quinta-feira, 8 de novembro de 2012

O LEITE DA TSÉ-TSÉ: E MAIS ALGUMAS EXPLICAÇÕES CIENTÍFICAS A UM CRIACIONISTA - parte 2


A EVOLUÇÃO CONVERGENTE EXPLICA O CASO TSÉ-TSÉ:


O caso da lactação na tsé-tsé e nos mamíferos é um belíssimo exemplo do que se denomina evolução convergente ou Convergência evolutiva.

 

A evolução convergente é um fenômeno evolutivo observado em seres vivos quando estes desenvolvem características semelhantes, mas cujas origens são diferentes. Ou seja, se dá quando um caráter semelhante evolui independentemente em duas espécies, não sendo encontrado no ancestral comum delas.

 

 A convergência ocorre em linhagens distintas, dando origem a adaptações semelhantes naquelas espécies que habitam habitats similares. Ou seja, a seleção natural força linhagens distintas que vivem em habitats semelhantes a apresentarem características semelhantes.

 

Este fenômeno ocorre devido à seleção natural, que seleciona positivamente aquelas mutações que geram adaptações morfológicas, fisiológicas e até comportamentais mais adequadas para um determinado ambiente. 

 

A seleção natural também irá atuar, selecionando negativamente, aquelas mutações que não forem adaptativas, reduzindo assim o valor adaptativo do organismo. Com isso, aqueles organismos que vivem em habitat ou possuem hábitos de vida semelhante, irão compartilhar características análogas semelhantes, que os tornam capazes de sobreviver àquelas condições.

 

Características resultantes de evolução convergente são chamadas de estruturas análogas, já aquelas características semelhantes que não evoluíram independentemente são chamadas de homologas.

 

 




 Homologias apresentam a mesma origem ontogenética e filogenética, já as analogias apresentam a mesma função, mas não estão relacionadas evolutivamente.

                                      estruturas homólogas

 

Um exemplo famoso de convergência evolutiva é a forma do corpo de cetáceos, ictiossauros e peixes. 


Os três são espécies marinhas dotadas de nadadeiras e barbatanas.

 

Porém, os cetáceos são mamíferos, cujo ancestral direto era dotado de membros adaptados ao meio terrestre, valendo o mesmo para o ictiossauro (um réptil muito anterior as cetáceos), enquanto os peixes possuem ancestrais marinhos, cujas nadadeiras são fruto de um longo processo de construção a partir de um modelo de corpo vermiforme sem membros articulados. 

 

Portanto, apesar de apresentarem estruturas semelhantes, elas tiveram origens muito diferentes, e foram selecionadas por serem formas muito apropriadas à natação.

  

Ainda é interessante vermos o que aconteceu com pterossauros, aves e quirópteros (morcegos):

 


 



 

Como exemplifica a figura, os braços dos pterossauros, aves, quirópteros e humanos se tratam de estruturas homólogas, pois sua origem se encontra nos tetrápodes, onde remanesce a ancestralidade comum dessas quatro espécies.

  

Todavia, as estruturas para voo dos pterossauros, aves e quirópteros são estruturas análogas, pois se desenvolveram independentemente nas três espécies, uma vez que o ramo que originaria os mamíferos se separou dos daquele que originaria os dinossauros ao final do permiano.

 

Já, o ramo que separaria as aves de dinossauros pode ter se ocorrido no meio do jurássico, sendo que os pterossauros existiram desde o triássico tardio, até  cretáceo (de 210 a 65, 5 milhões de anos atrás). 

 

 

 

O arquepterix, que é considerado um terópode (aqui), viveu durante o jurássico tardio, há mais ou menos 145 milhões de anos.

 

 

 

 

Os passaros se diversificaram em variedades e formas durante o período cretáceo (Chiappe, Luis M. (2007). Glorified Dinosaurs: The Origin and Early Evolution of Birds. Sydney: University of New South Wales Press.)

 

Muitos grupos retiveram características como garras nas asas e dentes, sendo que estes foram se perdendo, de forma independente, nas aves, tanto primitivas quanto nas modernas.

 

 

 

 As longas caudas ósseas, como apresentadas pelo arqueopterix, foram se reduzindo nas aves modernas, devido ao osso pigostilo, além de terem desenvolvido melhor sentido olfativo.

 

 

Ver estudo sobre a morfologia e taxonomia das aves primitivas aqui.

 

Quanto aos quirópteros,  análises genéticas indicam que eles se desenvolveram durante o eoceno inferior (cerca de 50 milhões de anos atrás). 

 

 


  Os exemplos acima respondem o tormento de nosso articulista quanto ao voo em insetos, répteis, aves e mamíferos. Vale citar os peixes-voadores, que podem voar até 400 metros e atingir velocidades de 70 Km/h, para fugir de predadores.

 

 

Nada mais são que casos de EVOLUÇÃO CONVERGENTE e não de um projeto elaborado por um criador ou uma entidade metafísica qualquer. 

 

O link apresenta os casos mais patentes de convergência evolutiva como:

 

1 - O Smilodon mamífero da América do Norte,  

 

 

 

 e o Thylacosmilus, marsupial da América do Sul, ambos com dentes de sabre.

 

  Vale citar aqui as morsas (família odobenídeo) e seus dentes de sabre:

 

 

e ainda compará-la com as focas (família pinipídeo) em relação às nadadeiras:

 

 

2 - O lobo da Tasmânia (Tilacino) marsupial que vivia na Austrália e Nova Guiné

 

 e os lobos placentários (Canis), que habitam diversas regiões do mundo adaptados para a predação idêntica.

 

3 - Os abutres são aves da família Accipitridae, relacionadas com as águias e falcões (Ordem Falconiformes), que se adaptaram a um modo de alimentação necrófaga.

 

 

 Os urubus e condores pertencem à família Cathartidae da Ordem Ciconiiformes e ocupam as funções ecológicas dos abutres e são parecidos com estes, apesar de serem mais aparentados com cegonhas ou garças.

 

 

4 - Os airos do hemisfério Norte 

 

 

e pinguins do hemisfério Sul têm aspectos semelhantes e ocupam o mesmo nicho ecológico, mas são de ordens de aves diferentes.

 

 

5 - Produção de seda surgiu convergentemente em diversos grupos como, 

 

aranhas, 

 

 

 

 











bicho-da-seda, 

 

 

 

 

 

 

 

 

larva de tricópteros (moscas de água) e na 

 

 

 

 

 

 

 

 

formiga tecelã.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

6 - A lontra (mamífero), que apresenta um corpo hidrodinâmico, uma longa cauda, membranas interdigitais e uma alimentação baseada em peixes e moluscos,

 

 

 

 e a cuíca d'água (marsupial) com a mesma adaptação.

 

 

7 - Morcegos, algumas baleias, mussaranhos  e o pássaro do petróleo apresentam um sistema de eco-localização por sonar, usado para navegação e localização de presas. 

 

 


 



 

Estudos moleculares mostram que essa característica evoluiu independentemente nos 4 grupos, e que pode ter evoluído independentemente dentro de alguns grupos de morcegos. (Ver estudos aqui, aqui e aqui)

 

8 - O Pelycosaurios (aparentados aos mamíferos)

 

 

 o Ctenosauriscideos (relacionados aos pterossauros e com os dinossauros), ambos répteis extintos, eram muito semelhantes um com o outro, pois ambos apresentavam uma barbatana em forma de vela nas costas.

 

 

vale ainda citar acerca das espécies com vela nas costas:

 

  espinossauro da ordem saurischia:

 

 

 

 o agulhão vela que, como todos podem ver é um peixe:

 

   

e o basilisco verde da ordem squamata:

 

 

 Demais!!! Todos possuem vela nas costas. O que será que o "criador demente, digo", inteligente pensou acerca desses projetos, para que e por que não fez algo bem mais simples que esse trambolho???

 

Cogita-se que tanto no agulhão vela como nos dinossauros apresentados essa vela seja um sistema de resfriamento e aquecimento.

Para o agulhão vela devido ao grande número de vasos sanguíneos encontrados na vela, uma vez que após um pico de velocidade o peixe vem a superfície.

 

9- Plantas insetivoras que evoluíram independentemente pelo menos 7 vezes, desenvolvendo diferentes armadilhas para capturar os insetos e absorver os nutrientes que estão escassos no solo.

 



10 -  Há casos como a carapaça:

em tartarugas:




tatus





 siris





e moluscos univalves






11 - O corpo de uma cobra cega  (anfíbio)






 Minhoca (verme)







12 - Os espinhos no caule das rosaceas:



nas folhas de uma cactácea:







13 - O longo canino do narval (um mamífero):

 

 

e a "espada" do peixe espada, família Xiphiidae




a do marlin família Istiophoridae

 



14 - A bipedalidade em humanos 

 

 



e em aves e terópodes, sendo que nestes há uma ancestralidade comum (as estruturas homólogas) e para os humanos em relação a estes dois, tem-se as estruturas análogas.

 

 




15 - A pelve de aves 

 


semelhante a de dinossauros ornitísquios 




a pelve do therezinossauro e do beipiaossauro, ambos terópodes, semelhante a de ornitísquios.


 







O verme veludo filo onicóphora




e os miriápodes filo arthropoda




Vamos agora aos falsos voadores:

 

A locomoção aérea evoluiu entre os animais de dois modos, o vôo real e o vôo planado.Animais voadores e planadores evoluíram separadamente, sem um ancestral comum.

 

O vôo planado, em particular, evoluiu principalmente entre os animais das florestas tropicais da Ásia (mais especificamente em Bornéu) onde as árvores são altas e bem espaçadas.Não por acaso, um ambiente que favorece esse tipo de locomoção. 

 

Na América do Sul, não ocorre a presença de animais planadores, pois as florestas são muito densas, tornando o vôo planado impraticável por falta de espaço.

 

Vejamos uns exemplares:


16 - O petaurus um marsupial




e o esquilo voador um placentário



e o colugo um euarchontoglire um lemur voador

 

 

O dragão voador réptil da família agamidae comparado a todos acima,


 

a chrysopelea um réptil da família colubridae e

 

 

o sapo voador

 

 

17 o rato do deserto ou gérbilo - um placentário

 

 

e o rato marsupial 

 

 

 18 a toupeira marsupial



 

a toupeira (placentário)

 

 

19 o comportamento de uma rainha entre insetos como formigas, cupins e abelhas.  Mais aqui e aqui.

 

 

 

 

 

e o rato toupeira 

 

 

 

Como se pode perceber, os exemplos de evolução convergente não faltam.






Moscas tsé-tsé fêmeas são vivíparas. Uma vez que o ovo está fertilizado, eles são ovulados para o útero, onde os bebês se desenvolvem. 



Quando a larva, se fixa no útero , ela se alimenta de um líquido secretado pelas glândulas de leite na parede uterina. O leite contém uma enzima chamada esfingomielinase (SMase), que é necessária para a produção de um componente chave das membranas celulares.


De acordo com a pesquisa realizada,
a falta de SMase "altera o desenvolvimento bebês, por interferir com a transferência adequada na digestão de esfingolípidos na larva intrauterina em desenvolvimento. Esfingolipídeos são fundamentais para o bom desenvolvimento e muitos processos celulares ", diz Benoit.



O autor do estudo ainda afirma que:



A lactação em moscas tsé-tsé e em mamíferos têm padrões semelhantes, incluindo a composição lipídica, a transferência de bactérias benéficas, proteínas transportadoras de ferro e atividade de spihingomyelinase


Isso não é surpreendente, pois apesar de moscas e mamíferos serem muito diferentes, cada um precisa de fatores bioquímicos semelhantes durante o desenvolvimento juvenil e possuem mecanismos subjacente semelhantes para fornecer esses fatores. 






Viviparidade é algo comum nas mais diversas espécies existentes. Ver fotos de embroes aqui.

Ela é encontrada em certos gêneros de tubarão, serpentes,  e vermes veludo e em certas espécies de escorpião, barata.

 

tubarão no ventre

 

Os lagartos (scincídeos) também se reproduzem de forma vivípara.

 

 

Sobre as baratas, ainda vale citar que na espécie é vivípara  suas crias se desenvolvem em um fluido dentro do útero da mãe, assim como fazem muitos mamíferos. As espécies ovovivíparas e vivíparas geram crias vivas (aqui). 

 

 

Os escorpiões também se valem da viviparidade (ver aqui e aqui):

 

 

A gestação da fêmea dura de 2 meses e meio a 3 meses e, dependendo da espécie, nascem de 1 a 60 filhotes, que parecem miniaturas dos pais. Os filhotes nascem completamente brancos e por meio de parto, através de uma fenda genital.

 

Resumindo, o caso da viviparidade na tsé-tsé não tem nada de anormal e, tampouco o fato dela alimentar sua cria com um líquido de propriedades semelhantes ao leite dos vertebrados.

 

O fato do "leite" da tsé-tsé ser rico em uma substância semelhante ao leite comum não tem nada de anormal, pois a substância SMase é necessária a formação da parede celular os eucariontes. 

 

Isso está escrito em nossos genes ancestrais, pois toda e qualquer espécie, até então encontrada neste planeta se vale das mesmas estratégias para sobreviver e necssecita das mesmas coisas.

 

É por essa razão que há ancestralidade comum entre as espécies, uma vez que até  momento não foi encontrada uma "criação em separado", bem como tudo o que é necessário para viver e passar adiante as características é semelhante, seja em uma bactéria, como em um elefante.

 

O caso da tsé-tsé não se trata de digitais de um criador, mas de evolução convergente. Aliás, por que diabos um "criador demente", digo "inteligente" se preocuparia em fazer uma espécie de barata ser vivípara e outras serem ovíparas  e outras serem ovovivíparas? Sei lá...

 

O que há que se saber é o quão semelhante este leite é ao dos vertebrados e como é o sistema de prenhez das diversas espécies, o que se trata de um estudo de fisiologia comparada quanto aos órgãos reprodutores femininos das diversas espécies.