domingo, 27 de junho de 2010

Maus usos da filosofia e ignorância científica Parte 6

TEXTO 6:

O texto ora sob análise é uma continuação do TEXTO 5.

Faz uma análise da proposta atribuída a Ludwig Boltzmann sobre a questão dos universos paralelos conectando-a à evolução biológica. Entretanto, na biografia de Boltzmann não consta tal idealização do universo. O termo multiverso foi cunhado pelo filósofo William James. Em relação ao que consta em material sobre o tema, a primeira teoria do universo paralelo foi proposta em 1950, pelo físico Norte Americano Hugh Everett.

Mas como essa ideia apareceu na Física?

Reproduzirei o artigo de How Stuf Works sobre o tema Universos Paralelos.

Em 1954, Hugh Everett III, um jovem candidato ao doutorado da Universidade de Princeton, apareceu com uma idéia radical: a existência de universos paralelos, exatamente como o nosso. Esses universos estariam todos relacionados ao nosso. 


Na verdade, eles derivariam do nosso, que, por sua vez, seria derivado de outros. Nesses universos paralelos, nossas guerras surtiriam outros efeitos dos conhecidos por nós. Espécies já extintas no nosso universo se desenvolveriam e se adaptariam em outros e nós, humanos, poderíamos estar extintos nesses outros lugares.

Isso é enlouquecedor e, mesmo assim, compreensível. Noções de universos ou dimensões paralelos, que se assemelham aos nossos, apareceram em trabalhos de ficção científica e foram usadas como explicações na metafísica, mas por que um jovem físico em ascensão arriscaria o futuro de sua carreira propondo uma teoria sobre universos paralelos?

Com sua teoria dos Muitos Mundos, Everett precisou responder uma questão muito difícil relacionada à física quântica: por que a matéria quântica se comporta irregularmente? O nível quântico é o menor já detectado pela ciência.

O estudo da física quântica começou em 1900, quando o físico Max Planck apresentou o conceito para o mundo científico. Seu estudo sobre a radiação trouxe algumas descobertas que contradiziam as leis da física clássica. Essas descobertas sugeriram que existem outras leis operando no universo de forma mais profunda do que as que conhecemos.

Em um curto espaço de tempo, os físicos que estudavam o nível quântico perceberam algumas coisas peculiares nesse mundo minúsculo. Uma delas é que as partículas que existem nesse nível conseguem tomar diferentes formas arbitrariamente. 

Por exemplo: os cientistas observaram fótons - minúsculos pacotes de luz - atuando como partículas e ondas. Até mesmo um único fóton tem esse desvio de forma [fonte: Brown University (em inglês)]. Imagine que você fosse um ser humano sólido quando um amigo olhasse você e, quando ele olhasse de novo, você tivesse assumido a forma gasosa.

Isso ficou conhecido como o Princípio da Incerteza de Heisenberg. O físico Werner Heisenberg sugeriu que, apenas observando a matéria quântica, afetamos seu comportamento; sendo assim, nunca podemos estar totalmente certos sobre a natureza de um objeto quântico ou seus atributos, como velocidade e localização.
 
A interpretação de Copenhague da mecânica quântica apóia essa idéia. Apresentada primeiramente pelo físico dinamarquês Niels Bohr, essa interpretação afirma que todas as partículas quânticas não existem em um ou outro estado, mas em todos os estados possíveis de uma só vez. A soma total dos possíveis estados de um objeto quântico é chamada de sua função de onda. A condição de um objeto existir em todos seus possíveis estados, de uma só vez, é chamada de superposição.

Segundo Bohr, quando observamos um objeto quântico, afetamos seu comportamento. A observação quebra a superposição de um objeto e o força a escolher um estado de sua função de onda. Essa teoria explica por que os físicos obtiveram medidas opostas em relação ao mesmo objeto quântico: o objeto "escolheu" estados diferentes durante diferentes medidas.

A interpretação de Bohr foi amplamente aceita e ainda o é por grande parte da comunidade que estuda física quântica, mas ultimamente a teoria de Everett dos Muitos Mundos tem recebido muita atenção.

 
O jovem Hugh Everett concordava com muito do que o altamente respeitado físico Niels Bohr havia sugerido sobre o mundo quântico. Ele concordava com a idéia da superposição e com a noção das funções de onda, mas discordava de Bohr em um ponto vital.
 
Para Everett, medir um objeto quântico não o força de um estado para o outro, mas uma medida tirada de um objeto quântico causa uma quebra no universo. O universo é literalmente duplicado, dividindo-se em um universo para cada possível desfecho da medida. Por exemplo, digamos que a função da onda de um objeto seja tanto de uma partícula quanto de uma onda.

Quando um físico mede a partícula, existem dois desfechos possíveis: ela será medida como uma partícula ou como uma onda. Essa diferenciação transforma a teoria de Everett dos Muitos Mundos em uma concorrente da interpretação de Copenhague como uma explicação para a mecânica quântica.

Quando um físico mede o objeto, o universo se quebra em dois universos distintos para acomodar cada um dos possíveis desfechos. Então, um cientista em um universo descobre que o objeto foi medido na forma de onda. O mesmo cientista, no outro universo, mede o objeto como uma partícula. Isto também explica como uma partícula pode ser medida em mais de um estado.

Pode parecer estranho, mas a interpretação dos Muitos Mundos de Everett tem implicações além do nível quântico. Se uma ação tem mais de um resultado possível, então - se a teoria de Everett estiver certa - o universo se quebra quando aquela ação é tomada, o que continua sendo verdade, mesmo quando a pessoa decide não tomar uma atitude.

Isso significa que se você já esteve em uma situação onde a morte era um dos possíveis desfechos, então, em um universo paralelo ao nosso, você está morto. Esse é apenas um dos motivos que faz algumas pessoas acharem a interpretação dos Muitos Mundos perturbadora.

Outro conceito perturbador da interpretação dos Muitos Mundos é que ela mina nosso conceito linear de tempo. Imagine uma linha do tempo mostrando a história da Guerra do Vietnã. Em vez de uma linha reta mostrando acontecimentos notáveis progredindo adiante, uma linha do tempo baseada na interpretação dos Muitos Mundos mostraria cada possível desfecho de cada ação tomada.



Daí, cada possível desfecho das ações tomadas (como resultado do desfecho original) também seria registrado. Uma pessoa, porém, não pode ter consciência de suas outras personalidades - ou até mesmo de sua morte - que existem nos universos paralelos.


Então, como saberemos se a teoria dos Muitos Mundos está certa? A certeza de que a interpretação é teoricamente possível veio no fim dos anos 90, com a experiência mental - uma experiência imaginada, usada para provar ou desmentir teoricamente uma idéia - chamada suicídio quântico. Você pode aprender mais sobre isso em Como funciona o suicídio quântico.

Esse experimento mental renovou o interesse na teoria de Everett, que foi, durante muitos anos, considerada bobagem. Desde que se provou a possibilidade dos Muitos Mundos, os físicos e matemáticos têm tentado investigar profundamente as implicações da teoria, mas a interpretação dos Muitos Mundos não é a única teoria que tenta explicar o universo, nem é a única que sugere a existência de universos paralelos ao nosso.

A teoria dos Muitos Mundos e a interpretação de Copenhague não são as únicas concorrentes que tentam explicar o nível básico do universo. Na verdade, a mecânica quântica nem é o único campo dentro da física que procura essa explicação. As teorias que surgiram do estudo da física subatômica ainda são teorias, o que divide o campo de estudo de forma semelhante ao mundo da psicologia. As teorias têm partidários e críticos, assim como as estruturas psicológicas propostas por Carl Jung, Albert Ellis e Sigmund Freud.

Desde que sua ciência foi desenvolvida, os físicos estão empenhados em desmontar o universo - eles estudaram o que poderiam observar e trabalharam sobre níveis cada vez menores do mundo da física. Ao fazer isso, os físicos tentam atingir o nível final e mais básico e é esse nível, eles esperam, que servirá como base para compreender todo o resto.

Seguindo sua famosa Teoria da Relatividade, Albert Einstein ficou o resto de sua vida procurando pelo nível final, que responderia todas as questões da física. Os físicos se referem a essa teoria ilusória como a Teoria do Tudo. Os físicos que estudam física quântica acreditam estar no caminho para encontrar a teoria final, mas outro campo da física acredita que o nível quântico não é o menor nível, portanto não poderia fornecer a Teoria do Tudo.

Esses físicos se voltaram para um nível subquântico teórico, chamado teoria das cordas, como sendo a resposta para tudo na vida. O que é incrível é que durante sua investigação teórica esses físicos, como Everett, também concluíram que existem universos paralelos.

A teoria das cordas foi criada pelo físico nipo-americano Michio Kaku. Sua teoria afirma que os blocos de construção essenciais de todas as matérias, bem como de todas as forças físicas do universo - como a gravidade - existem em um nível subquântico.

Esses blocos de construção lembrariam pequenas tiras de borracha - ou cordas - que formam os quarks (partículas quânticas) e, por vezes, os elétrons, átomos, células e assim por diante. O tipo de matéria que é criada pelas cordas e como tal matéria se comporta depende da vibração dessas cordas. É dessa forma que todo nosso universo é composto e, segundo a teoria das cordas, essa composição acontece por meio de 11 dimensões separadas.

Assim como a teoria dos Muitos Mundos, a teoria das cordas demonstra que existem universos paralelos. Segundo essa teoria, nosso próprio universo é como uma bolha que existe lado a lado de universos paralelos semelhantes. Ao contrário da teoria dos Muitos Mundos, a teoria das cordas supõe que esses universos podem entrar em contato entre si. Ela afirma que a gravidade pode fluir entre esses universos paralelos. Quando esses universos interagem, acontece um Big Bang semelhante ao que criou nosso universo.

Enquanto os físicos têm criado máquinas capazes de detectar a matéria quântica, as cordas subquânticas ainda precisam ser observadas, o que as torna - e a teoria da qual elas vêm - totalmente teóricas. Alguns não acreditam nela, ao passo que outros pensam que ela está correta.

Então, os universos paralelos realmente existem? Segundo a teoria dos Muitos Mundos, não podemos ter certeza, uma vez que não podemos vê-los ou senti-los de alguma forma. A teoria das cordas já foi testada pelo menos uma vez e com resultados negativos. O Dr. Kaku, contudo, ainda acredita que existam dimensões paralelas [fonte: The Guardian (em inglês)].

Einstein não viveu o bastante para ver sua busca pela Teoria do Tudo ser adotada por outros. Então, se a teoria dos Muitos Mundos estiver certa, Einstein ainda está vivo em um universo paralelo. Talvez, nesse universo, os físicos já tenham encontrado a Teoria do Tudo.

Em suma, seria interessante que o texto 6 apontasse as suas referências bibliográficas a fim de que elucidasse suas afirmativas.

A proposta apresentada no Texto 6 se coaduna àquilo que foi apresentado no post 4, no que se refere ao panorama da teoria das cordas, mas, como pode se notar, vai de encontro a tudo que se sabe, por enquanto, sobre o referido panorama.

Quanto à questão da vida e do tempo de uma Estrela, vejamos o que o texto diz:

[Nesse momento, um problema paralelo se coloca sobre a hipótese de diversos mundos como explicação do ajuste fino. De acordo com a predominante teoria da evolução biológica, a vida inteligente como nós mesmos, se é que evolui, o fará no período mais próximo possível do final da vida do Sol. Quanto menor o tempo disponível para os mecanismos da mutação genética e da seleção natural funcionarem, menor a probabilidade de evolução de vida inteligente. Dada a complexidade do organismo humano, é muito mais provável que os seres humanos evoluam no final da vida do Sol do que em seu início.]

A teoria da evolução não preconiza nada acerca de vida inteligente evoluir ao final da vida de uma estrela, uma vez que cada estrela possui um "prazo de duração", dependendo da quantidade de combustível que possui para queimar, o que se relaciona ao seu tamanho ou classificação. Grandes estrelas (as de classe O) têm uma taxa de queima de hidrogênio muito alta e assim duram bem menos que estrelas como nosso Sol.

Já as anãs vermelhas podem exceder os 10 bilhões de anos de idade. Quanto às anãs brancas nem se fala... Até o momento, detectou-se que elas, mesmo com a idade do universo estimada em 13,7 bilhões de anos, não tiveram tempo de esfriar.

Assim, a afirmativa não passa de uma falácia, ou melhor de pura ignorância em relação ao que é uma estrela e seu tempo de duração. Aliás, qual estudo conclui que a afafirmativa elaborada no Texto 6 tenha respaldo científico? Seria interessante que houvesse bibliografia e não palavrório solto, como faz o autor do texto.

Outro ponto, é a seguinte afirmativa:

[Com efeito, John Barrow e Frank Tipler listam dez passos na evolução do Homo sapiens, cada um deles tão improvável que, antes de poder acontecer, o Sol teria deixado de existir como estrela e teria incinerado a terra (The anthropic cosmological principle. Oxford: Clarendon, 1986, p. 561-565). Consequentemente, se o nosso universo nada mais é que membro do conjunto de mundos, então, presumido para o bem do argumento que a idéia evolucionista predominante da complexidade biológica esteja correta, é muito mais provável que devêssemos observar um Sol bastante velho, em vez de relativamente jovem. Caso sejamos produtos da evolução biológica, deveríamos nos ver num mundo no qual evoluímos bem no fim da vida de nossa estrela (isso é análogo a ser muito mais provável que devêssemos existir numa região menor de desequilíbrio na hipótese de Boltzmann).]

A primeira pergunta é como Barrow e Tipler calcularam a probabilidade de fenômenos como a origem da vida e a evolução das espécies, uma vez que desconhecemos seus mecanismos? Ou sera que eles os conhecem e até então não os revelaram?

Em seu livro "The Anthropic Cosmological Principle" Ed. Oxford, pgs. 556 a 571 (Weak Anthropic Principle constraints on the future of the Earth) é feita uma explanação sobre esse tema, com uma série de cálculos que leva até o Homo sapiens. Porém se trata de um cálculo que usa como premissas muitas conjecturas.

Em segundo ponto, não é possível estabelecer-se uma linha de probabilidade de uma origem da vida até determinada criatura, pois a vida poderia ter tomado muitos rumos, conforme o que o planeta lhe solicitasse. esse raciocínio é aquele típico do designer que é ofuscar com teoria das probabilidades uma ideia a fim de mostrar que em tudo há um propósito.

Todavia, o raciocínio é completamente furado, assim como as probabilidades calculadas por Barrow e Tipler também o são. Um bom exemplo para fazer tal afirmativa cair por terra é como em milhões de espermatozóides e em centenas de óvulos um determinado ser humano pode nascer. Ou seja, qual a probabilidade da Mariazinha nascer e não da Antoninha, do Joãozinho, da Clarinha, do Isaaquinho, da Vanessinha, do Elysinho do Tiplerzinho, do Barrowzinho ou do Zezinho?

A Mariazinha em si é um evento altamente improvável, mas um ser humano é muito provável que nasça. Assim é o Universo, como apresentamos no post 4, e a a vida. O que esperar da vida? Que caminhos ela pode trilhar? Isso depende de agentes internos e externos ao planeta. Quando nada acontece, há um belo período de estagnação, como o que temos vivido e, agora, a humanidade o está movendo.

O que será que irá acontecer? Como a evolução se processará a fim de adaptar a vida a este novo ambiente que está sendo criado pelo homem? Talvez Tipler e Barrow, com a ajuda do "designer" ou de deus, respndam essa questão.

Outro ponto segue abaixo:

[De fato, adotar a hipótese de diversos mundos para banir o ajuste fino também resulta em um tipo estranho de ilusionismo: é muito mais provável que todas as nossas estimativas sobre as idades astronômicas, geológica e biológica estejam erradas, que realmente existimos no período final da vida do sol e que a aparência de jovem da terra e do sol seja uma enorme ilusão (isto se compara mais á probabilidade de que toda evidência de idade avançada do nosso universo seja ilusória na hipótese de Boltzmann). Assim, a hipótese de diversos mundos não é mais bem-sucedida ao explicar o ajuste fino cósmico do que ao explicar o desequilíbrio cósmico.]

Em se tratando da afirmativa de que a idade das coisas esteja errada e haver uma ilusão de que a Terra e o Sol tenham mera aparência de juventude, é ignorar os avanços científicos no que se refere à medição da idade dos objetos do sistema solar, bem como da própria Terra assim como do Sol.

Aqui vale um parêntese extraído de "Retificando a Idade das Estrelas":

No Sol, cromosfera é a coroa que brilha no eclipse, zona rarefeita formada por átomos e elétrons que o astro emite. Em estrelas do tipo solar, a temperatura na fotosfera (superfície luminosa) é de 5.600 graus kelvin e na cromosfera vai de 10 a 100 mil graus.

Na fotosfera, átomos ou elétrons absorvem fótons (partículas de luz) e na cromosfera os emitem. Por isso, no espectro eletromagnético, fotosfera é identificada por linhas de absorção e cromosfera geralmente por linhas de emissão.

A análise dessas linhas permite estimar a idade da estrela, pois, à medida que envelhece, ela gira cada vez mais devagar, o que afeta seu campo magnético e, portanto, a temperatura da cromosfera, diminuindo a intensidade da linha de emissão.


Assim, é fácil saber quando uma estrela possui um determinada idade. Não precisamos relegar isso tudo ao mundo da aparência e "viajar na maionese" para explicar o suposto ajuste fíno cósmico, tratado no post 1 e no post 4.

Vale ler também o artigo intitulado "Onde pode haver Vida", "A Idade das Estrelas I", "A Idade das Estrelas II", "Como Funcionam as Estrelas", "As Três Mortes das Estrelas", "Star" (na Wikipédia mesmo, pois o tema está bem tratado), "O Universo e a Origem do Sistema Solar", "O Sol - Sisitema Solar", "Cronômetros da Terra - O Tempo Geológico" e "As Origens do Sistema Solar".

Esta bibliografia já é suficiente para dar uma boa noção acerca dos temas, muito mal expostos e com péssimo nível de conhecimento astronômico, geológico e biológico, apresentados no Texto 6 aqui sob análise.

Quase ao final de sua abordagem, o texto nos brinda com um brilhante argumento da ignorância:

[Por essas quatro razões (leia aqui a primeira e a segunda), a hipótese de diversos mundos enfrenta um severo desafio como candidata a melhor explicação do ajuste fino cósmico observado. Portanto, parece ser plausível que o ajuste fino do universo não se deva nem à necessidade física e nem ao acaso. O resultado é que o ajuste fino se deve, portanto, ao desígnio, a não ser que se possa demonstrar que a hipótese do Design seja ainda menos plausível que suas concorrentes.]

Como fora abordado no post 4, até o momento, o que parece haver é uma lei física para que os universos ocorram em vácuos estáveis, embora as opções sejam muitas. Assim, não há nem necessidade física, nem acaso e nem desígnio, mas pode haver uma lei meramente natural, a fim de que as variáveis abaixo se situem dentro de seus parâmetros:

N = é a relação entre as forças elétricas que mantêm nossos átomos coesos dividida pela força da gravidade que atua entre eles;

e = eficiência nuclear;

o = razão entre densidade real e densidade crítica;

L = a constante cosmológica de Einstein;

Q = é a relação entre a intensidade de ligação das estruturas do cosmo (estrelas, galáxiase aglomerados), ou seja, quanta energia seria suficiente para destruí-las e dispersá-las e a sua energia de repouso (E=mc^2);

D = número de dimensões espaciais em nosso mundo.

Pode ocorrer que caso estes números variem com suas devidas compensações dentro da gama de vácuos estáveis passíveis de ocorrerem, tenhamos universos com um ajuste fino bem distinto do nosso. Ainda há muito que se avançar no estudo de teoria das cordas e seu panorama a fim de que respondamos naturalmente uma questão natural, sem a "criação" de entidades metafísicas como resposta, contrariando-se o princípio da navalha de Ockham, bem como o método científico.

Quanto a conclusão do texto, ela beira as raias do absurdo, conforme segue. Analisemos uma a uma:

[
A hipótese do acaso só pode ser razoavelmente defendida pela postulação de um conjunto de mundos de um número infinito de universos aleatoriamente variados nos quais nosso universo aparece sozinho, por acaso. Mas tal hipótese é comprovadamente inferior à hipótese do Design porque

(1) ela é menos simples;

A navalha de Ockham não busca a resposta mais simples, mas a forma mais simples de se hipotetizar um tema, eliminando-se hipóteses supérfluas a fim de que possamos ter uma teoria simples. A conclusão aqui exposta se resume em desconhecer como o princípio funciona.

(2) não existe maneira conhecida de gerar um conjunto de mundos;

O panorama da teoria das cordas responde essa questão diferentemente. Não há uma evidência direta sobre a real existência do multiverso, mas há evidências indiretas, conforme exposto no post 4. Se a teoria, lá apresentada, estiver correta em seus cálculos, haverá assim uma predição para que tais mundos existam.

(3) não existe evidência independente para a existência de um conjunto de mundos;

A afirmativa aqui apresentada é a mesma anterior, porém em palavras diferentes. Conforme abordado anteriormente, começam a surgir evidências indiretas referentes ao multiverso.

(4) ela é incompatível com a teoria evolucionista biológica contemporânea.

Errado!!! A hipótese de multiverso em nada é incompatível com a evolução biológica, uma vez que poderia haver universos com propriedades físicas distintas deste que vivemos, perfeitamente ajustados para conter vida e, mesmo, vida inteligente.

Tampouco, seria incompatível com a teoria atualmente aceita sobre a origem do Sistema Solar e sua idade de, aproximadamente, 4,5 bilhões de anos.

Parece que, erroneamente, o autor se vale da falácia da vida inteligente surgir ao final do ciclo de uma estrela.


Portanto, o Design é a melhor explicação.

Não, o designer seria a pior explicação, porque, além de ferir o princípio de Ockham, e o método científico, simplesmente não explicaria nada. O designer, se este é um ser natural, pela teoria [SIC] proposta, sugere que ele tenha vindo de um outro universo, o que, por esta hipótese esdrúxula sugere um outro designer e assim por diante até que se chege a um ser metafísico, talvez um deus. 

Mas os proponentes do DI se negam a tratar da questão de quem é o designer, de onde veio, quais seus propósitos, por que fez o que fez, enfim, mas são fiéi$$$ em afirmar que ele existe.

Simplesmente, para não dar na cara dura, que se trata de religião travestida de ciência os proponentes do DI blindam a figura do designer e trazem a desculpa esfarrapada de que a "teoria" [SIC] trata apenas do design na natureza e não do designer(?!).

Ora, a quem afirma, que algo existe, cabe a ele o ônus da prova. Minha argumentação contra o o os textos que analisei, contra design e o designer está aqui, fundamentada com bases científicas e filosóficas e não com um amontoado de informações sem qualquer referência.


Deixando claro, o design na natureza existe e vai muito bem!!! Para os seres vivos a identidade do designer é a seleção natural.

Em relação ao Universo, a identidade do designer são as 4 forças fundamentais da natureza (eletromagnética, gravitacional, nuclear forte e nuclear fraca).

Aliás, gostaria que a autora dos posts citasse sua referência (de onde foi feito o "copiar/colar"), sobre quem é o autor do apanhado de baboseiras, qual o ano que isso tudo foi escrito e onde ele buscou suas afirmativas.


Concluo minha análise aconselhando aos fanáticos que não é pela farsa que se angariam fiéis, mas pela mensagem que a crença traz. Não há necessidade de procurarmos os deuses na natureza, e corrermos avidamente atrás de evidências ou más interpretações de cunho ingênuo ou valendo-nos da mais despresível má fé. Apenas acreditem por acreditar, sem fazer que a religião caia no ridículo e seja a mãe da ignorância, do obscurântismo, dos preconceitos e dos ódios.



Bibliografia Recomendada:

AQUINO, Tomás, SCOT, Duns, OCKHAM, William e ALEGHIERI, Dante. Os Pensadores. São Paulo Ed. Abril Cultural.

BARROW, John D. A Origem do Universo.
Rio de Janeiro, Ed. Rocco.  
 
BARROW, John D. & TIPLER,Frank J. The Anthropic Cosmological Principle. Ed. Oxford.
 
BENNET, Deborah. Aleatoriedade. São Paulo, Ed. Martins Fontes.

BOJOWALD, Martin. Relatos de um Universo Oscilante.
Scientific American Brasil, n. 78. São Paulo, Ed. Duetto.

BOUSSO, Raphael & POLCHINSKI, Joseph. O Panorama da Teoria das Cordas
Scientific American Brasil, n. 29. São Paulo, Ed. Duetto.


CARROL, Sean B. Infinitas Formas de Grande Beleza.Rio de Janeiro, Ed. Jorge Zahar.

CARROL, Sean M. As Origens Cósmicas da Seta do Tempo. Scientific American Brasil, n. 74. São Paulo, Ed. Duetto.

 
COLLINS, Graham. O Futuro da Física. Scientific American Brasil, n. 70. São Paulo, Ed. Duetto.

DESCARTES,René. O
s Pensadores. São Paulo Ed. Abril Cultural.

DAWKINS, Richard. A Grande História da Evolução. São Paulo, Ed. Companhia das Letras.

DAWKINS, Richard. A Escalada do Monte improvável. São Paulo, Ed. Companhia das Letras.

DAWKINS, Richard. O Maior Espetáculo da Terra. São Paulo, Ed. Companhia das Letras.

DAWKINS, Richard. O Relojoeiro Cego. São Paulo, Ed. Companhia das Letras.

DAWKINS, Richard. O Rio que saía do Éden. São Paulo, Rio de Janeiro, Ed. Rocco.

EISBERG, Robert & RESNICK Robert. Física Quântica. São Paulo, Ed. Campus.

FAGUNDES, Helio. Teoria da Relatividade. São Paulo, Ed. Livraria da Fisica.

GHIRALDELLI JÚNIOR, Paulo. História Essencial da Filosofia. São Paulo, Universo dos Livros.

GILSON, Étiene. A Filosofia na Idade Média. São Paulo, Ed. Martins Fontes.

GREENE, Brian. O Universo Elegante. São Paulo, Ed. Companhia das Letras.


GREENE, Brian. O Tecido do Cosmo. São Paulo, Ed. Companhia das Letras.

 
GLEICK, James. Caos - A Criação de uma Nova Ciência. São Paulo, Ed. Campus.

GLEISER, Marcelo. O fim da Terra e do Céu.
São Paulo, Ed. Companhia das Letras.

GLEISER, Marcelo. Criação Imperfeita. Rio de Janeiro, Ed. Record.

HABERMAS. Jürgen. Entre Naturalismo e Religião. Rio de Janeiro, Ed. Tempo Brasileiro.

HAWKING Stephen. Breve História do Tempo Ilustrada. Curitiba, Ed. Albert Einstein.


HAWKING Stephen. O Universo numa Casca de Noz. São Paulo, Ed. Mandarim.


HAWKING Stephen et al. O Futuro do Espaço-Tempo. São Paulo, Ed. Companhia das Letras.

HAWKING Stephen & MLODINOW Leonard. Uma Nova História do Tempo. Rio de Janeiro, Ediouro.

HOEBEL, E. Adamson & FROST, Everett. Antropologia Cultural e Social. São Paulo Ed. Cultrix.

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JOSHI, Pankaj S. Singularidades Nuas.
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KAKU, Michio. O Cosmo de Einstein. São Paulo, Ed. Companhia das Letras.

KAKU, Michio. Mundos Paralelos. Rio de Janeiro, Ed. Rocco.


KAKU, Michio. Hiperespaço. Rio de Janeiro, Ed. Rocco.

KANT, Immanuel.
Os Pensadores. São Paulo Ed. Abril Cultural.

KRAUSS, Lawrence M. & SCHERRER, Robert. O Fim Provável da Cosmologia. Scientific American Brasil, n. 71. São Paulo, Ed. Duetto.

 
MAGEE, Bryan História da Filosofia. São Paulo, Edições Loyola.

MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia.
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MARIAS, Julian. História da Filosofia. São Paulo, Ed. Martins Fontes.

MURPHY, Michael P. & O´NEILL, Luke A. J. O que é vida? 50 Anos depois. São Paulo Ed. UNESP.

NICOLA, Ubaldo. Antologia Ilustrada de Filosofia. São Paulo, Ed. Globo.

REES, Martin. Apenas Seis Números. Rio de Janeiro, Ed. Rocco.

RUSE, Michael. Sociobiologia: Senso ou Contra-senso. O Homem e a Ciência n. 13. São Paulo. Ed. da Universidade de São Paulo.

SIDGWICK, Henry. História da Ética.São Paulo, Ed. Icone.

STEWART, Ian. Será que Deus Joga Dados?
Rio de Janeiro, Ed. Rocco.

TIPLER, Paul A. & Llewellyn. Física Moderna. Rio de Janeiro, Ed. LTC.


VIDEIRA, Antônio Passos & EL-HANI, Charbel Niño. O que é Vida? Rio de Janeiro, Ed. FAPERJ.

WARD, Peter D. & Brownlee Donald. Sós no Universo? São Paulo, Ed. Campus.

WALLACE, Robert A. Sociobiologia - O Fator Genético. São Paulo. Ed. Livros que Constróem.

YOUNG, Eric T. O Misterioso Nascimento das Estrelas. Scientific American Brasil, n. 94. São Paulo, Ed. Duetto.

ZIMMER, Carl. O Livro de Ouro da Evolução. São Paulo. Ediouro.

Astronomy
Brasil - 5 Chaves para abrir a Cosmologia. Maio de 2007 São Paulo, Ed. Duetto.

Astronomy Brasil - O lado Sinistro da Gravidade. Agosto de 2007 São Paulo, Ed. Duetto.

Scientific American Brasil - Edição Especial, n.1: O Passado e o Presente do Cosmos. São Paulo, Ed. Duetto.


Scientific American Brasil - Edição Especial, n.8: As Fronteiras da Física. São Paulo, Ed. Duetto.

Scientific American Brasil - Edição Especial, n.9: ANovas Luzes sobre o Sistema Solar. São Paulo, Ed. Duetto.

Scientific American Brasil - Edição Especial, n.13: A Vida Secreta das Estrelas. São Paulo, Ed. Duetto.

Scientific American Brasil - Edição Especial, n.15: As diferentes Faces do Infinito São Paulo, Ed. Duetto.

Scientific American Brasil - Edição Especial, n.18: Buracos Negros. São Paulo, Ed. Duetto.

Scientific American Brasil - Edição Especial, n.21: Paradoxos do Tempo. São Paulo, Ed. Duetto.

Scientific American Brasil - Edição Especial, n.24: Relatividade: O que Einstein Gostaria de ter visto. São Paulo, Ed. Duetto.

Scientific American Brasil - Edição Especial, n.29: Todos os Estados da Luz. São Paulo, Ed. Duetto.

Scientific American Brasil - Edição Especial, n.34: ADe que é feito o Universo. São Paulo, Ed. Duetto.

Scientific American Brasil - Gênios da Ciência, n. 11: Hawking. São Paulo, Ed. Duetto.

Scientific American Brasil - Gênios da Ciência, n.4: Feynman. São Paulo, Ed. Duetto.

Scientific American Brasil - Gênios da Ciência, n.6: Einstein. São Paulo, Ed. Duetto.

Scientific American Brasil - Gênios da Ciência, n.13: Quânticos. São Paulo, Ed. Duetto.

Scientific American Brasil - Grandes Mistérios do Cosmos: Anuário de Astronomia 2010. São Paulo, Ed. Duetto.

Maus usos da filosofia e ignorância científica Parte 5

TEXTO 5:

Este texto faz uma alusão ao princípio antrópico. Recordando:

O Princípio antrópico estabelece que qualquer teoria válida sobre o Universo tem que ser consistente com a existência do ser humano, ou seja, o único universo que podemos ver é o universo que possui vida.

Se existe outro tipo de Universo, nós não podemos existir para vê-lo, tal como Weiberg propusera no post anterior.
O princípio antrópico divide-se em:

1 - Princípio antrópico forte: afirma que, em geral, que o Universo comportou-se de forma a adaptar-se ao Homem.

2 - Princípio antrópico fraco: afirma que o Universo comportou-se de forma a surgir o homem, sem esse pleito pré-definido.

Assim, conforme o Dicionário do Cético, o princípio antrópico é a crença, por parte de alguns físicos, de que seja virtualmente impossível que numerosos fatores no início do Universo, que teriam de ser coordenados de forma a produzir um universo capaz de sustentar formas avançadas de vida, pudessem ser obra do acaso.

Essa crença é tida por alguns como boa evidência de que este Universo foi provavelmente criado por um ser muito poderoso e inteligente (provavelmente chamado Deus).

 

Se a massa do universo e as intensidades das quatro forças básicas (eletromagnetismo, gravidade e forças nucleares forte e fraca) fossem diferentes, ou se não tivessem passado por "ajuste fino" para trabalhar em conjunto da forma que o fazem, o universo, como o conhecemos, não existiria.

 

Um delicado equilíbrio de constantes físicas é "necessário para que o carbono e outros elementos químicos após o lítio, na tabela periódica, sejam produzidos nas estrelas".

Resumindo, é preciso que muitas coisas aconteçam em conjunto para existirmos (as chamadas "coincidências antrópicas"). Aparentemente, alguns físicos acham estranho existirmos justamente no momento da história do Universo em que poderíamos existir.

Conforme fora explorado nos posts 1 e 4, a resposta para tais coincidências denominadas de "ajuste fino" (exploradas no post 1), têm surgido a partir do panorama das cordas, sendo uma preguiça mental atribuir a seres do além as origens do Universo.

Outro ponto deste texto trata da impossibilidade do multiverso, baseada no argumento de John Polkinghorne de que a hipotese de multiversos se trata de pseudociência e conjectura metafísica. A afirmação, segundo informa o texto parece ter sido feita em 1996, quando estava-se engatinhando na teoria das cordas.

 

O texto segue insistindo na ideia da impossibilidade do multiverso, ignorando por completo o que existe de mais novo na física teórica.

 

A questão também foi explorada no post 3. Embora não possamos visualizar diretamente este multiverso, a teoria das cordas, se correta, indiretamente demonstra o panorama para a existencia deste como de outros universos, perfazendo um multiverso.

O texto ainda faz diversas afirmações completamente divergentes do que fora apresentado no post 3. Nem merecem ser discutidas.


Entretanto, travaremos nossa análise no seguinte ponto:

[Contudo, mesmo nessa condição, a hipótese de diversos mundos é comprovadamente inferior à hipótese do Design, porque a hipótese do Design é mais simples. De acordo com a Navalha de Ockham, não deveríamos multiplicar os casos além do necessário para explicar o efeito. Mas é mais simples postular um projetista cósmico para explicar nosso universo que postular a enorme e elaborada ontologia da hipótese de diversos mundos.]

Flagrantemente, o argumento aqui apresentado se trata do profundo desconhecimento no que concerne ao princípio filosófico da Navalha de Ockham.

Aqui neste ponto é interessante que conheçamos os pensamentos de Duns Scot e o de Willian Ockham.


1 - Duns Scot (1270 a 1308 ?):

No Continente Europeu, a escolástica atingira seu ponto maior com a síntese tomista entre as verdades da revelação bíblica e os conceitos da razão aristotélica, no Arquipélago Britãnico, o pensamento seguia um caminho próprio, que parecia buscar seus desejos de afirmação autônoma, em detrimento da universalização propalada pelo pensamento continental romanizado.

Robert Grosseteste (1168 a 1253) aplica a linguagem matemática à explicação dos fenômenos naturais e Roger Bacon (1214 a 1294) defende o primado da experiência, inclusive no campo religioso. Ambos, assim, repelem a abstração e a silogística escolásticas, considerando-as insuficientes para que o homem seja capaz de compreender as coisas.

É dentro destas coordenadas que se situa John Duns Scot, cujos objetivos não eram fundamentalmente filosóficos, mas religiosos.

No pensamento de Duns Scot, a fé, o amor e a ação têm maior importância para a salvação que a ciência. A verdade era encontrada nos textos bíblicos, tal como interpretados pela tradição da igreja, cujas decisões eram isentas de erros.

Duns scot se coloca em posição oposta a Tomás de Aquino no que se refere á relação entre os problemas da fé e da razão. Para Duns Scot, as verdades da fé não podem ser compreendidas e demosntradas pela razão, constituíndo meros credibilia (o que pode ser crido).

Dessa forma, Duns Scot separa radicalmente a teologia da filosofia e não admite que aquela tenha qualquer fundamentação racional, devendo apoiar-se apenas na revelação.

A teologia deve ser entendida como uma disciplina de cunho prático, a fim de fornecer ao cristão normas reguladoras para sua conduta. Assim, a filosofia proclamou sua independência em relação à teologia, deixando de ser sua serva, como acontecera durante toda a Idade Média.

Outro ponto que difere o pensamento de Duns Scot do de Tomás de Aquino encontra-se na teoria da essência. Para Aquino as essências constituem-se em universais que tornam inteligíveis os seres particulares. Desse modo, o conhecimento só poderia dar-se no domínio das essências universais, aquelas formas mediante as quais são determinados todos os seres individuais.

Para Scot, o universal e o individual estão contidos indiferentemente na essência. Isso quer dizer que o real não é pura universalidade, pois esta fragmenta-se nos diferentes indivíduos. Por outro lado, significa também que o real não é pura individualidade, que pode ser comprovado pelas ideias gerais.

Dessa forma, as essências não seriam, portanto, apenas universais, mas também individuais. Tal pensamento revela o conceito de estidade, que afasta da filosofia a preocupação exclusiva com as essências universais e transcendentes e formula o início de uma concepção que atribui estatuto de ciência ao aqui e agora.

Essa legitimação racional do individual e do imediato parece continuar a tradição inglesa, já evidenciada em Roger Bacon, de valorização da experiência, que pode ser interpretada também como formulação, no plano da pura filosofia, da necessidade de fundamentar a justificativa da própria peculiaridade da experiência cultural inglesa, individualizada e contraposta à universalidade cultural e política do Continete Europeu.


2 - Willian Ockham (1284 a 1349?):

Foi discipulo de Duns Scot. Levou ainda mais longe que seu predecessor os elementos de dissolução da escolástica continental. Suas teses foram consideradas demasiado heterodoxas pelas autoridades papais.

A sua oposição pela ortodoxia papal, por um lado , manifestava o próprio conflito político entre o poder temporal dos reis ingleses contra o poder espiritual dos papas. E, por outro lado, exprimia a oposição das tendências empiristas da filosofia inglesa ao racionalismo universalizante do pensamento continental europeu.

Ockham afirmava que: "Assim como Cristo não veio ao mundo a fim de tomar dos homens seus bens e direitos, o vigário de Cristo (o papa), que lhe é inferior e, de modo algum o iguala em poder, não tem autoridade ou poder para privar os outros de seus bens e direitos."

Afirmações como estas e suas implicações fizeram com que Ockham lançasse os fundamentos do laicismo. O resultado disso foi um conflito, por toda sua vida, com as autoridades da Igreja Romana. Tanto que em 1325 foi confinado em um convento franciscano de Avignon, até 1326, esperando o resultado de um processo que condenou seus "heréticos e pestilentos comentários".

O fundamento filosófico da rebeldia de Ockham encontra-se em sua doutrina sobre os universais. A teoria da estidade de Scot dera um passo para a negação da realidade dos universais.

Platão e Aristóteles, apesar de terem posições diferentes sobre a origem das idéias, definiram o campo de nossa experiência cognitiva ao estabelecer que todo conhecimento tem uma parte sensível e outra intelectiva.

Para que algo possa ser conhecido por nós é preciso que seja percebido pelos sentidos, mas isso ainda não é suficiente para dizermos que conhecemos o que a coisa é. É preciso que reconheçamos tal objeto como um objeto de certo tipo e não de outro (para que eu identifique o objeto como cadeira e não como banco, por exemplo).

Para isso, eu preciso de um conceito. Um conceito é uma representação geral e abstrata de algo. Ele é um meio entre o sujeito que conhece e o objeto conhecido. Por meio dele eu me refiro às coisas no mundo e posso comunicar meus conhecimentos para outras pessoas.

O conceito pode ser considerado subjetivamente como ato de conceituar ou classificar os objetos e, objetivamente, como conteúdo do ato, ou seja, o que o conceito significa.

Por seu caráter geral e abstrato, os conceitos são considerados universais, ou seja, um termo que é comum a muitos singulares, sem designar a nenhum deles em particular, da mesma forma que podemos dizer que os indivíduos singulares Maria, João, José pertencem à humanidade (universal).

Há quatro grandes linhas centrais que tratam este tema:

a- O realismo platônico onde gêneros e espécies seriam formas ou ideias, portanto entidades dotadas de uma existência autônoma, pertencente ao mundo das ideias e independentes, tanto das coisas concretas (o cavalo), quanto de nossos pensamentos (o conceito de cavalo);

b - O realismo aristotélico, onde gêneros e espécies existem nas coisas como formas da substância individual e podem ser conhecidos por nós através da abstração, em que destacamos do particular o universal, isto é, percebe-se que o indivíduo é um cavalo.

c - O conceitualismo, de Pedro Abelardo (1079 a 1142), sustenta que os universais são apenas conceitos, ou seja, predicados de sentenças que descrevem o objeto (isto é um cavalo), existindo, portanto, na mente como meio de unir ou relacionar objetos particulares dotados das mesmas características ou qualidades.

d - o nominalismo inaugurado por Roscelino (sec. XII) que afirmava serem os universais apenas palavra, sons emitidos, não havendo nenhuma entidade real que correspondesse a eles.

O nominalismo de Ockham é mais sofisticado e elaborado que o de Roscelino, uma vez que defende um misto entre conceitualismo e nominalismo. Entende o universal como um termo correspondente a um conceito por meio do qual nos referimos a essas qualidades ou características.

Ockham retira dos universais toda e qualquer realidade ontológica, retirando-lhes a realidade objetiva, pois existem apenas no intelecto humano, como algo produzido por ele.

Não há realidade, nem nas coisas individuais, nem mesmo na mente divina. Portanto, os universais são apenas palavras (nominalismo). Como signos servem apenas para designar um conjunto de semelhanças ou identidade de caractéres, abstraídos das coisas individuais pelo intelecto humano.

As consequências do nominalismo foram as seguintes :

a) O nominalismo transformou toda a ciência em conhecimento empírico dos indivíduos, posto que por um lado, só eles constituiríam a verdadeira realidade e, por outro, porque os indivíduos são conhecidos primordialmente no plano da experiência. Para Ockham, o conhecimento conceitual ou abstrativo é confuso e indeterminado, pois apreende apenas os caracteres comuns a vários objetos e deixa escapar o que eles têm de particular e que os distingue dos demais.

b) O nominalismo criou um abismo entre o conhecimento científico (dos seres individuais, concretos, encontrados na natureza) e os domínios do pensamento religioso. A fé não poderia encontrar qualquer apoio na razão, pois os dois campos seriam indiferentes e alheios um ao outro. Desse modo, a teologia não seria uma ciência racional e Deus não teria qualquer interesse para a filosofia. Ciência e religião eram duas vias paralelas, duas "verdades" indepententes.

c) A separação radical proposta por Ockham entre fé e razão, entre teologia e filosofia, situa-se na oposição entre o poder espiritual e o poder temporal, entre o papa e o imperador. Isso é o início da dissolução do espírito medieval, finalizando o universalismo proposto pela escolástica.

Dessa forma, a filosofia de Ockham abriu caminho para as inovações renascentistas e consequentemente para a modernidade.

O universal é, assim, a referência de um termo, e não uma entidade, mas, tampouco, é apenas uma palavra, já que existe o correlato mental, o conceito, por meio do qual a referência é feita.

É dessa ideia que surge a navalha de Ockham, proposta na obra Ordinatio. O princípio de Ockham afirma que a explicação para qualquer fenômeno deve assumir apenas as premissas estritamente necessárias a sua explicação e há que se eliminarem todas aquelas que não causariam qualquer diferença aparente nas predicções da hipótese ou teoria. O princípio é frequentemente designado pela expressão latina Lex Parsimoniae (Lei da Parcimónia).

"Não devemos multiplicar a existência dos entes além do necessário. Isso quer dizer que não devemos supor a existência de entidades metafísicas como no realismo platônico, já que estas entidades não só não explicam adequadamente a natureza das coisas particulares, como carecem elas próprias de explicação."

(Parece que Ockham deve ter deixado um recadinho aos fanáticos criacionistas e aos fanáticos inrustidos "proponentes" do DI...).

A navalha de Ockham é, portanto, um princípio de economia segundo o qual nossa ontologia (teoria sobre o real) deve supor apenas a possibilidade de existência do mínimo necessário. Termos e conceitos são suficientes, assim, para das conta do problema dos universais, não havendo necessidade de supor a existência de entidades reais universais, o que é uma defesa da intuição como ponto de partida para o conhecimento do universo.

William de Ockham defende o princípio de que a natureza é por si mesma econômica, pois opta, invariavelmente, pelo caminho mais simples. Por outro lado, ele cogitou que a aplicação muito restrita desse princípio limitaria o poder de Deus (que deveria poder escolher um caminho mais complicado para alguns fenômenos se assim desejasse). No entanto, Ockham defendia que o homem, nas suas teorias, deveria sempre eliminar conceitos supérfluos.

Um outro ponto da navalha de Ockham trata de que caso haja duas explicações para uma mesma questão, a mais complexa tem mais chances de estar errada.

Isso quer dizer que, ao se tentar elaborar uma explicação para alguma coisa deve-se supor o mínimo que precisamos supor. Este raciocínio foi completado por Einstein ao dizer: "Tudo deve ser tornado o mais simples possível, mas não mais simples que isso."

Este princípio foi adotado pelo que viria a ser conhecido como método científico, que é uma ferramenta lógica que permite escolher, entre várias hipóteses a serem verificadas, aquela que contém o menor número de afirmações não demonstradas, o que facilita a verificação da teoria, constituindo assim um dos pilares do reducionismo em ciência.

agora, analisemos a frase proposta para análise no início deste post em comparação ao proposto pela navalha de Ockham:

[Contudo, mesmo nessa condição, a hipótese de diversos mundos é comprovadamente inferior à hipótese do Design, porque a hipótese do Design é mais simples. De acordo com a Navalha de Ockham, não deveríamos multiplicar os casos além do necessário para explicar o efeito. Mas é mais simples postular um projetista cósmico para explicar nosso universo que postular a enorme e elaborada ontologia da hipótese de diversos mundos.]

De início, Ockham afirma que Não devemos multiplicar a existência dos entes além do necessário, ou seja, não devemos supor a existência de entidades metafísicas como no realismo platônico, já que estas entidades não só não explicam adequadamente a natureza das coisas particulares, como carecem elas próprias de explicação.

Portanto, postular um designer já foge àquilo que Ockham propusera, pois cria uma entidade metafísica que não explica absolutamente nada acerca da existência do universo.


Também, o princípio de Ockham não se refere a dizer que devemos nos ater a tudo o que for simples, e escolher uma resposta porque ela é a mais fácil. Mas devemos buscar por esta simplicidade eliminado proposições supérfluas.

Por exemplo:

Caso tratemos de conhecer como funciona um campo gravitacional, entre um planeta e uma lua, as leis de Newton são suficientes para tal.

Todavia, caso queiramos entender por que nas proximidades de objetos massivos ,como buracos negros, o tempo flui mais lentamente, devemos buscar essa resposta na teoria da relatividade geral de Einstein.

Mas, se desejamos entender por que existe a gravidade, devemos nos remeter à mecânica quântica e à teoria das cordas, (como fora explorado no quarto post) mais especificamente, no estudo de grávitons e bósons de Higgs.

Como podemos perceber, é supérfluo eu falar sobre teoria quântica e teoria da relatividade geral se desejo medir a interação gravitácional entre a lua e o planeta, mas não é supérfluo eu falar de ambas quando necessário for (ação da gravidade e curvatura do espaço no horizonte de eventos de um buraco negro).

Não é supérfluo tratar sobre teoria das cordas quando desejo entender fenômenos quânticos que ocorrem no Universo, pois estou tratando de dar uma resposta natural a um fenômeno natural. Mas é demasiado superfluo criar uma entidade sobrenatural para explicar um processo natural.

A hipótese do multiverso é um fenômeno natural e é encontrada como uma resposta quando adentramos ao panorama das cordas. Diferentemente da hipótese do designer que somente é algo metafísico, sem qualquer evidência direta ou indireta de que exista ou de que tenha atuado na natureza.

Ou seja, em resumo, o texto trata a navalha de Ockham como se fosse uma foice nas mãos de um retardado em um campo de trigo, onde o joio não é separado daquele. É um flagrante mau uso, por pura ignorância lógico-filosófica ou por má fé em defesa de uma ideia descabida de um princípio amplamente utilizado nas ciências.