quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

BOAS E MÁS RAZÕES PARA ACREDITAR


Oi galera. 


Como último texto do ano, deixarei aqui uma carta de Richard Dawkins a sua filha Juliet, acerca das boas e más razões para se acreditar.




Para mim, Dawkins, Sagan (infelizmente falecido), Kaku, deGrasse Tyson, Greene e Hawking são os maiores divulgadores da ciência que temos na atualidade.

Digo isso para os últimos 35 anos - sou um fã incondicional de todos eles. 

Me lembro que quando tinha acho que uns 8 anos de idade (isso lá por 1976), implorava a minha vó para que deixasse eu assistir a Série Cosmos, depois do Fantástico. Ela sempre deixava. Sabe como são as vovós...

Depois eu ficava me perguntando como Sagan sabia de tudo aquilo e o que existia além de tudo aquilo e, como tudo aquilo tinha surgido; qual era o grande mistério das origens da vida; por que havia tantas espécies de animais vivas hoje; o que tinha acontecido com os dinossauros; e por que o homem se diferenciava dos outros animais, principalmente de primatas, onde eu via muita semelhança.

Perguntava a meus professores do primário e a resposta era um "insatisfatório" "FORAM OS DESÍGNIOS DE DEUS". Isso era muito frustrante!!!!

Até que ganhei uma coleção de livros onde parte dessas perguntas eram respondidas de uma forma bem mais inteligente e satisfatória. Logo percebi que as coisas não eram tão simples como "FOI DEUS".

Entendi que se eu quisesse ter uma "vaga" compreensão da realidade das coisas, deveria me lançar em uma jornada de anos a fio em estudos acerca das diversas ciências, principalmente no campo das ciências exatas.   

O tempo se passou, o primário acabou, veio o ginásio, o colegial e a faculdade de engenharia e de física, com suas iniciações científicas e a pós.

E, cá estou eu... escrevendo sobre ciências em um blog como hobby, não mais como profissão.

Espero que esta carta de Dawkins surta um bom efeito na vida dos leitores, no que consiste em separar ciência de mera crença cega.


Boa leitura e um bom 2013 a todos.





Querida Juliet,


Agora que você fez dez anos, quero lhe escrever sobre algo que é muito importante para mim. Você já se perguntou sobre como sabemos as coisas que sabemos? Como sabemos, por exemplo, que as estrelas, que parecem pequenos pontos no céu, são na verdade grandes bolas de fogo como o Sol e ficam muito longe? E como sabemos que a Terra é uma bola menor, girando ao redor de uma dessas estrelas, o Sol?


A resposta para essas perguntas é “provas”. Às vezes “prova” significa realmente ver (ou ouvir, ou sentir, cheirar…) que algo é verdade. Astronautas viajaram longe o suficiente da Terra para ver com seus próprios olhos que ela é redonda. Às vezes nossos olhos precisam de ajuda. A “estrela-d’alva” parece uma sutil cintilação no céu, mas com um telescópio você pode ver que ela é uma linda bola — o planeta que chamamos de Vênus. Uma coisa que você aprende diretamente vendo (ou ouvindo, ou cheirando…) é chamada de observação.


Frequentemente, a prova não é só uma observação por si só, mas há sempre observações em sua base. Se aconteceu um assassinato, é comum ninguém (menos o assassino e a pessoa morta!) ter visto o que aconteceu. Mas os detetives juntam diversas observações que podem apontar na direção de um suspeito. Se as impressões digitais de uma pessoa coincidirem com as encontradas num punhal, isso é uma prova de que ela tocou nele. Isso não prova que ela cometeu o assassinato, mas pode ser uma informação útil, junto com outras provas. Às vezes um detetive consegue pensar sobre várias observações e então de repente perceber que todas se encaixam e fazem sentido se fulano de tal cometeu o crime.


Os cientistas — os especialistas em descobrir o que é verdade sobre o mundo e o universo — frequentemente trabalham como detetives. Eles dão um palpite (chamado de hipótese) sobre o que talvez seja verdade. Depois dizem para si mesmos: “Se isso realmente for verdade, devemos observar tal coisa”. Isso é chamado de previsão. Por exemplo, se o mundo realmente for redondo, podemos prever que um viajante que caminhar continuamente numa mesma direção acabará no ponto de onde partiu. Quando um médico diz que você está com sarampo, ele não olhou para você e viu sarampo. A sua primeira observação lhe fornece a hipótese de que você talvez tenha sarampo. Então ele diz para si mesmo: se ela realmente está com sarampo, devo encontrar… E ele então consulta sua lista de previsões e testa-as usando seus olhos (você está com pintas?), mãos (sua testa está quente?) e ouvidos (seu peito está com um chiado?). Só então ele toma a decisão e diz: “Meu diagnóstico é que essa criança está com sarampo”. Às vezes, os médicos precisam fazer outros testes, como exames de sangue ou raios-X, que ajudam seus olhos, mãos e ouvidos a fazer observações.


O modo como os cientistas usam provas para aprender sobre o mundo é muito mais engenhoso e complicado do que consigo dizer numa breve carta. Mas agora quero deixar de lado as provas, que são uma boa razão para crer em algo, e alertá-la sobre três más razões para acreditar em algo. Elas se chamam “tradição”, “autoridade” e “revelação”.


Primeiro, a tradição. Alguns meses atrás, fui à televisão para ter uma conversa com cerca de cinquenta crianças. Essas crianças foram convidadas por terem sido criadas segundo diferentes religiões: algumas como cristãs, outras judias, mulçumanas, hindus ou sikhs. Um homem com um microfone ia de criança em criança, perguntando no que acreditavam. O que elas responderam mostra exatamente o que quero dizer com “tradição”. Suas crenças não tinham nenhuma relação com provas. Elas simplesmente papagaiavam as crenças de seus pais e avós que, por sua vez, também não eram baseadas em provas. Elas diziam coisas como: “Nós, hindus, acreditamos em tal e tal”; “Nós, muçulmanos, acreditamos nisso e naquilo”; “Nós, cristãos, acreditamos numa outra coisa”.


Como todas acreditavam em coisas diferentes, nem todas poderiam estar certas. O homem com o microfone parecia achar que isso não era um problema, e nem tentou fazê-las discutir suas diferenças entre si. Mas não é isso que quero enfatizar no momento. Eu simplesmente quero analisar de onde vieram as crenças. Vieram da tradição. Tradição significa crenças passadas do avô para o pai, deste para o filho, e assim por diante. Ou por meio de livros passados através das gerações ao longo dos séculos. Crenças populares frequentemente começam de quase nada; talvez alguém simplesmente as invente, como as histórias sobre Thor e Zeus. Mas depois de terem sido transmitidas por alguns séculos, o simples fato de serem tão antigas as faz parecer especiais. As pessoas acreditam em coisas simplesmente porque outras pessoas acreditaram nessas mesmas coisas ao longo dos séculos. Isso é tradição.


O problema com a tradição é que, independentemente de há quanto tempo a história tenha sido inventada, ela continua exatamente tão verdadeira ou falsa quanto a história original. Se você inventar uma história que não seja verdadeira, transmiti-la através de vários séculos não vai torná-la verdadeira!


A maioria das pessoas na Inglaterra foi batizada pela Igreja anglicana, mas esse é apenas um entre muitos ramos da religião cristã. Há outras divisões, como a ortodoxa russa, a católica romana e as metodistas. Todas acreditam em coisas diferentes. A religião judaica e a mulçumana são um pouco diferentes; e há ainda diferentes tipos de judeus e mulçumanos. Pessoas que acreditam em coisas um pouco diferentes umas das outras vão à guerra por causa discordâncias. Então você talvez imagine que eles têm boas razões — provas — para acreditar naquilo que acreditam. Mas, na realidade, suas diferentes crenças são inteiramente decorrentes de tradições.


Vamos falar sobre uma tradição em particular. Católicos romanos acreditam que Maria, a mãe de Jesus, era tão especial que ela não morreu, mas acendeu ao Céu. Outras tradições cristãs discordam, e dizem que Maria morreu como qualquer pessoa. Outras religiões não falam muito nela e, de modo diferente dos católicos romanos, não a chamam de “Rainha do Céu”. A tradição segundo a qual o corpo e Maria foi levado ao Céu não é muito antiga. A Bíblia não diz nada sobre como ou quando ela nasceu; aliás, a pobre mulher mal é mencionada na Bíblia. A crença de que seu corpo foi levado ao Céu não foi inventada até cerca de seis séculos após a época de Jesus. No início, só foi inventada, da mesma forma que qualquer história, como “Branca de Neve”. Mas, no transcorrer dos séculos, ela se tornou uma tradição e as pessoas começaram a levá-la a sério simplesmente porque a história havia sido transmitida ao longo de tantas gerações. Quanto mais velha a tradição se tornava, mais as pessoas a levavam a sério. Ela foi por fim escrita como uma crença católica romana oficial muito recentemente, em 1950, quando eu tinha a idade que você tem hoje. Mas a história não era mais verdadeira em 1950 do que quando foi inventada, seiscentos anos após a morte de Maria.


Vou voltar à tradição no fim de minha carta, e olhá-la de outro modo. Mas antes preciso tratar das outras duas más razões para crer em alguma coisa: autoridade e revelação.


Autoridade enquanto razão para crer em algo significa acreditar porque alguém importante ordenou que você acreditasse. Na Igreja católica romana, o papa é a pessoa mais importante, e as pessoas acreditam que ele deve estar certo só porque ele é o papa. Num dos ramos da religião muçulmana, as pessoas importantes são velhos barbados chamados de aiatolás. Muitos muçulmanos se dispõem a cometer assassinatos simplesmente porque aiatolás de um país distante deram essa ordem.


Quando digo que só em 1950 os católicos romanos foram finalmente informados que tinham que acreditar que o corpo de Maria havia subido para o Céu, quero dizer que em 1950 o papa disse que isso era verdade, e então tinha que ser verdade! É claro que algumas coisas que o papa disse ao longo de sua vida devem ser verdade e outras não. Não há nenhuma boa razão para você acreditar em tudo que ele diz mais do que você haveria de acreditar nas coisas que muitas outras pessoas dizem, só porque ele é o papa. O papa atual ordenou às pessoas que não controlasse o número de filhos que vão ter. Se sua autoridade for seguida com a obediência que ele deseja, os resultados poderão ser uma terrível escassez de alimentos, doenças e guerras, causadas por superpopulação.


É claro que, mesmo na ciência, às vezes nós mesmos não vemos as provas e temos de acreditar no que foi dito por outra pessoa. Eu não vi, com os meus próprios olhos, que a luz viaja à velocidade de 300 mil quilômetros por segundo. Mas acredito em livros que me dizem qual é a velocidade da luz. Isso parece “autoridade”. Mas na realidade é muito melhor que autoridade, porque as pessoas que escreveram o livro viram as provas, e qualquer um de nós pode examinar as provas com atenção no momento que quiser. Isso é muito confortante. Mas nem mesmo os padres afirmam que há provas para a história de que o corpo de Maria subiu para o Céu.


A terceira má razão para acreditar em algo é “revelação”. Se você tivesse perguntado ao papa, em 1950, como ele sabia que o corpo de Maria tinha subido ao Céu, ele provavelmente teria dito que isso lhe fora revelado. Ele se fechou num quarto e rezou, pedindo orientação. Sozinho, ele pensou e pensou, e na sua intimidade teve mais e mais certeza de suas ideias. Quando pessoas religiosas têm uma simples sensação de que algo deve ser verdade, mesmo que não haja provas de que o seja, eles chamam sua sensação de “revelação”. Não só os papas afirmam ter revelações. Isso também acontece com muitas pessoas religiosas. É uma de suas principais razões para acreditar naquilo que acreditam. Mas isso é bom ou ruim?


Suponha que eu lhe dissesse que seu cachorro está morto. Você provavelmente ficaria muito triste, e talvez dissesse: “Você tem certeza? Como você sabe? Como aconteceu?”. Suponha então que eu respondesse: “Na verdade, eu não sei se Pepe está morto. Eu não tenho provas. Só tenho uma sensação esquisita, bem dentro de mim, de que ele está morto”. Você ficaria muito zangada comigo por tê-la assustado, porque você sabe que uma “sensação” por si só não é uma boa razão para acreditar que um cachorro está morto. Você precisa de provas. Todos temos sensações e pressentimentos de tempos em tempos, e descobrimos que às vezes estavam certos, às vezes não. De qualquer forma, pessoas diferentes podem ter sensações opostas, então como decidir quem teve a intuição correta? O único jeito de ter certeza de que um cachorro está morto é vê-lo morto, ou ouvir que seu coração parou de bater, ou obter essa informação de uma pessoa que viu ou ouviu alguma prova de que ele está morto.


As pessoas às vezes dizem que devemos acreditar em sensações íntimas, senão você nunca teria certeza de coisas como “Minha esposa me ama”. Mas esse é um argumento ruim. Pode haver muitas provas de que alguém ama você. Durante todo o dia em que você está com alguém que a ama, você vê e ouve pequenas provas, e elas se somam. Não é somente uma sensação interior, como a sensação que os padres chamam de revelação. Há outras coisas para apoiar a intuição: olhares, um tom carinhoso de voz, pequenos favores e gentilezas; tudo isso serve de prova.


Certas pessoas têm forte sensação de que alguém as ama sem que isso esteja baseado em provas, e então é provável que estejam completamente enganadas. Há pessoas com uma forte intuição de que um astro do cinema está apaixonado por elas, mas na realidade o astro de cinema nem sequer as encontrou. Pessoas assim são doentes da cabeça. Sensações íntimas ou intuições precisam ser apoiadas por provas, senão você simplesmente não pode confiar nelas.


As intuições são valiosas na ciência também, mas só para lhe dar ideias que você então testa, procurando provas. Um cientista pode ter um “pressentimento” sobre uma ideia que ele “sente” estar correta. Por si só, isso não é uma boa razão para acreditar nela. Mas pode ser uma razão para passar algum tempo fazendo experimentos, ou à busca de provas. Cientistas usam a intuição o tempo todo para ter ideias. Mas elas não valem nada até que sejam apoiadas por provas.


Eu prometi que voltaria à tradição, para examiná-la de outro modo. Quero explicar o que a tradição é tão importante para nós. Todos os animais são construídos (pelo processo chamado de evolução) para sobreviver no local em que seus semelhantes vivem. Leões são construídos para sobre sobreviver nas planícies da África. O lagostim é construído para sobreviver na água doce, enquanto as lagostas são adaptadas para a vida na água salgada. As pessoas também são animais, e somos construídos para viver bem no mundo cheio de… outras pessoas. A maioria de nós não caça para obter comida, como as lagostas ou os leões; nós a compramos de pessoas que, por sua vez, a compram de outras pessoas. Nós “nadamos” num “mar de pessoas”. Assim como um peixe precisa das brânquias para sobreviver na água, as pessoas precisam do cérebro que as torna capazes de se relacionarem umas com as outras. Assim como o mar está cheio de água salgada, o mar de pessoas está cheio de coisas difíceis de aprender. Como a linguagem.


Você fala inglês, mas sua amiga Ann-Kathrin fala alemão. Cada um de vocês fala a língua que lhes permite “nadar” no seu “mar de pessoas”. A linguagem é transmitida por tradição. Não há outra alternativa. Na Inglaterra, Pepe é um dog. Na Alemanha, ele é ein Hund. Nenhuma dessas palavras é mais correta ou verdadeira do que a outra. As duas foram transmitidas ao longo do tempo, só isso. Para serem boas em “nadar no seu mar de pessoas”, as crianças têm que aprender a língua de seu país, e muitas outras coisas sobre o seu povo; e isso só quer dizer que elas precisam absorver, como papel mata-borrão, uma enorme quantidade de informações sobre tradições (lembre que essas informações são aquelas passadas dos avós para pais e deste para filhos). O cérebro da criança tem que absorver informações sobre tradições. Não é de se esperar que a criança consiga separar a informação boa e útil, como as palavras de uma língua, das informações ruins e tolas como acreditar em bruxas, demônios e virgens imortais.


É uma pena — mas não deixa de ser assim — que, por serem sugadoras da informação sobre tradições, as crianças possam acreditar em qualquer coisa que os adultos lhes digam. Não importa se é falso ou verdadeiro, certo ou errado. Muito do que os adultos dizem é verdadeiro e baseado em provas, ou pelo menos sensato. Mas se parte do que é dito é falso, tolo ou até malvado, não há nada para impedir as crianças de acreditarem naquilo também. E quando as crianças crescerem o que farão? Bom, é claro que contarão as histórias para a próxima geração de crianças. Então, uma vez que uma ideia se torna uma crença arraigada — mesmo que seja completamente falsa e nunca tenha havido uma razão para acreditar nela —, pode durar para sempre.


Será isso o que aconteceu com as religiões? A crença de que há um Deus ou deuses, crença no Céu, crença em que Maria nunca morreu, que Jesus nunca possuiu um pai humano, que as rezas são respondidas, que vinho se torna sangue — nenhuma dessas crenças é apoiada por boas provas. E, no entanto, milhões de pessoas acreditam nelas. Talvez isso ocorra porque elas foram levadas a acreditar nessas coisas quando eram tão jovens que aceitavam qualquer coisa.


Milhões de pessoas acreditam em coisas bem diferentes, porque diferentes coisas lhes foram ensinadas quando eram crianças. Coisas diferentes são ditas para crianças muçulmanas e cristãs, e ambas crescem totalmente convencidas de que estão certas e as outras erradas. Mesmo entre cristãos, católicos romanos acreditam em coisas diferentes dos anglicanos ou de pessoas como os shakers [adeptos da Igreja milênio] ou quacres, mórmons ou Holy Rolers, e todos estão plenamente convencidos de que estão certos e os outros errados. Acreditam em coisas diferentes exatamente pela mesma razão que você fala inglês e Ann-Kathrin fala alemão. Ambas as línguas são, em seu próprio país, a língua certa para se falar. Mas não pode ser verdade que religiões diferentes estão corretas em seus próprios países, pois religiões diferentes afirmam que coisas opostas são verdadeiras. Maria não pode estar viva na Irlanda do Sul (um país católico) e morta na Irlanda do Norte (que é protestante).


O que podemos fazer sobre tudo isso? Não é fácil para você fazer alguma coisa, porque você só tem dez anos. Mas você pode experimentar o seguinte. Da próxima vez que alguém lhe disser algo que parecer importante, pense: “Será que isso é o tipo de coisa que as pessoas sabem por causa de provas? Ou será o tipo de coisa em que as pessoas acreditam só por causa de tradição, autoridade ou revelação?”. E, da próxima vez que alguém lhe disser que uma coisa é verdade, por que não perguntar: “Que tipo de prova há para isso?”. E, se ela não puder lhe dar uma boa resposta, eu espero que você pense com muito carinho antes de acreditar em qualquer palavra daquilo que foi dito.


De seu querido Papai



Sobre o autor: Richard Dawkins é evolucionista; docente no departamento de zoologia da Oxford University; membro do New College. Começou sua carreira de pesquisador na década de 60, como um aluno etólogo agraciado com o premio Nobel Nico Tinbergen, e desde então seu trabalho tem focalizado principalmente a evolução do comportamento.

 

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

OS ARGUMENTOS DO DESESPERO DE UM CRIACIONISTA: AGORA CONTRA TEORIAS ACERCA DO UNIVERSO - parte 6

NOTA ACERCA DA PÉROLA 2:



Nota: Hoyle preferia um universo sem começo nem fim, que se estende infinitamente para o passado e para o futuro. Mas, se o Universo fosse eterno para o passado, como explicar o fato de que estamos aqui, neste momento? Imagine peças de dominó empilhadas numa fileira, uma após a outra. Você conhece a brincadeira. Agora imagine que uma das pontas da fileira se estendesse ao infinito. Derrubando-se a primeira peça (seja lá onde ela estivesse, já que estaria no infinito), algum dia seria possível que as peças do presente fossem derrubadas pelo efeito dominó? Isso nunca aconteceria, pois infinito não tem começo. Da mesma forma, se nosso universo fosse infinito, não estaríamos aqui contando o tempo. 




 Este universo em que vivemos teve um início. Com este início o tempo passou a fazer sentido assim como o espaço, uma vez que ambos se inflaram com o início do universo.

Isso já está demonstrado. É a radiação cósmica de fundo. A confirmação veio acidentalmente por meio de um problema enfrentado por Arno Penzias e Robert Wilson.




Este problema ocorreu quando ambos construíram um radiômetro Dicke, que pretendiam utilizar para experiências de radioastronomia e comunicação via satélite. 

O instrumento deles tinha um ruído térmico excessivo de 3,5 K que eles não podiam explicar

 Após diversos testes Penzias se deu finalmente conta que aquele ruído nada mais era do que a radiação prevista por Gamov, Alpher e Herman e mais tarde por Dicke.





A teoria do Big Bang sugere que a radiação cósmica de fundo preenche todo o espaço observável, e que a maior parte da energia do universo está na radiação cósmica de fundo em micro-ondas, que constitui uma fração de aproximadamente 5×10^-5 da densidade total do universo. 


As maiores confirmações da teoria do Big Bang são suas predições acerca do seu espectro de corpo negro praticamente perfeito e de sua detalhada predição das anisotropias na radiação cósmica de fundo em micro-ondas.





A recente sonda Wilkinson Microwave Anisotropy Probe (WMAP) mediu com precisão essas anisotropias através de todo o céu até escalas angulares de 0,2 graus. 


Elas podem ser utilizadas para estimar os parâmetros do modelo padrão Lambda-CDM (modelo conhecido mais simples que está em acordo com todas as observações da teoria do Big-Bang - sobre supernovas, radiação de fundo de microondas, estrutura em grande escala do universo e aceleração da expansão do universo) do Big Bang.


Algumas informações, como a forma do universo, podem ser obtidas diretamente da radiação cósmica de fundo, enquanto outras, como a constante de Hubble (o afastamento das galáxias por efeito Doppler, hoje se sabe que é o espaço que cresce e o efeito Doppler é apenas uma aproximação), não são óbvias e precisam ser inferidas de outras medidas. 


Assim, o questionamento acima, acerca de um universo infinitamente antigo, não faz o menor sentido. Nada mais é que um "jogo retórico". 





O artigo em questão (aqui) não fala do universo infinito no tempo de sua origem. Mas de um multiverso infinito.

veja:


"Por exemplo, uma ideia é que o universo é cíclico, com big bangs seguidos de “big crunches” (crises) seguido de big bangs em um ciclo infinito. 

Outra é a noção de inflação eterna, em que as diferentes partes do universo se expandem e contraem em taxas diferentes. Estas regiões podem ser pensadas como universos diferentes em um multiverso gigante.

Assim, embora pareça que vivemos em um cosmos que se expande, outros universos podem ser muito diferentes. E enquanto o nosso universo pode parecer que tem um começo, o multiverso não precisa ter um começo."

 
O muitiverso não conta o tempo, uma vez que tempo somente passa a fazer sentido com o surgimento de um universo, que, de acordo com a teoria-M se dá pelo choque entre duas P-branas e tal choque confina a energia gerada neste choque em uma D-brana.


Mithani e Vilenkin concluíram o que os teístas têm dito desde sempre: o Universo foi criado em algum tempo passado. Por que criado? Simples: tudo o que teve um começo tem que ter uma causa (conhece algo que teve um começo e passou a existir do nada?). Se o Universo teve um começo (e tudo indica que teve), qual foi a causa dele? Você percebe por que a imaginação naturalista simpatiza com a hipótese metafísica dos multiversos? Eles precisam dela para fugir do óbvio e impedir que Deus coloque o pé na porta, abrindo uma fresta para o transcendente que eles negam a priori.[MB]


No artigo, são aprsentadas as seguintes ideias de universo:


1 - Um universo de estado estacionário, sem começo nem fim, que se estende infinitamente para o passado e para o futuro, proposto por Hoyle.


2 - O universo é cíclico, com big bangs seguidos de “big crunches” (crises) seguido de big bangs em um ciclo infinito.


3 - A noção de inflação eterna, em que as diferentes partes do universo se expandem e contraem em taxas diferentes. Estas regiões podem ser pensadas como universos diferentes em um multiverso gigante.


4 - A ideia de um universo emergente que existe como uma espécie de semente para a eternidade e, de repente, se expande.


 O que os autores concluem é o seguinte:




"Audrey Mithani e Alexander Vilenkin, da Universidade Tufts em Massachusetts, EUA, dizem que todos os modelos propostos são matematicamente incompatíveis com um passado eterno. 

A análise dos pesquisadores sugere que estes três ultomos modelos do universo devem ter tido um começo.

Mithani e Vilenkin lembram que este tipo de trajetória do passado não pode ser infinita se for parte de um universo que se expande de uma maneira específica.

Universos cíclicos e universos de inflação eterna se expandem dessa forma específica. Então, esses tipos de universo não podem ser eternos no passado, e devem, portanto, ter tido um começo.

“Embora a expansão possa ser eterna no futuro, não pode ser estendida indefinidamente para o passado”, dizem eles.

Esses modelos podem parecer estáveis do ponto de vista clássico, mas são instáveis do ponto de vista da mecânica quântica. A conclusão é inevitável. “Nenhum desses cenários pode realmente ser eterno no passado”, diz Mithani e Vilenkin.

Como a evidência observacional é que o nosso universo está se expandindo, então ele também deve ter nascido em algum ponto no passado. Não adianta fugir dele… Voltamos para o Big Bang."


 
Bem, onde os autores falaram de "argumento da causa primeira" no artigo?

Onde eles falam que o universo "foi criado"?  


Mas que mania de enfiar palavras na boca dos outros! De dizer o que os outros não disseram!! Isso é FALSO TESTEMUNHO!!!


Como já foi exaustivamente abordado no terceiro post desta série (aqui) a teoria dos multiversos não se trata de uma fantasia tresloucada de mentes que querem ver os deuses pelas costas. Ela surge da física quântica e da teoria-M.

Também, não fere a navalha de Occam, como expõe Max Tegmark: 







"A complexidade aumenta quando nós restringimos a atenção a um elemento particular num conjunto. Perde-se assim a simetria e simplicidade que eram inerentes a totalidade de todos os elementos juntos.

Neste sentido, os multiversos de nível mais elevado são mais simples.

Indo de nosso universo para o multiverso de nível I elimina-se a necessidade de especificar as condições iniciais.

A atualização para o Nível II elimina a necessidade de especificar constantes físicas, e o indo-se para o multiverso de Nível IV elimina a necessidade de especificar qualquer coisa.

Uma característica comum a todos os quatro níveis multiverso é que a teoria mais simples e provavelmente a mais elegante, sendo que envolve universos paralelos por padrão.

Para negar a existência desses universos, é preciso complicar a teoria, adicionando-se processos experimentalmente insustentáveis e postulados ad hoc: espaço finito, colapso da função de onda e ontológica assimetria.

Nosso julgamento, portanto, se resume a que encontramos mais desperdício e falta de elegância: muitos mundos ou muitas palavras.  

Talvez vamos, gradualmente, nos acostumar com as formas esquisitas de nosso cosmos e encontrar a sua estranheza por fazermos parte do seu encanto."


 LER:

"Parallel universes. Not just a staple of science fiction, other universes are a direct implication of cosmological observations"

 "Parallel universes."

The structure of the multiverse - David Deutsch

Does the multiverse really exists?  Geoge Ellis




Mesmo a hipótese de um designer ou de deuses feriria a navalha de Occam, pois empurrar o problema para uma entidade metafísica além da qual noós não podemos ir, acaba por não explicar nada.

 Ao se criar esta entidade, primeiro teremos de explicá-la em todas as suas propriedades e características exóticas. Entendidas estas propriedades, poderemos começar a explicar nosso problema.

Ou seja, a criação de entidades metafísicas ferem o principio da navalha de Occam.

"As entidades não devem ser multiplicadas além do necessário, mas não menos que o necessário (lex parsimoniae)". 

Resumindo, parece que o deus dos fundamentalistas negadores da ciência, está sendo removido de mais uma das lacunas onde se esconde. 



Se é tão óbvia assim a conclusão do autor da infeliz nota, por que até o momento não demonstrou a objetividade de deus? 


Ora, uma afirmação sem evidência, no campo científico, não significa nada.

Pelo fato de desconhecermos algo, isso não implica em que deus possa ser assumido como a resposta para a questão.






A proposta do autor da infeliz nota é confundir o insondado com o insondável; é nada mais que um argumento da ignorância, além de "dar pitaco" em coisas que não faz a menor ideia.  

 

Sobre a questão da causa primeira do universo, recomenda-se o filme O grande Projeto de Stephen Hawking. Infelizmente, havia o vídeo, mas o desserviço que a lei de direitos autorais presta contra a educação, não permite mais que este vídeo esteja aqui para libertar as pessoas da ignorância. Acho que esta lei deve ter sido elaborada por algum criacionista...




Para os leitores interessados, ler o livro "O Grande Projeto" do mesmo autor.


Mais uma vez, acho que consegui desfazer o mal que criacionistas criam, com sua avidez de fazer proselitismo e combater aquilo que atenta contra suas ideologias.