O zoroastrismo, também conhecido como masdeísmo, apareceu na antiga Pérsia, atual Irã, no século VI a.C. e sua origem está diretamente ligada ao contexto social da época, onde existiam três classes: A dos chefes e sacerdotes, a dos guerreiros e a dos criados. Esta divisão refletia-se na religião onde cada casta possui seus deuses, cuja importância era proporcional à camada social. Zoroastro ou Zaratustra, fundador do zoroastrismo, ao observar esta realidade, sentiu-se insatisfeito com a situação social do seu país e com as posições filosóficas vigentes, resolveu então iniciar uma busca de respostas para suas indagações. Através de suas observações e estudos, Zoroastro concluiu que o mundo é um local bom, criado por um Deus bom, generoso e amoroso, cujo desejo é que todos os homens sejam felizes. Tendo chegado a estas conclusões Zaratustra, então com 40 anos, desenvolveu a nova religião que iria substituir o politeísmo praticado e que possuía um lado filosófico, mas também um caráter prático para a vida das pessoas.
A religião pré-zoroastriana
A religião do Irã antes do surgimento do zoroastrismo apresentava semelhanças com a da Índia Védica, dado que as populações que habitavam estes espaços descendiam de um mesmo povo, os arianos (ou indo-iranianos). Era uma religião politeísta, na qual o sacríficio dos animais e o consumo de uma bebida chamada haoma (em sânscrito: soma) desempenhavam nela um importante papel. Esta bebida era feita a partir de urina eliminada após o consumo de uma droga.Os seres divinos enquadravam-se em duas classes, ambas de características positivas: os ahuras (em sânscrito: asuras; "senhores") e os daivas (em sânscrito: deivas; "deuses").
Os princípios do zoroastrismo consistem na existência de um deus único (Ahura Mazda ou Ormuz Mazda), sábio, criador e guia de tudo, que não tem preferências, que acolhe a todos com o mesmo carinho. Ahura Mazda é ajudado por seis espíritos Amesas Spenta (Imortais Sagrados), que o auxiliam na realização de seus desígnios: Vohu-Mano (Espírito do Bem), Asa-Vahista (Retidão Suprema), Khsathra Varya (Governo Ideal), Spenta Armaiti (Piedade Sagrada), Haurvatat (Perfeição) e Ameretat (Imortalidade), que Juntos travam luta permanente contra o princípio do mal, Angra Mainyu (ou Ahriman), por sua vez acompanhado de entidades demoníacas: o mau pensamento, a mentira, a rebelião, o mau governo, a doença e a morte que procuram corromper os homens trazendo o mal para o mundo. O símbolo de Ormuz é o fogo, estando presente em todas as cerimônias como representação viva do deus maior.
O zoroastrismo é uma religião positivista, ética, baseada no conhecimento e na responsabilidade individual, seus ensinamentos estabelecem a prática das boas ações, a pureza de pensamentos, palavras e obras, a pureza de coração, a verdade, a caridade, a bondade, a humildade, o respeito, a amizade, a felicidade.
As principais características deste sistema religioso são:
- Dualismo;
- Crença na imortalidade da alma, na vinda de um messias, na ressurreição dos mortos, no juízo final;
- Condenação da cobiça, calúnia, usura, ascetismo, jejum;
- Divindades não representadas em escultura;
- Inexistência de templos;
Zaratustra viveu na Ásia Central, num território que compreendia o que é hoje a parte oriental do Irã e a região ocidental do Afeganistão. Não existe um consenso em torno do período em que viveu; os acadêmicos têm situado a sua vida entre 1750 e 1000 a.C.. Sobre a sua vida existem poucos dados precisos, sendo as lacunas preenchidas por lendas.
De acordo com os relatos tradicionais zoroastrianos, Zaratustra viveu no século VI a.C.. Pertencia ao clã Spitama, sendo filho de Pourushaspa e de Dugdhova. Zaratustra era o sacerdote do culto dedicado a um determinado ahura. Aos trinta anos, enquanto participava num ritual de purificação num rio, Zaratustra viu um ser de luz que se apresentou como sendo Vohu ManahAhura Mazda (Deus) e de outros cinco seres luminosos, os Amesha Spentas. Este foi o primeiro de uma série de encontros que manteve com Ahura Mazda, que lhe revelou a sua mensagem.
Provindo do noroeste do Irã, filho de um sacerdote, Zaratustra (nome persa) tinha uma vida tranqüila até os trinta anos. Nesta ocasião, ele clamou aos céus para obter respostas de Deus.
As autoridades civis e religiosas opunham-se às doutrinas de Zaratustra. Após doze anos de pregação Zaratustra abandonou a sua região natal e fixou-se na corte do rei Vishtaspa na BáctriaAfeganistão). Este rei e sua esposa, a rainha Hutosa, converteram-se à doutrina de Zaratustra e o zoroastrismo foi declarado como religião oficial do reino. Zaratustra foi casado duas vezes e teve vários filhos. Faleceu aos setenta e sete anos assassinado por um sacerdote. (região que se encontra no actual
O principal documento que nos permite conhecer a vida e o pensamento religioso de Zaratustra são os Gathas, dezessete hinos compostos pelo próprio Zaratustra e que constituem a parte mais importante do Avesta ou livro sagrado do zoroastrismo. A linguagem dos Gathas assemelha-se à que é usada no Rig Veda, o que situaria Zaratustra entre 1500-1200 a.C. e não no século VI a.C.. Vivia na Idade do Bronze, numa sociedade dominada por uma aristocracia guerreira.
Para alguns investigadores, muito mais do que o fundador de uma nova religião, Zaratustra foi antes um reformador das práticas religiosas indo-iranianas. Ele propôs uma mudança no panteão dominante que ia no sentido do monoteísmo e do dualismo. Na perspectiva de Zaratustra, os ahuras passam a ser vistos como seres que escolheram o bem e os daivas o mal. Na Índia, o percurso seria inverso, com os ahuras a representarem o mal e os daevas o bem.
Foi orientado a entender que existia um Deus-Sábio, chamado Ahura Mazda (ou Ohrmazd), auxiliado pelos anjos e o seu oposto, o Espírito do Mal Angra Mainyu.
Para transmitir estes ensinamentos, peregrinou por várias regiões fazendo sua primeira conversão com o rei Vishtaspa, da Pérsia oriental. A ajuda do monarca colocou em prática a sua fé com êxito.
O Zoroastrismo é composto por dezessete canções ou hinos (Gathas) contidas em textos conhecidos como Yasna, que revelam a ligação angelical entre Deus e os seres humanos.
Também dá ênfase na responsabilidade pessoal para que todos sejam felizes através dos bons atos praticados. O ensinamento de Zaratustra é essencialmente otimista, já que é mais fácil percorrer o caminho do bem do que o mal.
Seus seguidores são tolerantes com todas as religiões. No século VII a.C. quando "Ciro o grande" fundou o Império Persa, o Zoroastrismo tornou-se a religião oficial do Estado passando a ser praticada na Grécia, Egito e norte da Índia.
Influenciou a religião dos hebreus quando estavam exilados no Egito com a presença do entendimento sobre os anjos, livre-arbítrio e a bondade essencial contida no mundo.
Zaratustra morreu aos setenta e sete anos. Mesmo depois da sua morte, a religião continuou sendo difundida.
Acredita-se que os Reis Magos eram sacerdotes zoroastristas.
A filosofia desta religião influenciou o Cristianismo e o Islamismo, mas foi banida da Pérsia pelos muçulmanos no século IX.
Zaratustra elevaria Ahura Mazda ("Senhor Sábio") ao estatuto de divindade suprema, criadora do mundo e única digna de adoração.
Os seguidores do Zoroastrismo seguiram para a Índia ficando conhecidos como parses ou pars (derivação da palavra indiana persas).
Para os parses, a limpeza é algo muito importante, banhando-se antes de qualquer culto. Eles usam um manto chamado kushti contendo cordões que representam os capítulos da Yasna.
Os devotos usam um sadre (uma camisa que os diferencia das diferentes religiões na Índia) e os sacerdotes usam túnicas e turbantes brancos.
Oram-se cinco vezes ao dia. A linguagem usada é o persa antigo. Os templos são fechados e não é acessível as pessoas de outras religiões.
A maneira como lidam com os mortos é bastante peculiar. Os parses colocam os corpos nas chamadas "Torres do Silêncio" ou Dakhmas onde são comidos por aves e animais selvagens. Esta seria a missão do abutre, de acordo com a tradição parse.
Para o Zoroastrismo não existe o inferno. As almas cruzam a Ponte da Inspeção (ou Ponte do Julgamento) em direção ao céu. Se elas fizeram coisas boas, serão escoltadas por uma bela mulher de maneira que caminhem seguramente. Se fizeram o mal, uma mulher feia acolhe-os levando-os para debaixo da ponte (conhecida como Casa da Mentira) onde serão purificados para entrarem posteriormente no céu.
A historia do Zoroastrismo começou a enfraquecer no século VII. d C.
Posteriormente, a perseguição aumentou sob a dinastia Qajar (1796-1925). Quando o Xá Reza Pahlevi destronou o último Qajar em 1925, houve uma trégua na perseguição, já que eles eram tidos como nobres da antigo Irã.
Dois princípios fundamentais regem o sistema de crenças desta religião: a existência de Deus e do Diabo e a volta do Paraíso à Terra. Os livros sagrados do Zoroastrismo são: o Avesta, o livro sagrado das orações, dos hinos, dos rituais, das instruções, da prática e da lei; o Gathas, que são hinos atribuídos a Zoroastro; o Pahlavi, que consiste na literatura zoroastrista. Ahura Mazda é a deidade suprema, criador de todas as coisas boas, enquanto Ahriman é o princípio destrutivo que rege a ganância, a fúria e as trevas; a bondade irá triunfar; os mortos ressuscitarão. A origem do Zoroastrismo é remontada ao século VI a. C., tendo sido fundada pelo profeta persa Zoroastro.
Outro conceito religioso por si apresentado foi o dos Amesha Spentas ("Imortais Sagrados"), que podem ser descritos como emanações ou aspectos de Ahura Mazda. Nos Gathas os Amesha Spentas são apresentados de uma forma bastante abstracta; séculos depois eles serão transformados e elevados ao estatuto de divindades. Cada Amesha Spenta foi associado a um aspecto da criação divina.
Os Amesha Spentas são:
- Vohu Manah ("Bom Pensamento"): os animais;
- Asha Vahishta ("Verdade Perfeita"): o fogo;
- Spenta Ameraiti - ("Devoção Benfeitora"): a terra;
- Khashathra Vairya - ("Governo Desejável"): o céu e os metais;
- Hauravatat ("Plenitude"): a água;
- Ameretat ("Imortalidade"): as plantas.
Os Gathas revelam também um pensamento dualista, sobretudo no plano ético, entendido como uma livre escolha entre o bem e o mal. Posteriormente, o dualismo torna-se cosmológico, entendido como uma batalha no mundo entre forças benignas e forças maléficas.
Atualmente os zoroastrianos dividem-se entre o dualismo ético ou o dualismo cosmológico, existindo também outros que aceitam os dois conceitos.
Alguns acreditam que Ahura MazdaAngra Mainyu (ou Ahriman), responsável pela doença, pelos desastres naturais, pela morte e por tudo quanto é negativo. Angra Mainyu não deve ser visto como um deus; ele é antes uma energia negativa que se opõe à energia positiva de Ahura Mazda, tentando destruir tudo o que de bom foi feito por ele (a energia positiva de Deus é chamada de Spenta Mainyu).
No final Angra Mainyu será destruído e o bem triunfará. Outros zoroastrianos encaram o dualismo no plano interno de cada pessoa, como a escolha que cada um deve fazer entre o bem e o mal, entre uma mentalidade progressista e uma mentalidade retardatária.
Os zoroastrianos acreditam que Zaratustra é um profeta de Deus, mas este não é alvo de particular veneração. Eles acreditam que através dos seus ensinamentos os seres humanos podem aproximar-se de Deus e da ordem natural marcada pelo bem e justiça (asha).
A época aqueménida
Entre a morte de Zaratustra e a ascensão do Império Aqueménida no século VI a.C. pouco se sabe sobre o zoroastrismo, a não ser que se difundiu por todo o planalto iraniano.
Em 549 a.C. Ciro II derrota Astíages, rei dos Medos, e funda o Império Persa, que unia sob o mesmo ceptro os Medos e os Persas. A dinastia à qual pertencia, os Aqueménidas, adoptará o zoroastrismo como religião oficial do império, mas será tolerante em relação às religiões dos povos que nele vivem. Foi o rei Ciro II (dito O Grande) que libertou os Judeus do seu cativeiro e permitiu o regresso destes à Palestina. Provavelmente o primeiro rei persa que reconheceu oficialmente esta religião foi Dario I, como mostra uma placa de ouro na qual o rei se proclama devoto de Ahura Mazda.
Dario teve que combater um usurpador chamado Gautama, que se fazia passar por um filho de Ciro. Gautama ordenou a destruição de santuários pagãos que seriam restaurados por Dario. Por causa deste comportamento atribui-se por vezes a Gautama a adopção do zoroastrismo.
Os Medos possuíam uma casta ou tribo sacerdotal, conhecida como os Magi, que adoptaram a religião de Zaratustra, não sem introduzir alterações na mensagem original e incorporando antigas concepções religiosas. Os Magi seriam a classe sacerdotal dos três grandes impérios persas. Casavam dentro do seu grupo e expunham os corpos dos mortos às aves de rapina, duas práticas que viriam a ser adoptadas pelos zoroastrianos. Os sacerdotes recuperam os antigos sacrifícios e o uso do haoma. Os Amesha Spentas, inicialmente abstractos no pensamento de Zaratustra, foram personalizados e antigas divindades passaram a ser adoradas. Entre essas divindades (yazatas) estavam o Sol, a Lua, Tishtrya (deus da chuva), Vayu (o vento), Anahita (deusa das águas) e Mitra.
Foram também erigidos grandes templos e altares de fogo ao ar livre. Artaxerxes II (404-358 a.C.) chegou mesmo a ordenar a construção de templos em honra de Anahita nas principais cidades do império. Durante este período foi também criado o calendário zoroastriano e desenvolveu-se o conceito do Saoshyant, segundo o qual um descendente de Zarastustra, nascido de uma virgem, viria para salvar o mundo.
A época arsácida e sassânida
Com a conquista da Pérsia por Alexandre Magno, em 330 a.C., o zoroastrismo sofreu um duro golpe, tendo a classe sacerdotal sido dizimada e muitos templos destruídos. O incêndio da capital do império, Persépolis, provocaria o desaparecimento de textos da religião conservados na biblioteca da cidade.
Durante o governo dos Selêucidas o zoroastrismo foi respeitado e geraram-se sincretismos entre este e a religião grega (por exemplo, ocorreu uma associação de Zeus a Ahura Mazda). Mas um verdadeiro renascimento do zoroastrismo só começa durante a dinastia dos Partos Arsácidas no século III a.C.. Nesta fase foi compilado o Vendidad, uma parte do Avesta que recolhe textos relacionados com medicina e rituais de pureza.
No período da dinastia Sassânida (224 a.C. - 651 d.C.) o zoroastrismo foi completamente restaurado graças à intervenção de Kartir e de Tansar. O zoroastrismo tornou-se a religião mais comum entre as massas, sendo praticado numa vasta área que ia do Médio Oriente às portas da China. Nesta época assistiu-se à formação de uma verdadeira "Igreja" zoroastriana centrada na Pérsia, foram banidas da prática religiosa as imagens, criou-se o alfabeto avestano e novos textos passam a integrar o Avesta, tais como o Bundahishn e o Denkard. Ao contrário do período Aqueménida, este período ficou marcado pela intolerância em relação a outras religiões, tendo sido promovidas perseguições aos judeus e cristãos. O clero zoroastriano detinha um grande poder e assegurava que cada novo monarca fosse zoroastriano; pesados tributos recaíam sobre a população como forma de sustentar a forma de vida do clero.
A chegada do islão
Apesar da conversão da Pérsia ao Islão após a conquista dos árabes no século VII, o zoroastrismo sobreviveu em algumas comunidades persas, agrupadas nas cidades de Yazd e Kerman. Os muçulmanos consideraram os zoroastrianos como dhimmis, ou seja, praticantes do monoteísmo (à semelhança dos judeus e dos cristãos) e como tal foram sujeitos a pesados tributos cujo objectivo era estimular a conversão ao Islão.
No século X um grupo de zoroastrianos deixou a Pérsia e fixou-se na Índia, na região do Gujarate. Aqui estabeleceram um comunidade local que recebeu o nome de "Parsi" ("Persas" na língua gujarate) e que permanece naquele território até aos nossos dias. Esta comunidade zoroastriana foi influênciada pelos tradições locais e as suas particularidades levam a que se fale em Parsismo. Até 1477 os Parsis não mantiveram contacto com os zoroastrianos que permaneceram no Irão. Nesse ano restabeleceu-se o contacto sob a forma de troca de correspondência que durou até 1768.
No século XIX a conquista da Índia pelos britânicos levaria a um confronto entre os valores tradicionais dos parses e os valores religiosos e culturais do Ocidente. John Wilson, um missionário cristão da Escócia, atacou a religião dos Parses, alegando que o dualismo presente era contrário ao verdadeiro espírito monoteísta. Martin Haug, um filólogo alemão, que viveu e ensinou em Puna durante a década de 60 do século XIX, concluiu que apenas os Gathas eram as palavras originais do profeta Zaratustra. Estes acontecimentos propiciaram o início de um movimento de reforma religiosa, que divide a comunidade zoroastriana entre aqueles que pretendem um regresso a concepções que entendem como mais puras e próximas da mensagem inicial, rejeitando o excessivo ritualismo, e os tradicionalistas.
Textos religiosos
O principal texto religioso do zoroastrismo é o Avesta. Julga-se que a actual forma do Avesta corresponde a apenas uma parte de Avesta original, que teria sido destruído em resultado da invasão de Alexandre o Grande.
O Avesta divide-se em várias secções, das quais a principal é o Yasna (Sacríficios). O Yasna inclui os Gathas, hinos que se julga terem sido compostos pelo próprio Zaratustra. O Vispered é essencialmente um complemento do Yasna. O Vendidad é a secção que contém as regras de pureza da religião, podendo ser comparado ao Levítico da Bíblia. Os Yashts são hinos dedicados às divindades.
Para além do Avesta existem os textos em palavi, escritos na sua maior parte no século IX.
Escatologia
Escatologia individual
A escatologia individual do zoroastrismo afirma que três dias após a morte a alma chega à Ponte Cinvat. A alma de cada pessoa percepciona então a materialização dos seus actos (daena): uma alma que praticou boas acções vê uma bela virgem de quinze anos, enquanto que a alma de uma pessoa má vê uma megera.
Cada alma será julgada pelos deuses Mithra, Sraosha e Rashnu. As almas boas poderão atravessar a ponte, enquanto que as más serão lançadas para o inferno; as almas praticaram uma quantidade idêntica de boas e más acções são enviadas para o Hamestagan, uma espécie de purgatório.
As almas elevam-se ao céu através de três etapas, as estrelas, a Lua e o Sol, que correspondem, respectivamente, aos bons pensamentos, boas palavras e boas acções. O destino final é o Anagra Raosha, o reino das luzes infinitas.
Sacerdócio
Existem três graus de sacerdócio no zoroastrismo contemporâneo. O sacerdócio tende a ser hereditário, embora não seja obrigatório que o filho de um sacerdote venha a seguir a profissão do pai.
Os sacerdotes de grau inferior recebem o nome de ervad. Para aceder a este grau inicial é preciso conhecer de cor as escrituras do zoroastrismo, bem como a lei. O ervad desempenha apenas uma função de assistente nas cerimónias mais importantes da religião. Acima de si encontra-se o mobed e por sua vez acima deste o dastur, que é responsável pela administração de um ou vários templos (o dastur é por vezes comparado ao bispo do cristianismo).
Locais de culto
Os templos religiosos do zoroastrismo, onde se desenrolam as cerimónias e se celebram os festivais próprios da religião, são conhecidos como templos de fogo.
Estes edifícios possuem duas partes principais. A mais importante é a câmara onde se conserva o fogo sagrado, que arde numa pira metálica colocada sobre uma plataforma de pedra. Os sacerdotes zoroastrianos visitam o fogo cinco vezes por dia e procuram mantê-lo acesso, fazendo oferendas sândalo purificado. Recitam também orações perante o fogo com a boca tapada por um tecido, de modo a não contaminarem o fogo. Este respeito pelo fogo sagrado levou a que os zoroastrianos fossem chamados de "adoradores de fogo", o que constitui um erro, na medida em que o fogo não é adorado em si, mas como um símbolo da sabedoria e luz divina de Ahura Mazda. Os templos de fogo mais importantes do Irão e da Índia mantêm uma chama de fogo sagrado a arder perpetuamente.
Rituais
O zoroastrismo não determina que os membros devam realizar um número obrigatório de orações por dia. Os zoroastrianos podem decidir quando e onde desejam orar. A maioria dos zoroastrianos reza várias vezes por dia, invocando a grandeza de Ahura Mazda. As orações são feitas perante uma chama de fogo.
O Navjote (ou Sedreh-Pushi como é conhecido entre os zoroastrianos do Irão) é uma cerimónia de iniciação obrigatória destinada às crianças zoroastrianas que deve acontecer entre os sete e os quinze anos de idade. É importante que a criança já conheça as principais orações da religião.
Antes da cerimónia começar a criança toma uma banho ritual de purificação (Naahn). Durante a cerimónia, conduzida pelo mobed e na qual estão presentes familiares e amigos, a criança recebe o sudreh (ou sedra, uma veste branca de algodão) e o kusti (um cordão feito de lã) que ata na sua cintura. A partir deste momento o zoroastriano deve usar sempre o sudreh e o kusti.
O casamento zoroastriano implica dois momentos distintos. No primeiro os noivos e os seus padrinhos assinam o contrato de casamento. Segue-se a cerimónia propriamente dita durante a qual as mulheres da família colocam sobre a cabeça dos noivos um lenço; simultaneamente dois cones de açúcar são esfregados um contra o outro. O lenço é então cosido, simbolizando a união do casal. As festas do casamento podem prolongar-se entre os três e os sete dias.
Práticas funerárias
Os zoroastrianos acreditam que o corpo humano é puro e não algo que deva ser rejeitado. Quando uma pessoa morre o seu espírito deixa o corpo num prazo de três dias e o seu cadáver é impuro. Uma vez que a natureza é uma criação divina marcada pela pureza não se deve polui-la com um cadáver.
Na prática esta crença implicou que os cadáveres dos zoroastrianos não fossem enterrados, mas colocados ao ar livre para serem devorados por aves de rapina, em estruturas conhecidas como Torres do silêncio (dokhma)
Após a morte um cão é trazido perante o cadáver, num ritual que se repete cinco vezes por dia. No quarto onde se encontra o cadáver arde uma pira de fogo ou velas durante três dias. Durante este tempo os vivos evitam o consumo de carne.
Os participantes no funeral vestem-se todos de branco, procurando-se evitar o contacto directo com o defunto. O cadáver (sem roupa) é então depositado numa torre do silêncio. Depois das aves terem consumido a carne, os ossos são deixados ao sol durante algum tempo para secarem.
Por motivos vários (relacionados por exemplo com a diminuição da população de aves de rapina ou com a ilegalidade desta tradição em alguns países) esta prática tem sido abandonada zoroastrianos residentes em países ocidentais e até mesmo no Irão e Índia, optando-se pela cremação.
Festas
As comunidades zoroastrianas actuais regem-se por três calendários diferentes: o Fasli (usado pelos Zoroastrianos Iranianos e alguns Parses), o Shahanshahi (usado pela maioria dos Parses) e o Qadimi (este último o menos utilizado de todos), o que significa que as festas religiosas podem ser celebradas em diferentes dias. Nestes calendários cada mês e cada dia do mês recebe o nome de um Amesha Spenta ou de um Yazata.
Os zoroastrianos celebram seis festivais ao longo do ano - os Gahanbars - cujas origens se encontram nas diferentes actividades agrícolas dos antigos povos do planalto iraniano e nas estações do ano.
Noruz é o Ano Novo Persa celebrado no dia 21 de Março no calendário Fasli (os Parses celebram o Noruz em meados de Agosto). Por volta deste dia os zoroastrianos colocam nas suas casas uma mesa com sete itens: um vaso com rebentos de lentilhas ou de trigo, um pudim, vinagre, maças, alho, pó de sumagre, frutos da árvore jujube; outros elementos que enfeitam a mesa são moedas, o Avesta, um espelho, flores e uma imagem de Zaratustra. O Noruz é celebrado com o uso de roupas novas, com o consumo de pratos especiais, com a troca de presentes e com a celebração de cerimónias religiosas. O fogo tem nele um significado especial. Seis dias depois do Noruz os zoroastrianos festejam o nascimento de Zaratustra.
O zoroastrismo hoje
A comunidade zoroastriana existente no mundo contemporâneo pode ser dividida em dois grandes grupos: os Parses e os zoroastrianos iranianos. Para além destes existem também ocidentais convertidos à religião. Segundo estimativas de 2004 o número de zoroastrianos era de 124 mil pessoas.
Na Índia os Parses são reconhecidos pelas suas contribuições à sociedade no domínio económico, educativo e caritativo. Muitos vivem em Mumbai (Bombaim) e têm tendência para praticar a endogamia, desencorajando o proselitismo religioso. Vêem a sua fé como étnica.
Em geral os zoroastrianos iranianos mostram-se mais abertos a aceitar conversões. Concentram-se nas cidades de Teerão, Yazd e Kerman. Falam uma variante da língua persa, o Dari (diferente do Dari falado no Afeganistão). Receberam o nome de "gabars", termo inicialmente com conotações pejorativas (no sentido de "infiel"), mas que perdeu muito da sua carga negativa.
Uma diáspora zoroastriana pode ser encontrada em países como o Reino Unido, Canadá (6 mil pessoas), Estados Unidos (11 mil pessoas) e Austrália (2700 pessoas) e nos países do Golfo Pérsico (2200 pessoas).
A UNESCO declarou o ano de 2003 como ano de celebração dos 3000 anos da religião e cultura zoroastriana, numa iniciativa proposta pelo governo do Tadjiquistão.
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