O que ordena o mundo?
Conforme essa teoria, o critério que regula os sistemas sociais e os sistemas psíquicos é o sentido, ou seja, eles se organizam baseados no sentido.
A noção comum de sentido é o critério que define os limites do sistema, um entendimento comum sobre um sentido divide o mundo em algo com sentido e algo sem
sentido.
Mas sentido como a razão da seleção não é suficiente, ele precisa do apoio de outros fatores como normas, valores, metas; um conjunto que crie uma ordem de preferências de uma sistema social, um complexo de mecanismos regulativos constituído simbolicamente e com sentido.
Desta forma podemos então responder a pergunta de uma maneira diferente: a regulação da seleção de dados do meio, por via de uma ordem de preferência formada por critérios de sentido, é a condição da possibilidade da formação de um sistema.
Sistemas não-triviais têm a capacidade de reflexão, o que significa capacidade para elaborar internamente um modelo do seu meio e uma identidade própria. Sendo assim, o sistema também tem a capacidade de definir e redefinir internamente o que é o sentido, que depois se torna a base da seleção para redução da complexidade do meio e da contingência interna. Sistemas sociais são assim constituídos por sentido e constituem sentido ao mesmo tempo.
A sociedade para Luhmann:
O ponto de partida da abordagem de Luhmann sobre a sociedade é a constatação de que cada tentativa de descrever a sociedade acontece dentro da sociedade. Sendo assim, teoria da sociedade como descrição da sociedade é auto-lógica, isto é, a descrição da sociedade tem que incluir uma descrição da própria teoria, que é a base da descrição da sociedade, a qual é um fenômeno social.
Luhmann apresenta a sua descrição da sociedade como sistema social que envolve a totalidade das comunicações. Sem comunicação não há sociedade, e fora da sociedade não há comunicação. Os limites da sociedade são os limites da comunicação; limites estes, que variam historicamente.
Tudo que não é comunicação, não faz parte do sistema, passando a ser alocado fora do contorno deste. Não sendo comunicação, os seres humanos - enquanto sistemas psíquicos - não fazem parte da sociedade, e sim do seu meio.
Na sociedade eles estão presentes apenas como pessoas, pontos de endereçamentos para a comunicação. O que existe é um acoplamento estrutural entre a sociedade como sistema social e os indivíduos como sistemas psíquicos. Um não pode existir sem o outro.
Comunicação como acontecimento é algo improvável de acontecer. Isso devido a três razões:
· Primeiro é improvável que a comunicação se realize através da compreensão da diferença entre mensagem e informação;
· Segundo é improvável que a mensagem atinja o destinatário;
· Terceiro é improvável que a comunicação esteja sendo aceita.
Para enfrentar as três improbabilidades e tornar a comunicação provável existem meios. A língua para reduzir o problema da compreensão, os meios de difusão, para facilitar o alcance do destinatário e os meios de comunicação simbolicamente generalizados, para facilitar a aceitação da comunicação.
Dessa forma, conforme o trabalho de Gottard Bechman e Nico Stehr em primeiro lugar, a comunicação é uma realidade sui generis que não pode ser atribuída a nada mais.
Em segundo lugar, a comunicação é um mecanismo que constitui a sociedade como um sistema autopoiético e processa–a nesses termos. A negação da comunicação é, ela mesma, comunicação e, portanto, expressão da sociedade.
Em terceiro lugar, se comunicação quer dizer reprodução autopoiética, isso quer dizer que a sociedade é uma ordem auto–substitutiva que só pode mudar nela mesma e através dela mesma. A comunicação se torna a estrutura básica da sociedade, na qual a relação entre comunicação e sociedade é circular: não existe comunicação sem sociedade assim como não existe sociedade sem comunicação.
A resposta mais simples é que a comunicação é uma operação no sentido preciso em que uma distinção é feita. Atos comunicativos não dizem nada sobre o mundo e a comunicação não reflete nada sobre o mundo, o qual não é refletido pela comunicação, mas sim classificado por ela.
O propósito da comunicação é criar diferenças que possam depois ser incluídas em outras comunicações, formando e estabilizando as fronteiras do sistema. Mas a própria comunicação não é ela mesma original, não é qualquer elemento definitivo, mas uma síntese de seleções processadoras às quais Luhmann chama de informação, transmissão e compreensão. Essas três operações discriminatórias têm estrutura binária.
A informação é selecionada da memória partilhada, um reservatório do qual coisas são selecionadas como sendo relevantes para a transmissão ou para o esquecimento. Para se completar um ato de comunicação tem–se que decidir o que é representado ou aceito ou rejeitado, não entendido.
Transferido para o sistema social, poder–se–ia dizer que a informação pode ser vista como uma referência externa, a transmissão como auto–referência e a compreensão como condição para a transferência de sentido em comunicações ulteriores. A síntese dessas três seleções é um evento auto–referencial e fechado.
Isso permite a Luhmann deixar claro a autoconstituição do que é social. Se o que é social é nada mais que comunicação, isso também implica que consiste desse processo autopoiético que tem a sua própria dinâmica. O ambiente é então apenas um estímulo e não uma fonte real de informação.
Consequentemente, compreensão significa uma rede não–arbitrária de eventos comunicativos em um processo de comunicação auto–referencial. A discussão repetida forma identidades que constituem fronteiras.
A sociedade, ou o que foi anteriormente entendido como sociedade pela sociologia, agora está livre de todas determinações substanciais. Não é uma unidade moral, não está baseada em consenso nem qualquer integração racional (de qualquer tipo); é formada somente por comunicação em curso.
Consequentemente, não faz sentido falar de distinções tais como economia/sociedade ou ciência/sociedade, já que política, economia e direito não podem ser vistos como algo externo ou separado da sociedade, mas são atos da sociedade em suas operações comunicativas.
Para Luhmann, a sociedade, portanto, consiste da totalidade daquelas operações que não fazem uma distinção pelo fato delas fazerem uma distinção. Isso relega a um status teórico secundário todas as suposições sobre entendimento, progresso, racionalidade e outros objetivos.
Mas onde isso tudo se liga à questão da verdade?
A tese revolucionária de Luhmann está no fato de que nenhum sistema vive graças ao fornecimento de vida por parte do ambiente, e que também vale para os sistemas processadores de informações. Assim, nenhum sistema de processamento de informações pode obter informações a partir do ambiente. Informações são sempre constructos internos.
Ou seja, a questão da verdade é intrínseca ao sistema, uma vez que, cada um deles, cria seus próprios padrões valorativos, a fim de construir o seu operar e reduzir sua complexidade, pois esta tende a crescer e é inerente à instabilidade das contingências na comunicação humana (emitida pelo alter e compreendida pelo ego) a qual é uma operação genuinamente social e não imputada a apenas uma consciência.
Com a complexidade da sociedade moderna, não mais caberia a diferenciação segmentaria onde todos os subsistemas seriam igualados quanto ao seu princípio de formação, sendo que cada um desses subsistemas observa seu ambiente (no caso a sociedade) do mesmo modo que os demais (o que é familiar e o que não é).
Dessa forma, a diferenciação funcional dos subsistemas torna importante não mais a sua posição, mas sua função na sociedade. Desse modo, um subsistema terá obstada sua possibilidade de postular prerrogativas de qualquer ordem a outros subsistemas.
Portanto, nenhum subsistema poderá se arrogar posição privilegiada frente aos demais, em decorrência de a sociedade moderna ser fragmentada, ou seja, policontextual, uma vez que admite inúmeras codificações com validade simultânea.
Assim, a preponderância de códigos de determinados subsistemas sobre outros seria sobrepor a auto descrição destes subsistemas sobre os demais corrompendo-os, ou seja fazendo com que a complexidade social se reduza, e, portanto retardando a evolução social.
Um sistema que se pretenda racional terá de refletir sobre si mesmo, observando-se como distinto do ambiente e que se oriente pela unidade de tal distinção.
Desse modo, este sistema a fim de atingir sua pretensão racional deverá observar diferenças que o distingam do ambiente, e tomar distancia de si mesmo, de suas operações e por fim, corrigir-se, com base em critérios próprios, sua posição frente ao ambiente.
Assim, pode-se concluir que não há uma instancia social capaz de representar a relação do sistema social com o conjunto de seu ambiente, ou seja, uma descrição global da sociedade.
Tal perspectiva culmina no déficit de racionalidade apurado por Luhmann, relacionado ao processo de diferenciação que leva a sociedade a se fragmentar em diversos subsistemas funcionais, os quais sobrecarregam o ambiente uns dos outros, o que culmina na inexistência de um subsistema social que forneça uma percepção relativa às interdependências do ambiente (a existência da sociedade dentro da sociedade).
Assim, o que a teoria de Luhmann enfatiza é a auto-referencia dos subsistemas que compõem o sistema social o que exclui qualquer intenção de racionalidade concernente a normas e valores como um ponto cego de observação.
Ou seja, há a impossibilidade de uma racionalidade plena (a distinção entre o sistema e o ambiente), o que o sistema reintroduz em seu interior a fim de diferenciá-lo do meio e, portanto, estruturar suas próprias ações e assim tecer sua racionalidade entendida como sua verdade particular.
Mas o que seria então a verdade?
A tese revolucionária de Luhmann está no fato de que nenhum sistema vive graças ao fornecimento de vida por parte do ambiente, e que também vale para os sistemas processadores de informações. Assim, nenhum sistema de processamento de informações pode obter informações a partir do ambiente. Informações são sempre constructos internos.
Ou seja, a questão da verdade é intrínseca ao sistema, uma vez que, cada um deles, cria seus próprios padrões valorativos, a fim de construir o seu operar e reduzir sua complexidade, pois esta tende a crescer e é inerente à instabilidade das contingências na comunicação humana (emitida pelo alter e compreendida pelo ego) a qual é uma operação genuinamente social e não imputada a apenas uma consciência.
Com a complexidade da sociedade moderna, não mais caberia a diferenciação segmentaria onde todos os subsistemas seriam igualados quanto ao seu princípio de formação, sendo que cada um desses subsistemas observa seu ambiente (no caso a sociedade) do mesmo modo que os demais (o que é familiar e o que não é).
Dessa forma, a diferenciação funcional dos subsistemas torna importante não mais a sua posição, mas sua função na sociedade. Desse modo, um subsistema terá obstada sua possibilidade de postular prerrogativas de qualquer ordem a outros subsistemas.
Portanto, nenhum subsistema poderá se arrogar posição privilegiada frente aos demais, em decorrência de a sociedade moderna ser fragmentada, ou seja, policontextual, uma vez que admite inúmeras codificações com validade simultânea.
Assim, a preponderância de códigos de determinados subsistemas sobre outros seria sobrepor a auto descrição destes subsistemas sobre os demais corrompendo-os, ou seja fazendo com que a complexidade social se reduza, e, portanto retardando a evolução social.
Um sistema que se pretenda racional terá de refletir sobre si mesmo, observando-se como distinto do ambiente e que se oriente pela unidade de tal distinção.
Desse modo, este sistema a fim de atingir sua pretensão racional deverá observar diferenças que o distingam do ambiente, e tomar distancia de si mesmo, de suas operações e por fim, corrigir-se, com base em critérios próprios, sua posição frente ao ambiente.
Assim, pode-se concluir que não há uma instancia social capaz de representar a relação do sistema social com o conjunto de seu ambiente, ou seja, uma descrição global da sociedade.
Tal perspectiva culmina no déficit de racionalidade apurado por Luhmann, relacionado ao processo de diferenciação que leva a sociedade a se fragmentar em diversos subsistemas funcionais, os quais sobrecarregam o ambiente uns dos outros, o que culmina na inexistência de um subsistema social que forneça uma percepção relativa às interdependências do ambiente (a existência da sociedade dentro da sociedade).
Assim, o que a teoria de Luhmann enfatiza é a auto-referencia dos subsistemas que compõem o sistema social o que exclui qualquer intenção de racionalidade concernente a normas e valores como um ponto cego de observação.
Ou seja, há a impossibilidade de uma racionalidade plena (a distinção entre o sistema e o ambiente), o que o sistema reintroduz em seu interior a fim de diferenciá-lo do meio e, portanto, estruturar suas próprias ações e assim tecer sua racionalidade entendida como sua verdade particular.
Mas o que seria então a verdade?
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