segunda-feira, 22 de março de 2010

Ainda a Verdade Absoluta - Parte IV

A verdade:


A palavra verdade pode ter vários significados, desde “ser o caso”, “estar de acordo com os fatos ou a realidade”, ou ainda ser fiel às origens ou a um padrão.

Para Nietzsche, a verdade é um ponto de vista. Ele não define nem aceita definição da verdade, porque não se pode alcançar uma certeza sobre a definição do oposto da mentira.

Sobre os tipos de verdade tem-se:

Verdade material é a adequação entre o que é e o que é dito.

Verdade formal é a validade de uma conclusão à qual se chega seguindo as regras de inferência a partir de postulados e axiomas aceitos.

É uma verdade analítica a frase na qual o predicado está contido no sujeito.

É uma verdade sintética a frase na qual o predicado não está contido no sujeito.
Sofisma é todo tipo de discurso que se baseia num antecedente falso tentando chegar a uma conclusão lógica válida.

Definir a verdade não é tarefa fácil.

Pode-se compreende-la como uma interpretação mental da realidade transmitida pelos sentidos,e confirmada por equações matemáticas e regras lingüísticas formadoras de modelos capazes de preverem ou predizerem acontecimentos sujeitos a determinadas regras.

A verdade pode também ser compreendida como um resultado lógico (verdadeiro ou falso) de uma operação mental que depende de dois tipos de conjuntos de juízos: juízos a priori e a posteriori.

Os juízos a priori são conhecidos pela mente antes da realização da experiência, exemplo: a linha reta é a menor distancia entre dois pontos.

Os juízos a posteriori dependem do resultado final de uma experiência científica, que deve ser realizada inúmeras vezes para que exista a comprovação de que um fenômeno sobre determinadas condições só produz um único tipo de resultado que pode ser verdadeiro ou falso.
Todavia, há que se lembrar que não existem mecanismos científicos totalmente eficazes de se prever qualquer acontecimento, pois a realidade poder ser alterada por elementos imprevisíveis ao conhecimento humano.

A verdade, nesta visão pode ser compreendida como um fato, que só é real depois de confirmado ou refutado pelo uso da razão.

Dessa forma, é melhor compreender a verdade em suas formas, conforme segue:


1- Verdade científica (ver/perceber):

É aquela aplicada às ciências naturais. Algo se torna cientificamente verdade se não for rechaçado por testes que confirmem o contrário. Assim, mesmo nas ciências naturais, nada é 100% verdade, mas tende a sê-lo caso sempre as hipóteses formuladas acerca do problema se confirmem, segundo estabelece o método Popperiano.

Neste ponto, o verdadeiro é o ser (aquilo que é), ou seja, a verdade é uma manifestação dos seres à visão humana, por ser uma qualidade das coisas ao mostrarem-se a si mesmas, o que significa que verdade é a manifestação da realidade.

Para este tipo de verdade, há a necessidade da evidência, a qual se trata da visão intelectual e racional da verdade, o que é a marca do conhecimento verdadeiro, calcado na visão intelectual e racional da realidade de como ela é em si mesma.

Assim, a idéia é verdadeira quando existe fora de nosso espírito ou de nosso pensamento, sendo que nosso intelecto deve estar adequado às coisas, representadas pelas idéias.

2 - Verdade matemática (abstrato):

As ciências são calcadas no método indutivo (é experimental e parte-se do particular para se estabelecer uma lei geral) e no método dedutivo (parte de idéias e verdades abstratas gerais das quais se extraem leis ou conseqüências menos gerais ou equivalentes).

O método dedutivo é racional uma vez quer parte de uma proposição geral para chegar a uma conseqüência particular. Seu ponto de partida é um princípio tido como verdadeiro a priori. Seu ponto de chegada é a tese ou conclusão, que é aquilo que se deseja provar.

O método indutivo é o raciocínio que se baseia em observação de fenômenos e fatos da realidade objetiva e estuda as leis que os regem, como seu ponto de partida. Seu ponto de chegada é o estabelecimento de leis ou regularidades regentes dos fatos e dos fenômenos analisados. É o método científico por excelência e, por isso, o método fundamental das ciências naturais e sociais.

Um princípio é uma proposição (tese ou teoria) muito geral, fundamental, suficientemente demonstrada e por essa razão considerada verdadeira, da qual as leis já descobertas podem ser consideradas como consequências. Por exemplo, o princípio da conservação da energia.

Uma lei é o enunciado de uma relação necessária e constante entre fatos e fenômenos, relação essa decorrente da natureza interna das coisas, isto é, de sua essência. Por exemplo a lei da gravitação universal.

As matemáticas são essencialmente dedutivas, sendo seu princípio basilar o da identidade e, consequentemente o da não contradição de onde se extraem os axiomas.

Desse modo, a matemática não estuda noções empíricas, mas noções ideais, construídas por definições, sendo sua linguagem sintática (relação dos signos consigo mesmos, que busca coerência e pertinência recíprocas, sem atender em princípio, os fatos do mundo exterior) e não semântica (relação dos signos com o mundo, que busca sua relação de referência com as realidades empíricas).

Vale aqui a digressão acerca da construção da matemática.

O aparecimento dos números depende das diversas necessidades dos povos. Assim, a criação de certos tipos de conjuntos numéricos se coadunam a determinadas necessidades. À medida que tais necessidades evoluem, há a imposição de satisfazê-las e assim, criam-se novos números, desenvolvendo-se sua teoria.

Este processo de construção é denominado sintético.

Por exemplo, na antiguidade não se conhecia o zero e algo como 1-1 não possuia qualquer significado. Apenas se conheciam os números naturais N = {1,2,3...n}. Depois passamos a ter os números naturais incluído o zero N* = {0,1,2,...n}

Ao aprendermos a subtração surge o conjunto dos números inteiros Z = {-n ...-2,-1, 0 ,1,2,...n}.

Ao aprendermos operações com a divisão, surgiram os números racionais Q = {...-2, -3/2, -1 -3/4, 0, 1/2, 1...}

Após estes surgem os números reais R = {... -2, -(2^(1/2)), -1, 0, (0,9^(1/3)), 1, 2,5, e....}

Devido a necessidades impostas pela eletrônica, surgem os números complexos I = {...-1, -(-1^1/2), 0, 1 , (-2^(1/2))...}.

Criada e desenvolvida a teoria pelo processo sintético, os matemáticos passaram a querer purificar tal teoria. Ou seja, eliminar causas estranhas à matemática que impusessem o desenvolvimento da teoria. Assim, passou-se a definir e a construir a teoria com recursos somente da lógica.

Este processo é denominado de analítico ou axiomático.

Por esta teoria, existem proposições que se demonstram ou são demonstráveis, as quais são denominadas de teoremas. O teorema é ou pode ser consequência lógica ou necessária de outros teoremas, previamente estabelecidos, que por sua vez devem ser provados e assim por diante, o que determina uma corrente de proposições unidas entre si.

Mas até onde esta corrente deverá ser prolongada? É impossível uma regressão infinita. Assim há que parar-se em uma determinada ou determinadas proposições.

Estas proposições são admitidas a priori, sem demonstração, daí serem chamadas de proposições não demonstradas, sendo elas o primeiro elo da corrente que construirá o raciocínio matemático.

Estas proposições não demonstradas são meramente aceitas como verdadeiras e se denominam axiomas.

O axioma, no sentido restrito de princípio lógico e racional, é uma proposição evidente por si mesma, aceita como verdadeira e sem demonstração. Serve de ponto de partida para a construção de um sistema hipotético-dedutivo. Assim, na matemática, os axiomas não se tratam de juízos sintéticos a priori (aqueles em que não se pode chegar à verdade por pura análise de suas proposições) e nem de fatos experimentais, são, conforme a acepção de Henri Poincaré, meras convenções.

O conceito tradicional de axioma estabelece que este é uma proposição de evidência absoluta por si mesma, indemonstrável, por ser o princípio e a condição de toda a demonstração.

Além das proposições não demonstradas, há também as proposições não definidas ou entes primitivos, os quais devem ser aceitos uma vez que há a impossibilidade de reduções infinitas a partir de noções mais complexas para as mais simples, seja por demonstração, como por definição.

Um exemplo, é a noção de conjunto, a qual não apresenta definição.

O estudo axiomático dos números naturais é devido ao matemático Peano que considerou os seguintes entes matemáticos como noções não definidas ou primitivas:

o número natural;
o número 1;
o número que é um sucessor;

Peano afirmou também que os números naturais devem satisfazer as seguintes proposições não demonstradas ou axiomas:

- o número 1 é um número natural;
- para cada número natural "a" existe exatamente um outro número chamado sucessor de "a" representado por "a´";
- o número 1 não é sucessor de nenhum número natural;
- se dois números naturais possuem um mesmo sucessor eles são iguais;

Disso tudo resulta o postulado da indução matemática, conforme segue:

Se A for um conjunto de números naturais tal que:
a) o 1 pertence a A,
b) o fato de um número natural "a" pertencer ao conjunto A, implica que seu sucessor "a´" também pertence a ; então o conjunto A conterá todos os números naturais.

A partir deste postulado, temos o processo de formação dos números que é feito pela adição de 1 ao número anterior para obter um novo número do conjunto.

A respeito do postulado, em seu conceito também tradicional, este é uma proposição não absolutamente evidente e nem demonstrável, mas se trata de uma verdade legítima, estabelecida, também por convenção, sem violar qualquer princípio de razão ou de lei formal de pensamento. Por exemplo, por um ponto fora de uma reta, não se pode traçar senão uma e apenas uma paralela a esta reta (postulado de Euclides).

A convenção se trata de um ajuste, um acordo sobre determinado assunto ou fato. Ela dá valor, sentido ou realidade a uma questão, mediante acordo recíproco ou explicação prévia. Assim, para que axiomas e postulados sejam aceitos como verdades, os matemáticos se reunem, discutem e chegam a um acordo sobre sua aceitação.

Mas seriam estes conceitos dogmas das ciências? É claro que não.

O dogma é uma proposição indemonstrável e indiscutível aceito na base somente da crença e da fé, sem a participação crítica da razão ou da confirmação científica. Por exemplo, o dogma da criação do mundo pelos deuses, o dogma da imortalidade da alma, o dogma da ressurreição de Jesus.

O dogma difere do postulado e do axioma, uma vez que estes são aceitos por convenções, onde muito se discute e podem ser revistos ou variar, como veremos mais adiante. Já o dogma encontra-se blindado a qualquer discussão ou revisão de seus conceitos.

No entanto, o conceito de axioma varia, conforme o espaço onde lidamos (plano, esférico e em cela) e com o sistema matemático a ser aplicado. E, portanto, o mesmo ocorre com os postulados e teoremas aplicados aos diversos tipos de espaço ou sistema matemático. Assim, a evidência mediante a intuição axiomática não é mais aceita como base para a certeza veritativa.

A fim de que se aceite determinada proposição como axioma, exige-se a manutenção da coerência nas deduções de outras proposições, o que forma um sistema.

A doutrina é um conjunto de teorias e de princípios que servem como bases a um sistema científico ou filosófico, por exemplo, a doutrina do epicurismo.

Um sistema é um conjunto de teorias e princípios científicos ou filosóficos que constituem um todo orgânico, cujas bases se esteiam nas doutrinas.

Atualmente, vemos a geometria plana como algo relativo em função de novas convenções nascidas do avanço da geometria e da matemática, no que concerne aos espaços esféricos, em cela, de Hilbert, de Kolmogorov, em relação à álgebra vetorial, da teoria dos grupos e dos anéis.

Dessa forma, o conceito de axioma perdeu sua expressividade puramente objetiva, como algo de per si evidente, para ser considerado como axioma, mediante convenção, ou pelo menos mediante um acordo sobre determinado ponto de partida.

Assim, passa-se a ter elementos oriundos do acordo, da convenção e da suposição, ou seja, elementos pertencentes à subjetividade volitiva.

Portanto, renuncia-se a capacidade absoluta da razão a qual intui o axioma como algo objetivo e independente que qualquer lampejo de subjetividade.

Em uma identidade concebida pela razão, o axioma, sob a ótica tradicional, é essencialmente a priori e analítico, daí não poder ser rejeitado sem que se caia na contradição.

Já o postulado tem caráter sintético e a posteriori, uma vez que acrescenta ao sujeito a idéia de alguma propriedade especial, revelada pela experiência. Assim, o postulado pode ser negado sem que se caia na contradição.

Na geometria plana, a linha reta é o caminho mais curto entre dois pontos. Porém, tal idéia está plenamente subvertida para o espaço esférico e em cela.

Quando afirmamos que 2+2=4, isso ocorre porque há provas matemáticas para tal em teoria dos números, conforme explanado acima, a partir dos axiomas propostos por Peano.

Logo, tais provas derivam de axiomas e postulados da álgebra. Porém, uma simples operação de soma muda por completo suas características quando adentramos a álgebra vetorial, ao cálculo tensorial, à teoria dos grupos, dos nós e à dos anéis ou mesmo se estivermos lidando com sistemas diferentes do decimal, como o binário, sexagesimal ou octagesimal.

Por exemplo, a = 2 + 2; se forem módulos de vetores teremos que:

a = { (2^2) + (2^2) +2*(2)*(2) cos(x)}^(1/2), sendo x o ângulo formado entre estes vetores.

Se estivermos em sistemas de base qualquer, por exemplo base 2, teremos que:

2 + 2 = 4 será dado por: 10 + 10 = 100

Em base 3 teremos:

2 + 2 = 11

em base 4 teremos:

2+2 = 10

Assim, para uma simples soma, nossa verdade depende de em que sistema nos encontramos, se no sistema decimal ou se em qualquer outro sistema de bases, ou se em um tipo diferente de álgebra.

Em geometria a coisa ainda fica mais emocionante:



Suponhamos um triângulo no espaço plano (euclidiano). Qualquer um sabe que a soma de seus ângulos internos perfaz 180 graus.






Mas se estivermos em um espaço esférico;













Ou em um espaço em cela , o hiperbólico?




Ai a coisa muda!!!

Para o espaço esférico a soma dos ângulos internos será maior que 180 graus e no espaço hiperbólico, será menor.

Ou seja, nossos axiomas, postulados e teoremas variarão conforme o sistema em que nos encontramos, o que os torna relativos ao sistema em que são utilizados. Ou seja, é a teoria dos sistemas de Luhmann aplicada à matemática, onde um subsistema não se sobrepõe ao outro, mas apenas se comunicam, criam diferenças e estabelecem as fronteiras entre os sistemas.

Assim, cada subsistema deste será importante de acordo com sua função a ser realizada, ou seja, como irá atender a evolução do conhecimento matemático, sendo distinto dos demais subsistemas.


3 - A verdade relatada (falar/dizer):


Esta forma de verdade volta-se a precisão e a exatidão de um relato que diz com pormenores o que aconteceu. Assim, o verdadeiro é a linguagem como narrativa dos fatos, sendo que os enunciados devem expressar fielmente como as coisas aconteceram.

Desse modo, o relato será veraz, quando a linguagem enunciar os fatos reais, sendo que tais enunciados deverão corresponder à verdade. Portanto, os relatos e enunciados sobre as coisas (reais ou imaginarias) é que deverão ser verdadeiros ou falsos.

Esta forma de verdade depende da precisão da linguagem que expressam nossas idéias e acontecimentos ou fatos exteriores a nós. Assim, as idéias serão verdadeiras se obedecerem aos princípios, regras e normas de uma linguagem rigorosa.

Dessa forma, o critério da verdade e dado pela coerência interna ou coerência lógica das idéias ou de sua cadeia formadoras do raciocínio. Tal coerência depende da obediência às regras e leis dos enunciados corretos. Logo a marca do verdadeiro passa a ser a validade lógica dos argumentos.

Há que se salientar que a lógica não possui compromisso com a verdade, mas, apenas, em estruturar um raciocínio. Podemos perfeitamente ter raciocínios válidos com premissas ou conclusões falsas e vice-versa.

Neste ponto, não significa que o raciocínio estruturado seja representante da verdade como naquele referente às verdades científicas. Pode ser falso, no que concerne à evidencia, mas será plenamente válido sob o ponto de vista lógico.


4 - Verdades da confiança (crer/confiar):


Nesta forma de verdade, tanto as pessoas como os deuses é que são verdadeiros, que devem cumprir aquilo que prometem.

A verdade se funda na crença, esperança e confiança de uma promessa.

A maior expressão sobre esta forma de verdade é revelação divina a qual não se justifica, mas é meramente revelada e calcada no dogma da crença. Suas revelações são intrínsecas ao sistema em que cada povo vive, conforme suas respectivas sociedades.

Assim como ocorre com a ideologia, aqui é uma questão de crer ou não crer naquilo que é pregado.

Neste ponto, a verdade depende de um acordo ou pacto de confiança entre os indivíduos, que definem um conjunto de convenções universais sobre determinado conhecimento tido como verdadeiro, sendo que tais regras ou convenções devem ser por todos respeitadas.

Portanto, a marca da verdade será o consenso e a confiança recíprocos entre os membros da comunidade.

O consenso se estabelece baseado em três princípios:

Que somos seres racionais e que nosso pensamento obedece aos quatro princípios da razão (identidade, não contradição, terceiro excluído e razão suficiente – para tudo o que existe há uma causa);

Que somos seres dotados de linguagem e que ela funciona segundo regras lógicas convencionadas e aceitas por determinada comunidade;

Que os resultados de qualquer investigação devem ser submetidos à discussão e avaliação pelos membros da comunidade de investigadores que lhe atribuirão ou não o valor de verdade.

Esta forma de verdade se aproxima da teoria da coerência interna, cuja base são os argumentos lingüísticos e lógicos do discurso da comunicação.


5 - Verdade pragmática:

O conhecimento aqui se torna verdadeiro de acordo com seus resultados e aplicações práticas e é verificado pela experiência. Tal concepção se aproxima da teoria da correspondência coisa/idéia.

Aqui, são os resultados que recebem a denominação de verdadeiros ou falsos, pois há um acordo entre pensamento e realidade.

Feita a explanação acima, passemos as perguntas elaboradas pelo Sr. Jean e o sofisma da existência da verdade absoluta:

Mas respondamos as perguntas elaboradas pelo Sr. Jean:


[“Toda verdade é relativa” (a contradição é simples e para quebrar pergunte: “essa é relativa?”);“Não existe uma verdade absoluta” (você está absolutamente certo disto?”) ]

Até o momento, conforme acima debatido, nenhuma verdade absoluta foi verificada. Lembre-se, nas ciências naturais nada é 100%, na matemática depende em que espaço me encontro, na dialética vale o melhor argumento, independente de ser verdadeiro, e na religião minha verdade varia conforme o credo que professo.

Perguntar se a afirmação "Toda a verdade é relativa" é uma verdade relativa, simplesmente é descabido, uma vez que esta é uma questão aberta e depende muito de questões plenamente filosófico-sociais. A verdade poderá ser absoluta para determinado sistema, mas não para outro, conforme exaustivamente debatemos ao longo deste tópico.

Se o Sr. Jean pensa que não é esta a tendência, deixe a conversa mole de lado e faça o que não fez ao longo de 4 tópicos apresentados na introdução:

Traga-me uma e apenas uma verdade absoluta (válida em qualquer dos campos acima), ou melhor, defina o que é “verdade absoluta”.


Resumindo, a questão levantada pelo sr. Jean não passa de um sofisma.


[ “É verdade para você, mas não é para mim!” (essa afirmação é verdadeira apenas para você ou para o mundo?”).]


Sim, esta afirmação é para o mundo e para tudo que nele há, pois dependendo de onde nos encontrarmos, as verdades variarão muito.

Seja em termos das ciências naturais (física da gravidade na Terra e em um buraco negro), da matemática (a soma dos ângulos de um triângulo esférico, de um plano e de um hiperbólico, o sistema de bases numéricos, a soma de números se vetor ou se algarismo), da dialética (conforme o ponto de vista da escola humana que vc defende, ou do argumento apresentado), na questão do argumento (aquele melhor sustentado) e da religião (sobre os dogmas relativos a cada crença, seus rituais e prescrições); tudo é uma questão de em que sistema nos encontramos.


[É impossível tais afirmações se manterem de pé como verdades uma vez que são falsas em si mesmas.]

 
Bem, isso o autor deve ter retirado de uma demonstração com uma linha de raciocínio errônea, acerca da redução ao absurdo conforme segue:

Tese a ser provada: não existe verdade absoluta: ~ A

Presunção oposta: existe verdade absoluta: A



O sofisma: Não existe verdade absoluta é uma verdade absoluta: ~A = A


A conclusão: Logo, existe verdade absoluta: A


A redução ao absurdo é um argumento lógico por prova indireta, no qual a conclusão é estabelecida mostrando que, presumindo-se o contrário, o resultado será absurdo. Assim, há que se aceitar a conclusão.

O argumento da redução ao absurdo se descreve como:


Tese a ser provada: A

Presunção oposta: ~A

Argumentar que a partir do presumido teríamos de concluir: B

Mostrar que a conclusão B é falsa (o contraditório)

Conclusão: A tem de estar correto



Vejamos o caso apresentado sobre a existência ou não da verdade absoluta:


 
A ser provado: Não existe verdade absoluta: ~A;


Presunção oposta: Existe a verdade absoluta: A;


Argumentar que a partir do presumido teríamos de concluir B; A verdade absoluta tem de ser unânime, ou seja, não só verdadeira como válida para qualquer sistema;


Mostrar que a conclusão B é falsa (o contraditório):


Mas, conforme se percebe, via estudos científicos de ciências naturais (física, química, biologia meteorologia, geologia, etc.), matemáticos, sociológicos, psicológicos, antropológicos, teológicos e a partir da história, quer sejam as verdades cientificas, as verdades matemáticas, as verdades dialéticas e as verdades religiosas, estas variam conforme cada sistema, no decorrer do tempo e a partir de novas descobertas, tanto nas ciências naturais, quanto nas matemáticas. Portanto, verdades unânimes, para todos os sistemas do conhecimento humano não se verificam. Cada sistema assim terá a sua verdade específica.



Conclui: ~A tem de estar correto: Portanto, a verdade absoluta não existe.

Ou seja, como se pode perceber, o argumento anterior à estrutura ora apresentada, não passa de um sofisma, ou seja, não representa uma estrutura lógica de raciocínio e, tampouco, tece qualquer argumento para fundamentar o que deseja provar, no caso a existência da verdade absoluta.


Mas o primeiro raciocínio acima apresentado é falho, pois na redução ao absurdo há a necessidade de premissas que apóiem a sua tese, o que simplesmente não ocorre e, deliberadamente, sem qualquer critério, iguala a tese a ser provada com a presunção oposta, sem qualquer argumento que sustente esta presunção. Ou seja, o argumento que, em tese, sustentaria a presunção oposta é um sofisma.

Como sabemos, a lógica não se compromete com a verdade, mas apenas com a validade ou não do argumento. Assim, as leis da lógica não garantem a demonstração da verdade, pois há que se ter a validade das premissas as quais não são objeto de estudo da lógica, mas de outras ciências.

Tais demonstrações provêm:


Por evidência intelectiva (a intuição racional), no caso dos axiomas ou postulados;


Por argumentações corretas a partir de verdades evidentes quando não forem evidentes por si mesmas;


Por evidência empírico-sensorial, cuja confirmação surge a partir da experiência e da observação, ou seja, intuição sensorial.


Vale-se da lei da não-contradição: uma declaração não pode ser concomitantemente verdadeira e falsa.


Assim, dentro da lógica terá de haver uma relação formal correta entre as premissas a fim de sustentar ou justificar uma conclusão, que é conseqüência daquelas, independente de serem verdadeiras ou não.

Para demonstrar-se a verdade, não basta a validade do argumento, há que se confirmarem as premissas. assim, para se obter um raciocínio sólido (aquele que leva à verdade), a inferência tem de estar correta, bem como as premissas e a conclusão evem ser verdadeiras. Estas são duas condições necessárias e suficientes.


Dai, pelo que se pode notar, os pontos levantados pelo sr. Jean não passam de sofismas, uma vez que se revestem de mera aparência de racionalidade.

Toda sua linha argumentativa se trata de retórica vazia, sem qualquer fundamento seja ele de cunho filosófico, sociológico, científico, empírico, antropológico, histórico e mesmo teológico, uma vez que está calcada em fundamentalismo ideológico-religioso.

Não há qualquer justificativa que respalde seu posicionamento ou que sirva de esteio ao seu raciocínio e as suas conclusões.


 

Conclusão:

Desse modo, conforme o exposto acima, a questão da verdade é algo que merece ser vista sob uma ótica relacionada à teoria de sistemas, ou seja, sob a diferenciação funcional, onde importa a função de cada um dos subsistemas cuja possibilidade de postular prerrogativas de qualquer ordem a outros subsistemas encontra-se obstada.

Também há que se compreender que a questão da verdade é intrínseca ao sistema, uma vez que, cada um deles, cria seus próprios padrões valorativos, que interagem com outros subsistemas, sem, entretanto, se sobreporem uns aos outros.

No que concerne à lógica, esta não tem compromisso com a verdade. Apenas estrutura raciocínios como válidos ou inválidos, sendo que suas premissas, as quais devem ficar a cargo do cientista, é que serão consideradas verdadeiras ou falsas, tornando o raciocínio além de válido, verdadeiro ou falso.

A respeito da verdade, esta é relativa, seja ela uma verdade científica, matemática, argumentativo-dialética ou religiosa, uma vez que cada um destes sistemas se encontra fragmentado em outros sistemas, decorrentes da evolução do conhecimento, bem como da evolução histórica e da sociedade como um todo.

Dessa forma, postular que há verdades absolutas, sem ao menos exemplificar uma delas, sem defini-las, sendo que tal definição deveria estar pautada em bases sólidas é no mínimo sem sentido, exceto que se ignorem os avanços do conhecimento e os diversos sistemas culturais de que o mundo é formado, ao tratarmos de seres humanos e sociedades que se comunicam entre si.

Tal perspectiva de negação de diversas formas de verdade todas aceitas e, muitas delas excludentes entre si, somente partiria de sistemas onde impera o fundamentalismo ideológico-religioso, bem como a ignorância sobre o mundo que nos cerca, sobre a capacidade argumentativa e a consistência dos argumentos de nossos interlocutores, sobre as particularidades que existem, no campo das ciências naturais, bem como da matemática propriamente dita.

Sistemas fundamentalistas negam tudo aquilo que difere de suas sistemáticas de pensar, traduzindo as diferenças, numa visão conspiratória, como ameaças a sua existência e como corrupção de seu modo de ver o mundo. Ou seja, valem-se do argumento ad baculum ( o argumento da força), referente ao pecado, no que concerne à capacidade crítica de pensamento dos indivíduos, a fim de dominarem e imporem seu modo de pensar e suas crenças sem fundamento.

Portanto, o fundamentalismo se nega a corrigir suas posições frente aos outros subsistemas, o que o faz entrar em choque com a realidade e, assim, distorcer aspectos externos ao seu conteúdo a fim de adaptá-los a sua pseudo-realidade.

Logo, tais subsistemas pretendem impor suas prerrogativas sobre outros, ou seja, deliberadamente, buscam subverter outros subsistemas, como a ciência e a educação, por meio de teorias como criacionismo e design inteligente , além de buscar o descrédito referente a outras ideologias e crenças religiosas, estabelecendo como verdades acima de tudo o que suas seitas pregam.

Simplesmente, a negação fundamentalista se aparta da realidade do mundo e ainda se mantém no âmbito da sociedade estratificada, onde a posição da religião, o pensamento de seus líderes e seus dogmas são incontestáveis e verdadeiros acima de tudo.


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AZEREDO, Vânia Dutra. Introdução à Lógica. Ed. Unijui.

BAZARIAN, Jacob. O Problema da Verdade - Teoria do Conhecimento. Ed. Alfa-Ômega.

CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. Ed. Ática.

COELHO, Fábio Ulhoa. Roteiro de Lógica Jurídica. Ed. Saraiva.

COMPARATO, Fábio Konder. Ética: Direito, Moral, Religião no Mundo Moderno. Ed. Companhia das Letras.

FERREIRA, Delson. Manual de Sociologia. Ed. Atlas.

FREIRE MAIA, Newton. Verdades da Ciência e Outras Verdades. Ed. Unesp.

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LEBON, Gustave. As Opiniões e as Crenças - Coleção Fundamentos do Direito - Ed. Icone.


LIPSCHUTZ, Seymour. Matemática Finita. Coleção Schaum, Ed, Mc. Graw-Hill do Brasil.

LIPSCHUTZ, Seymour. Teoria dos Conjuntos. Coleção Schaum, Ed, Mc. Graw-Hill do Brasil.

INGENIEROS, José. As Forças Morais. Ed. do Chain.
OLIVEIRA, Antonio Marmo & SILVA, Agostinho. Curso Ilustrado de Matemática Moderna. Ed, Lisa.

ROSEMBERG, Alex. Introdução à Filosofia da Ciência. Edições Loyola.

SCHOPENHAUER, Arthur. Como Vencer um Debate sem Precisar Ter Razão. Ed. Topbooks.

VILLAS BOAS, Orlando. Teoria dos Sisitemas e o Direito Brasileiro. Ed. Saraiva.

WESTON, Anthony. A Construção do Argumento. Ed. Martins Fontes.

Ainda a Verdade Absoluta - Parte III

O que ordena o mundo?

Conforme essa teoria, o critério que regula os sistemas sociais e os sistemas psíquicos é o sentido, ou seja, eles se organizam baseados no sentido.

A noção comum de sentido é o critério que define os limites do sistema, um entendimento comum sobre um sentido divide o mundo em algo com sentido e algo sem
sentido.

Mas sentido como a razão da seleção não é suficiente, ele precisa do apoio de outros fatores como normas, valores, metas; um conjunto que crie uma ordem de preferências de uma sistema social, um complexo de mecanismos regulativos constituído simbolicamente e com sentido.

Desta forma podemos então responder a pergunta de uma maneira diferente: a regulação da seleção de dados do meio, por via de uma ordem de preferência formada por critérios de sentido, é a condição da possibilidade da formação de um sistema.

Sistemas não-triviais têm a capacidade de reflexão, o que significa capacidade para elaborar internamente um modelo do seu meio e uma identidade própria. Sendo assim, o sistema também tem a capacidade de definir e redefinir internamente o que é o sentido, que depois se torna a base da seleção para redução da complexidade do meio e da contingência interna. Sistemas sociais são assim constituídos por sentido e constituem sentido ao mesmo tempo.


A sociedade para Luhmann:

O ponto de partida da abordagem de Luhmann sobre a sociedade é a constatação de que cada tentativa de descrever a sociedade acontece dentro da sociedade. Sendo assim, teoria da sociedade como descrição da sociedade é auto-lógica, isto é, a descrição da sociedade tem que incluir uma descrição da própria teoria, que é a base da descrição da sociedade, a qual é um fenômeno social.

Luhmann apresenta a sua descrição da sociedade como sistema social que envolve a totalidade das comunicações. Sem comunicação não há sociedade, e fora da sociedade não há comunicação. Os limites da sociedade são os limites da comunicação; limites estes, que variam historicamente.

Tudo que não é comunicação, não faz parte do sistema, passando a ser alocado fora do contorno deste. Não sendo comunicação, os seres humanos - enquanto sistemas psíquicos - não fazem parte da sociedade, e sim do seu meio.

Na sociedade eles estão presentes apenas como pessoas, pontos de endereçamentos para a comunicação. O que existe é um acoplamento estrutural entre a sociedade como sistema social e os indivíduos como sistemas psíquicos. Um não pode existir sem o outro.

Comunicação como acontecimento é algo improvável de acontecer. Isso devido a três razões:

· Primeiro é improvável que a comunicação se realize através da compreensão da diferença entre mensagem e informação;

· Segundo é improvável que a mensagem atinja o destinatário;

· Terceiro é improvável que a comunicação esteja sendo aceita.

Para enfrentar as três improbabilidades e tornar a comunicação provável existem meios. A língua para reduzir o problema da compreensão, os meios de difusão, para facilitar o alcance do destinatário e os meios de comunicação simbolicamente generalizados, para facilitar a aceitação da comunicação.

Dessa forma, conforme o trabalho de Gottard Bechman e Nico Stehr em primeiro lugar, a comunicação é uma realidade sui generis que não pode ser atribuída a nada mais.

Em segundo lugar, a comunicação é um mecanismo que constitui a sociedade como um sistema autopoiético e processa–a nesses termos. A negação da comunicação é, ela mesma, comunicação e, portanto, expressão da sociedade.

Em terceiro lugar, se comunicação quer dizer reprodução autopoiética, isso quer dizer que a sociedade é uma ordem auto–substitutiva que só pode mudar nela mesma e através dela mesma. A comunicação se torna a estrutura básica da sociedade, na qual a relação entre comunicação e sociedade é circular: não existe comunicação sem sociedade assim como não existe sociedade sem comunicação.

A resposta mais simples é que a comunicação é uma operação no sentido preciso em que uma distinção é feita. Atos comunicativos não dizem nada sobre o mundo e a comunicação não reflete nada sobre o mundo, o qual não é refletido pela comunicação, mas sim classificado por ela.

O propósito da comunicação é criar diferenças que possam depois ser incluídas em outras comunicações, formando e estabilizando as fronteiras do sistema. Mas a própria comunicação não é ela mesma original, não é qualquer elemento definitivo, mas uma síntese de seleções processadoras às quais Luhmann chama de informação, transmissão e compreensão. Essas três operações discriminatórias têm estrutura binária.

A informação é selecionada da memória partilhada, um reservatório do qual coisas são selecionadas como sendo relevantes para a transmissão ou para o esquecimento. Para se completar um ato de comunicação tem–se que decidir o que é representado ou aceito ou rejeitado, não entendido.

Transferido para o sistema social, poder–se–ia dizer que a informação pode ser vista como uma referência externa, a transmissão como auto–referência e a compreensão como condição para a transferência de sentido em comunicações ulteriores. A síntese dessas três seleções é um evento auto–referencial e fechado.

Isso permite a Luhmann deixar claro a autoconstituição do que é social. Se o que é social é nada mais que comunicação, isso também implica que consiste desse processo autopoiético que tem a sua própria dinâmica. O ambiente é então apenas um estímulo e não uma fonte real de informação.

Consequentemente, compreensão significa uma rede não–arbitrária de eventos comunicativos em um processo de comunicação auto–referencial. A discussão repetida forma identidades que constituem fronteiras.

A sociedade, ou o que foi anteriormente entendido como sociedade pela sociologia, agora está livre de todas determinações substanciais. Não é uma unidade moral, não está baseada em consenso nem qualquer integração racional (de qualquer tipo); é formada somente por comunicação em curso.

Consequentemente, não faz sentido falar de distinções tais como economia/sociedade ou ciência/sociedade, já que política, economia e direito não podem ser vistos como algo externo ou separado da sociedade, mas são atos da sociedade em suas operações comunicativas.

Para Luhmann, a sociedade, portanto, consiste da totalidade daquelas operações que não fazem uma distinção pelo fato delas fazerem uma distinção. Isso relega a um status teórico secundário todas as suposições sobre entendimento, progresso, racionalidade e outros objetivos.


Mas onde isso tudo se liga à questão da verdade?

A tese revolucionária de Luhmann está no fato de que nenhum sistema vive graças ao fornecimento de vida por parte do ambiente, e que também vale para os sistemas processadores de informações. Assim, nenhum sistema de processamento de informações pode obter informações a partir do ambiente. Informações são sempre constructos internos.

Ou seja, a questão da verdade é intrínseca ao sistema, uma vez que, cada um deles, cria seus próprios padrões valorativos, a fim de construir o seu operar e reduzir sua complexidade, pois esta tende a crescer e é inerente à instabilidade das contingências na comunicação humana (emitida pelo alter e compreendida pelo ego) a qual é uma operação genuinamente social e não imputada a apenas uma consciência.

Com a complexidade da sociedade moderna, não mais caberia a diferenciação segmentaria onde todos os subsistemas seriam igualados quanto ao seu princípio de formação, sendo que cada um desses subsistemas observa seu ambiente (no caso a sociedade) do mesmo modo que os demais (o que é familiar e o que não é).

Dessa forma, a diferenciação funcional dos subsistemas torna importante não mais a sua posição, mas sua função na sociedade. Desse modo, um subsistema terá obstada sua possibilidade de postular prerrogativas de qualquer ordem a outros subsistemas.

Portanto, nenhum subsistema poderá se arrogar posição privilegiada frente aos demais, em decorrência de a sociedade moderna ser fragmentada, ou seja, policontextual, uma vez que admite inúmeras codificações com validade simultânea.

Assim, a preponderância de códigos de determinados subsistemas sobre outros seria sobrepor a auto descrição destes subsistemas sobre os demais corrompendo-os, ou seja fazendo com que a complexidade social se reduza, e, portanto retardando a evolução social.

Um sistema que se pretenda racional terá de refletir sobre si mesmo, observando-se como distinto do ambiente e que se oriente pela unidade de tal distinção.

Desse modo, este sistema a fim de atingir sua pretensão racional deverá observar diferenças que o distingam do ambiente, e tomar distancia de si mesmo, de suas operações e por fim, corrigir-se, com base em critérios próprios, sua posição frente ao ambiente.

Assim, pode-se concluir que não há uma instancia social capaz de representar a relação do sistema social com o conjunto de seu ambiente, ou seja, uma descrição global da sociedade.

Tal perspectiva culmina no déficit de racionalidade apurado por Luhmann, relacionado ao processo de diferenciação que leva a sociedade a se fragmentar em diversos subsistemas funcionais, os quais sobrecarregam o ambiente uns dos outros, o que culmina na inexistência de um subsistema social que forneça uma percepção relativa às interdependências do ambiente (a existência da sociedade dentro da sociedade).

Assim, o que a teoria de Luhmann enfatiza é a auto-referencia dos subsistemas que compõem o sistema social o que exclui qualquer intenção de racionalidade concernente a normas e valores como um ponto cego de observação.

Ou seja, há a impossibilidade de uma racionalidade plena (a distinção entre o sistema e o ambiente), o que o sistema reintroduz em seu interior a fim de diferenciá-lo do meio e, portanto, estruturar suas próprias ações e assim tecer sua racionalidade entendida como sua verdade particular.

Mas o que seria então a verdade?

Ainda a Verdade Absoluta - Parte II

A verdade, sistema e sociedade:

Antes de se discorrer sobre o que é a verdade, convém que seja feita uma digressão a fim de que se compreenda o que é sistema.

Os sistemas e a sociedade:

A teoria de sistemas estuda a organização abstrata de fenômenos, independente de sua formação e configuração presente. Investiga todos os princípios comuns a todas as entidades complexas, e modelos que podem ser utilizados para a sua descrição.

A partir desta teoria, podem ser estabelecidas as seguintes definições para sistema:

O Sistema é um conjunto de partes interagentes e interdependentes que, conjuntamente, formam um todo unitário com determinado objetivo e efetuam determinada função.

O Sistema pode ser definido como um conjunto de elementos interdependentes que interagem com objetivos comuns formando um todo, e onde cada um dos elementos componentes comporta-se, por sua vez, como um sistema cujo resultado é maior do que o resultado que as unidades poderiam ter se funcionassem independentemente. Qualquer conjunto de partes unidas entre si pode ser considerado um sistema, desde que as relações entre as partes e o comportamento do todo sejam o foco de atenção.

Sistema é um conjunto de partes coordenadas, formando um todo complexo ou unitário.

A fim de se ter uma visão sobre sistemas sociais, será adotada a perspectiva Luhmanniana. Niklas Luhmann teorizou a sociedade como um sistema autopoiético.

A Autopoiesis significa que um sistema complexo reproduz os seus elementos e suas estruturas dentro de um processo operacionalmente fechado com ajuda dos seus próprios elementos

O elemento central da teoria de Luhmann é a comunicação. Luhmann interpreta a sociedade como um sistema: isto é, ela é observada através da distinção sistema / meio.

Sendo assim, cabe inicialmente recorrer aos instrumentos da teoria geral dos sistemas, sobretudo às mudanças paradigmáticas que ocorreram nos anos 70 e 80, em função de novas descobertas nas ciências exatas e biológicas. A teoria geral dos sistemas apresenta-se hoje como teoria de sistemas autopoiéticos, auto-referenciais e operacionalmente fechados.

Um sistema autopoiético é um sistema autônomo que constantemente se auto-produz, se auto-regula, e sempre mantém interações com o meio, onde este apenas desencadeia na sociedade mudanças determinadas em sua própria estrutura, sem ser causada por agentes externos. Assim, a teoria autopoiética em um método de observação social.

De acordo com o trabalho de Armin Mathis, sistemas sociais são sistemas de comunicação e a sociedade é o sistema social mais abrangente. Um sistema é definido pela fronteira entre ele mesmo e o ambiente, separando-o de um exterior infinitamente complexo.

O interior do sistema é uma zona de redução de complexidade: a comunicação no interior do sistema opera selecionando apenas uma quantidade limitada de informação disponível no exterior. O critério pelo qual a informação é selecionada e processada se trata do sentido.

Desta forma, a interação gera realimentações que podem ser positivas ou negativas, criando assim uma auto-regulação regenerativa, que por sua vez cria novas propriedades que podem ser benéficas ou maléficas para o todo independente das partes.

As sociedades se tratam de sistemas abertos, pois sofrem interações com o ambiente onde estão inseridas. Todavia, a fim de que sistemas independentemente sejam estudados, há que se fazer um corte metodológico fechando-os a fim de reduzir sua complexidade.

Nessa perspectiva, Luhmann o amplia para todos os sistemas em que se pode observar um modo de operação específico e exclusivo, que são, em sua opinião, os sistemas sociais e os sistemas psíquicos.

As operações básicas dos sistemas sociais são comunicações e as operações básicas dos sistemas psíquicos são pensamentos.

As comunicações dos sistemas sociais se reproduzem através de comunicações, e pensamentos se reproduzem através de pensamentos.

Fora dos sistemas sociais, não há comunicação e fora dos sistemas psíquicos não há pensamento. Ambos os sistemas operam fechados, no sentido que as operações que produzem os novos elementos do sistema dependem das operações anteriores do mesmo sistema e são, ao mesmo tempo, as condições para futuras operações. Esse fechamento é a base da autonomia do sistema.

Ou seja, nenhum sistema pode atuar fora das suas fronteiras. É válido ressaltar que o conceito da autopoiesis em nenhum momento vem negar a importância do meio para o sistema, pois, lembrando, sem meio não há sistema. Autopoiesis refere-se à autonomia, o que não significa autarquia.

Portanto, sistemas autopoiéticos necessitam de outros sistemas a fim de funcionarem.

A teoria dos sistemas sociais é a teoria que tem como objeto de estudo sistemas autopoiéticos sociais. Isso faz necessário definir a operação básica através da qual o processo autopoiético separa esse sistema dentro do seu meio.

Além da sociedade, organizações e interações fazem parte dos sistemas sociais e assim têm características comuns e são comparáveis entre si. O principal fator em comum entre os sistemas sociais é o fato de que a sua operação básica é a comunicação.

A comunicação é a (única) operação genuinamente social, e ela é autopoiética porque pode "ser criada somente no contexto recursivo das outras comunicações, dentro de uma rede, cuja reprodução precisa da colaboração de cada comunicação isolada".


O sistema complexo:

Conforme expõe o trabalho de Caroline de Morais Kunzler, um sistema pode ser chamado de complexo quando contém mais possibilidades do que pode realizar num dado momento. As possibilidades são tantas que o sistema vê-se obrigado a selecionar apenas algumas delas para que possa continuar operando.

O sistema não consegue dar conta de todas elas ao mesmo tempo. Quanto maior o número de elementos no seu interior, maior o número de relações possíveis entre eles que crescem de modo exponencial.

O sistema torna-se, então, complexo quando não consegue responder imediatamente a todas as relações entre os elementos, e nem todas as suas possibilidades podem realizar-se.

Somente algumas possibilidades de relações entre elementos, por exemplo, a relação de uma comunicação com outra, ou de um pensamento com outro, são realizadas; as demais ficam potencializadas como opções no futuro.

Essas relações entre os elementos não acontecem simultaneamente, mas, ao contrário, uma após a outra, em sucessão.

E cada vez que o sistema opera acaba gerando novas possibilidades de relações, tornando-se assim ainda mais complexo, mas não mais que o seu ambiente, que é sempre mais complexo por conter um número maior de elementos.

Outra razão para isso é o fato do sistema ser capaz de fixar seus próprios limites, ao se diferenciar do ambiente, limitando as possibilidades no seu interior.

Todavia, a tendência é de que em um ambiente mais complexo o sistema também se torne mais complexo, ainda que não na mesma proporção. Sob um outro ângulo, pode-se concluir que o aumento da complexidade de um sistema estimula o aumento da complexidade de outros sistemas que o observam, quando aquele estiver na condição de entorno destes.

É importante considerar que a complexidade do sistema é uma construção sua que, em hipótese alguma, pode ser considerada um mero reflexo do ambiente, pois, se assim fosse, haveria uma dissolução dos seus limites e, com isso, a morte do próprio sistema.

Todo o ambiente apresenta para o sistema inúmeras possibilidades. De cada uma delas surgem várias outras o que dá causa a um aumento de desordem e contingência. O sistema, então, seleciona apenas algumas possibilidades que lhe fazem sentido de acordo com a função que desempenha, tornando o ambiente menos complexo para ele. Caso selecionasse todas elas, não sobreviveria. O sistema assim, deve simplificar a complexidade para conseguir se manter no ambiente.

Ao mesmo tempo em que a complexidade do ambiente diminui, a sua aumenta internamente. Isso porque o número de possibilidades dentro dele passa a ser maior, podendo, inclusive, chegar a ponto de provocar sua auto-diferenciação em subsistemas. Para dar conta da complexidade interna, o sistema se auto-diferencia.

Nessa perspectiva, Luhmann toma emprestado da teoria darwinista o conceito de evolução. Como exemplo de evolução de sistemas, não tomarei aqueles dados pela autora, mas, grosso modo, do próprio cristianismo, de uma forma muito breve:

De início esta vertente se confundia com o judaísmo. Mais tarde tornou-se uma seita dissidente do judaísmo estabelecendo seus próprios ritos.

Houve diversas vertentes cristãs até que no Concílio de Nicéia (ano de 325), Constantino tentou unificar a igreja, onde foram discutidas diversas heresias e demais questões cristológicas.

Em 1054 houve o cisma entre ocidente e oriente devido a discussões teológicas sobre a natureza do Espírito Santo separando a Igreja Católica Romana da Igreja Ortodoxa.

Em 1517, tem início a Reforma Protestante com a afixação das 95 teses na porta da igreja do Castelo de Wittemberg.

A partir da Reforma, houve a abertura para muitas outras vertentes divergentes da Igreja Católica bem como divergentes entre si, o que culminou na infinidade de cultos cristãos, que hoje conhecemos, cada qual com suas particularidades e com suas respectivas concepções de verdade.

O exemplo deixa claro que o sistema não tem uma estrutura imutável que enfrenta um ambiente complexo.

É condição para esse enfrentamento que o próprio sistema transforme-se internamente, e crie subsistemas, deixando de ser simples e tornando-se mais complexo, ou seja, evoluindo.

Cada um desses subsistemas criados dentro do sistema tem o seu próprio entorno. A diferenciação do sistema não significa, portanto, a decomposição de um todo em partes, mas da diferenciação de diferenças sistema/entorno. Não existe um agente externo que o modifica, é ele mesmo que o faz para sobreviver no ambiente.

Mas a evolução do sistema não ocorre de forma isolada, ela depende das irritações do ambiente. E, conforme a tolerância do sistema, as irritações podem levá-lo a mudar suas estruturas. Essa característica de produzir a si mesmo é chamada de autopoiese.

A evolução do sistema ocorre quando ele se auto-diferencia e ainda quando há uma passagem de um tipo de diferenciação para outro. Segundo Luhmann a segmentação, a hierarquia, centro/periferia e a função são quatro formas, pelas quais, o sistema pode diferenciar-se, sendo que, conforme evolui, passa de sistema segmentado até chegar ao sistema funcional. Assim se deu com a passagem de uma sociedade segmentada, na antiguidade, para uma sociedade funcional, na modernidade.

Dessa forma, um sistema social, ou um indivíduo, tende a interpretar o problema da contingência (algo que não é necessário nem impossível, algo então que é, era ou será assim como é, mas também poderia ser diferente), isto é, da variedade de alternativas de atuação como um grau de liberdade: liberdade de escolher entre várias alternativas de atuação.

No papel de observador de um outro indivíduo ou sistema social, o problema da contingência se coloca totalmente diferente, a liberdade de escolha do sistema se transforma para o observador desse sistema em fonte de inseguranças e surpresas.

A existência e o relacionamento das contingências dos diversos sistemas ao seu redor constitui para o sistema focal a complexidade do seu meio. Para poder enfrentar essa complexidade no seu meio, o sistema é obrigado a corresponder com a elaboração de estruturas complexas, que por sua vez, podem aumentar a contingência do sistema e assim iniciar um processo evolutivo, conforme descrito acima.

Ainda a Verdade Absoluta - Parte I

Introdução:

Mais uma vez em uma tentativa sem qualquer sentido, seguidores do fundamentalismo cristão saem em busca da verdade absoluta. Os textos foram escritos pelo Sr. Jean Habkost e seguem abaixo:

Linha Editorial - 3ª Parte
Linha Editorial - 4ª Parte

Porém, não definem o que é verdade absoluta, sem trazer qualquer exemplo do que se trata o objeto desta busca. Dessa forma, os quatro textos acima citados não passam de retórica vazia.

De acordo com os textos o Sr. Jean faz uma confusão sem precedentes, entre os dois tipos de lógica (a formal e a dialética) e no que concerne ao exame do que é a verdade, temas estes que serão analisados em tópico respectivo.

Também será feito um apanhado referente à teoria dos sistemas sociais de acordo com o pensamento luhmanniano e onde esta tese se conecta com a questão da verdade relativa a cada sistema.


A lógica:

De início, a fim de entendermos o que é verdade, devemos conhecer a lógica e do que trata esta disciplina.

A lógica divide-se em duas vertentes:

1 - Lógica formal:

Esta lógica estuda o pensamento em sua estrutura formal, ou seja, quanto à forma.

Na lógica formal, ocorrem os seguintes princípios:

da identidade (se uma idéia é verdadeira então ela é verdadeira);

da não contradição (não é possível a idéia ser verdadeira e falsa);

do terceiro excluído (uma idéia ou é verdadeira ou é falsa).


Mas, estes princípios estão fora do tempo, sendo que se aplicam a coisas ideais e intertemporais. Tal sistemática exclui os movimentos relacionados às coisas pensadas, excluindo a história e a evolução do pensamento e do conhecimento.

Para tecermos um raciocínio lógico válido, nossas premissas devem ser verdadeiras e nossa conclusão também. Mas, os testes de veracidade destas premissas estão ao cargo do cientista e não do lógico.

Quanto ao quadro de oposições, tembém denominado de quadrado lógico, é ele quem estabelece as relações entre proposições categóricas.
















As proposições categóricas afirmam algo sobre duas classes, incluíndo ou excluíndo total ou parcialmente, uma classe da outra.

Ex. todo o homem é mortal.

Aqui, a classe homem está incluída na classe mortal. Trata-se de uma proposição categórica.

Ha quatro destas proposições, conforme segue-se:

a universal afirmativa: que enuncia a inclusão total de uma classe em outra (todo o x é y), designada pela letra A;

a universal negativa: que enuncia a exclusão total de uma classe da outra (nenhum x é y),
designada pela letra E;

a particular afirmativa: que enuncia a inclusão parcial de uma classe em outra (algum x é y),
designada pela letra I;

a particular negativa: que exclui parcialmente uma classe da outra ( algum x não é y),
designada pela letra O;

As proposições se relacionam entre si conforme segue:

A e E são contrárias;

I e O são subcontrárias;

A e I e E e O são subalternas;

A e O e E e I são contraditórias.

O quadro de oposições estabelece a relação entre as proposições categóricas, que revelam as possibilidades de uma delas ser verdadeira ou falsa, a partir da veracidade ou falsidade das demais.

Estas proposições são denominadas de premissas. Quanto a sua veracidade ou não quem cuida são os cientistas e não a disciplina da lógica, a qual não possui qualquer compromisso com a verdade, mas apenas com a estruturação do raciocínio.

Assim, o argumento composto por pelo conjunto de duas premissas e uma conclusão se denomina silogismo. Em sendo as premissas e a conclusão proposições categóricas, então o silogismo será categórico.

ex:

Todo o mamífero é vertebrado;
Todo o primata é mamífero;
Logo, todo o primata é vertebrado.

Primata é o sujeito da conclusão denominado de termo menor. Está incluído na premissa menor.

O predicado da conclusão que é vertebrado, se denomina termo maior. Está incluído na premissa maior.

Estes são os termos extremos.

Mamífero é o termo médio, pois apenas figura nas proposições.

Entretanto, o raciocínio poderá tratar com rigor absoluto dados totalmente falsos. Daí a necessidade de muito cuidado diante de um pensamento lógico. Assim, é importante a atenção aos limites que a lógica oferece a fim de que seja corretamente utilizada, no momento e pelos meios adequados.

exemplo:

Todo o mamífero é invertebrado;
Todo homem é invertebrado;
Logo todo o homem é mamífero.

Neste raciocínio, as premissas são falsas, porém a conclusão é verdadeira. Logo, temos um raciocínio invalido, uma vez que transgride a regra de distribuição do termo médio. Portanto, a veracidade de uma conclusão não pressupõe a veracidade das premissas.

Um outro silogismo interessante, é dado por:

Todo homem é vertebrado;
Todo mamífero é vertebrado;
Logo, todo mamífero é homem.

Neste silogismo as premissas são verdadeiras, porém o raciocínio é inválido, com sua conclusão falsa. Assim, a veracidade das premissas não implica a validade da inferência e nem a veracidade da conclusão. Neste silogismo não houve a distribuição do termo médio.

Outros exemplos:

Todo invertebrado é mamífero;
Todo homem é invertebrado;
Logo, todo homem é mamífero.

Neste silogismo as premissas são falsas e a conclusão é verdadeira e o raciocínio é válido, pois houve a distribuição do termo médio (invertebrado). Mas, a veracidade da conclusão e a validade do raciocínio, não determinam serem as premissas verdadeiras.


Todo mamífero é vertebrado;
Todo homem é vertebrado;
Logo, todo homem é mamífero;

Neste silogismo as premissas são verdadeiras e a conclusão também. Entretanto, se trata da falácia da não distribuição do termo médio. Logo a inferência é inválida. Ou seja, a veracidade das premissas e da conclusão não implicam na validade do raciocínio.

Todo homem é invertebrado;
Todo mamífero é invertebrado;
Logo, todo mamífero é homem.


Neste silogismo as premissas são falsas, a conclusão falsa e a inferência inválida (não há a distribuição do termo médio).

Todo mamífero é homem;
Todo vertebrado é mamífero;
Logo, todo vertebrado é homem.

A inferência deste silogismo é válida mas os enunciados, tanto das premissas ,como da conclusão são falsos. Assim, um raciocínio válido independe da veracidade de seus enunciados, como também, da veracidade destes, não decorre a validade do argumento.

Todo mamífero é vertebrado;
Todo homem é mamífero;
Logo, todo homem é
vertebrado;

Este silogismo apresenta premissas e conclusão verdadeiras e raciocínio válido, pois houve a distribuição do termo médio. Com isso, pode-se perceber que a única garantia dada pela lógica é:

"Se as premissas forem verdadeiras e o raciocínio válido, então a conclusão será verdadeira."

É impossível construir-se um silogismo válido com premissas verdadeiras e conclusão falsa, o que inutilizaria a lógica.

Assim, a única certeza emanada da lógica é a de que sendo verdadeiro o antecedente (as premissas) e válida a inferência (raciocínio), será verdadeiro o consequente (conclusão), nada mais. Ou seja, os argumentos válidos (respeitadores dos princípios lógicos - com a devida inferência) são preservadores da verdade, uma vez que, caso as premissas sejam verdadeiras, se utilizada a inferência correta, a conclusão também será verdadeira, o que nos levará a um argumento sólido.


Caso algo tenha 100% de probabilidade de ser verdadeiro, os argumentos que preservam a verdade também preservarão a certeza (quando a verdade das premissas do argumento se tornou a verdade depois da conclusão ter sido provada). 

Todavia, argumentos válidos cujas premissas são apenas prováveis podem levar a conclusões bem menos prováveis que suas premissas. Portanto, para os argumentos válidos há que se atentar não apenas para a verdade, mas também para a  probabilidade desse algo ser verdadeiro.

Desse modo, a utilização de recursos lógicos deverá ser realizada com permanente atenção aos seus limites.

2 - Lógica dialética:


Esta forma de lógica pressupõe a existência da contradição no âmago do pensamento, pois este possui movimento e historicidade.

O enfoque dinâmico do pensamento se polariza com o mundo da realidade material, conforme seu processo de formação e desenvolvimento. Isso torna a lógica fecunda, pois a matéria do pensamento se expande com o tempo e com a história e contradiz a forma a qual é estática e conservadora.

Ao ser ajustada a forma e o conteúdo, surge a racionalidade real e, caso o conteúdo contradiga a forma e tente ultrapassá-la, haverá uma crise de irracionalidade a ser solucionada por uma nova forma que suplante este conteúdo expandido.

A isto se denomina “salto dialético” da quantidade em qualidade, que leva ao avanço das estruturas de pensamento em seus diferentes momentos na relação dialética racional/irracional, mas que faz com que se alcance uma nova racionalidade.

E.g. a queda das estruturas medievais com o desenvolvimento da produção à época, a qual abriu uma grande contradição com o modus vivendi medieval no que se refere às organizações social e política, as quais não mais davam conta da referida situação produtiva.

Assim, novos patamares de racionalidade organizativa passam a ser impostos de modo que a sociedade não colapse sobre si mesma.


2A - A lógica da argumentação:

Como uma subdivisão da lógica dialética, esta é a forma de lógica onde persiste uma zona de penumbra, onde não existe a certeza referente aos termos empregados. Daí ter esta forma de pensamento sido caracterizada como irracional.

Tal linha de pensamento é a utilizada para defenderem-se pontos de vista filosóficos, sociológicos e antropológicos, bem como é comuníssima na ciência do direito. Mas mesmo assim requer evidências do que estamos falando.

A linguagem aqui utilizada é aquela referente à argumentação, calcada na justificação, ou na legitimação pelo valor e pelo peso das razões postas sob a forma de opiniões verossímeis ou prováveis, o que escapa a certeza do raciocínio formal.

Aqui há espaço para a liberdade em se estabelecerem pontos de vista, a fim de que ocorra o embate dialético de opiniões ou confronto de ideologias e consciências, conforme cada situação ou circunstância histórica.

A argumentação é uma reflexão e uma formulação sistemática sobre a regularidade do discurso concreto que se destina a persuasão por meio do diálogo.

Muitas vezes a fim de que se construam os argumentos, estes partem de proposições dogmáticas, como fizeram os filósofos ao estabelecerem suas escolas (e.g. sofistas e estóicos), bem como ocorre com o direito (e.g. nosso sistema de governo é republicano sob regime democrático).

É por meio desta lógica que se orientam as ações éticas dos homens, o que justifica os valores e atos morais referentes a cada sistema humano.

Logo, para dizer o que é moral temos de entender que a moral possui um sentido de futuro para a preservação do grupo em que vivemos, das inter-relações ocorridas com seus membros e da manutenção do status cuo daquela sociedade.

É dai que surgem os juízos de valor como certo/errado, bom/mau, feio/bonito, sagrado/profano, pois tudo que atenta contra padrões definidos de uma superestrutura social gerada por classes dominantes, passa a ter uma conotação negativa, uma vez que todos somos resistentes a mudanças, principalmente àquelas que atentam contra nossos interesses de classe.

Assim, neste campo a fim de que se estabeleçam “verdades”, há muitos pontos de partida que são meramente postulados para se construírem as teses que desejamos sustentar. Mas estas teses entram em embates dialéticos, onde, não necessariamente, a tese verdadeira vencerá, mas aquela melhor fundamentada.

Ex. matei um sujeito. Parte-se da premissa que matar é crime, pois atento contra um membro do grupo em que vivo e perturbo a paz social (imagine se começam todos a se matarem por vinganças pessoais...). Há toda uma discussão sociológica para tal.

Se provado que fui eu, serei condenado a “x” anos de prisão, a morte ou ao exílio, dependendo de qual seja meu sistema e seus respectivos valores ético-morais.

Mas e se mato na guerra? Serei criminoso? Dependendo do que eu fizer sim. Caso esteja em combate, não sou criminoso; mas se extermino os prisioneiros capturados, sim, serei um criminoso de guerra, uma vez que o sistema ético-moral do mundo em que vivo, o qual segue as Convenções de Guerra Genebra, condena tal atitude.

Entretanto, seria esta convenção valida de forma unânime a todos? Não, pois há membros não signatários e tão pouco há grupamentos humanos que sequer a conhecem, mesmo nos dias de hoje. Assim, em suas sociedades não estariam cometendo crimes de guerra, dentro do sistema em que vivem.

Vejamos: