segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Asas e Seleção Natural





















Mais uma vez, a má retórica acompanhada de perguntas indutivas atacam a ciência em prol da pseudociência, a fim de levar a uma falsa idéia a respeito de teorias científicas, com o fito de propagar o proselitismo cristão.

aqui

Vejamos o texto (em preto e seus comentários em verde e os meus comentários em vermelho):

Você já reparou como certas capacidades e funções estão presentes em animais bastante distintos e que não tem, numa linguagem darwinista, “parentesco evolutivo”? Como explicar a evolução distinta de funções tão complexas? Um “milagre” duplo?

Exemplo disso são os morcegos que recorrem às mesmas técnicas aerodinâmicas dos insetos para se manter no ar durante vôos lentos ou estacionários.


De início a frase e seus respectivos questionamentos se tratam de uma armadilha retórica a fim de provocar dúvidas no leitor leigo.

Todavia, os questionamentos soam infantis, bem típicos do rol criacionista e do rol de seu correlato o DI.

A indicação de um parentesco evolutivo não diz respeito apenas a morfologia do organismo , mas a esta e ao pool gernético das espécies.

Obviamente que morcegos, aves e insetos alados estão distantes na escala evolutiva, embora se valham de mesmo meio a fim de poderem voar e se sustentar no ar.

A este tipo de semelhança, sem que haja parentesco próximo denomina-se evolução convergente todavia, há que se esclarecer os conceitos de homologia e de analogia:

A homologia se refere a mesma origem embriológica de estruturas de diferentes organismos, sendo que essas estruturas podem ter ou não a mesma função. As estruturas homólogas sugerem ancestralidade comum.

A analogia refere-se à semelhança morfológica entre estruturas, em função de adaptação à execução da mesma função.

As asas dos insetos e das aves são estruturas diferentes quanto à origem embriológica, mas ambas estão adaptadas à execução de uma mesma função: o vôo. São , portanto, estruturas análogas.




As estruturas análogas não refletem por si sós qualquer grau de parentesco. Elas fornecem indícios da adaptação de estruturas de diferentes organismos a uma mesma variável ecológica. Quando organismos não intimamente aparentados apresentam estruturas semelhantes exercendo a mesma função, dizemos que eles sofreram evolução convergente.











Como se pode perceber, de acordo com as fotos acima, as asas de aves, morcegos e mesmo aquelas pertencentes aos pterossauros se tratam de membros adaptados ao vôo, diferentemente das asas de insetos, cuja estrutura teve origem exclusivamente para o vôo, não sendo membro adaptado a esta função.

Os pterossauros parecem ter tido a sua origem em um réptil planador o Sharovipteryx do período Triássico, réptil bípede capaz de correr verticalmente e de utilizar suas patas traseiras para planar, mas ainda há controvérsias a respeito do Sharovipteryx ser um ancestral dos pterossauros.




Ao contrário da irradiação adaptativa ( caracterizada pela diferenciação de organismos a partir de um ancestral comum. dando origem a vários grupos diferentes adaptados a explorar ambientes diferentes), a evolução convergente ou convergência evolutiva é caracterizada pela adaptação de diferentes organismos a uma condição ecológica igual.




Assim, as formas do corpo do golfinho, dos peixes, especialmente tubarões, e de um réptil fóssil chamado ictiossauro
(aqui e aqui) são bastante semelhantes, adaptadas à natação. Neste caso, a semelhança não é sinal de parentesco, mas resultado da adaptação desses organismos ao ambiente aquático.

Todos são animais marinhos dotados de nadadeiras e barbatanas. Porém, os golfinhos são mamíferos, cujo ancestral direto era dotado de membros adaptados ao meio terrestre (aqui e aqui), enquanto os peixes possuem ancestrais marinhos, cujas nadadeiras são fruto de um longo processo de construção a partir de um modelo de corpo vermiforme sem membros articulados e os ictiossauros possuem ancestrais terrestres denominados diapsídeos (aqui).


Outro exemplo típico deste fato na natureza são as hienas. Apesar de se parecerem em muito com canídeos, (fotoa ao lado) seus genes são bem mais semelhantes com os dos felídeos que dos canídeos.





Portanto, apesar de apresentarem estruturas semelhantes, tais estruturas tiveram origens muito diferentes e, foram selecionadas por ser formas apropriadas à natação.

Assim, a Analogia (semelhança entre estruturas de diferentes organismos) é devida unicamente à adaptação a uma mesma função. Trata-se de resultado oriundo da evolução convergente.


OUTROS EXEMPLOS:






Os urubus e condores pertencem à família Cathartidae da Ordem Ciconiiformes e ocupam as funções ecológicas dos abutres e são parecidos com estes, apesar de serem mais aparentados com cegonhas ou garças.










O Thylacoleo foi um marsupial contemporâneo que viveu no Plistocénico da Austrália, com morfologia semelhante à dos leões (daí o nome vulgar leão marsupial) e que também desenvolveu paralelamente dentes desproporcionados, neste caso os incisivos.



  • Os airos do hemisfério Norte






e pinguins do hemisfério Sul têm aspectos semelhantes e ocupam o mesmo nicho ecológico, mas são de ordens de aves diferentes.






Assim, a semelhança ora apontada entre insetos e morcegos não se trata de proximidade de parentesco evolutivo, mas de evolução convergente.

Ao se tratar da evolução convergente, várias espécies podem se tornar parecidas em muitos aspectos, sem ter uma relação próxima de parentesco em linha evolutiva.

Como exaustivamente já fora respondido: o meio, conforme suas exigências, seleciona as espécies, conforme o que elas apresentam em seu pool genético. O caráter mais favorável possui chances maiores de ser passado às gerações futuras.


Quando esses mamíferos agitam as asas totalmente abertas e as inclinam para baixo, produzem deslocamento de ar idêntico ao de um pequeno redemoinho, que acaba gerando um empuxo ascendente que faz com que o bicho fique no ar.

Os insetos também produzem esses redemoinhos permanentemente com suas asas. O que os pesquisadores não sabiam é se o mesmo mecanismo poderia ser utilizado por animais de maior peso, como os morcegos. Não só pode como é exatamente o que eles fazem.

Cientistas norte-americanos e suecos estudaram três morcegos Glossophaga, que medem 5 cm e voam da Argentina ao México.

O estudo, publicado na revista
Science, mediu o fluxo de ar em torno das asas desses animais em vôo, por meio de imagens digitais.

Conclusão: o redemoinho formado sob o bordo de ataque das asas produz 40% da força ascendente, permitindo que os morcegos se mantenham no ar.


Sim, mecanismos idênticos podem ser usados por espécies distintas. Por exemplo, peixes, baleias, répteis aquáticos, anfíbios, moluscos, vermes aquáticos, etc. Todos eles nadam.

Desde que respeitada a devida escala e que haja estrutura de sustentação suficientemente forte a ponto de suportar o animal, não haverá problemas.

As asas de insetos são desenvolvidas para vôo especificamente. Não possuiem origem em membros pré-existentes, como é o caso dos pterossauros, das aves e dos morcegos.

Aqui há uma explicação suficiente que possibilita entender o que é uma asa e como seus portadores as usam.

Essa capacidade presente em animais tão distintos seria evidência de evolução ou a marca de um Criador que sabe tudo de aerodinâmica?

A resposta para tal questão, significa evidências de evolução ou seleção natural, não de um criador-desenhista.

A evidência evolutiva é mais plausível que a de um criador expert em aerodinâmica, uma vez queos registros da evolução das espécies se encontram na natureza, seja nos fósseis, seja nas espécies atuais.





Quanto aos registros do criador... ninguém sabe, ninguém viu, exceto a imaginação fértil de criacionistas em geral.






Nos comentários do texto realmente podemos perceber que o articulista deu asas à imaginação.