sábado, 26 de junho de 2010

Maus usos da filosofia e ignorância científica Parte 4

Texto 4:

Este texto retoma a ideia de ajuste fino do universo, já devidamente tratada de forma científica em nossa primeira postagem, em resposta ao que propôs o primeiro texto sob análise (Texto 1).

Os argumentos apresentados neste texto insistem em um universo finamente ajustado que possibilite a existência de vida e em sua improbabilidade de existir por mera casualidade.

A argumentação tem seu ponto em um raciocínio proposto por John Leslie, o qual tenta fazer uma analogia entre a possibilidade de existir o Universo e a de um tiro disparado aleatóriamente acertar uma única mosca pousada em uma grande área livre de uma parede. Se o resto da parede, fora da área de nossa mosca, estivesse coberto de moscas o tiro teria boas chances de acertar uma mosca.

Todavia o argumento proposto por Leslie em sua pseudo-analogia com a questão da existência do Universo ou de multiversos, parece excluir estes da análise, relembrando que temos os seguintes tipos de universos:

tipo 1: Tão distante que não podemos ver, porém está em nosso espaço-tempo tido como infinito;

tipo 2. É um universo em bolhas cada qual com seu universo mas vagando pelo espaço, sendo sua estrutura fractal. Os universos do tipo 1 estão aqui contidos;

tipo 3: Está junto com nosso universo, porém em outra dimensão, existindo em número infinito, separados por diferenças quânticas;

tipo 4: universos em membranas ou flutuações quânticas que podem ser regidos por leis bem distintas, ou seja, os 6 números aqui apresentados variarem.

O texto se encerra com o designer sendo a resposta para o argumento proposto por Leslie.

Bem, aqui devemos fazer uma viagem ao passado, voltando a Grécia de Leucipo, em 450 a.C., uma vez que a questão acaso x necessidade remonta aos gregos e ainda, em nossos dias, está sendo debtida.

Leucipo afirmara: "Nada acontece aleatoriamente; tudo acontecepor alguma razão e por necessidade." Tal pensamento era sustentado pela "Escola Atomista", sendo que seus pensadores identificavam o acaso como "causa oculta".

este argumento continuou a ser sustentado por Demócrito (460 - 370 a.C.), o sucessos de Leucipo. Para demócrito, o acaso representava a "ignorância da causa determinante".

Os estóicos também repudiaram a ideia de evento sem causa. Crísipo (280 - 207 a.C. ?) afirmara: "Não existe nada que se possa chamar de ausência de causa ou espontaneidade. Nos chamados pulsos acidentais, inventados por alguns, existem causas ocultasà nossa visão que determinam o impulso numa determinada direção."

Já os epiciristas que a crença na necessidade (que eventos são predeterminados e a consequente eliminação de eventos sem causa) era incompatível com o livre arbítrio. Epicuro (341 - 270 a.C.)aceitava a teoria básica dos atomistas, mas se distanciava deles ao acreditar que um desvio sem causa, espontâneo, dos átomosfazia com que colidisse, e que a incerteza do desvio admitiria o elemento do livre arbítrio.

A filosofia epicurista é bem documentada por Lucrécio (96 a 55 a.C.?) no poema De rerum natura. Para Epicuro e Lucrécio, o acaso abrangia o aspecto indeterminista.

Nossa viagem continua pela Idade Média, onde o determinismo imperou, incentivado pela crença da então incipiente igreja cristã de que tudo acontecia sob o comando do Criador.

No primeiro posto falamos sobre os argumentos ontológico, cosmológico e teleológico, porém vale a pena agora conhecermos as 5 vias que provam a existência de deus, elaboradas por Tomás de Aquino (1224 a 1274).

Tomás de Aquino dirigiu sua obra a Suma Teológica, no sentido de compatibilizar o pensamento grego de Aristóteles ao cristianismo. Entretanto, Aquino contrasta com Anselmo no que se refere ao argumento ontológico, rejeitando-o e criticando-o.

Vejamos as 5 vias da prova da existência de deus em uma articulação entre fé e razão:

A Suma Teológica se divide em três tratados (sendo que o terceiro ficou incompleto), os quais subdividem as questões que analisam nos principais aspectos de seus temas. As questões se subdividem em artigos, onde são examinadas várias posições acerca destes temas. Formula objeções e elabora soluções e respostas pautadas no pensamento aristotélico.

A exploração de nosso tema tem partida na segunda questão do primeiro tratado, cujo tema é "a existência de Deus".

1 - O primeiro artigo parte do problema "se a existência de deus é auto-evidente". Aquino examina as teses em favor desta posição e por fim as refuta.

1.1 - O primeiro argumento consiste em entender o conhecimento auto-evidente como inato, natural ao homem. Assim, o conhecimento de Deus seria natural ao homem e, portanto, auto-evidente. Aquino responde que o conhecimento humano acerca de Deus é um conhecimento natural confuso, o que não equivale a um conhecimento absoluto de que Deus existe.

1.2 - O segundo argumento é uma versão da prova ontológica de Anselmo, sem lhe fazer referência. O argumento centra-se na ideia de que Deus é o ser supremo, aquele maior do que nada pode ser pensado. Quem tem esta definição de Deus no intelecto, deve aceitar a existência real de Deus, pois caso este não existisse, haveria algo maior que ele, já que existir é mais do que não existir, e assim, teriamos uma contradição. Portanto, a existência de deus no intelecto acarreta sua existência na realidade.

Aquino rejeita a passagem do entendimento da definição de deus (existência no intelecto) para sua existência real. Esta definição pode não ser aceitao que torna o argumento circular, uma vez que se pressupõe aquilo que se quer provar e também porque existir no intelecto difere de existir na realidade.

1.3 - O terceiro argumento se refere à existência da verdade auto-evidente, já que é impossível negar a verdade, pois quem a nega supõe que a negação seja verdadeira. O Evangelho proclama que deus é a verdade, portanto a existência de deus é auto-evidente.

Aquino responde que a existência da verdade é, em geral auto-evidente, mas não de uma verdade primeira determinada. Conforme Aristóteles não se póde pensar o oposto do que é auto-evidente, como se pode pensar que Deus não existe: a existência de deus não é auto-evidente.

Assim Aquino conclui que como não conhecemos diretamente a essência de Deus, este não é auto-evidente e, portanto, necessita ser demonstrado por aquilo que conhecemos.

2 - O segundo artigo discute se a existência de deus pode ser demonstrada. De início, Aquino supõe que não pode ser demonstrada e deve ser considerada como auto-evidente. A questão aqui apresentada é um desdobramento do primeiro artigo.

2.1 - O primeiro argumento afirma que a existência de deus não pode ser provada por ser um artigo de fé. Uma demonstração produz conhecimento e deus não é conhecido como tal.

Para aquino, a existência dedeus e de seus atributos enquanto elementos da razão natural, não são artigos de fé, mas pressupostos destes. Assim, a fé pressupõe a razão.

2.2 - O segundo argumento parte da ideia de que Deus é indemonstrável em sua existência, pois sua essência não pode ser conhecida, sendo a essência pressuposto da demonstração. Assim, somente pode-se dizer o que Deus não é.

Aquino responde que em uma demonstração não se supõe um conhecimento da essência, mas parte-se apenas do sentido do nome daquilo cuja existência se deseja demonstrar, sendo o sentido do nome de Deus constituído simplesmente por seus efeitos.

2.3 - O terceiro argumento afirma que só se poderia demonstrar a existência de Deus por seus efeitos. Os efeitos de deus lhes são inferiores, uma vez que são finitos. Todavia, Deus é infinito.

Aquino responde que embora a partir dos efeitos não possamos alcançar um conhecimento perfeito de Deus podemos demonstrar sua existência. Pode-se conhecer o invisível através do visível, porém é preciso demonstrar que a existência de Deus pode ser demonstrada a partir da existência das coisas presentes no mundo criado.

Dessa forma, há dois sentidos de demonstrar:

- propterquid: demonstra-se algo a partir da causa, ou seja, da essência, às suas propriedades, da causa ao efeito, o que equivale a argumentar a partir daquilo que é primeiro em um sentido absoluto, porém isso é impossível à razão humana.

- quia: pode-se demonstrar algo a partir de seus efeitos, ou seja, argumentar a partir daquilo que é primeiro para nós, isto é, do efeito para a causa, o que equivale a um método regressivo.

Assim, Aquino conclui que podemos demonstrar a existência de Deus, embora não o conheçamos em sua essência, mas temos como partida os efeitos que nos são conhecidos.

3 - O terceiro artigo é onde encontramos as cinco vias da demonstração da existência de Deus, que se tratam da argumentação por meio da qual se pode provar que Deus existe.

3.1 - A primeira via: baseia-se no argumento do movimento, cuja inspiração está em Física de Aristóteles. O movimento se caracteriza pela passagem de potência a ato. Somente algo que existe em ato pode fazer com que algo que existe em potência passe a ato. Portanto, tudo que se move é movido por algo imóvel, já que não se pode admitir uma regressão ao infinito. Então entende-se Deus como sendo o primeiro motor.

3.2 - A segunda via parte da noção aristotélica de causa eficiente. nada pode ser causa eficiente de si próprio, pois nesse caso seria anterior a si próprio. Tal como no primeiro argumento, não se pode admitir uma regressão ao infinito no que se refere às causas. Portanto, Deus é a primeira causa eficiente.

3.3 - A terceira via é o argumento cosmológico, cujas bases também são calcadas no pensamento de Aristóteles, na noção de necessidade e contingência. Este argumento visa a explicar a necessidade da existência do Universo(o cosmo). A contingência é constatada na natureza, mas nem todas as coisas podem ser contingentes, senão seria possível que não houvesse nada. Mas aquilo que não existe somente pode começar a existir a partir daquilo que já existe anteriormente. É preciso assim que algo do que existe seja necessário. Logo, Deus é o primeiro ser origem de todas a necessidade.

3.4 - A quarta via tem como ponto de partida a existência de todas as coisas. Todas as coisas têm um predicado ou qualidade em grau maior ou menor, se caracterizam por um termo comparativo. Portanto, há pressuposto um parâmetro máximo. Assim, Deus é o ser perfeito, ou seja, aquele que tem o máximo de perfeição (realização de atributos ou qualidades).

3.5 - A quinta via é o argumento teleológico, que parte da noção de finalidade (telos) ou causa final, em que deve haver um propósito ou finalidade na natureza, caso contrário o Universo não tenderia para o mesmo fim ou resultado. assim, a causa inteligente dessa determinação é Deus.

A partir destes argumentos, Aquino buscou demonstrar a existência de Deus a partir da razão naturalconciliando a revelação (o que trazem as Escrituras) com a teologia natural (a noção de Deus que nós temos).

Esta linha argumentativa revalorizou o espírito do aristotelismo do mundo natural como objeto de conhecimento e assim, funde-se à crença hebraica revelada, referente à criação do mundo, a qual tem as marcas de seu criador.

Tal postura legitimou o ponto de vista teológico relacionado à investigação científica do mundo natural, motivo de curuisidade para o homem medieval, sob influência das obras científicas de Aristóteles e dos árabes como Averrois.

O pensamento de Aquino se denomina TOMISMO, o qual é um ssitema filosófico - teológico que se tornou integrante da doutrina da igreja. Seu princípio basilar reside na ideia de que entre razão e fé, embora haja distinção entre ambas, também ha colaboração. É pela razão que se demonstram algumas verdades da fé (a existência e unicidade de Deus), que se explicam os mistérios da fé por meio de imagens, metáforas e semelhanças e são dadas respostas às objeções dos ateus.

Thomas Hobbes (1588 a 1679) manteve a linha tomista de que todos os eventos eram predeterminados por Deus ou por causas extrínsecas, também por Deus, determinadas. assim, tudo provinha da necessidade (a quarta via de Aquino).

A esse ponto se contrapôs Bramhall, o bispo de Derry ao admitir uma indeterminabilidade nos eventos, o que denominou por contingência (eventos contingentes podem ou não acontecer ou podem acontecer de uma ou de outra forma).

Por meio deste raciocínio, Bramhall salienta que apesar de qualquer evento específico ser determinado por leis físicas, há tantos aspectos circunstânciais envolvidos na situação que levam a resultados indeterminados. Assim, este pensamento distingue a determinabilidade de uma situação quando ela acontece e a indeterminabilidade antes que ela aconteça.

Assim, caso haja o total controle das situações iniciais, em que a plena certeza do comportamento de todos os componentes desta situação, o evento deixara de ser aleatório e passara a ser determinístico.

Mas ao investigarem os céus e a Terra, os cientistas do passado se depararam com alguns problemas, como a obtenção de medidas diferentes ao trabalharem com uma mesma entidade. Era o erro aleatório que sempre aparecia de forma inesperadaem trabalhos que investigavam casos da natureza em busca de fatos sobre fenômenos exatos (distâncias astronômicas e orbitais), a antítese da aleatoriedade.

Tycho Brahe (1546 a 1601), ao final do século XVI, lutou para eliminar estes erros, em busca da exatidão das medidas.

Em 1632, Galileo formulou as seguintes proposições referentes ao erro aleatório:

1 - Os erros são inevitáveis;
2- os erros pequenos são mais prováveis que os grandes;

3- os erros de medição são simétricos, tendento a subestimar como a superestimar;
4- o verdadeiro valor da constante observada está próximo da maior concentração das medições.


Mas é com o trabalho de Newton (1643 a 1627) sobre a gravitação que essa ideia de aleatoriedade sofre grande abalo. Newton descreveu matematicamente como funcionava o campo gravitacional e com isso surge a crença de que tudo na natureza poderia ser formulado por meio da matemática.

Assim, se tudo se adequava a um projeto matemático, então deveria existir um grande projetista, pois o acaso e a aleatoriedade, de acordo com este pensamento, não teriam lugar.

Mas os erros persistiram e a exatidão continuou a estar longe de ser alcançada.

Com isso começa a surgir a noção de estatística como forma de medir esta aleatoriedade. É um trabalho emblemático de Thomas Simpson, em 1756, que demonstra que a probabilidade da média estar errada por um determinado valor é menor que a probabilidade de uma única observação estar errada pelo mesmo valor.

Mas é com daniel Bernoulli, em 1777, que a ideia de aleatoriedade se firma, uma vez que claramente percebeu que erros nas medidas astronômicas eram resultados aleatórios e acrescentou que todo o complexo de observações simplesmente se trata de evento aleatório.

Mas o que isso tudo tem a ver com o texto 4 e a aleatoriedade envolvida na geração e existência de um Universo ou de multiversos?


O que se percebe é que o Texto 4 e toda sua linha argumentativa tem assento na filosofia tomista que perdurou até Newton, uma vez que sua matemática da gravitação intuia a exatidão nas medidas do universo.

Tal ideia está de pleno acordo com a filosofia tomista e, portanto, com os desígnios de um criador o que se traduz em um forte raciocínio antrópico de que nosso Universo é raro com suas condições certas, todas surgidas conjuntamente para tornar a sua exist~encia e a vida possível.

Entretanto, conforme expõe o artigo A Busca pela Vida na Estranheza do Multiverso, publicado na Scientific American - Brasil, ano 8, n. 93, estudos sugerem que alguns outros universos (admitindo-se que eles existam) podem afinal não ser tão inóspitos.

Há valores alternativos para as constantes fundamentais e, portanto, conjuntos alternativos de leis físicas, passiveis de levarem a mundos bem interessantes e à vida. Muda-se um aspecto da natureza e compensa-se tal mudança em outros aspectos.

O ajuste fino consiste em tomar-se uma das constantes do Universo e alterá-la, mantendo-se as demais constantes inalteradas. Roda-se o filme do Universo e vê-se o que acontece, por meio de simulações em computador. Entretanto, não há qualquer razão para que apenas uma das constantes do Universo se altere. O que seria esperado é uma alteração de diversos parãmetros de uma única vez.

O ajuste fino é invocado como uma evidência indireta da existência do multiverso. Teoricamente, embora a hipótese de que o, Universo tenha começado como um minúsculo pedaço de espaço-tempo muito pequeno se sustente por meios de dados astronômicos, a cosmologia ainda não possui um modelo teórico definitivo para a inflação.

Todavia, a teoria sugere que diferentes pedaços de espaço-tempo podem inflar a taxas diferentes entre si e que cada um desses pedaços poderia formar uma pequena bolsa que se tornaria um universo autônomo, caracterizado por suas próprias constantes da natureza.

O espaço entre estes universos continuaria em uma expansão tão rápida que seria mesmo maior que a velocidade da luz.

Outra razão para se suspeitar que multiversos existem se refere à constante cosmológica (o nosso L do primeiro post), representante da energia do vácuo. É previsto pela física quântica que mesmo o espaço vazio possui energia e assim, a constante cosmológica seria tão grande que o universo se expandiria tão rapidamente que estruturas como galáxias não se formariam e se fosse pequena, o universo recolapsaria.

Mas, em 1998, descobriu-se o Universo está na realidade se expandindo a uma taxa acelerada devido a uma forma misteriosa de "energia escura", o que implica em uma constante cosmológica positiva e minúscula conforme demonstrara Steven Weinberg, em 1997, o que demonstra ser esta enegia demasiado diluída.

Os testes realizados em simulações aplicados à força nuclear fraca e às massas dos quarks parecem ter falhado ao se provocarem alterações na constante cosmológica. Isso leva a uma impossibilidade de encontrar um universo propício em que a constante cosmológica supere o valor para ela observado. Assim, dentro de um multiverso, a maioria dos universos poderia ter constantes cosmológicas incompatíveis com a formação de qualquer estrutura.

Argumentos teóricos baseados em teoria das cordas (extensão especulativa do Modelo Padrão que tenta descrever todas as forças como vibrações de cordas microscópicas) parecem confirmar tal cenário.

Sugere-se que durante a inflação (teoria proposta por Alan Guth), tanto a constante cosmológica como outros parãmetros poderiam ter assumido virtualmente um intervalo ilimitado de valores diferentes que é o Panorama da Teoria das Cordas (Scientific AmericanBrasil, ano 3, n. 29) .

Segundo a teoria das cordas, as leis da física observadas no mundo dependem da forma em que dimensões adicionais do espaço-tempo encontram-se emaranhadas, formando um pacote minúsculo.

Dessa forma, ao serem apuradas todas as configurações possíveis destas dimensões adicionais, há um panorama onde cada vale corresponde a um conjunto estável de leis.

O universo visível existe dentro de uma região do espaço-tempo associada a um vale deste panorama, o qual produz leis físicas adequadas à evolução da vida. Mas este Universo está em um vale é aleatório, em meio a um conjunto infinito de vales, em um vasto panorama de possibilidades.

Mas porque esta constante é tão pequena, algo em torno de 10 ^- 120? Para isso teremos de adentrar ao mundo da teoria das cordas.


O MUNDO DA TEORIA DAS CORDAS Adaptado de O Panorama da Teoria das Cordas: Scientific American - Brasil, ano 3, n. 29):

Todos sabemos que a teoria da relatividade geral propõe que a gravidade surge da geometria do espaço e tempo que se combinam para formar o espaço-tempo. Assim, o tempo para corpos nas proximidades de outros corpos massivos flui mais lentamente que caso estejam mais distantes.

É a brincadeira do GPS: Se o aparelho estiver na superfície da Terra, seu tempo fluira mais lentamente que se estivesse a 20 km de altura. Considerando-se apenas os efeitos gravitacionais e não a sua velocidade em torno da órbita do planeta, fenômeno este descrito pela teoria da relatividade geral (mais gravidade, mais lentamente flui o tempo) e, caso consideremos sua velocidade a 20 Km de altura, o fenômeno será descrito pela teoria da relatividade restrita e seu templo fluirá mais lentamente (mais velocidade, mais devagar o tempo flui), sempre considerado o observador externo. Isso ai é ao contrario mesmo!!!

Desa forma, considerando-se a questão gravitacional, deve haver alguma explicação geométrica para que tal fenômeno ocorra, bem como para as outras forças da natureza e mesmo no que se refere à existência das partículas elementares.

Theodor Kaluza e Oscar Klein propuseram que enquanto a gravidade reflete a forma das quatro dimensões do espaço-tempo que conhecemos, o eletromagnetismo surge da geometria de uma qunta dimensão, muito pequena para ser enxergada (pelo menos por enquanto).

Dessa forma, conceitos geométricos têm desempenhado impostante papel em tais estudos. Assim, a ideis de Kaluza e Klein foi ampliada como uma das característica da teoria das cordas , até entã a mais promissora unificação da mecânica quântica com a relatividade geral (e aqui) e a física de partículas.

Tanto nas conjecturas de Kaluza Klein quanto na teoria das cordas, as leis da física observáveis são controladas pela forma e pelo tamanho das dimensões microscópicas adicionais.

O eletromagnetismo bem como a gravidade decaem de forma inversamente proporcional ao quadrado da distância de sua fonte, o que seria um indício plausível para especular a respeito da conexão entre ambas as forças. A teoria geométrica da gravidade fornecia esta conexão caso se adicionasse a ela uma quinta dimensão, que estaria enrodilhada em um círculo suficientemente pequeno, porém invisível até ao microscópio mais potente.

A relatividade geral já demonstrara que o espaço é flexível. As três dimensões que vemos hoje estão se expandindo, de forma que não é difícil imaginar uma outra dimensão que ainda continue invisível.

Apesar de não ser diretamente detectável, esta quinta dimensão teria efeitos indiretos muito importantes, os quais poderiam ser observados e, com isso, a relatividade geral passaria a descrever um espaço-tempo pentadimensional. Esta geometria pode ser dividida em três elementos:

1 - a forma das quatro grandes dimensões do espaço-tempo;
2- o ângulo entre a dimensão de pequeno porte e as outras dimensões;
3- a circunferência da dimensão menor.

O espaço-tempo maior comporta-se de acordo com a teoria da relatividade geral quadridimensional comum. Em cada ponto de seu interior, o ângulo e a circunferência apresentam um dado valor, como dois campos permeando o espaço-tempo e assumindo certos valores em cada ponto. O campo de ângulo tem ação parecida com a de um campo eletromagnético de um universo quadridimensional. A circunferência determina as intensidades relativas das forças eletromagnética e gravitacional.

A possibilidade de dimensões adicionais também assumiu um papel cricial na unificação da relatividade geral e da mecânica quântica , por meio da ideia de que partículas são, na verdade, padrões de vibração de pequenos objetos unidimensionais (minúsculos laços ou fios. O tamanho normal de uma corda é próximo ao comprimento de Planck ou 10^-33 cm.

Assim, uma corda tem a aparência de um ponto quando vista sob qualquer escala maior que o comprimento de Planck.

Para que as equações representativas da teoria das cordas sejam matematicamente consistentes, uma corda deve vibrar em 10 dimensões de espaço-tempo, o que implica a existência de seis minúsculas dimensões adicionais.

Ao lado das corda, superfícies denominadas branas, que possuem diversas dimensões podem estar imersas no espaço-tempo. A teoria das cordas ainda contém fluxos ou forças que podem ser representadas por linhas de campo, tal como o que se verifica no eletromagnetismo clássico.

O quadro da teoria das cordas é bem mais complicado que aquele apresentado pela teoria de Kaluza e Klein, mas sua matemática é mais unificada e completa. Mas o tema de ambas é o mesmo: as leis físicas que enxergamos dependem da geometria de dimensões adicionais ocultas.

A solução para as equações da teoria das cordas são muitas, daí haver muitas geometrias possíveis. A teoria de Kaluza e Klein, com sua geometria pentadimensional e a relatividade geral cuja geometria é tetradimensional são casos particulares.

Na teoria das cordas há diversas dimensões adicionais o que resulta em uma série de parâmetros novos. Uma única dimensão somente pode estar enrolada em um círculo. Já, quando há mais de uma dimensão adicional, o conjunto por elas formado se apresentará sob muitas formas ou topologias diferentes, como uma esfera, uma rosca, duas roscas unidas, etc.

Cada laço de uma rosca (a alça) possui um comprimento e uma circunferência, o que gera um enorme conjunto de geometrias possíveis para as dimensões de pequeno porte. Mas os inúmeros conjuntos de soluções não são iguais, sendo que cada configuração possui uma energia potencial para a qual contribuem os fluxos, as branas e a própria curvatura das dimensões enrodilhadas.

A esta energia denomina-se energia de vácuo, por ser a energia do espaço-tempo quando as quatro dimensões grandes estão completamente livres de matéria ou de campos. a geometria das dimensões pequenas tenta se ajustar, a fim de minimizar esta energia, tal como a bola sobre o topo de uma rampa que rola para baixo.

A fim de compreender as consequências dessa minimização, há que se concentrar no tamamnho geral do espaço oculto. Qualquer solução para as equações da teoria das cordas representa uma configuração específica de espaço e tempo e um arranjo distinto das dimensões menores, juntamente com as branas a elas associadas e com as linhas de fluxo.

Por exemplo, para tamanhos muito pequenos, a energia é elevada de modo que a curva formar um pico a esquerda. Depois, esta energia desce e forma três vales cada qual mais baixo que o anterior. Por fim, à direita, após o último vale, a curva desce suavemente tendendo a um valor constante. O ponto mais baixo do vale localizado mais a esquerda, encontra-se acima da energia zero, o central é exatamente zero e o direito se encontra abaixo de zero.

O comportamento do espaço oculto depende de suas condições iniciais, ou seja, do ponto de unde irá se formar sua curva descendente. caso a configuração se inicie à direita do último pico, a curva tenderá ao infinito e o tamanho do espaço oculto aumentará interminavelmente, deixando de ser oculto.

Caso contrário, haverá o equilíbrio em um dos pontos mais baixos dos vales, sendo que o tamanho do espaço oculto se ajusta a fim de minimizar a energia. Mas estes três mínimos se diferenciam por suas energias de vácuo (positiva, nula ou negativa).

Em nosso universo, o tamanho das dimensões ocultas não varia com o tempo. Do contrário, as constantes da natureza também se alterariam. Dessa forma, nosso universo deve estar parado em um mínimo, com energia de vácuo ligeiramente positiva.

Uma vez que há mais de um parâmetro envolvido, segundo Leonard Susskind da Universidade Stanford, devemos imaginar essa curva como uma fatia de uma cadeia de montanhas complexa e multidimensional que se denomina panorama da teoria das cordas.

Os mínimos dessa paisagem multidimensional corrspondem às configurações estáveis do espaço-tempo, denominadas de vácuos estáveis. Este panorama é muito complexo e possui centenas de direções independentes que não devem ser confundidas com as dimensões espaciais do mundo. cada eixo mede não alguma posição no espaço físico, mas algum aspecto da geometria, como tamanho de uma alça ou posição de uma brana.

O cálculo da energia de um estado de vácuo é muito complexo e requer aproximações adequadas, mas progressos estão ocorrendo, como aquele realizado por Shamit Kachru, Renata Kalosh, Andrei Linde, todos da Stanford e sandip Trivedi do Instituto Tata de Pesquisa Fundamental em Mumbai que chegaram a conclusão de que o panorama das cordas realmente tem mínimos nos quais um universo pode ficar preso.

Sobre o número de vácuos não há uma certeza, sedo que há pesquisas que sugerem soluções com até 500 alças, Pode-se enrolar diferentes numeros de linha de fluxo em cada alça, mas há um limite, uma vez que elas tornariam o espaço instável.

Supondo-se que cada alça tenha entre zero e nove linhas de fluxo (10 valores possíveis), haveria 10^500 configurações possíveis. Se cada alça tivesse zero e uma unidade de fluxo (2 valores)haveria 2^500 possibilidades.

Além de afetar a energia de vácuo, cada uma das muitas soliuções gerará diferentes fenômenos no mundo macroscópico, definindo quais tipos de partículas e forças estão presentes, bem como suas massas e intensidades de interação.

Mas para que questões como por que o universo obedece às leis especificas que possui, qual vácuo estável descreve o mundo que vivemos, por que a natureza escolheu este vácuo específico e não outro, muito terá de se progredir no estudo do panorama das cordas.

Caso esteja correta a teoria das cordas, ela representará uma depuração nos diversos estados garantindo a apenas alguns a possibilidade de ser digno de possuir um universo.

Em vez de se reduzir o panorama a um único vácuo, pode-se propor situações diferentes baseadas em duas importantes ideias:

1 - que o mundo não precisa estar preso a uma configuração das pequenas dimensões para sempre, já que um processo quântico raro possibilita que pequenas dimensões pulem de uma configuração para outra;

2 - a relatividade geral que é uma parte da teoria das cordas, implica que o Universo pode crescer tão rapidamente que configurações diferentes coexistam lado a lado, em diferentes subuniversos, cada um suficientemente grande para desconhecer a existência de outros.

Cada vácuo estável é caracterizado por seu número de alças, branas e quanta de fluxo, mas há que se considerar que cada um desses elementos pode ser criado e destruído, de modo que, após períodos de estabilidade, o mundo pode passar a uma configuração diferente. Na estrutura do panorama, o desaparecimento de uma linha de fluxo ou qualquer mudança na topologia, constitui-se em um salto quântico sobre o cume de um pico que termina em um vale mais baixo.

Assim, podem surgir diferentes vácuos. E.g. suponhamos que cada uma das 500 alças comece com 9 unidades de fluxo. Uma a uma estas 4500 unidads decairão em alguma sequência governada pelas previsões probabilísticas da teoria quântica, até que toda energia armazenada nos fluxos seja consumida.

Começamos em um vale de uma montanha alta, saltando aleatoriamente os cumes adjacentes, visitando 4500 vales, cada vez mais baixos. Há um cenário com algumas variações (uma pequena fração das 10^500 soluções possíveis). Prece que a maior parte dos vácuos jamais chegará a nada.

Todavia, neste exemplo ignoramos o efeito da energia de vácuo na maneira como o Universo evolui. Objetos como galáxia e estrelas tendem a desacelerar um Universo em expansão, até fazer com que ele novamente colapse.

No entanto, a energia de vácuo positiva age como antigravidade, fazendo com que as dimensões que enxergamos cresçam cada vez mais rápido, sendo que tal expansão tem um efeito impórtante e surpreendente quando as dimensões ocultas se afunilam para formar uma nova configuração.

Vale lembrar que em nosso espaço tridimensional (deixando-se o tempo de lado), há um pequeno espaço de seis dimensões. Quando esse pequeno espaço salta para uma nova configuração, isso não ocorre no mesmo instante em toda parte. O tunelamento se dá primeiro em um ponto do Universotridimensional. Uma bolha da nova configuração de baixa energia sofre rápida expansão.

Caso as três dimensões não estivessem se expandindo, essa bolha em crescimento, engoliria todos os pontos do universo. Mas a região antiga também está se expandindo e esta expansão pode facilmente se tornar mais rápida que a da nova bolha.

Assim, ambas as regiões aumentam e a nova jamais obliterará a antiga. Este resultado é possível é a geometria dinâmica de Einstein, sendo que a relatividade geral não é um jogo de soma zero; esticar o tecido espacial permite a criação de novos volumes, tanto para o vácuo antigo, como para o novo. Isso também funcionará quando o nevo vácuo também envelhecer. Este não desaparecerá por completo, mas gerará uma bolha crescente, ocupada por um vácuo com energia ainda mais baixa.

Em razão da configuração original continuar a crescer, haverá um novo decaimento em outro ponto, ocupando outro mínimo próximo ao panorama. O processo continuará infinitas vezes, o que faz com que cada bolha abrigue soluções novas.

Em vez do decaimento de uma única sequência de fluxo, o Universo passa a experimentar todas as sequências possíveis em uma hierarquia de bolhas alojadas ou subuniversos. Tal resultado é bem similar ao cenário de inflação proposto por Alan Guth do MIT, Alexander Vilenkin da Universidade de Tufts e Andrei Linde da Universidade de Stanford.

Desde que o ponto de partida seja o alto das montanhas do panorama, praticamente todos os vales representantes dos mínimos serão visitados, cada um será alcançado infinitas vezes, por todos os caminhos possíveis. A situação somente terminará quando culminar na energia negativa (vale abaixo de zero), onde a geometria que se associa a energia de vácuo negativa não permite a continuação perpétua da expansão e a formação de bolhas.

Em cada bolha de regiões de baixa energia positiva, surgirá um universo quadridimensional (com as três domensões visíveis e o tempo), com suas próprias leis da física, que influenciarão na formação de estrelas, galáxias, síntese de elemetos, na química, na biologia e na possibilidade de haver condições para abrigar formas de vida.

Não vemos as leis de fora de nossa bolha, devido ao espaço estar se expandindo rápido demais para que a luz o ultrapasse. Vemos apenas as leis correspondentes ao nosso vácuo local, pois não conseguimo enxergar muito longe.

Em nosso cenário o que vemos como Big Bang nada mais é que o salto mais recente para uma nova configuração, que certamente em um dia muito distante esta parte do espaço poderá vivenciar outra transição do mesmo tipo.

Esse quadro explica como surgiram todos os diferentes tipos de vácuos estáveis do panoerama das cordas em vários pontos do Universo, formando inúmeros subuniversos. Esse resultado pode sulucionar um dos problemas mais umportantes e antigos da física teórica ligado á energia de vácuo.

Este temo era denominado por Einstein de constante cosmológica, adicionado a sua equação da relatividade geral de modo a torná-la consistente com sua convicção de que o Universo era estático. Esta constante assumira um valor positivo, mas foi abandonada quando Edwin Huble detectou que o Universo se expandia.

Com o advento da teoria do campo quântico, o vácuo se tornou um lugar movimentado, repleto de partículas e campos virtuais surgindo e desaparexcendo, com cada partícula e campo carregando uma energia positiva ou negativa.

Segundo cálculos baseados nessa teoria, tais energias deveriam somar uma tremenda densidade de cerca de 10^94 g/cm^3, ou uma massa de Planck por comprimento de Planck cúbico (Lp). Tal resultado levou o nome de "previsão mais equivocada da física, pois experimentos demosntraram que a energia de vácuo definitivamente não é maior que 10^-120Lp. Isso levou a física teórica a uma crise por 3 décadas.

Qual a origem de tal discrepância?

No ano 2000, combinou-se a riqueza de soluções da teoria das cordas e sua dinâmica cosmológica com um insight proposto por Steven Weiberg da Universidade do Texas, a fim de conseguir tanto uma razão quanto um mecanismo para este fato.

De início, há que se considerar a riqueza das soluções. A energia de vácuo é apenas a elevação vertical de um oponto do panorama, variando de cerca de +Λp nos picos até -Λp até os vales mais profundos abaixo de zero.

Supondo-se que existam 10^500 mínimos, suas elevações estarão aleatoriamente entre estes dois valores. A serem marcadas todas estas elevações em um eixo vertical, o espaçamento médio entre elas será de 10^-500 Λp.

Muitas, ainda que representem uma pequena fração do total, terão, portanto, valores entre zero e 10^-120Λp. Tal resultado explica como surgem valores tão pequenos. Andrei Sakharov sugeriu em 1984 que as geometrias complexas das dimensões ocultas poderiam produzir um espectro para a energia de vácuo que incluísse valores dentro da variação experimental.

Assim, de acordo com o acima descrito, explica-se como a cosmologia povoa a maior parte dos mínimos, gerando um Universo complicado, que contêm bolhas com todos os valores imagináveis de energia de vácuo.

Mas restam as perguntas:

Em que bolha nós estamos?
Por que nossa energia de vácuo estaria tão próxima de zero?

É aqui que o insight de Weinberg entra; certamente há um elemento de sorte, mas muitos locais são tão inóspitos que não é de se estranhar que não vivamos neles. Apenas uma pequena fração dos vácuos estáveis é favorável a vida.

Regiões do Universo com grande energia de vácuo positiva sofrem expansões tão intensas que não permitem que nada se forme.

Devido ao tunelamento quântico ser um processo aleatório, pontos muito distantes do universo decaem através de diferentes sequências de vácuos. Assim, todo o panorama é explorado, sendo que dcada vácuo estável ocorre em diversos pontos do universo. Desse modo, todo o universo é uma espuma de bolhas se expandindo dentro de bolhas, cada qual com suas próprias leis físicas e a parte que é visível de nosso universo é apenas uma pequena região dentro destas bolhas.

O tunelamento quântico surge do princípio da incerteza de Heisemberg. O tunelamento quântico consiste no evento de uma partícula atravessar uma região em que a energia potencial é maior do que a sua energia total - esta barreira é intransponível na mecânica clássica, pois a energia cinética da partícula seria negativa na região.

Já regiões com elevada energia de vácuo negativa rapidamente colapsam. Em ambos os casos não seria possível um universo destes abrigar vida. Vivemos onde podemos viver e, portanto, não devemos nos surpreender se a energia de vácuo em nossa bolha seja minúscula, sem jamais ser zero. A isso denominamos de raciocínio antrópico.

Cerca de 10^380 vácuos se encontram na posição ideal, mas apenas uma miníscula fração deles estará no zero exato. Caso estes vácuos se distribuam aleatoriamente, 90% deles estarão entre 0,1 e 1 * 10^-118 Λp. Portanto, se a imagem do panorama estiver correta, deveria ser observada uma energia de vácuo diferente de zero, provavelmente não muto inferior a 10^-118 Λp.

Estudos com super-novas distantes mostraram que o Universo visível está em em aceleração (sinal da presença de energia de vácuo positiva). O valor desta energia foi estimado, a partir da taxa de aceleração, em 10^-120 Λp, um valor suficientemente pequeno para ter escapado da detecção de outros experimentos, mas suficientemente grande para que a explicação antrópica seja plausível.

Einstein costumava se perguntar se deus teve escolha ao criar o Universo da maneira que ele é ou se as leis cósmicas seriam definidas por algum princípio fundamental. Um cientista só pode esperar que a segunda opção seja a correta. As leis básicas da teoria das cordas, apesar de ainda não completamente conhecidas, aparentam ser completamente fixas e inevitáveis; a matemática não permite escolhas.

Mas, as leis observadas mais diretamente não se tratam de leis básicas, pois dependem das formas das dimensões ocultas e, por isso, as opções são muitas. Os detahes que observamos na natureza não são inevitáveis, mas uma consequência da bolha específica em que vivemos.

Para responder se o panorama das cordas faz outras previsões além do pequeno valor da energia de vácuo, necessita-se de uma compreensão muito maior sobre o espectro de vácuos, sendo que não se localizou ainda um vácuo estável específico que reproduza as leis da física de nosso espaço-tempo quadridimensional.

Importantes conhecimentos físicos ainda terão de ser descobertos a fim de melhor clarearem as equações da teoria das cordas ou implodirem o modelo do panorama de vácuos de corda ou a cascata de bolhas que o povoam.

Mas, do ponto de vista experimental, o fato da energia de vácuo se positiva e difernte de zero parece ser uma conclusão quase inevitável das observações . Porém ha que se considerar que dados cosmológicos nos surpreendam.

É cedo para encerrarem-se as buscas por explicações distintas da aqui apresentada, mas é igualmente tolo ignorar a possibilidade de que surgimos em um dos cantos mais brandos de um Universo.

CONCLUSÃO SOBRE A ANÁLISE E SOBRE O TEXTO APRESENTADO:

Desse modo, claramente podemos perceber que até o momento a questão para um universo existir ou não dentro de determinados parâmetros não se trata de uma questão determinística escolhida por alguma coisa

Esta questão se resume á natureza propriamente dita, no que concerne às leis físicas do universo, dependentes da aleatoriedade de flutuações quânticas que podem ou não gerar as condições para que universos ocorram.

Como praticamente todos os vales representantes dos mínimos serão visitados, cada um será alcançado infinitas vezes, por todos os caminhos possíveis de uma sequência de vácuos existentes na região deste ponto do Universo.

Assim, nada impede que aleatoriamente uma dessas sequências repetidamente visitadas culmine em uma bolha e se faça um universo. O próprio grau de infinidade dessas "visitas a vales" anula o efeito probabilístico ínfimo de ocorrer um Universo capaz de abrigar a vida. Mas é claro que , segundo o que conhecemos, ele deverá estar dentro dos limites de nossa constante cosmológica.

Dessa forma, "chutar" a questão para um designer ou o diabo que seja, apegando-se a uma ideia de tempos medievais, não passa de ignorância referente aos progressos da física, além de estancamento de uma questão muito interessante para o conhecimento humano, que é saber o que é o Universo.

Ciência não se constrói filosofando, mas fazendo-se experimentos sobre hipóteses formuladas decorrentes da observação de um fenômeno. Estas hipóteses experimentadas se converterão em uma teoria que pode ser contra ou a favor das hipóteses formuladas, sem que se leve a posição ideológico-pessoal do cientista, primando-se pela honestidade deste estudioso.

O cientista, diferentemente dos fanáticos religiosos, possui um compromisso com a verdade. Caso minta, cairá em desgraça e perderá seu crédito. Já um fanático caso seja pego em suas falcatruas simplesmente deixará de auferir vantagens a partir de seus fiéi$$$. Ou seja, mexeu com o meu dinheiro mexeu comigo!!!!