Mais uma vez, para variar, registrei má fé, falácias e sofismas, além de erros crassos no que se referem à discussão do tema sob discussãoconforme explorarei mais adiante.
Também há que se salientar que as perguntas elaboradas pelo entrevistador possuem cunho altamente tendencioso, que levam ao leigo cometer erros de raciocínio com o fito de invalodar a teroria da evolução.
O tema segue abaixo e foi extraído daqui: meus comentários seguem em verde.
Bióloga,
com doutorado pela USP (na área de Microbiologia).
A Dra. Márcia Oliveira de Paula é bióloga, formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde também concluiu seu mestrado em Ciências, com ênfase em Microbiologia. De 1989 a 1991, lecionou em várias universidades e faculdades particulares. Em 1998, concluiu seu doutorado na USP (também na área de Microbiologia).
Atualmente, além de professora e chefe do Departamento de Biologia Geral da Faculdade de Ciências do IAE – Campus I, também é secretária do Núcleo de Estudos das Origens (NEO) criado recentemente. O grupo desenvolve trabalho de divulgação de estudos criacionistas para a igreja, universidades, escolas, etc.
A Dra. Márcia nasceu no dia 23 de maio de 1960, em São Paulo. Porém, morou a maior parte de sua vida em Minas Gerais, principalmente em Juiz de Fora e Belo Horizonte. Só voltou para São Paulo em 1991, para fazer o doutorado.
No intervalo de uma de suas aulas, concedeu esta entrevista a Michelson Borges, em 1999:
RA: O caderno "Mais!" do jornal Folha de São Paulo (31/12/98), apresentou artigos sobre o evolucionismo, dizendo que essa teoria é um dos principais debates deste fim de século. Por que, depois de quase 140 anos de formulação da teoria de Darwin, os evolucionistas ainda não chegaram a um consenso?
Dra. Márcia: Nenhuma das teorias atuais explica todos os pontos da evolução. Embora muitos experimentos tenham sido feitos e muita coisa tenha sido discutida, não se tem uma teoria para explicar a origem da vida, de maneira clara. Temos que lembrar, também, que a Ciência não é algo estático. Ela está sempre mudando. À medida que se conhece mais, novas opiniões surgem. Além disso, grande parte dos cientistas considera a evolução um fato. Eles acreditam que são as teorias que mudam para explicar a evolução. E nós, criacionistas, contestamos isso porque evidências não são provas. E a evolução só dispõe de evidências.
É claro, doutora, que nenhuma teoria explica tudo sobre seu objeto de estudo. Acho que como uma doutora já era tempo da senhora estar bem ciente disso.
A senhora comete um erro terrível ao denominar origens da vida como se fosse matéria do campo de estudos da teoria da evolução. Esta teoria somente pode ser estudada a partir do momento que a vida surgiu. Logo, "origem da vida" não é objeto de estudo da teoria da evolução e sim da teoria da origem da vida, como o próprio nome ja diz.
Realmente, doutora; a ciência não é algo estático. À medida que os métodos de investigação científica evoluem, novas descobertas são realizadas e novas evidências são encontradas, rompendo com os velhos paradigmas, como era o criacionismo à época anterior a Darwin.
Como uma doutora, a senhora também deveria estar ciente que em ciência se usa o método da falseabilidade. Refrescando sua memória, a falseabilidade se apóia em evidências, aumentando a probabilidade de determinada teoria se tornar cada vez menos falsa, à medida que evidências a sustentem.
A senhora também parece ter se esquecido que em ciência nada se prova, tudo se confirma e tais confirmações, se pautam por evidências e dão sustentabilidade às teorias que possuimos hoje.
Realmente, doutora, a teoria da evolução como qualquer outra teoria, dispõe apenas de evidências e não de provas. Porém, repito que tais evidências a têm sustentado nos últimos 200 anos.
Quanto ao criacionismo, não pedirei provas, mas, resta-me a pergunta: quais são suas evidências?
RA: A idéia de um Criador não pode ser provada por experiências em laboratório. Mesmo assim, podemos considerar o criacionismo "científico"?
Dra. Márcia: A ciência atual não aceita a presença do sobrenatural e tenta explicar tudo pelos mecanismos naturais. Os cientistas procuram explicar o comportamento do universo físico, em termos de causas puramente físicas e materiais, sem invocar o sobrenatural. Mas por que não podemos invocar o sobrenatural? Alguns cientistas têm medo de que, se o sobrenatural for invocado, pare de se fazer ciência, atribuindo-se ao sobrenatural tudo o que a ciência não puder explicar. Só que invocar o sobrenatural para explicar, por exemplo, a origem da vida – que é algo que ninguém conseguiu explicar – não parece ser uma coisa tão ilógica.
Doutora, o sobrenatural não deve ser invocado por 6 razões que posso citar (deve haver mais razões por ai e, quem se habilitar, poderá citá-las à vontade):
1- não se trata sequer de uma evidência que possa ser submetida a estudos a fim de entender como os deuses (sua principal premissa) funcionam. Logo a alegação de ser o criacionismo uma ciência não se suatenta, pois sua principal premissa não possui bases científicas.
2- possui cunho altamente subjetivo, variando de cultura para cultura, o que o faz perder a objetividade ao se estabelecer quem seria o "criador" ou como queiram os adéptos do DI "o desenhista inteligente".
3- seres divinos são elementos que estancam qualquer tentativa de aprofundamento em relação a um objeto de estudo, pois tais seres representam o intangível, o inalcançável aos mortais e, querer entendê-los, é violar os dogmas religiosos.
4- o cunho do criacionismo, no que concerne ao bojo de seu ideário, é meramente proselitista, sendo sua mensagem puramente religiosa e pautada em falácias e sofismas, que em nada enriquecem a verdadeira ciência. Visa apenas disseminar a fé cristã nos meios acadêmicos e assim angariar fiéis com credenciais científicas a fim de sustentar teorias sem o mínimo senso lógico.
5- contrariamente às explicações meramente naturais, é impossível de se submeter o elemento divino e sua atuação aos critérios de falseabilidade, a fim de atestar sua existência ou inexistência. Todavia, não existe nada que indique qualquer evidência a respeito do divino ter atuado como variável a ser considerada como explicação para o fenômeno da vida ou da variação das espécies. Assim, as probabilidades de sua inexistência tornam-se cada vez maiores, porém sem jamais atingir os 100%. Isso de pronto invalida sua possibilidade de ser uma variável considerável a fim de explicar questões de cunho meramente natural.
6 - a hipótese do divino como algo que não foi criado, que sempre existiu, viola a primeira lei da termodinâmica (trato do tema aqui), pois não explica a origem de toda essa energia criadora. Todavia, um Universo em constante ciclo de nascimento e morte não viola esse princípio. No nosso atual estágio do Universo, temos massa se convertendo em energia, sendo sua forma mais degradada a energia térmica. Porém, nada impede que em um universo terminal suas propriedades possam propiciar a transformação de energia em massa, revertendo o funcionamento do sistema.
Mais uma vez, doutora, ao longo de sua explicação, a senhora coloca, propositadamente, origem da vida como objeto de estudo da teoria da evolução, insistindo no erro e, portanto, confundindo o leitor leigo.
Da próxima vez, não use mais de má fé e ardís; atenha-se ao assunto objeto da discussão.
Aliás, sobre origens da vida, há muita pesquisa em torno do assunto. Há estudos na área a respeito de ciclos auto-sustentáveis, os quais podem ser um pequeno passo para entender como se formou a vida a partir da matéria bruta (abiogênese).
Para a origem da vida, há as teorias do modelo replicador primordial e do metabolismo primordial.
Ambos os modelos teóricos começam por moléculas formadas por processos químicos não biológicos.
Para o modelo replicador primordial, tais compostos se unem formando uma cadeia molecular, talvez algum tipo de RNA, capaz de se auto-reproduzir. A molécula ao se replicar, produz cópias de si mesma e algumas vezes resulta em mutantes, também replicáveis.
A partir desse momento, podemos falar em teoria da evolução, pois os mutantes que melhor se adaptarem ao meio sobreviverão e se reproduzirão com maior freqüência.
Tal processo evolutivo, pode levar ao desenvolvimento e à formação de compartimentos (pseudo-células) os quais possuem um metabolismo, nos quais moléculas menores usariam energias para realizar processos úteis.
Quanto ao metabolismo primordial, formam-se os compartimentos espontaneamente. Estes possuiriam misturas de compostos iniciais que passariam por ciclos de reações, tornando-se mais complexos ao longo do tempo.
Finalmente o sistema passaria a armazenar informações em polímeros (pseudo- RNA ou DNA).
É claro que esse é um campo onde ainda estamos engatinhando, seja pela dificuldade extrema em se realizarem experimentos, seja pelo nosso desconhecimento em relação à Terra pré - biótica.
Todavia, cientistas sugerem que uma molécula mais simples tenha surgido antes do RNA, com suas capacidades catalizadoras. Mas este catalizador hipotético até então não possui traços reconhecidos na biologia moderna. caso tenha existido, sua duração parece ter sidi efêmera, uma vez que o RNA assumiu sias funções.
Maiores detalhes ler SCIENTIFIC AMERICAN - BRASIL N - 62 ANO 6 - UMA ORIGEM MAIS SIMPLES DA VIDA.
Será tema de postagem futura uma resenha deste artigo.
RA: O criacionismo também tem evidências daquilo que defende?
Dra. Márcia: Temos muitas evidências do planejamento do Universo e da vida. Mas isso não prova a existência de Deus. Até que ponto se pode provar que Deus existe? Eu acredito que Deus não quer ser provado. As pessoas devem acreditar nEle pela fé. Os evolucionistas têm evidências que apóiam sua teoria, mas nós também temos evidências que apóiam o criacionismo.
Não se pode provar que Deus ou qualquer outro ser sobrrenatural exista ou não exista. O que podemos fazer é buscar evidências de sua existência. Todavia estas não existem na natureza.
Elas se fazem marcante na mente de cada indivíduo, das formas mais diversas possíveis, conforme o meio em que vive o indivíduo, ou seja, de acordo como foi aculturado ao longo de sua vida.
Assim, valer-se do elemento divino como fonte de resposta para questões naturais é meramente subjetivo, não podendo ser encarado como via alternativa à solução de problemas científicos meramente naturais.
RA: No campo das evidências nenhuma teoria leva vantagem sobre a outra?
Dra. Márcia: Alguns criacionistas mal-informados acham que não existe nenhuma base para se acreditar na evolução, mas essas pessoas realmente não conhecem a ciência. É lógico que a teoria da evolução faz algum sentido, porque, se ela fosse totalmente absurda, não haveria milhares de cientistas e uma boa parte da população que a aceitaria. O evolucionimo tem alguma lógica, mas também tem muitas incoerências.
Mais uma vez doutora a senhora se vale de ardís. A teoria da evolução não faz meramente "algum sentido" ela faz todo o sentido, uma vez que explica racionalmente a diversidade dos seres vivos.
Todavia o criacionismo não faz qualquer sentido. Não se trata de ciência, mas de pseudociência, pelos motivos já exaustivamente expostos.
RA: Quais são as maiores incoerências do evolucionismo?
Dra. Márcia: Não dá para explicar a origem dos sistemas vivos pela evolução. Isso não era um problema para os evolucionistas do século passado, como Darwin, que acreditavam que as células eram organismos muitos simples. Mas, hoje em dia, cada vez mais os estudos de biologia molecular e bioquímica estão mostrando que a célula e os sistemas celulares são altamente complexos e o surgimento desses sistemas não pode ser explicado através de etapas sucessivas. É o problema da "complexidade irredutível". Muitos sistemas biológicos são considerados irredutivelmente complexos, ou seja, eles dependem de várias partes que têm que interagir. E essas partes não poderiam ter surgido gradualmente simplesmente porque, se tirarmos uma delas, o todo não funciona mais.
Tomemos o exemplo da coagulação do sangue. A Hemofilia A é uma doença que impede a coagulação, devido à falta de uma substância chamada Fator VIII da Coagulação. Portanto, se faltar somente esta substância na circulação sangüínea, e a pessoa não se tratar, ela irá morrer. Então, como a coagulação, que é um processo em cascata, onde um componente ativa o outro, poderia ter se desenvolvido a partir do nada, se quando falta uma única proteína, ele não funciona? Outro exemplo de complexidade irredutível é o sistema imunológico. É algo tão intrincado que não se pode explicar seu surgimento de forma gradual.
Esses sistemas biológicos irredutivelmente complexos indicam planejamento. Só que a ciência, ao invés de estar comemorando a existência do Planejador, se calou diante dessas evidências. Por quê? Porque admitir Deus exige compromisso com Ele. E as pessoas querem fugir de um compromisso com o Criador. Se, pelo contrário, surgimos pela evolução, somos livres para fazer o que quisermos, sem dar satisfação a ninguém.
A propria natureza mostra serem falsas as alegações da complexidade irredutível. Basta vermos os procariontes, que são os organismos celulares mais simples que conhecemos (não possuem núcleo celular organizado), bem como os vírus, os quais são um fio de DNA ou RNA coberto por uma capa de proteína.
Quantos organismos mais simples podem ter existido e estarem perdidos para sempre ou estarem registrados em algum fóssil ainda nao descoberto?
É óbvio que tanto os mecanismos de coagulação como o sistema imunológico, além do famoso olho, hoje se apresentam com alto grau de complexidade.
Afinal estamos falando de aproximadamente 3,5 bilhões de anos de vida na Terra.
Para esclarecer tais dúvidas, basta se estudar um pouco de fisiologia animal, a fim de entendermos como esses sistemas vão gradualmente se tornando mais compléxos, à medida que a vida também se torna mais complexa.
Basta compararmos aves e vermes. Suas diferenças são gritantes. Aves formam organismos muito mais complexos que vermes. Ora, na escalada da vida os vermes chegaram primeiro e, estão ai até hoje, claro que diferentes de seus ancestrais, mas ainda mantendo grau menor de complexidade que um inseto, um réptil, um peixe ou uma ave.
Assim, a existência de sistemas complexos não se tratam de evidências para sua irredutibilidade ou evidências de "planejadores", o novo nome para o deus cristão.
Nenhum cientista se calou diante da complexidade da vida ou dos sistemas que a senhora apresentou, porque tais fatos não significam atestar existência de nada além do natural.
Todavia na cabeça dos criacionistas, os quais se pautam em meras interpretações subjetivas, qualquer novidade cuja explicação se faz complexa e demande estudos, é uma evidência da atuação divina.
Ao final da resposta, a doutora começa com a pregação religiosa clássica dos círculos criacionistas. Revela a verdadeira face do suposto planejador: o deus bíblico, mostrando o verdadeiro caráter do criacionismo e do seu correlato o DI, que se trata do proselitismo cristão, patrocinado pelos protestantes.
RA: O que a coluna geológica diz ao criacionista?
Dra. Márcia: Há pelo menos dois problemas relacionados com esse assunto e que apóiam o criacionismo. No princípio do período Cambriano você tem praticamente todos os filos representados. Se todos os organismos aparecem no começo do Cambriano, de onde eles evoluíram? Onde estão os ancestrais deles? Alguns dizem: Ah, no Pré-Cambriano". Mas olhando para o Pré-Cambriano, não encontramos absolutamente nada, a não ser bactérias e algas azuis. E todo mundo sabe que, para uma bactéria dar origem a um trilobita, seria um salto absurdo, porque os trilobitas são seres altamente complexos. De onde evoluíram então? Alguns poderiam dizer: "Evoluíram de animais mais simples". Mas por que nenhum deles se fossilizou? Esse é o "grande salto" que a evolução não explica.
A falta de elos intermediários no registro paleontológico é outro grande problema para a evolução. Se o darwinismo é verdadeiro, onde estão os fósseis intermediários entre os grupos de organismos? Deveria haver, na coluna geológica, milhares de fósseis de organismos em transição, com características intermediárias, entre dois grupos, mas estes nunca foram encontrados.
Sim, no cambriano temos todos os filos, mas o mais importante de todos, os cordados, ainda eram organismos mais simples que os atuais, aparentando-se a moluscos.
A explosão cambriana pode ter ocorrido em razão de radiação solar como desencadeadora de mutações em organismos como certas bactérias, algas, espongiários e celenterados primitivos.
Certamente, os animais pré-cambrianos eram aquáticos e, dentro da água, estariam protegidos da radiação solar. Uma vez na superfície eram, ou exterminados por essa radiação, ou sofriam mutações.
Ainda não existia atmosfera com oxigênio e conseqüentemente não existia camada de ozônio como bloqueador das radiações ultra-violeta. Desse modo, as regiões que não eram coberta por mares, eram vastos desertos.
Algumas dessas mutações podem ter sido transmitidas aos descendentes dos primeiros animais e podem ter proporcionado uma boa adaptação ao mundo marinho, fazendo com que tais seres evoluissem.
A partir daqui, estamos lidando com o acaso, pois genes combinados a ações do meio ambiente se tratam de uma grande loteria. As mudanças morfológicas aqui ocorridas foram aleatórias, como qualquer mutação gênica ocorre.
Todavia, no que concerne a adaptação desses seres, entramos na seara da teoria da evolução que os adaptou ou eliminou conforme às solicitações do meio em que viviam.
Há que se considerar também o fato de haver plantas marinhas que realizavam fotossíntese (muito mais eficiente que processos quimiossintetisantes).
Estas, liberavam oxigênio dentro da água e para a atmosfera, a qual parece ter sido rica em gás carbônico oriundo de vulcões. Este gás carbônico é, até hoje, a materia prima para a formação de açúcares cujo resíduo é o oxigênio.
É possível que tais algas tenham proporcionado a evolução de seres aeróbicos, primeiro no mar, como as esponjas e medusas, e, ainda no mar, seres mais compléxos que demandavam mais oxigênio para suas atividades.
Paulatinamente, plantas e animais, principalmente os artrópodes, passaram a dominar os ambientes terrenos e, assim, surge a vida terrestre.
É claro que se tratam de conjecturas científicas pautadas em conformidade com os fósseis que encontramos.
A doutora também deveria saber que muito poucos seres vivos se fossilizam (a taxa é baixíssima) e que fósseis intermediários não passam de um conceito mal utilizado por criacionistas que, numa manobra ardilosa, passaram a criar o "deus das lacunas".
Ou seja, se entre A e C surgir B o que havia entre A e B e entre B e C ?
Passamos, dessa forma, a ter duas lacunas, onde somente o divino pode explicar o que se deu e consequentemente, exigem-se dois novos elos para a corrente da vida.
A isso doutora, denomino de má fé e ardil proselitista, pois o fito é desclassificar a ciência e exaltar a pseudociência do criacionismo, a fim de atestar as escrituras como a verdade suprema.
Desse modo, sua exigência a fim de se construir uma filogenia completa se faz descabida, uma vez que estamos tratando de um periíodo que ocorreu a cerca de 550 milhões de anos.
Sem considerar que cerca de 85% das espécies do planeta se extinguiram há 490 milhões de anos, não se sabe por que motivos (efeito estufa, glaciação ou impacto de asteróide).
Sendo assim, imagine só, doutora, quanto se perdeu da vida e de seu registro. Creio que disso a senhora esteja também ciente. Todavia, o que sobrou nos é suficiente para traçarmos uma filogenia que apóie a teoria da evolução em detrimento do criacionismo.
Aliás, que deus mais incoerente... Se dar ao trabalho de realizar uma abundância de vida para depos exterminá-la quase que completamente... isso é um planejador demente; não inteligente.
RA: A biologia molecular e a bioquímica têm sido uma "pedra no sapato" dos evolucionistas. Por que?
Dra. Márcia: A biologia molecular e a bioquímica estão mostrando cada vez mais a complexidade da célula. Antigamente, os cientistas consideravam os protozoários (organismos unicelulares) muito simples, achando que eles poderiam ter surgido do nada. Isso era conhecido como “geração espontânea”. E era fácil acreditar na geração espontânea, pois se considerava que a célula era simples como um pedacinho de gelatina. Mas quando se começou a estudar as células em microscópios mais potentes, verificou-se que uma simples célula de um protozoário, por exemplo, é altamente complexa. Não dá para explicar a origem desses sistemas como vindo do nada. A teoria da evolução não consegue explicar nem a origem de proteínas. Até hoje, o máximo que se conseguiu produzir em laboratório, utilizando as supostas condições da "terra primitiva", foram alguns aminoácidos e proteinóides, que não são proteínas. E mesmo que se conseguisse produzir uma molécula de proteína ou de DNA funcionais, isso ainda não seria vida. Precisaríamos colocar todas essas moléculas em uma célula viva, que tivesse uma membrana, e que conseguisse se reproduzir.
As proteínas nas células são produzidas pelo DNA. E o DNA, para se duplicar, precisa de muitas proteínas e de enzimas. Aí vem aquela história do ovo e da galinha: "Quem surgiu primeiro: o DNA ou a proteína?" Os evolucionistas arranjaram a história de um RNA autocatalítico, ou seja, um RNA que pode se autoproduzir. Só que, na verdade, mesmo que isso tenha existido no passado, hoje em dia os sistemas biológicos não funcionam com esse RNA, e sim com DNAs. As proteínas são produzidas numa organela da célula chamada ribossomo, que, por sua vez, é formado por dezenas de proteínas diferentes e mais alguns tipos de RNA (que também são produzidos a partir do DNA). Então, para fabricarmos a "máquina" de produzir proteínas, teremos que ter muitas proteínas. Mesmo que elas tivessem surgido por acaso, no começo, como poderiam ter sido produzidas depois?
Que vergonha ein doutora!!! Geração expontânea!? Sai dessa!!! Esse conceito nem se usa mais.
Já caiu em desuso, por ser uma teoria falsa, desde a época de Pasteur e a senhora ainda está se valendo dessa nomenclatura errada.
Hoje é ABIOGÊNESE (por meio de reações químicas e catalisadores naturais pode-se chegar a formação de moléculas orgânicas e estas a moléculas mais complexas) que é bem diferente de geração expontânea (areia virar formiga sem uma razão aparente).
Como doutora, deve estar bem ciente de que reações químicas não são frutos do mero acaso. Elas ocorrem por uma série de fatores, como pressão, temperatura, radiação, presença ou ausência de catalisadores e venenos, eletronegatividade, raios atômicos, disposição e arranjos moleculares, etc.
Logo, a experiência de Urey - Miller não se trata de uma experiência inválida. Ela mostrou que uma atmosfera considerada como a suposta da Terra pré-biótica poderia formar os tijolos da vida.
Mais uma vez, "ORIGEM DA VIDA NÃO É TEORIA DA EVOLUÇÃO" . Quanto ao tema aqui insistentemente debatido, esclareço aqui.
Assim, ao contrário do afirmado pela entrevistada, as teorias bioquímicas e a biologia molecular têm esclarecido ainda mais a teoria da evolução, uma vez que tornaram possível a comparação de genes entre diversas espécies, além de possibilitar traçar-se um mapa relativo à evolução das espécies em escala genética.
Isso deve ter aborrecido muito os criacionistas de plantão que, a todo o custo, procuram desbancar essas teorias, uma vez que elas se tratam de mais evidências a favor da teoria da evolução.
Doutora, sobre o RNA auto-catalítico prefiro esta história a de um deus vindo do nada que sem qualquer motivo num determinado momento "pufff!" resolveu criar tudo. A primeira, me soa bem mais coerente. É claro que se esse RNA existiu, já era; foi substituido pelo atual e pelo DNA que se verificaram bem mais eficientes e adaptáveis nos moldes da teoria da evolução.
Obviamente, que se esse suposto RNA está extinto, os seres atuais não poderiam estar utilizando-o como material genético. Sua argumentação aqui é extremamente ardilosa e de sentido obscuro ao leitor leigo.
No mais, seres que se valem do DNA como material genético são bem melhores que os com RNA; basta a senhora comparar um vírus com uma batata para se notar a diferença de quem é mais complexo e melhor adaptável ao meio.
RA: No livro "Viagem ao Sobrenatural", recentemente publicado pela Casa, o autor Roger Morneau diz (nas págs. 54 e 55) que a teoria da evolução é uma arma eficaz nas mãos do inimigo. Por que?
Dra. Márcia: Porque desvia o pensamento de Deus como Criador. Para os que crêem em Deus e, ao mesmo tempo, aceitam a evolução (evolucionistas teístas), o Senhor não criou o homem de maneira pessoal e não criou a Terra para ser habitada. Para eles, Deus teria dado início à vida através da evolução. Só que isso elimina a credibilidade das Escrituras porque, se passarmos a considerar o livro de Gênesis como uma alegoria, também poderemos considerar os demais livros da Bíblia como não-verdadeiros.
O mal cristão é entendê-las literalmente e querer transformar um mito em realidade.
Bíblia, doutora, como qualquer outro livro sagrado ou história antiga, mescla mito com realidade. Assim, a leitura deve ser filtrada.
Aquilo que se atestar como fato histórico, sem problemas. Todavia, dizer que a força de Sansão estava em sua longa cabeleira, isso é bobagem.
O fato de algo num texto ser verdadeiro, não implica que todo ele o seja e, vice-versa. Obras de ficção como o homem-aranha estão por ai. É claro que ele não existe, mas aranhas, homens, cidades e radioatividade como agente mutagênico sao reais.
Caso se dê crédito ao Gênesis, por que não dariamos as demais formas de criacionismos existentes por ai? O que leva o mito de Gênesis se verdadeiro e o Popul Vuh ou os ciclos de nascimento e morte dos budistas e hinduístas serem falsos?
Nada, pois todos são alegorias para se explicar aquilo que não se conhece, exatamente como faziam os antigos.
Ser cientista é levar a sério o que a ciência descobre. Essa conduta, caso o indivíduo não seja um bitolado religioso, não o afasta de nada, exceto do obscurantismo.
RA: Então é impossível conciliar a teoria da evolução com a teoria da criação ...
Dra. Márcia: Algumas pessoas até tentam, mas não dá. Se você se torna um evolucionista teísta, tem que deixar de crer em grande parte da Bíblia. Você não crê no Gênesis, por conseguinte você não vai acreditar no plano da salvação. E também vai questionar a existência de Satanás, porque vai achar que o mal está dentro do ser humano. E para que a volta de Cristo, se o homem tem a capacidade de melhorar? Será que as profecias estão se cumprindo mesmo? Não seriam linguagem figurada, poesia, etc.? Realmente, eu acho muito difícil conciliar as duas coisas.
Os evolucionistas teístas acham que conseguem fazer essa conciliação. O problema é que muitos deles não conhecem, não aceitam e não lêem a Bíblia. Na verdade, alguns até aceitam algumas partes que lhes convêm, mas não aceitam a Palavra de Deus como um todo, porque não dá para fazer isso e continuar sendo evolucionista.
Plano de salvação, satanás, deus, volta de Cristo, etc. são meras especulações religiosas que sob a ótica do senso lógico não fazem o menor sentido. São meramente questões subjetivas.
Sim, doutora, tanto o mal como o bem estão dentro de nós. Se estudasse um pouco de psicologia humana entenderia isso.
Ressalto que a bíblia não se trata de um compêndio científico e, nem pode ser encarada como algo verdadeiramente absoluto, ou como a forma religiosa de crer mais correta que as demais (futuro tema a ser debatido).
A senhora a entende assim, porque sempre incutiu-se isso em sua mente. A senhora foi doutrinada a entender isso como verdade.
Não possuo elementos para especular se foi criada no seio de uma família religiosa, ou, se por dramas de consciência, passou a adotar a fé cristã como verdadeira e, por fim, tenha se tornado uma fundamentalista.
Todavia, separar o real da fantasia é salutar a todas as pessoas, pois extingue ilusões infundadas e nos faz enxergar o mundo como ele realmente é.
A criação a imagem e semelhança de Deus não se trata de um corpo igual ao do ser divino, aliás, segundo a crença bíblica, este ser não possui forma física.
Essa imagem e semelhança significa que somos capazes de pensar, de sermos bons, de criar, de amar, etc. Reverta isso e seremos a imagem e semelhança de Satã.
Logo, nós fazemos o bem e o mal. Eles estão em nossa mente, que se desdobra nos dois arquétipos: o de Deus e o de Satã.
RA: Você acha, então, que a experiência da conversão é fundamental para que se aceite a Bíblia e o criacionismo?
Dra. Márcia: Sem dúvida. Duvido que, algum dia, alguém consiga convencer um evolucionista a se tornar criacionista sem aceitar a Deus primeiro. Eu acredito que um evolucionista se torna criacionista quando passa pela experiência da conversão, quando encontra e aceita a Deus. Aí, sim, ele vai tentar explicar a origem das coisas de uma outra maneira, porque saberá que Deus é o Criador.
É lógico que, se fizermos palestras apresentando as incoerências da teoria da evolução, poderemos até despertar na pessoa algumas interrogações que abrirão caminho para a busca de Deus.
A teoria de Darwin não implica:
1- que o divino não exista;
2- que a seleção natural poderia ter acontecido por acaso;
3- o quê ocorre aleatoriamente jamais poderia ter sido projetado por Deus.
Tais crenças não são essenciais para a seleção natural, origens da vida e origens do universo, nem para qualquer outra teoria científica, pois Deus poderia ter projetado o universo para funcionar conforme às descobertas científicas têm nos revelado, por meio de suas evidências.
Ciência não tem nada a ver com crença religiosa. Contudo, caso o indivíduo passe a não mais crer em marolas metafísicas, ou deseje manter-se como um crente fiel a sua seita, isso é assunto dele.
Interrogações, as tenho até hoje sobre a primeira lei de Newton (a lei da inércia - aqui), embora seja engenheiro de produção área mecânica e físico (ambas na USP). Dirá sobre teoria da evolução, origens do universo e origens da vida.
Todavia, dúvidas não invalidam para mim nenhuma desas teorias, pois seus graus de coerência se mostram satisfatórios. Vale que elas, ao longo dos anos, têm se sustentado.
Diferentemente das propostas criacionistas, as quais, sequer, são possíveis de se submeter à falseabilidade e ao rigorismo científico, além de serem blindadas por seus idealizadores.
Certamente, se fossem submetidas ao rigor científico, seriam de pronto reprovadas e disso, a senhora deve estar muito bem ciente.
Desse modo, não há que se tomar o criacionismo como forma alternativa de se explicar a vida ou coisa que o valha.
O Brasil é um país que prima pela ignorância das pessoas em todas as classes, etnias e credos.
A religião, principalmente as seitas cristãs de cunho protestante, parecem sentir prazer em espalhar mais ignorância entre as pessoas, ajudando o nosso governo na empreitada do "QUANTO MAIS IDIOTA MELHOR".
Tentar unificar fé e ciência é um grande erro, além de ser um desastre.
A ciência derruba os mitos a cada nova descoberta e a religião procura tornar esses mesmos mitos em dogmas absolutos e incontestáveis.
Eis a diferença entre criacionismo e ciência:
O criacionismo constroi suas idéias partido de uma premissa inobservável e incontestável que é o dogma da existência da divindade como a riadora que jamais foi criada. A isto se denomina petição de princípio, que é impossível de ser submetida ao rigor científico a fim de atestar sua veracidade ou falsidade.
Somente é possível afastarmos a hipótese do divino atuando na natureza, uma vez que as evidências citadas por criacionistas são meramente de cunho subjetivo.
Quanto às teorias científicas, suas premissas se pautam no mundo material que é observável. As premissas são exaustivamente submetidas à falseabilidade.
Caso se sustentem, mantém-se a teoria, caso contrário derruba-se a teoria que deverá, ou passar por uma revisão, ou ser rechassada por completo.
Teria algum cristão pensado em fazer uma revisão das escrituras a fim de coaduná-las às descobertas científicas que afastam o amontoado de mitos classificados como verdades?
Esta resposta é obvia: NÃO.
Contudo, a ciência e as outras crenças devem se curvar à supremacia das escrituras pois elas são a verdade (tema que trato aqui), segundo a concepção cristã.
3 comentários:
Prezado Elyson,
No momento estou cursando meu mestrado em ciências médicas e me vejo as voltas com – e com muitas dificuldades é claro – com as teorias estatísticas de probabilidade, teste de hipóteses, intervalos de confiança e toda uma linguagem estranha para nos médicos; mas uma ferramenta imprescindível para quem deseja falar a linguagem científica. Questiono como se pode conviver com um pensamento dogmático e ao mesmo tempo “acreditar” se fazer ciência.
Questiono a opinião da doutora, a quem devo respeito por defender suas convicções. Mas ressaltando a importância e a responsabilidade que cabe ao título. Responsabilidade ou ética diante do que se publica, fala ou defende com base num título alcançado numa universidade pública. Não é isso que vemos na linguagem científica da ilustre microbióloga.
Penso que, como forma de valorizar a titulação no Brasil, deveria se estabelecer critérios para a manutenção dos mesmos, como manter um mínimo de produção científica anual, com base nos critérios qualis elaborado pela CAPES, que já descredenciou muitos mestrados e doutorados. O risco de termos doutores que nada produzem, gerará em breve a cobrança da sociedade - sai caro aos cofres públicos produzir um Doutor vão dizer.
Já o que pensa a doutora sobre fazer ciência e apelar para o sobrenatural, deveria fazer parte do seu mundo de convicções pessoais. Não deveria aí se considerar sua titulação em microbiologia. Se a mesma fosse teóloga – não me surpreenderia se em breve se tornasse – estaria sim falando com base no seu título.
Mais uma vez tive a satisfação de ler um artigo muito bem escrito e fundamentado que revela todas as falácias e equívocos dos criacionistas.
Um abraço,
Luiz
Pegando o conceito de tábula rasa defendido por Émile Durkheim e por outros filósofos e o conceito de desenvolvimento da personalidade, da psicologia do desenvolvimento, faço uma pergunta: como a evolução explica que adquirimos como paratipo só as características vindas do ambiente em que vivemos e por meio da socialização com seres da mesma espécie? Sim, eu disse DA MESMA ESPÉCIE. Vide a história das indianas Amala e Kamala, adotadas por uma família de lobos e, por isso, aprenderam a falar, andar e se comportar como lobos. Isto é, como seremos o que não aprendemos na socialização com semelhantes? Como adquiriremos características que não são do meio ambiente em que vivemos, já que a personalidade existe em função de um meio ao qual procura se adaptar? Ex: como um surdo de nascença aprende a falar, já que só falamos porque ouvimos os outros falando, por meio do contato social? Da mesma forma, como um ancestral aprenderia a falar sozinho, se, em laboratório, ainda não conseguiram fazer animais falarem? Dizer que naquelas épocas falaram por ser um caso isolado é uma boa saída, como dizer que não há vida evolutiva em outros planetas porque depende do ambiente e porque a mutação é aleatória.
Simplesmente, Lotus, porque somos inteligentes e nossa mente é cognitiva e não instintiva como a dos animais.
Animais não falam porque seu raciocínio não consegue organizar-se abstratamente como o nosso.
Veja por exemplo, contar de 1 a 10. É algo muito abstrato, dirá criar matemática.
Nossa mente consegue fazer estrapolações e raciocinar logicamente de forma avançada. Isso é evolução e foi a característica que desenvolvemos para nos darmos bem.
Determinados antropoides possuem um resquício de raciocínio lógico, porém nada que se compare ao nosso.
Particularmente, especulo sobre vida inteligente em outros mundos, mas até então não há evidências sobre ela.
Postar um comentário