de comentários acerca das hipóteses de Spetner, tentarei resumidamente abordar os principais pontos de sua teoria e as falhas que esta apresenta, uma vez que o tema é um tanto complexo. Dessa forma, haverá pontos da discussão em que não irei me deter.

Desse modo, para maior detalhamento sobre o tema, recomenda-se a leitura das seguintes fontes, as quais são os originais deste trabalho:

A review of Lee Spetner's "NOT BY CHANCE!"

Dr. Spetner derives non-random evolution from the Talmud

Spetner and Biological Information

Correspondence with Critic Lee Spetner

The Evolution of Improved Fitnes By Random Mutation Plus Selection

Classical Information Theory (Shannon)

Algorithmic Information Theory (Chaitin, Solomonoff & Kolmogorov)

Information Theory and Creationism Werner Gitt

Information Theory and Creationism William Dembski

Improbable Probabilities


Introdução:

Lee Spetner é um biofísico e teórico da informação escritor do livro “Not by Chance!”, cujo intuito é abalar a teoria neodarwinista da evolução, sustentando uma infeliz e mal articulada versão de criacionismo a partir de argumentos oriundos da teoria da informação.

Infelizmente, ao invés de limitar o seu discurso com argumentos científicos o livro de Spetner contém passagens que introduzir a questão da compatibilidade estranhas à ciência com dogmas religiosos.

Spetner introduz a questão acima mencionada no início de seu livro. No Prefácio (página ix) Spetner escreve: "... eu conheci a teoria da evolução de uma forma séria, e eu achei difícil acreditar. O confronto não só com os meus pontos de vista religiosos, mas também com a minha intuição sobre como as informações em organismos vivos poderiam ter desenvolvido."

Esta é uma admissão de condenação para um cientista. A fim de se estudar o desenvolvimento das informações em organismos vivos, a base opiniões deve partir apenas de fatos apurados por meio de um procedimento de verificação e reprodutível, sendo que a exploração deve verificar-se imparcial.

Visões religiosas (crenças) são direitos de todo cientista, mas este tipo de convicção há que ser mantido afastado de sua pesquisa científica a fim de não influenciar na verdade dos fatos.

Quanto à intuição (em alternativa, muitas vezes referido como o senso comum), esta tem o seu lugar legítimo na investigação. Porém, o problema é que muitas vezes leva pessoas diferentes em diferentes direções, e, muitas vezes, não leva a nada.

Na verdade, a teoria Spetner em si é a de evolução. Ao contrário do que alguns leitores podem concluir a partir do título e subtítulo, argumentação apresentada não é contra a teoria da evolução por si só. Na verdade, o autor apenas argumenta contra alguns aspectos da teoria neo-darwinista da evolução, ou seja, contra a idéia de que a evolução necessariamente inclui variações aleatórias, sugerindo o que ele denomina de Hipótese não Aleatória da Evolução (HNAE).

Em seu livro, Spetner afirma que mutações randômicas não podem produzir o tipo de mudança biológica informacional segundo requer a teoria neodarwinista da evolução, a qual, segundo estudiosos da área ocorre por saltos.

De acordo com Spetner, nenhuma das mutações observadas em modelos experimentais da evolução, na verdade, adicionam informação. Assim, ele conclui que não importa quantas mutações ocorram, elas não podem explicar o aumento da informação nos genomas, conforme “postulado” (sic) pela teoria da evolução.

A noção de informação de Spetner, em biologia, é formulada a partir do que pensam muitos grupos que negam a teoria da evolução, mas há críticas a respeito de seu trabalho, embora não haja ainda uma análise completa de seus argumentos.
Apesar de seus argumentos, quanto à aplicação de suas medições a situações do mundo real serem superficialmente plausíveis, um olhar mais atento, partindo da bioquímica, demonstram falhas significativas.

As medições de Spetner dependem de um mecanismo de união que não ocorre na natureza, assim como requer que substâncias se unam a enzimas, totalmente ou de nenhuma forma, considerando que substratos reais não agem dessa forma.

Spetner também é inconsistente ao aplicar suas medições. Como exemplo, no caso do Xylitol ele não as aplica e, no caso da streptomycina, ele as muda, uma vez que, a que as medições que ele desenvolveu levariam ao aumento de informação.

Alem disso, o modelo de evolução direta de Spetner é baseado em um mal entendimento do que seja mutação aleatória.

Spetner sequer menciona em seu livro a clássica teoria da informação de Shannon e Weaver, sendo que muitos autores aplicam a teoria da Informação de Shannon à biologia. Segundo estudiosos da evolução, esta, sob certas circunstâncias, aumenta a informação, de acordo com o senso de Shannon.

Entretanto, Spetner alega que mutações randômicas não podem aumentar a informação. Para tal, Spetner se vale de duas métricas separadamente:

Uma se denomina medida de expectativa, por meio da qual uma construção de diferentes fileiras tem informação que a de fileiras idênticas. Isso deixou surpresos aqueles familiarizados com a teoria da informação padrão de Shannon e Weaver e aqueles familiarizados com a Informação algorítmica. Porém, este argumento é válido sob determinadas circunstâncias.

Spetner também se vale de uma medida de informação de endereçamento, porém o modelo de bits telegráficos de transmissão não se aplica à replicação de DNA. A forma com que Spetner expõe esse pensamento consiste em que a informação é diretamente conexa com o tamanho da fileira.

Agora passemos às discussões das propostas de Spetner...

A união de substratos enzimáticos e a particularização de Spetner:

O mecanismo de reação de enzimas funciona como aquele de uma chave-fechadura, sendo o substrato a chave e a enzima a fechadura, sendo que ambos os mecanismos são desajeitados, pois há chaves que abrem várias fechaduras, assim como há enzimas e substratos flexíveis.

Spetner alega que o mecanismo das enzimas é análogo aquele de endereçamento e que enzimas de muitos substratos têm menos informação que enzimas de um substrato. Também, Spetner generaliza este argumento, aplicando-o a diversos sistemas com mecanismo de ligação. Será usado o termo ligante para abarcar qualquer coisa que se ligue a um local específico do aceptor, incluindo os substratos.

Note ainda que existe uma sutil mudança no argumento. Pode-se ver facilmente que o endereço para "666, Richmond Road, Cannon Hill, Brisbane" tem mais informações para especificar que "Brisbane".

Todavia a afirmação de que as enzimas têm mais informação, porque elas se ligam apenas um substrato é semelhante à afirmação de que "666, Richmond Road, Cannon Hill, Brisbane" tem mais informação do que"Brisbane" porque menos cartas são entregues lá do que em "Brisbane".

De qualquer modo, esta é uma afirmação um tanto diferente, de que a informação do objeto físico em um endereço tem as informações necessárias para especificar aquele determinado endereço. Isso parece intuitivamente óbvio.

Na verdade, tal pensamento é incorreto. A biologia não funciona desta forma. Não apenas o número de ligações é importante, mas também propriedades físicas o são.

Por exemplo, tomemos a enzima betalactamase que quebra as cefalosporinas de antibióticos. Uma variante mutante pode colapsar maior número de cefalosporinas (onde a molécula tornou-se mais robusta), enquanto que a enzima normal não pode fazê-lo.

A variante mutante não tem menos pontos de ligação que a enzima normal, mas tem uma articulação mais flexível para que o grupo catalisador pode alcançar o anel lactâmico mais fácil.
Pior ainda, pode haver substratos que se ligam com exatamente o mesmo número de pontos, mas que se ligam mais firmemente, porque um átomo de cloro foi substituído por um átomo de oxigênio, o que mudou a distribuição dos elétrons na molécula da droga.

Especificidade de ligação não é simplesmente algo análogo a "endereçar". Ela envolve forma física (responsável pelo endereçamento), propriedades físico-químicas (não simplesmente passíveis de uma análise de endereçamento, mas se referem às propriedades do substrato) e propriedades estruturais da enzima, como uma dobradiça flexível ou a distorção da uma hélice que também não são passíveis de uma análise de endereçamento. Teria uma hélice que flexiona para a direita mais informação do que uma hélice que flexiona para a esquerda?

Simplificando, uma análise da "informação" de uma proteína que aborda a especificidade substrato de ligação, embora superficialmente plausível, é ingênua ao extremo, pois a especificidade do substrato não é propícia para a análise proposta (especialmente quando algumas das informações que está no substrato).

Além disso, a análise de Spetner aborda exclusivamente a análise com enzimas substrato único, como ele lida com bi-bi-random enzimas de dois substratos ou com duas enzimas não se sabe. Ele parece pensar que todas as enzimas como deve ser (alguns) como as enzimas do ciclo de Krebs do ácido cítrico.

Embora Spetner tenha alegado que mutações aleatórias não podem produzir aumentos na informação, em seu exemplo de mutação aleatória de "palavra enzima", pode ocorrer o aumento de informação. Basta adicionar aleatoriamente uma letra na cadeia o que irá resultar em um número de caracteres que se ligam significativamente a menos "ligantes".

Ele também irá resultar em um número de caracteres que se ligam nenhum ligante, mas é o suficiente para notar que a mutações aleatórias simples irá produzir “enzimas-palavra" de maior "especificidade".

No entanto, quando chegamos a sistemas reais, a relação entre o aumento da cadeia de ligação e a especificidade não se sustenta.

Segundo Spetner, a informação é proporcional ao número de substratos, mas Spetner não define substrato. Porém, isso não é trivial. Como vimos acima a enzima de Spetner' "ou liga um ligante, ou não.

Isto é importante porque o nexo de todo o argumento de Spetner é que o número de substratos reflete o comprimento da cadeia de ligação, e o comprimento da cadeia de ligação, em bits, é a informação da enzima / receptor / proteína.

No entanto, no mundo real, a ligação de um ligante a uma proteína não é um tudo ou nada, substratos apresentam diferentes graus de coesão entre as moléculas, que não é abordado pelas medições de Spetner.

Mesmo uma enzima muito específica pode se vincular um ligante muito bem, em alguns não tão bem, e em um grande número, muito fracamente. Não se pode simplesmente dizer que só ligantes fortemente unidos devem ser considerados, como ligantes mais fracos podem ser de grande importância fisiológica, se estiverem presentes em concentração alta o suficiente.

Há muitos exemplos disso na fisiologia, no exemplo dos receptores da angiotensina II, há um grupo de peptídeos chamado de peptídeos de histidina da tríade, que apesar de ser muito ligantes fracos do receptor de angiotensina II, realmente modular a atividade do receptor em condições fisiológicas como as suas concentrações são tão elevadas no organismo. Isso tem implicações teóricas e práticas.

Teoricamente, isso significa que não há conexão necessária entre o comprimento da corda e o número de ligantes vinculado, pois a coesão entre moléculas depende de fatores moleculares que não se traduzem facilmente em informação. Será que uma fileira contendo o ácido aspártico tem mais ou menos informação do que uma contendo asparagina, quando praticamente a única diferença entre eles é a carga?

A coesão molecular também depende de algumas características moleculares que fazem parte do substrato. Na prática, isso significa que as informações Spetner não podem ser medidas experimentalmente, uma vez que jamais poderíamos realmente saber o número total de substratos, a menos que testássemos todos os substratos potenciais no universo.

Assim, podemos ver que as medições de Spetner são provavelmente incapazes de medir o conteúdo de informação de enzimas / receptores / proteínas de ligação em tudo.


A hipermutação das células linfócitos B:

Spetner concorda que o modelo de sistema de amostragem e seleção de mutações somáticas que ocorre em genes de imunoglobulinas em linfócitos B pode "adicionar informação ao genoma da célula-B.

Spetner aceita a idéia de que a mutação aleatória e a seleção podem levar a um aumento da informação. Tal vai de encontro a noção de Dembski e de outros que acreditam que há barreiras teóricas que impediriam conseguir o que eles chamam de "complexidade especificada da informação" por meio de mutação aleatória e seleção.

No entanto, Spetner declara que o exemplo de células B é um modelo pobre para o que acontece na "evolução" de Darwin, e para tal cita duas razões:

- A taxa de mutação nesse modelo é muito superior ao que é visto em não-genes de imunoglobulinas e de não-células B;

- Estas hipermutações são mediadas por "enzimas especiais."

Em relação ao primeiro ponto, realmente a taxa de mutação dos linfócitos B é maior do que ocorreria na evolução, mas não há razões para este fato enfraquecer a utilidade do exemplo como um modelo para a evolução.

Se mutações adaptativas que aumentam a informação no genoma de uma população de linfócitos B podem ocorrer em pouco mais de uma semana, proporcionando uma alta taxa de mutação, qual o argumento teórico que iria levá-lo a rejeitar a idéia de que as mutações adaptativas aumentam a informação no genoma de uma população de células germinativas ocorreria ao longo de muitos milhões de anos, dada uma taxa de mutação muito mais baixa?

A segunda objeção ao modelo de mutação somática em células B, se trata de que "enzimas especiais" estão envolvidas, é insustentável.

De acordo com a literatura científica, até o momento, o mecanismo de mutação somática em células B não é conhecido. O mecanismo poderia, talvez, envolver "enzimas especiais" que geram mutações, mas uma possibilidade alternativa é que a alta taxa de acúmulo de mutações simplesmente reflete a inibição seletiva da prova normal de mecanismos de leitura.

Mas, não há razões porá afirmar que a fonte das mutações aleatórias deveria influenciar na validade geral da conclusão de que mutações aleatórias e seleção podem aumentar a informação no genoma, ou porque tais mutações não podem servir como modelo para adaptações evolutivas.

De fato, a taxa como mecanismos predominantes para mutação podem ser diferentes em diferentes espécies de organismos, em função da exposição deles a mais ou menos agentes mutagênicos ambientais, além de depender da natureza e da robustez em sua capacidade de erro-correção genômica.

Portanto, ao se aceitar tal argumentação contra a extrapolação de adaptação de células B para a adaptação das espécies, devemos rejeitar a extrapolação de quaisquer informações encontradas ao se estudar um organismo para compreender as adaptações em um segundo organismo, a menos que seja demonstrado que tanto a taxa e o mecanismo de mutação são os mesmos em ambos?

Isto seria como se recusar a usar a constante gravitacional determinada em laboratórios na Terra para analisar a física estelar. Essa relutância em extrapolar certamente impede a utilização de organismos modernos, como base para a compreensão de eventos evolutivos que ocorreram há milhões de anos (que pode ser justamente a intenção de Spetner).

Há muita argumentação de criacionistas que exigem prova "rigorosa" da evolução. Tal postura se trata de uma má compreensão em estabelecer a diferença entre a ciência experimental e a matemática, onde uma prova rigorosa, via encadeamento lógico de axiomas e postulados é esperada, o que se denomina teorema. Todavia na a maioria das ciências experimentais e de observação, o que se procura é a melhor teoria que explique os dados observados.

Obviamente é possível extrapolar-se de modo indevido, mas Spetner não demonstra como a teoria evolutiva faz isso.

Spetner também cita uma série de declarações especulativas na literatura científica, no sentido de que hipermutação da célula somática B envolve um mecanismo especial.

As enzimas envolvidas na mutação somática em células B, até o momento da edição deste texto, permanecem desconhecidas. Assim se Spetner estiver correto que a hipótese de "enzimas especiais" é sustentável, ela só seria correta no sentido de que tal idéia é sustentada apenas por especulações na literatura. Não há qualquer evidência científica que sustente tais afirmações.

Todavia, observou-se que uma enzima conhecida como a ativação induzida deaminase (AID) revelou-se necessária para a ocorrência de mutação somática. Porém, não está claro se esta enzima participa diretamente na introdução de tais mutações.

De fato, desde que ocorra ausência da AID também ocorre o bloqueio da mudança de recombinação de isótipos. Tal fenômeno não é obviamente relacionado à hipermutação, sendo que leva à ampliação de centros germinativos.

É possível que esta enzima seja necessária para um passo na maturação das células B do desenvolvimento que provoca tanto hipermutação como a alternância de recombinação, e que esta enzima não desempenhe qualquer papel diretamente relacionado à mutação de DNA. Mas esta questão ainda não foi resolvida.

De fato, uma variedade de mecanismos de laboratório para a geração de mutações nos genes de anticorpos (mutagênicos químicos, oligonucleotides randomizado, etc) todos levam a uma gama de genes mutantes de anticorpos a partir do qual as proteínas com maior afinidade podem ser obtidas.

Portanto, o princípio de que a mutação aleatória e a seleção podem levar a melhoria da função parece ser independente do mecanismo de geração de mutações.

Não há razões lógicas para que mutação e seleção na adaptação de espécies deveriam ser estritamente dependentes do mecanismo de mutação. Na verdade, uma série de diferentes mecanismos são conhecidos por contribuir em graus diversos, em condições diferentes, incluindo erros de cópia, radiação, mutagênicos químicos, desaminação erros de pareamento, etc.

As probabilidades de Spetner:

Nos capítulos 4 e 6 de seu livro, Spetner dedica muito espaço para a discussão das probabilidades. O capítulo 4 é intitulado “Is the deck stacked?” – As tábuas estão empilhadas?.
Nesse capítulo Spetner discute as probabilidades de mutações aleatórias e de outros eventos que, segundo a abordagem darwinista, foram as etapas de evolução. Spetner repete aqui os mesmos cálculos de probabilidade conhecidos, copiados com ligeiras variações de livro para livro escrito por opositores da teoria da evolução, mas que na verdade são irrelevantes para o problema da origem da vida.

Recomenda-se a leitura de Improbable Probabilities.

Conforme indicado na postagem acima, do ponto de vista cognitivo, o conceito de probabilidade antes de qualquer coisa, reflete o nível de ignorância sobre uma situação. Se possuir o conhecimento integral da situação, lidaríamos com certezas e não com probabilidades.

Os valores extremamente baixos das probabilidades de diversos eventos, como o surgimento espontâneo da vida e afins, muitas vezes citados pelos opositores da evolução, refletem a escassez de informações sobre os eventos que levariam, por exemplo, a mutações úteis sobreviverem ou ao surgimento da vida. Essa falta de conhecimento nos obriga a assumir um número enorme de possíveis eventos concorrentes, resultando na probabilidade muito baixa citado por Spetner, Aviezer, e outros.

Como é a probabilidade de um evento estimado ser de, digamos, 1 / N onde N é um número muito grande?

Esta estimativa equivale à suposição de que poderia haver N possíveis eventos, dos quais, por exemplo, o surgimento da vida é um só desses eventos. Supondo ainda que todos esses acontecimentos N possíveis são igualmente prováveis, podemos dividir 1 por N e chegar à probabilidade muito reduzida de 1 / N, que acaba por ser, digamos, um em cada 10^-27 (como no exemplo de Spetner). A conclusão obtida pelos anti-evolucionistas é que a probabilidade já é tão pequena que o evento em questão é praticamente impossível.

Esta forma de pensamento, comum a muitas discussões pelos opositores da evolução, é falha, uma vez que ignora o significado da quantidade matemática chamada de probabilidade.

Com efeito, se a probabilidade de um evento (digamos, de uma mutação útil) é calculado como 1 / N, isso significa que assumimos a concorrência de N eventos igualmente prováveis. Um desses eventos igualmente prováveis N deve necessariamente acontecer (mesmo que não sabemos de antemão qual deles).

Se qualquer um desses eventos é visto como impossível, então por isso mesmo cada um deles deve ser visto como impossível, já que todos esses eventos têm exatamente a mesma chance de acontecer ou não acontecer. Esta conclusão, baseada na hipótese de impossibilidade de qualquer um dos eventos N é um absurdo. Daí a premissa estar errada.

Caso um determinado evento, A (por exemplo, uma certa mutação), cuja probabilidade foi calculada como 1 / N não chegou a acontecer, somente significa que algum outro evento B, cuja probabilidade é tão pequena quanto, aconteceu em seu lugar. Por que poderia o evento B acontecer, mas o evento A, igualmente provável, não poderia? Do ponto de vista da probabilidade, não há diferença entre todos os N eventos, mesmo que um deles seja muito especial a partir de alguns pontos de vista não matemáticos (por exemplo, sendo o surgimento espontâneo da vida).

Além disso, o neo-darwinismo não é baseado na premissa de um processo puramente aleatório. A combinação de mutações aleatórias com leis adequadas (por exemplo, a seleção natural não-aleatória) pode acelerar a evolução de muitas ordens de magnitude (como, por exemplo, tem sido demonstrado por Dawkins em o Relojoeiro Cego), o que torna irrelevante do exercício probabilístico de Spetner.

A discussão de tal analogia como uma loteria é considerada por Spetner como sendo um exemplo favorito dos opositores da evolução. A probabilidade de tapeação é muito maior que a de haver múltiplas vitórias.

Do mesmo modo, ele afirma que em um jogo de pôquer a ocorrência simultânea de duas ondas de direita indica fraude, com uma probabilidade muito maior do que a sua acontecendo por acaso. Ele escreve (página 94): "Como vimos na história do poker-vaqueiro, muita sorte pode não ser bom para você." (Na história em questão, o cowboy que tinha o straight flush foi morto a tiros por alegada fraude).

Então Spetner continua: "Assim também na natureza, se vemos a ocorrência do evento com probabilidade extremamente baixa, devemos suspeitar que o evento não foi aleatório ..." Essa afirmação é infundada.

De fato, a fraude pode ser mais provável do que duas ondas simultâneas em linha reta em um jogo de pôquer, ou uma dupla vitória em uma loteria. No entanto, este exemplo é irrelevante no que diz respeito à natureza, onde não há nenhuma analogia de fraude. Na natureza, um evento é perfeitamente possível, apesar da sua probabilidade calculada ser extremamente pequena.

Em primeiro lugar, valores demasiado pequenos, para a probabilidade calculada, são principalmente devidos à extrema escassez de informações sobre a situação ora questionada e, segundo, porque o evento cuja probabilidade foi calculada como muito pequeno é realmente tão provável quanto qualquer outro de N eventos presumidos possíveis.

Ou seja, devido à escassez de informações sobre o evento, não sabemos quantas vias poderiam levar a ele ou a algo diferente dele, mas igualmente funcional.

Por exemplo, a origem da vida:

Será que apenas uma via poderia levar à origem da vida tanto como a conhecemos, quanto a uma forma totalmente diferente ou semelhante a que conhecemos? Isso é impossível de responder.

Outro exemplo, o caso de mutações: Também, será que há apenas um caminho para que ocorram mutações que tragam vantagens à espécie?

A visão criacionista é a de que somente pode haver uma via com um determinado objetivo, mas isso é falso. A seleção natural assim como qualquer processo natural não possui objetivos. Ela simplesmente é.

Dessa forma, o capítulo em questão contém muitos cálculos de probabilidades, mas todos estão repletos de falácias, já discutidas e rejeitadas antes mesmo dele escrever seu livro. Portanto, a argumentação proposta por Spetner contra a teoria da evolução aleatória, com base em seus cálculos de probabilidades, não é convincente. Nada mais é que um engodo matemático a fim de confundir leigos na disciplina.

No capítulo 6, intitulado The Watchmaker's Blindness – A Cegueira do Relojoeiro, Spetner retorna novamente à estimativa por probabilidades, desta vez se vale delas para refutar as idéias sugeridas por Richard Dawkins referentes à NDT em O Relojoeiro Cego.

Aqui, novamente, Spetner oferece cálculos de probabilidades extremamente pequenos no que se refere a eventos, tais como encontrar uma "perfect bridge hand". Segundo esse cálculo, a probabilidade de obter uma mão perfeita em um negócio é de 10^- 28. Este número, embora correto do ponto de vista formal, é irrelevante. Spetner acusa Dawkins de não entender o significado de probabilidade.

Na verdade tal acusação pode ser dirigida para Spetner próprio, que obviamente sabe como calcular probabilidades, todavia lhes atribui propriedades quantitativas que estas não possuem.

O valor da probabilidade de não prevê o resultado de qualquer evento específico. Apesar da baixíssima probabilidade calculada de qualquer evento, ele pode muito bem acontecer no primeiro julgamento, ao passo que um evento cuja probabilidade calculada é muito maior não pode acontecer mesmo em centenas de milhares de testes.

Quando os problemas tais como a possibilidade do surgimento espontâneo da vida, são discutidos, a sua probabilidade calculada é irrelevante e não pode ser usada como uma prova de qualquer opinião sobre esse assunto, pois sequer conhecemos as etapas para que tal fenômeno ocorra; dirá as probabilidades de tais etapas ocorrerem.

A origem da vida é um estudo que depende muito da química e como sabemos, em química o que determina como os elementos e as substâncias reagem entre si são as propriedades periódicas, propriedades aperiódicas, estereoquímica, isomeria, efeitos coligativos, condições termodinâmicas de espontaneidade das reações (entropia, energia livre de Gibbs, energia livre de Helmholz), quantidade de reagentes, agentes físicos, presença de catalisadores, dentre outras particularidades físico-químicas.

Dessa forma, a probabilidade de determinadas reações ocorrerem pode ser bem maior que a de outras, o que faria a possibilidade de determinados eventos ocorrerem mais que outros.

Assim, a igualdade de probabilidades para todos os eventos, conforme proposta por Spetner, é falsa, seja no que se refere à origem da vida, como no caso de mutações em organismos.

Logo, a argumentação proposta por Spetner é falaciosa, bem como errônea. É o típico caso de um religioso tentando adaptar o conhecimento à sua crença (Eis a nossa crença... que fatos se adaptam a ela?).

Spetner e a aleatoriedade:

A hipótese que Spetner sugere que em vez do NDT é, como já mencionado, o que ele chama NREH, que representa a Hipotese Evolucionária não Aleatória. Enquanto NDT é baseada no pressuposto de que mudanças evolutivas ocorreram através de mutações aleatórias, seguida por seleção natural não aleatória. A idéia de Spetner é de mutações não aleatórias provocadas pelas demandas que o ambiente impõe à espécie.

Obviamente, uma vez que a diferença entre NDT e NREH essencial resume-se que entre aleatória e não aleatória de cadeias de eventos, o conceito de aleatoriedade torna-se pertinente para a discussão destas duas hipóteses.

Conseqüentemente, pode-se esperar que Spetner daria alguma definição de aleatoriedade, sendo que esta é o conceito fundamental da sua hipótese. Estranhamente, Spetner não parece estar preocupado com o significado preciso de um termo que ele usa com tanta freqüência em seu discurso. Como resultado, em contextos diferentes, ele usa os termos aleatórios e aleatoriedade de maneiras diferentes, aparentemente sem perceber a imprecisão que este desleixo de uso confere ao seu discurso.

Eis alguns exemplos.

Na página 44 Spetner escreve: “O movimento desses elementos genéticos sobre a produção das mutações acima foi encontrado para ser um processo complexo e que provavelmente ainda não descobriu toda a complexidade. Mas uma vez que ninguém sabe por que eles ocorrem, muitos geneticistas assumiram sua ocorrência apenas por acaso. É difícil acreditar processos precisos e, tão bem controlados, como a transposição de elementos genéticos, só aconteçam por acaso. Alguns cientistas tendem a invocar um mecanismo aleatório antes de aprender o que realmente acontece. Se a fonte de variação para a evolução fosse mutações de ponto, poderíamos dizer que a variação é aleatória. Entretanto, se a fonte de variação é o complexo processo de transposição, então não há nenhuma justificação para dizer que a evolução é baseada em eventos aleatórios.”

Pode-se perceber que Spetner, no segmento, citou o termo aleatório duas vezes; uma em relação a um "mecanismo", e outra para "eventos". Ele, aparentemente, supõe que o termo em questão é universalmente compreensível sem uma explicação, para ambos os contextos usados. Vamos tentar adivinhar o que Spetner quer dizer quando ele usa a palavra "aleatório":

A partir do texto citado parece resultar que, segundo Spetner, evento aleatório é tal que, primeiro, ocorre por acaso, e, segundo, é simples, compreendendo apenas um passo. Quanto ao mecanismo de "aleatório", este termo parece significar uma combinação de eventos aleatórios consecutivos.

Se a minha interpretação do significado que Spetner quer dizer Spetner ao mencionar "aleatório" distingue-se daquela de Spetner; isto significa apenas que ele definiu o uso deste termo, de forma ambígua.

Na página 46, Spetner escreve: "Mas a teoria darwiniana pede que as mutações sejam espontâneas e aleatórias". Não está claro o que Spetner pretende com a frase citada como uma quase-citação direta a partir de alguns escritos por adeptos de NDT, ou isto é colocado como sua própria fórmula.

Mas em qualquer caso, ele usa a expressão "espontâneo e aleatório" sem qualquer indicação de que isso poderia ser entendido como impreciso ou enganoso. Será que essa expressão significa que os eventos de mecanismos podem ser aleatórios, mas não espontâneos, ou espontâneos, mas não aleatórios, ou ambos espontânea e aleatória? O que se entende exatamente por estes termos?

A necessidade de uma definição consistente e rigorosa dos termos acima e seguintes é fundamental, pois o conceito de aleatoriedade e com ele relacionados os conceitos de complexidade e espontaneidade, são fundamentais para sua hipótese.

Spetner não dá nenhuma indicação familiarizada com as definições matemáticas de aleatoriedade e complexidade.

No núcleo da hipótese de Spetner a sugestão é a de que as variações principais para a evolução são desencadeadas por forças do meio ambiente e são direcionais e não aleatórias.

Para fundamentar esta sugestão, de início, há que se compreender claramente de que maneira as variações em questão não são aleatórias. Para este fim, há que se definir claramente o que é aleatório e que distingue não aleatório de forma aleatória. Sem este ponto, os termos “aleatório/não aleatório”, conforme expõe Spetner, permanecem muito vagos para uma hipótese científica.

Spetner pode acreditar que as variações que ele admite serem as etapas na evolução não são aleatórias, mas na verdade ele não tem conhecimento que lhe permita estabelecer claramente se as variações em questão são, ou não-aleatórias. Até então, a sua classificação como eventos aleatórios ou não aleatórios, continua sendo uma questão de sua preferência pessoal, e não um fato claramente estabelecido.

Os conceitos de aleatoriedade e o ela, intimamente conectado, de complexidade estão estritamente definidos na teoria algorítmica de probabilidade (ATP).

Recordemos essas definições. A "complexidade" de um sistema (ou de um processo), que é muitas vezes referida como a complexidade de Kolmogorov, é definida na ATP como o tamanho mínimo de um algoritmo (ou de um programa) que pode codificar o sistema (ou processo) em questão. A partir desta definição, segue a definição de aleatoriedade do seguinte modo: um sistema (ou processo) é aleatório se a sua complexidade é aproximadamente igual ao tamanho do sistema (ou processo) próprio (em bits).

O termo "aproximadamente" aparece na definição acima, pois, como mostra a ATP, a aleatoriedade é uma questão de grau.

Quanto mais próximo o valor da complexidade de um sistema (ou de um processo) do próprio tamanho do sistema/processo, mais perto estará o sistema (processo) da perfeita aleatoriedade.

Isso mostra que o conceito de aleatoriedade é mais complexo do que pode parecer à primeira vista. A demarcação entre eventos aleatórios e não aleatórios ou mecanismos é difusa. Eventos ou mecanismos podem ser mais ou menos aleatórios. Esta característica dos eventos está ausente na discussão de Spetner.

Para basear qualquer hipótese sobre o conceito de aleatório/não aleatório requer-se uma abordagem quantitativa. Não há sinais de tal abordagem no livro de Spetner. Portanto, quando ele nos diz que certos eventos são aleatórios, enquanto alguns outros são não aleatórios, realmente não é possível verificar as suas declarações e, com elas julgar sua linha de pensamento racional.

As definições matemáticas acima são universais e aplicáveis a todos os sistemas e processos. Uma vez que o tratado por Spetner carece de referência para a definição estrita de aleatoriedade, todo o seu discurso em relação aos s eventos aleatórios/não aleatórios e mecanismos carecem de significado.

De acordo com seus dados biográficos, Spetner tem vasta experiência em extensa pesquisa relacionada a sistemas de comunicação e, também, de acordo com seu livro, deve estar bem familiarizado com a teoria da informação.

Portanto, ele deve também estar familiarizado com o conceito matemático de aleatoriedade, ainda mais porque ele baseou nesta idéia toda sua teoria da evolução referente à distinção entre eventos aleatórios e eventos não aleatórios.

Estranhamente, não há uma única frase no livro Spetner, que revele o seu conhecimento dos conceitos matemáticos pertinentes à área em que desenvolveu sua linha de pensamento.

Tal fato confere a sua sugestão de serem as fontes da evolução supostamente não aleatórias um sabor de “especulações de um amador”.

Spetner discute a informação:

Capítulo 5 do livro Spetner é intitulado "Pode a variação aleatória construir informação?"

Um dos principais argumentos Spetner é que as variações aleatórias, nunca ou quase nunca levam ao acúmulo de informações. Uma vez que este conceito é um dos fundamentos da sua NREH, seria de se esperar que o conceito fundamental de que a hipótese de informação fosse apresentado de forma inequívoca e rigorosa.

A teoria da informação é a base científica da tecnologia da comunicação moderna. Spetner foi apresentado aos leitores como um especialista em processamento de sinal, campo no qual grande parte assenta-se na teoria da informação.

Assim, parecia que Spetner proporcionaria aos leitores uma boa discussão profissional de assuntos relacionados à informação e sua aplicação ao NREH. Infelizmente, este não foi o caso.

Como com probabilidades e aleatoriedade, Spetner usa o termo "informação", vagamente, como se este conceito não tivesse nenhuma medida quantitativa. Portanto, quando ele afirma que certas variações adicionam ou não informações a um sistema, essas declarações permanecem sem fundamento.

Spetner acusa outros autores (por exemplo, Dawkins) pela ausência de cálculos os quais apoiariam suas teorias ou hipóteses. Todavia, ele não oferece uma única estimativa da mudança na quantidade de informações causada pelas variações que discutiu.

Sem tais cálculos suas afirmações de que esta ou aquela variação adicionam ou não informações a um sistema, permanecem ambíguas e não verificáveis. Suas declarações, no que se refere a variações particulares, no que concerne a não acrescentar qualquer informação, não são baseadas em provas factuais, mas apenas na sua intuição, que poderia ou não levar à conclusão de direito.

Um exemplo de tal situação ambígua é dado por Spetner por meio de um encaixe da molécula de estreptomicina em local específico em um ribossomo (figs. 5,3 e 5,4 no livro de Spetner).

Há uma combinação estérica entre a molécula de estreptomicina e do ribossomo da bactéria. A molécula de estreptomicina encaixa em um local específico no ribossomo como uma chave se encaixa na fechadura adequada.

Isso inibe o funcionamento normal da bactéria, eliminando assim o seu efeito negativo sobre o corpo humano. Uma mutação aleatória pode causar uma mudança na forma do local pertinente no ribossomo tornando-o inadequado para a fixação de uma molécula de estreptomicina.

Essa bactéria mutante adquire imunidade contra a estreptomicina, melhorando assim a sua chance de sobrevivência. Spetner sustenta que a mutação descrita conduz a uma perda em vez de aumentar de informação. Mas esta afirmação não possui fundamento.

A alteração descrita na forma do ribossomo pode aumentar ou diminuir a quantidade de informação associada ao ribossomo. Para decidir se é uma perda ou um ganho de informações, um cálculo detalhado é necessário, sendo que tal cálculo deve fundamentar-se em conhecimento também detalhado, referente ao que ocorreria em uma modificação particular ocorrida no ribossomo.

Entretanto, esse nível de conhecimento ainda não está disponível. Palpites sobre se há ou não aumento nas informações devido a mudanças ocorridas nos ribossomos sejam dados por Spetner ou por um leigo, possuem o mesmo nível de validade. Afirmar que foi Spetner quem disse, daí ser válido, sem qualquer trabalho que confirme ou não confirme a alegação denomina-se argumento da autoridade.

A tentativa de Spetner em fundamentar sua afirmação de que a quantidade de informação é diminuída pela mutação descrita porque esta mutação faz com que o ribossomo torne-se menos específico é por si sem fundamento.

O ribossomo pode tornar-se menos específico em relação à estreptomicina, mas pode tornar-se mais específico, em relação a alguma outra substância, em outro ou no mesmo local.

Desde informações sobre essa possibilidade estejam ausentes, não há razão para afirmar que a especificidade, no sentido dado por Spetner tenha realmente decrescido. Portanto, a afirmação de Spetner referente à que a mutação em questão tenha resultado em uma diminuição da informação é pura especulação sem qualquer valor confirmatório.

O metabolismo do Xilitol:

Dada a ampla discussão que Spetner faz a respeito da especificidade das ligações, devido as suas hipóteses enfatizarem que especificidade é equivalente ao número de substratos vinculados, surpreende a análise referente à mutação da ribulose em xilitol, em cujo estudo o autor não considera a especificidade de ligação.

Spetner considera uma medida bioquímica chamada especificidade, mas isso não é a sua medida de especificidade. Esta é uma relação entre a eficiência catalítica e especificidade de ligação.

Para o exemplo dado, a sistemática da medição parece ser bem trivial, e pode-se lidar com ela. Na verdade, não é isso. Eficiência catalítica é outra coisa.

Vale aqui que façamos uma digressão a fim de explicar o termo eficiência catalítica de uma enzima.

A eficiência catalítica de uma enzima pode ser expressa através da constante de especificidade, igual à razão Kcat/Km.

Onde:

Kcat = constante da taxa catalítica que caracteriza uma reação enzimática. Existe um valor máximo teórico para esta constante, cerca de 10 ^ 8 a 10 ^9 / (M* s), denominado limite de difusão.

Km = constante dissociação que caracteriza a ligação de uma enzima a um substrato. Quanto menor o valor de Km, maior a afinidade entre a enzima e o substrato; constante de Michaelis.

Ec = Kcat/Km = eficiência catalítica de uma reação. Quanto maior Kcat/Km, mais rápida é a conversão do substrato em produto.

A constante de especificidade relaciona-se tanto com a afinidade da ligação do substrato à enzima (Km) como com a capacidade catalítica desta (Kcat), pelo que se torna útil para a comparação entre diferentes enzimas, ou a mesma enzima com diferentes substratos.

Considerando-se que cada colisão entre enzima e substrato resulta em catálise, a velocidade global de formação do produto não será limitada pela velocidade de reação da enzima, mas sim pela velocidade de difusão das moléculas em solução.

Enzimas que possuam uma constante de especificidade perto deste valor são designadas enzimas catalítica ou cineticamente perfeitas. Alguns exemplos incluem as enzimas triose fosfato isomerase, anidrase carbônica, acetilcolinesterase, catalase, fumarase, beta lactamase e superóxido dismutase.

Definitivamente o termo “eficiência catalítica” não é passível de uma "medida de endereçamento", pois se baseia em uma série de propriedades físico-químicas, tais como a distribuição de carga no substrato, a rotação livre do grupo do lado catalítico (o catalisador de um grupo que gira 10 angstroms têm mais ou menos informação do que um que gira 15 angstroms?) e assim por diante.

Criticamente, dois substratos podem ter a mesma especificidade de ligação, mas eficácias catalíticas distintas, o que confundiria a análise de informações.

Pior ainda, o argumento Spetner está relacionado ao número de substratos realizados. No entanto, na mutação desidrogenase ribulose para xilitol desidrogenase, em ambos os casos, a enzima ligada a três substratos, por sua própria definição demonstra não ter ocorrido qualquer alteração nas informações. A taxa de desidrogenação variou, mas o número de substratos produzidos em não mudou. Dois pontos devem ser salientados:

Ponto 1: Como fora anteriormente observado, a métrica de Spetner é uma medida a qual afirma que uma enzima que se liga substrato A e ao substrato B tem menos informação do que uma enzima que se liga sozinha substrato A (lembre-se ghtsh, que "liga" Lightship ou a Nightshade e tem menos informações que ghtshi que obriga apenas Lightship, porque ghtshi é uma seqüência mais longa).

Isso não funciona quando estamos comparando uma enzima que se liga 20 moléculas de substrato A para cada 80 moléculas de substrato B, e uma enzima que se liga e 80 moléculas de substrato A para cada 20 moléculas de substrato B. O comprimento da linha de ligação não variou, ou variou na direção exigida por Spetner, então a medida do comprimento de bits não ajuda em nada.

Ponto 2: A magnitude relativa da mudança pode ser inteiramente devido a alterações na eficiência catalítica, que não tem nenhum conteúdo de informação no esquema de endereçamento proposto por Spetner. Tão pouco se vislumbra qualquer forma significativa para calcular as informações neste ponto pois não há qualquer medida de informação para tal.

Fica pior ainda; Spetner compara as especificidades ", de 3 de substratos, porque eles eram os únicos substratos medidos no experimento.

Na realidade ribulose desidrogenase (e xilitol desidrogenase) ligam-se muito mais substratos do que apenas a 3 deles (embora a eficiência catalítica seja muito baixa para a maioria dos substratos vinculados).

Como apontado acima, sem apreciação do rol completo de substratos, qualquer alegação sobre especificidade no campo das enzimas, não possui qualquer fundamento.

Mas que substratos seriam estes? Se nos limitarmos a substratos naturais, há que se excluir o xilitol, um açúcar sintético não encontrado no ambiente natural, mas o desenvolvimento da atividade do xilitol desidrogenase foi o ponto de todo o este exercício. Caso se incluam os substratos sintéticos, haverá potencialmente um número infinito de substratos para serem testados. Como saber o que realmente estaria ocorrendo?

Na seqüência, Spetner assume que o ponto obtido no experimento (onde Ribulose e Xilitol estavam sendo discriminados em taxas aproximadamente semelhantes pela enzima mutante), foi tão bom quanto ele esperava; não foi possível nenhuma melhoria na informação.

No experimento, ele olhou, o ponto principal que era saber se a atividade xilitol poderia ser desenvolvida, sem chegar ao ótimo. De fato, em outras experiências foram produzidas enzimas mutantes que quebraram o xilitol 20 vezes mais rápido que ribulose, o que destrói a tese proposta por Spetner.
Ver Hartley, B.S. (1984) Experimental evolution of ribitol dehydrogenase. In R.P. Mortlock (ed.), "Microorganisms as Model Systems for Studying Evolution" (pp.23 - 54) Plenum, New York.).

Assim, o exemplo da ribulose não sustenta a tese Spetner's. Além disso, há literalmente centenas de enzimas em que mutações aleatórias resultam em alta especificidade de substrato.
Há uma enorme gama de trabalhos sobre o desenvolvimento de novas enzimas com atividades específicas, a partir das proteínas alfa- beta gerais cilíndricas.
Ver, Matsumura I, Ellington AD. In vitro evolution of beta-glucuronidase into a beta-galactosidase proceeds through non-specific intermediates. [ PubMed] J Mol Biol. 2001 Jan 12;305(2):331-9), e, recentemente, a evolução das atividades específicas de ligação aleatória de peptídeos(ver Hayashi Y, et al., Can an arbitrary sequence evolve towards acquiring a biological function? [ PubMed] J Mol Evol. 2003 Feb;56(2):162-8..

Spetner e as mutações dirigidas:

Spetner acredita que ele tem demonstrado que mutações aleatórias não pode produzir o aumento das informações que seriam necessárias na evolução (como vimos, ele está errado).

Em sua proposta, a evolução se dá por meio de mutações dirigidas (com a implicação de que a Inteligência Divina está, de alguma forma por trás desta direção). A existência aparente de mutações dirigidas foi baseada em alguns dos primeiros trabalhos de Barry Hall. No entanto, Spetner não deu seguimento a pesquisa mais recente sobre esse trabalho, e desconhece a origem e o significado do termo mutações dirigidas.

A maioria das pessoas sabe que as mutações surgem aleatoriamente durante a divisão celular, e que tais mutações ocorrem em diversos pontos no ciclo de replicação, como uma conseqüência de danos causados por exemplo, devido a ação de produtos químicos mutagênicos, quantidades de radiação, ou erros de leitura de prova no processo de cópia.

No entanto, a maioria das pessoas ignora que há volumes significativos de DNA em células que não estão em crescimento, bem como não estão se dividindo.
Ver: Foster PL & Rosche WA. Mechanisms of mutation in nondividing cells. Insights from the study of adaptive mutation in Escherichia coli [ PubMed] Ann N Y Acad Sci 1999, 870, 133-45.

Mutações adaptativas dirigidas são mutações que, aparentemente, resultam no aparecimento de mutações seletivas favoráveis. A designação destas mutações tem causado controvérsia considerável e elas foram chamadas de adaptativa, dirigida, seleção induzida, e mutação induzida pelo estilo de vida estressante (SLAM).

Um pesquisador cunhou para tal o nome "Fred", enquanto tenta encontrar um nome que não poderia inflamar os críticos. "Fred" parece ter encontrado a sua maneira, pelo menos em discurso informal proferidos por pesquisadores relevantes.
Ver: Rosenberg, SM. Mutation for Survival [ PubMed] Curr Opinion Gen Dev 1997, 7:829-834).
"Fred" ocorre apenas em seleção não-letais em células que não estão em divisão, e é sugerido como um mecanismo neo-Lamarkista para obter informações sobre o ambiente nos genes. No entanto, "Fred" é isso, e não é dirigido no sentido de que Spetner sugere (ver as citações acima).
Assim, “Fred” é descrito como:

Fred não é lamarckista. Não há transcriptase reversa envolvida, os mutantes não são transcritos para trás de alguma proteína ambientalmente alterada ou mesmo a partir de um mRNA fortuitamente modificado.

Fred não se dirige; as mutações são encontradas aleatoriamente em todo o genoma, não apenas na "adaptação" do gene.

Fred é dependente de recombinação, o que causa dano ou a uma das enzimas de recombinação RecA ou RecBCD reduzindo a taxa de mutações adaptativas.

Fred é dependente de DNA polimerase, no DNA Pol III mutantes com melhor leitura de prova, têm a taxa de mutações adaptativas reduzida.

Fred é em grande parte dependente de reparo nas combinações defeituosas (MMR). Defeitos em MMR aumentam mutações adaptativas e aumentam o MMR, bem como a sobre expressão de MMR reduz as mutações adaptativas. Fundamentalmente, a MMR é reduzida nas células que não estão em crescimento, bem como em células sob stress.

O modelo a seguir mostra como mutações adaptativas ocorrem. Células que não estão em crescimento nutricionalmente estão sob tensão.

O estresse leva a fita dupla quebra no DNA, recombinação vis RecBCD primeira etapa para a síntese de DNA. O DNA Pol-III termina o trabalho, mas comete erros, que deslizam, pois a carência de nutrientes em grande parte desativou u mecanismo de reparo de cópias ruins.

Isto resulta em grandes mutações do genoma em um ritmo mais rápido que o normal, e mutantes ocasionais que podem utilizar o substratos seletivos.
O exemplo canônico é a E. coli que têm um gene Lac aleijado, e não pode utilizar a lactose, quando semeadas em um meio que só tem lactose como fonte de carbono, assim estas células não podem crescer.

Porém, após determinado período decorrido, aparecem colônias que podem usar a lactose. Estas colônias incluem uma versão do gene aleijado que foi restaurado para funcionar (geralmente por um deslocamento de estrutura bp 1).

Então Fred, embora certamente excitante do ponto de vista genético, acaba simplesmente por ser mais uma mutação aleatória sem graça.


Conclusão:

Embora os argumentos Spetner sejam superficialmente plausíveis, ao se olhar mais profundamente para suas propostas, por meio de certos conhecimentos em bioquímica, sua linha de raciocínio mostra falhas.

Spetner erra nos detalhes da biologia. A especificidade do ligante não é diretamente regida pelo comprimento do fio de ligação tal como exigido por sua teoria, e a união do ligante não é um caso de "tudo ou nada".

Isso invalida suas análises. Mesmo assim, próprios exemplos Spetner não apoiam suas alegações. Além disso, ao usar suas métricas Spetner as modifica sem qualquer critério quando uma delas mostra alterações inconvenientes.

Em seu esforço para comprovar sua hipótese, Spetner valeu-se dos cálculos de probabilidades, da comparação entre aleatoriedade X não-aleatoriedade, e da análise de melhoria pela informação.

Os cálculos de probabilidades propostos não possuem fundamentos, a noção de que eventos aleatórios não sejam capazes promover a evolução ser algo incerto, e a alegada falta de informação construir-se como não provada, a pergunta-se: O que há para ser levado a sério na proposta de Spetner?

Não há quase qualquer chance do livro de Spetner poder ser levado a sério por biólogos. Naturalmente, os adeptos do Design Inteligente podem elogia-lo por supostamente ter mostrado que a evolução não pode gerar a informação, tese esta que tem sido promovida por outros criacionistas em um nível muito mais elevado de sofisticação. Entretanto todos os argumentos por eles apresentados foram rejeitados pela maioria tanto de biólogos como teóricos da informação (ver, por exemplo, os debates de livros e artigos por Dembski, Behe e Johnson aqui).

De qualquer forma, independentemente da hipótese Spetner ser correta ou errada, isso não implica em conseqüências religiosas, mesmo que possa ser contrário às intenções de Spetner.

Suas tentativas para interpretar a hipótese que apresentou como prova de determinados conceitos religiosos foram, em primeiro lugar, inúteis, e, segundo, sem sucesso, uma vez que tal hipótese pode ser igualmente vista como confirmar ou contradizer aqueles conceitos que não têm relação com sua veracidade.

Outro ponto fraco do livro pode ser visto como as tentativas de Spetner em querer provar sua hipótese, invocando a probabilidade, o acaso, e de informação, e de ter feito isso de uma maneira que não satisfaz as exigências do discurso científico, mesmo no nível de uma narrativa popular.

Spetner teve a chance de escrever uma discussão séria sobre um problema importante, sugerind sua visão do problema, em uma forma não sensacionalista. Ele escolheu outro caminho. Portanto o título do seu livro, “Not by Chance” se tornaria mais adequado, se mudasse para “A Missed Chance”.

Quanto àqueles que tratam o criacionismo e o DI como teorias de cunho científico, recomendo que se informem mais antes de estabelece-las como verdades absolutas e incontestáveis. Uma teoria científica não se constrói se apoiando em pontos ainda não compreendidos de outras teorias e dizendo-se que uma inteligência superior é a responsável pelo evento. Isso, francamente, não explica nada, além de ser excesso de preguiça mental.

Teorias científicas se erguem a partir da confirmação ou não de suas hipóteses, por meio de testes de falseabilidade.

Infelizmente, todas as marcas de criacionistas, que até então apareceram, sequer confirmam as hipóteses que propõem, além de tratar como irrelevantes quaisquer formas ou testes para demonstrá-las.

Simplesmente o fato de alguém deter uma credencial científica, não significa que esteja correto e que o que disser deva ser tomado como algo incontestável, acima de qualquer coisa, por ser uma autoridade no assunto.

Isso funciona bem para dogmas religiosos, desde que cada qual se encontre em seu sistema específico. Mas não é o caso para o discurso científico, onde confirmar ou rechaçar hipóteses é imprescindível.

Quanto a Spetner, provavelmente por ignorância em bioquímica e biologia, aliado à sua crença arraigada no Judaísmo (prefiro pensar assim), demonstrou estar completamente desinformado acerca de mecanismos celulares e de reações químicas.

Desse modo, seu livro pode ser classificado como mais uma peça sem qualquer fundamento pertencente aos "trabalhos científicos sobre a Ciência da Criação". O fato de algo estar em um livro, não significa que seja verrdadeiro ou que tenha obtido o respaldo da comunidade científica.

O trabalho de Spetner sequer foi submetido aos rigores da revisão científica. Trata-se apenas de sua forma de ver o mundo.


quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

PINTURAS DE NEANDERTHAL E A MAQUIAGEM CRIACIONISTA














Mais uma descoberta foi feita em relação aos neanderthais, demonstrando que, a cada descoberta sua capacidade se aproxima mais da do homo sapiens.

Vejamos o artigo abaixo:

Extraído daqui.

Uma equipe de pesquisadores disse que encontrou as primeiras evidências convincentes de que o homem de Neandertal pintava o corpo e usava bijuteria há 50 mil anos [sic].

Bem, não entendo por que há um (SIC) na frase, uma vez que as datações das ossadas e dos objetos foram feitas por métodos confiáveis. Para as ossadas, certamente, utilizou-se o método do C-14, sendo que os objetos, muitas vezes, são datados via datação relativa (aquela realizada em extratos sedimentares).

Provavelmente o autor como acha que a Terra e todo o universo têm 6 mil anos pois foram criados por deus, em um momento de inspiração deste magnânimo ser [SIC] e assim, acredite serm estes métodos e seus resultados um completo absurdo...

Conchas contendo resíduos de pigmentos usados para este fim foram encontradas em dois sítios arqueológicos em Múrcia, no sul da Espanha. O arqueólogo português, João Zilhão, que lidera a equipe a partir da Universidade de Bristol, na Inglaterra, disse que foram examinadas conchas que eram usadas como utensílios para a mistura e armazenamento de pigmentos.

Bastões pretos com um pigmento à base de manganês podem ter sido usados como tinta para o corpo. Artefatos semelhantes foram encontrados na África no passado. "(Mas) esta é a primeira evidência segura do uso de cosméticos", disse o arqueólogo à BBC. "A utilização dessas receitas complexas é novidade. É mais do que tinta para o corpo.

Os cientistas encontraram fragmentos de um pigmento amarelo que, segundo eles, pode ter sido usado como base para maquiagem. Eles também descobriram um pó vermelho junto com manchas de um mineral negro brilhante.

Algumas das conchas, entalhadas e pintadas com cores fortes, também podem ter sido usadas como bijuteria.
Até agora, muitos especialistas acreditavam que só os seres humanos modernos usavam maquiagem como adorno ou para rituais.
Durante um período na pré-história Neandertais e humanos podem ter compartilhado a Terra, mas Zilhão disse que a descoberta de sua equipe data de 10 mil anos antes do contato entre ambos e, portanto, ela não indicaria uma influência humana. Zilhão vê na prática do uso de pintura corporal e bijuteria um certo grau de sofisticação.

"As pessoas têm que acabar com essa idéia de que os Neandertais eram débeis mentais", afirmou.O estudo foi divulgado em Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS). (BBC Brasil)

Nota: Quem tem que acabar com essa idéia de que nossos ancestrais eram "débeis mentais" são os evolucionistas.

Para variar, a nota, como sempre, apresenta um teor extremamente infeliz e recheado de falta de conhecimento.

Em primeiro lugar: foi-se a época em que pouco se conhecia dos neanderthais. Creio que o autor ainda esteja parado um pouco após ao importante ano de 1856...

Em l856, no vale do Rio Neander, na Alemanha, foi descoberto o fóssil de um indivíduo que viveu nessa região há 70 mil anos. Depois dele, vários fósseis do mesmo tipo foram encontrados em outros lugares da Europa. Bastante semelhantes ao ser humano moderno, foram batizados de Homens de Neandertal.

Classicamente, o Homem de Neandertal foi considerado da mesma espécie que a nossa, porém de uma variedade diferente. Enquanto somos chamados de Homo sapiens sapiens, eles ganharam o nome de Homo sapiens neandertalensis.

O neanderthal era, de fato, de uma maior robustez física e o seu cérebro era, em média, ligeiramente mais volumoso. Progressos relativos à arqueologia pré-histórica e da paleoantropologia após a década de 1960, têm revelado o homem de neanderthal como um ser de uma grande riqueza cultural, ainda que seja, provavelmente, sobre estimada por alguns autores. Muitas questões, contudo, permanecem sem resposta, principalmente as relacionadas com a sua extinção.

Os neandertais estavam adaptados ao clima frio, como se infere do seu grande cérebro e nariz curto, mais largo e volumoso. Estas características são postas em destaque pela seleção natural nos climas frios, sendo também observadas nas modernas populações sub-árticas. Seus cérebros eram aproximadamente 10% maiores em volume que os dos humanos modernos. Em média, os neandertais tinham cerca de 1,65 m de altura e eram muito musculosos.

Ao se comparar os neanderthais com os humanos modernos, eles eram maiores em tamanho (musculatura bem desenvolvida) e possuíam feições morfológicas distintas, especialmente do crânio, que gradualmente acumulou aspectos distintos, particularmente devido ao relativo isolamento geográfico. A sua estatura atarracada pode ter sido uma adaptação ao clima frio da Europa durante o Pleistoceno.

A seguir está uma lista de traços físicos que distinguem os neandertais dos humanos modernos; de certa forma, nem todos eles podem ser usados para distinguir populações de neandertais específicas, de diversas áreas geográficas ou períodos de evolução, de outros humanos extintos.

Crânio:
- Fossa suprainíaca, um canal sobre a protuberância occipital externa do crânio
- Protuberância ocipital
- Meio da face projetado para frente
- Crânio alongado para trás
- Toro supraorbital proeminente, formando um arco sobre as orbitas oculares
- Capacidade encefálica entre 1200 e 1700 cm³ (levemente maior que a dos humanos modernos)
- Ausência de queixo
- Testa baixa, quase ausente
- Espaço atrás dos molares
- Abertura nasal ampla
- Protuberâncias ósseas nos lados da abertura nasal
- Forma diferente dos ossos do labirinto no ouvido















Pós-Crânio:
- Consideravelmente mais musculosos
- Dedos grandes e robustos
- Caixa torácica bastante arredondada
- Forma diferente da pélvis
- Rótulas grandes
- Clávícula alongada
- Omoplatas curtos e arqueados
- Ossos da coxa robustos e arqueados
- Tíbias e fíbulas muito curtas

Também, muitos desses traços se manifestam ocasionalmente nos modernos humanos, particularmente em determinados grupos étnicos. Nada se conhece sobre a forma dos olhos, orelhas e lábios dos neandertais. Por analogia, deveriam ter pele muito branca, para um melhor aproveitamento do calor nas frias latitudes da Europa pleistocênica. Estudos recentes revelam que, alguns indivíduos, teriam pele branca e cabelos ruivos.

Em artigo na revista científica Science, uma equipe de pesquisadores disse que extraiu DNA de ossos de dois neandertais e conseguiu resgatar um gene conhecido como MC1R.

No homem moderno, uma mutação nesse gene produz cabelos ruivos, mas, até agora, ninguém sabia qual era a cor do cabelo de nossos parentes extintos.

"Nós encontramos uma variante do MC1R nos neandertais, que não está presente nos seres humanos modernos, mas que causa um efeito no cabelo semelhante ao visto nos ruivos modernos", disse o chefe da pesquisa, Carles Lalueza-Fox, da Universidade de Barcelona.

O Homo Sapiens teria evoluído na África e tomado o lugar dos neandertais depois de entrar na Europa há cerca de 40 mil anos.

Análise de genes pode esclarecer alguns aspectos da biologia dos neandertais que não podem ser preservados em fósseis. Entre essas características estão:

Aparência - cabelo, pele e cor dos olhos -, bioquímica de suas células e até sua habilidade para desenvolver linguagem.

Ao que parece, os neanderthais tinham capacidade para a fala. Essa conclusão surgiu a partir da descoberta de um osso hióide pertencente a um neanderthal encontrado em Kebara (Israel). Este osso segura a raiz da língua no lugar e é um requisito para a fala humana. O osso encontrado é praticamente idêntico ao dos humanos modernos.

Quanto à cultura neanderthal, esta se denomina cultura
Musteriense englobada dentro do Paleolítico Médio, com datas compreendidas entre 300.000 e 40.000 a.C..

As ferramentas musterienses eram feitas pelos neanderthais em datas compreendidas entre 300.000 a.C. e 40.000 a.C., antes dos humanos modernos chegarem à Europa entre 70.000 a.C. e 32.000 a.C. Ferramentas de pedra similares tem sido encontradas em toda a Europa sub-ártica, Oriente Médio e norte da África.

É neste período que aparecem os primeiros rituais funerários, o canibalismo ritual e o culto ao urso das cavernas. Ou seja, os neanderthais já conheciam uma forma de ligação com o sobrenatural.

Os últimos vestígios da existência dos neandertais foram encontrados em Gibraltar, e datam do período entre 28 mil e 24 mil anos atrás.

Segundo lugar: O homem de neanderthal não é ancestral de humanos modernos.

A idéia de que o Homem de Neandertal foi um ancestral nosso, e que pertenceu à espécie Homo sapiens sofreu, em 1997, um abalo. Quatro pesquisadores, dois alemães e dois americanos, conseguiram recuperar uma pequena quantidade do DNA do osso de um Neandertal. Em outras palavras, recuperaram um trecho de seu material genético, e passaram a análisá-lo cuidadosamente, fazendo o seqüenciamento de suas bases nitrogenadas.

Os cientistas estudaram um trecho do DNA mitocondrial, uma ferramenta preciosa no estudo do parentesco evolutivo entre espécies. Veja o porquê. Qualquer tipo de DNA se degrada muito facilmente após a morte de um organismo, seja pela ação do oxigênio, da água ou dos microrganismos.

Como o DNA mitocondrial é mais abundante, ele tem maiores probabilidades de se conservar em órgãos fósseis. De fato, há centenas de mitocôndrias em cada célula, porém apenas um par de cromossomos de cada tipo. Em cada célula, teoricamente, encontram-se entre 500 e 1000 cópias de trechos de DNA mitocondrial, mas somente duas cópias do DNA nuclear.

Por outro lado, herdamos nossas mitocôndrias exclusivamente de nossa mãe; por isso, seu DNA não está sujeito a mudanças introduzidas pela recombinação genética, e é transmitido sem modificações de geração em geração – a não ser, é claro, pelas mutações que nele acontecem.

Dessa forma, a comparação entre dois trechos de DNA mitocondriais de origens diferentes poderá revelar diferenças devidas apenas às mutações. Quanto maior o número de diferenças, maior terá sido o tempo em que as espécies divergiram evolutivamente. Essa análise, assim, revela o maior ou menor parentesco evolutivo entre os indivíduos comparados. O DNA mitocondrial funciona, assim, como um verdadeiro relógio biológico.

O trecho de DNA recuperado foi comparado com o trecho correspondente de 986 outros tipos, provenientes de seres humanos atuais. O resultado foi claro: O DNA dos Neandertais é muito diferente.

Quando se compara o DNA do Neandertal com uma amostra de um ser humano atual, encontra-se pelo menos o triplo de divergências do que quando se comparam duas amostras de DNA atuais. Esses resultados fizeram então surgir a hipótese de que os Neandertais pertencem a uma espécie diferente da nossa e não a uma variedade da nossa espécie.

Os cientistas também acreditam que eles não se cruzaram com os ancestrais dos seres humanos atuais, não contribuindo, portanto, com seus genes para o "estoque" genético da espécie humana.

Os próprios pesquisadores reconhecem que a análise de um pequeno pedaço de um DNA de Neandertal não é conclusiva e não pode provar que ele pertencesse, de fato, a outra espécie. Assim mesmo, os resultados não deixam de representar uma forte evidência.

Os criacionistas sabem que eles eram superiores em inteligência, longevidade e força (lembre-se de que a ilustração acima é uma concepção abestalhada imaginada a partir de ossos por algum artista darwinista).

Sim, lógico... depois que cientistas sérios se empenham em trabalhar e descobrir como era o mundo destes seres humanos, ai os “criacionistas já sabiam”.

Mais uma vez. Tais ilustrações foram feitas numa época em que pouco se sabia destes seres humanos. Era uma época em que se compreendeu mal a teoria formulada por Darwin (o darwinismo social de Herbert Spencer).

Também, seria muito estranho para a igreja explicar quem seriam estes humanos diferentes, uma vez que somos a imagem e semelhança de um criador, tema este, muitas vezes usado para justificar a escravidão e a inferioridade de outros povos.

Um pouco sobre o que se conhece acerca da evolução humana
aqui e aqui.

Segundo Robert Foley – Os Humanos Antes da Humanidade – Uma perspectiva evolucionista Ed. UNESP (livro recomendado a quem queira entender um pouco sobre evolução humana), ao que se sabe, o homo erectus foi o primeiro hominídeo a emigrar a partir do Continente Africano e a povoar a Europa, a China e a Ilha de Java, além de alguns terem se mantido na África.

Ao que parece, era capaz de articular a fala, devido à forma de sua laringe, capacidade esta que talvez seria dominada pelo homo habilis.

Há duas interpretações para a filogenia hominídea:

A primeira considera o homo erectus um ramo amplo em evolução gradual de todos os hominídeos pertencentes ao período que vai de 1,5 a 0,5 milhão de anos atrás. Esta linhagem teria originado o homo sapiens igualmente amplo e variado.

Todavia, o mais adequado e considerar o homo erectus como uma forma asiática de hominídeo, sendo que a forma africana receberia o nome de homo ergaster.

Este ser se diversificou na áfrica e originou o homo erectus o qual emigrou a partir do Continente Africano atingindo a Ásia e continuando a habitar a África. Assim, o homo erectus se trata de um colateral em relação aos humanos modernos.

O homo ergaster e seus descendentes africanos originaram duas outras linhagens:

Uma delas foi a que, na Europa começa com uma forma de hominídeos bastante generalizada, mas com cérebros grandes que evolui no homo heildebergensis e estes nos neanderthais.

A outra linhagem representa a evolução na África até o homo sapiens moderno, o qual se dispersou pelo mundo, substituindo as formas mais arcaicas de hominídeos.

A evolução dos hominídeos pode ser vista como uma forma de irradiação adaptativa ocorridas nos últimos 5 milhões de anos.

Radiação adaptativa ou irradiação adaptativa é a denominação dada ao fenômeno evolutivo, pelo qual se formam, num curto espaço de tempo, várias espécies a partir de uma mesma espécie ancestral no qual diversos grupos se separaram, ocupando simultaneamente vários nichos ecológicos livres, eventualmente dando origem a várias espécies diferentes.

A primeira delas se refere aos macacos bípedes básicos, confinados ás partes mais secas da África. Esta radiação adaptativa deu origem a outras duas; Homo e Australopitecíneos Robustos, cada qual com seu próprio tema adaptativo (cérebro, dentes, ossos).

O gênero homo foi o que se irradiou menos em termos morfológicos e mais em termos ecológicos, pois foi o que mais se dispersou ao partir da África e deu origem a populações geográficas distintas.

Outro teor infeliz das notas e classificar a morfologia dos diversos hominídeos como anomalias ou doenças degenerativas.

Não se trata disso.

Como no caso do Hobbit:

No passado, foi descoberto que o neandertal sofria de raquitismo. Agora este, o "hobbit", sofre de cretinismo. Interessante é que montes de teorias acabam sendo formuladas levando em consideração o tamanho do esqueleto, o tamanho da caixa craniana e outros fatores passíveis de inúmeras interpretações. O que impede que os ditos "hominídeos" não passem de seres humanos com doenças degenerativas que causam deformação? Isso quando não são apenas fósseis de macacos...[MB]

A nota é completamente errônea, ou seja, para sermos diretos, está pautada na MENTIRA. Seria muita sorte que uma ossada de um doente, num universo populacional se preservasse.

O que sobra para paleontólogos analisarem, em termos de
evolução humana, ou de qualquer coisa, não é nada mais que ossos e o estrato geológico onde foi encontrado.

Quanto às teorias formuladas, elas não surgem porque alguém achou que determinada interpretação era a mais legal e, portanto, a melhor para explicar. Elas surgem da observação e interpretação de fatos que estão ali na mesa do estudioso.

É estranho que tantas doenças [SIC] não ocorram hoje, deixando um sujeito com um corpo de australopitecus, ou com a ossada de um hobbit, ou com a cabeça e o físico de um neanderthal
. Aliás, muitos fósseis devem ter sido criaturas "doentes".

Fósseis de macacos diferem muito daqueles do gênero homo. Exemplo disso (Roger Lewin – Evolução Humana - Ed. Atheneu) é a relação entre o sivapitecus e o ramapitecus (hoje denominado sivapitecus) que se pensava ser um hominídeo.

O sivapitecus relacionava-se ao orangotango e possuía forte laço morfológico com o ramapitecus. O sivapitecus possui semelhança morfológica do da face e do palato como orangotango.

Análises do pós-crânio (tronco e membros) demonstram que o sivapitecus possuía um tronco arcaico, estreito como o dos macacos.

Orangotangos e símios africanos compartilham muitas similaridades em sua anatomia do tronco. Dessa forma, em sendo o sivapitecus ancestral do orangotango, tais similaridades devem ter surgido independentemente (homoplasia), pois o símio fóssil da Ásia já teria divergido do estoque comum dos hominóides (símios antropóides).

Outra coisa: Como esse pigmento pôde ser preservado por tantos milhares de anos? Ou os neandertais conheciam técnicas de pintura superavançadas ou esse pigmento não é assim tão antigo...[MB]

Quem lê esta nota (técnicas de pintura superavançadas) pensa que os neanderthais e o homo sapiens, seu contemporâneo de época, eram cosmetologistas. Ou então que eles andavam se pintando há uns 5 mil anos e foram mortos pelo dilúvio, pois não tiveram seu lugarzinho na arca de Noé [SIC].

Vejamos o que diz um
artigo da FAPESP:

Um grupo liderado pelo português João Zilhão, do Departamento de Arqueologia e Antropologia da Universidade de Bristol, no Reino Unido, analisou conchas coloridas e perfuradas que teriam sido penduradas no pescoço como adereços pelos neandertais há cerca de 50 mil anos.

Os ornamentos foram encontrados nos sítios de Cueva de los Aviones e Cueva Antón, na província de Múrcia, no sudeste da Espanha. O estudo será publicado esta semana no site e em breve na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences.

Os pesquisadores também encontraram amostras de pigmentos amarelo e vermelho que teriam sido usados como cosméticos. A prática da ornamentação corporal é amplamente aceita pelos cientistas como evidência conclusiva de comportamento moderno e de pensamento simbólico entre humanos modernos, mas até agora não havia sido identificada em neandertais.

“Esta é a primeira evidência segura de que o comportamento dos neandertais foi organizado simbolicamente, isso cerca de dez mil anos antes dos primeiros registros de humanos modernos na Europa”, disse Zilhão.

Uma concha (Spondylus gaederopus) encontrada pelo grupo contém resíduos de uma massa pigmentosa avermelhada feita de lepidocrocita misturada com pedaços de hematita e de pirita (que tem aparência brilhante), indicando um tipo de uso que se esperaria em uma preparação cosmética.

Segundo os pesquisadores, a escolha desse tipo de concha como recipiente para uma mistura consideravelmente complexa pode estar relacionada à forma exuberante e às tonalidades chamativas originais, como carmim e violeta, o que levou ao seu uso em uma variedade de contextos arqueológicos em diversas regiões do mundo.

Os autores do estudo identificaram o pigmento amarelo, que deve ter sido armazenado em uma bolsa feita de pele ou de outro material perecível e não encontrado, como natrojarosita, um minério de ferro usado como cosmético no Antigo Egito.

Há tempos têm se discutido se ossos decorados e dentes perfurados e moldados, encontrados em Châtelperron, na França, pertencentes à denominada cultura chatelperroniana, teriam sido ou não feitos pelos neandertais. Para Zilhão, o novo estudo indica que sim.

“As evidências encontradas nos sítios em Múrcia removem as últimas nuvens de incerteza com relação à modernidade do comportamento e da cognição dos últimos neandertais e, por consequência, mostram que não há mais motivos para continuar a questionar a autoria neanderthal dos artefatos simbólicos da cultura chatelperroniana”, afirmou Zilhão.

O artigo Symbolic use of marine shells and mineral pigments by Iberian Neandertals, de João Zilhão e outros, poderá ser lido em breve por assinantes da PNAS em
www.pnas.org/cgi/doi/10.1073/pnas.0914088107.

Na verdade o que foram identificados traços destes pigmentos, não um estojo de maquiagem completo, como aqueles comprados em perfumarias que as mulheres adoram.

Certamente os pigmentos encontrados não eram feitos de óleos vegetais, animais, parafinas e outras substâncias orgânicas que se degradariam. Sua origem era mineral, provavelmente misturada com alguma substância que lhe conferisse certa fluidez, como gordura animal.

Assim, conclui-se que, mais uma vez, o desserviço criacionista colabora com a ignorância da terra das bananas e dos papagaios, por meio de notas cujo conhecimento de paleontologia e evolução humana são tendentes a zero.

Seria interessante que antes de dizerem tantas impropriedades estudassem um pouco e considerassem que não é dizer “foi deus” é a solução para todos os problemas.

É sempre a mesma coisa: a mentira, a má fé, o erro, ludibriar os menos preparados como adolescentes e crianças, a fim de sustentar uma crença fundamentalista sem o menor sentido.

É pena ainda saber que o lixo criacionista esteja invadindo as escolas travestindo a religião de ciência, como fazem as esdrúxulas teorias do Design inteligente e da ciência da criação.

Estamos chegando a um ponto em que retornaremos ao obscurantismo religioso, onde a igreja irá dizer o que e como devemos estudar a fim de respaldar as crenças religiosas e assim manter os fiéis presos aos templos engordando a conta de religiosos sem o mínimo de senso ético.

Mentir, mascarar a realidade, criar falsas realidades e omitir, para sustentar o ideário do deus da mentira, fazem parte do “NÃO DIRÁS FALSO TESTEMUNHO”. Senhores criacionistas; pensem nisso...


quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Resposta a uma pergunta distorcida












A publicação abaixo pertence ao site http://www.criacionista.blogspot.com/ e fora publicada em 12/01/2010 e sua pergunta é: De onde veio a informação externa?[MB] Esta perguntase trata de flagrante distorção baseada em uma afirmação de Hawking conforme segue abaixo:


Em inglês:

[Stephen Hawking said that] "At first, evolution proceeded by natural selection, from random mutations. This Darwinian phase, lasted about three and a half billion years, and produced us, beings who developed language, to exchange information.

But what distinguishes us from our cave man ancestors is the knowledge that we have accumulated over the last ten thousand years, and particularly, Hawking points out, over the last three hundred.

"I think it is legitimate to take a broader view, and include externally transmitted information, as well as DNA, in the evolution of the human race," Hawking said.

Traduzido:

Stephen Hawking disse: “Primeiro, a evolução agiu por meio da seleção natural de mutações aleatórias. Essa fase darwiniana durou 3,5 bilhões de anos, e nos produziu seres que desenvolveram a linguagem para a troca de informação.”

Mas o que nos distingue de nossos ancestrais homens da caverna é o conhecimento que temos acumulado ao longo dos últimos dez mil anos, e, particularmente, Hawking destaca, ao longo dos últimos trezentos anos.

“Acho que é legítimo tomarmos uma visão mais ampla, e incluir a informação transmitida externamente, bem como o DNA, na evolução da raça [SIC] humana”, disse o cientista.

(The Atlantic; via blog Desafiando a Nomenklatura Científica)


Segue uma nota abaixo, a qual tenta confundir o leitor com a idéia falsa de que Hawking deixa indefinida a resposta e de que a informação se refere a acrescentar pedaços pedaços de informação a um genoma, dando a idéia de que somenta algo superior e desconhecido poderia fazer.

Vejamos:


Nota: Independentemente da visão darwinista do autor de Uma Breve História do Tempo e O Universo Numa Casca de Nós, a questão é: De onde veio a informação externa?[MB]

Resposta:

De início recomendaria ao protagonista da nota que interpretasse melhor os textos que lê, pois é óbvio que Hawking não deixou nada no ar e nem é sem nexo sua colocação.

Hawking não se referiu a informações vindas do além, entrando, ao léu, na composição de genomas, como num passe de mágica (deus disse e ...pufffff!!! um um homo erectus virou homem). Isso é uma falsa indução a uma idéia a qual ele jamais faria menção, ou sequer, ele cogitaria em pensar, como cientista sério que é. Essa postura é a típica dos pseudocientistas "brincalhões e fanfarrões" do criacionismo e de sua versão requentada, o DI.

A questão a que Hawking se refere, não é uma questão de biologia propriamente dita, referente ao que torna o nosso genótipo humano, mas sim ao que nos faz humanos em termos comportamentais, que nos permite evoluir.

O que nos faz humanos é nossa capacidade de aprender com o outro, ou seja, é uma questão de cultura. Veja que no segundo parágrafo, Hawking menciona o conhecimento acumulado e não "pacotes de informação" oriundos do além.


Mesmo este acréscimo de informações ao genoma, já foi discutido em postagens anteriores (aqui).


Segundo a sociobiologia, ciência que atribui uma vertente biológica ao co
mportamento, muitos animais, não apenas o homem, antropóides e macacos em geral, possuem uma forma de cultura, como uma gramática entre macacos, onde cada som representa um predador, uma comida, uma ameaça, cetáceos e elefantes que se comunicam com sons variados deesde infra até ultra-som.

Porém, vamos nos ater aos macacos:


Macacos sabem usar ferramentas e desenvolvem mais e mais habilidade à medida que aprendem a usá-las. Ao lado, vemos um macaco-prego demonstrando suas habilidades.

Sabem planejar para o futuro, como a coleta de coquinhos, que são expostos ao Sol, 3 dias antes de serem quebrados. Furam árvores que possuem seiva doce e esperam até que a seiva flua para se deliciarem uns 2 dias depois.

Macacos sabem mentir e ser trapaceiros, mentindo acerca da presença de predadores, para descerem até o rio e resgatarem um alimento que em condições normais teria de ser dado aos membros de alta classe do bando.

É impre
ssionante, mas sentem a ausência de seus mortos em luta e se rescentem disso, alimentando espírito de vingança contra seus rivais.

Sofrem de stress, depressão, pressão alta e úlceras quando perdem seu posto no bando ou quando têm suas fêmeas tomadas por rivais, chegando muitas vezes a não ter apetite e morrerem.

Sabem se defender contra ataques de predadores, arremessando pedras contra eles.


As alegações acima expostas, são oriundas de um documentário que assisti no Animal Planet, cujo nome é "Macacos Inteligentes".

Como podemos perceber, é evidente que a essência do comportamento humano pode ser encontrada até mesmo nos mais simples macacos. Linguagem, amor, culpa, inveja, generosidade e raiva estão presentes nesta história fascinante de astúcia e perícia.

Certamente, estes seriam os itens referentes à informação transmitida externamente, o que pode ser definido como comportamento cultural, que, segundo a sociobiologia, é a nossa vantagem em sermos uma das espécies moldadas pela evolução a viver em sociedade e aprender habilidades com os outros membros de nossa espécie.

A cultura é o grande salto evolutivo da espécie humana, permitindo o desenvolvimento social de nossa espécie e o acúmulo de conhecimentos, bem como sua transmissão a outros seres humanos.


É a partir da cultura que nossos costumes, idiomas, evolução tecnológica, escrita, crença religiosa, preconceitos e regramentos morais tomam corpo e determinam os rumos de nossas sociedades.

É dentro desta relatividade cultural que o ser humano se torna humano e aprende ao manter contato com outras culturas, conforme tem ocorrido, desde que grupos humanos distintos entraram em contato uns com os outros.

Assim, não se trata de um ser ou seres divinos "socarem" informação em nosso genoma e, tão pouco, consiste em "enfiarem" cultura em nossas cabeças, nos tirando do estado animalesco e nos fazendo pensar como gente.

Este processo de aperfeiçoamento da condição humana foi paulatino e muito demorado, mutas vezes, havendo estagnação tecnológica de milhões de anos
e, no que se refere aos costumes e normas de convivência social, muitas vezes houve avanços e retrocessos, conforme podemos presenciar em teocracias islâmicas e em tribos isoladas.

Desse mo
do, espero ter sanado o estrago que criacionistas fazem ao pinçar espertamente frases, sem fazer uma análise crítica daquilo que cientistas sérios dizem. Simplesmente criam falsas idéias e "colocam" na boca dos outros aquilo que é fruto da imaginação fértil que somente o fanatismo e o fundamentalismo podem criar.

O documentário em questão é altamente recomendado para dar um choque de realidade e conhecimento à vida de religiosos que estão encerrados no mundo maravilhoso das religiões fundamentalistas, onde há cobras falantes, leões vegetarianos, terópodes pastando ao lado de saurópodes, dentes de sabre, megatérios, trilobites, zebras e aves do terror, com um homem feito de barro e uma mulher retirada de sua costela.

Como sempre digo, criacionistas são criadores de mentiras, bobagens, má fé e falsas idéias. Isso se dá porque lêem e interpretam mal o que está escrito em livros sagrados.

É o problema do apego à literalidade, o que anula qualquer tentativa de visão crítica e real compreensão, do que os textos religiosos querem de fato dizer, por meio de suas metáforas.


É uma pena que ao saírem tanto em busca de provas de seu deus da mentira se esqueçam do "NÃO DIRÁS FALSO TESTEMUNHO CONTRA TEU PRÓXIMO", o
que também se subentende como: não mentir, não mascarar e não omitir a verdade.


Uma pergunta aos criacionistas: Que raio de deus e de religião são estes que têm de ser sustentados pela má fé, pela ignorância alheia e por mentiras?






Esse tipo de deus, de ciência e de religião eu não quero...Estou fora!!!