domingo, 23 de novembro de 2008

Criacionistas alardeiam pegada boliviana





Como sempre, criacionistas tentam justificar seus mitos com base em seja lá o que for que conteste a teoria da evolução.

Esta teoria tem sido, desde as observações da Darwin, a maneira mais aceita que melhor explica a origem das espécies, seu grau de parentesco e, consequentemente a origem de todas as espécies a partir de um ancestral comum único.


As evidências desta teoria são corroboradas por estudos paleontológicos, genéticos, citológicos, histológicos e fisiológicos das espécies, bem como pelo avanço da bioquímica.

Todavia, o mundo científico é cauteloso ao levar ao público qualquer descoberta sem antes avalia-la criteriosamente.

Mas, os círculos criacionistas não possuem esta mesma cautela.


Vejamos a reportagem abaixo (seguem comentários em vermelho):


aqui


Um grupo de pesquisadores da Bolívia anunciou hoje a descoberta do que pode ser a pegada mais antiga do mundo encontrada próximo ao lago Titicaca.

Se eles estiverem certos, o registro nega a teoria da evolução humana e provaria a existência de "outras humanidades", anteriores à atual. O registro teria entre cinco e 15 milhões de anos, o que provaria a existência de uma humanidade anterior à atual.


Um registro entre 5 e 15 milhões de anos é um erro altíssimo para uma datação, se é que foi feito algum exame nesse gênero. O erro está em 10 +_ 5 milhões que representa 50 % para mais ou para menos.

A controvérsia já se inicia aqui.

Mas restam perguntas:

1 - Que método de datação foi utilizado?

2 - Examinaram a quantidade de patna na rocha e no pé "fossilizado" tal como o exame que detectou a fraude das pedras de Ica (aqui e aqui)?

3 - Houve algum exame microscópico a fim de se observar se o pé não foi esculpido propositalmente ou se realmente foi uma impressão deixada?

Ao que parece, não há respostas para tais perguntas uma vez que é uma reportagem solta sem detalhes que lhe tragam credibilidade.


De acordo com a agência EFE, o grupo, liderado por Jorge Miranda e Freddy Arce, apresentou a teoria no Ministério de Relações Exteriores e quer a opinião de especialistas internacionais.














Jorge Miranda e Freddy Arce estão envolvidos em descobertas controversas como Monólito Pokotya e Fuente Magna, os quais segundo ambos os descobridores se tratam de peças inscritas com caractéres cuneiformes, o que sugeriria a presença e sumérios na América ou a origem comum destes e dos antigos habitantes americanos com os atlantes.

Todavia, não há registros de sumérios nas Américas e tão pouco vestígios ou evidências que atestem a existência da civilização atlante.

A pegada de um pé esquerdo de 29,5 cm está em uma rocha de arenito. Segundo os pesquisadores, teria sido feita por um ser humano de 1,7 m, com peso de 70 kg, que caminhava ereto.

"A teoria da evolução teria muitas dificuldades com esta evidência que estamos mostrando agora" disse Arce. A rocha foi encontrada na localidade de Sullkatiti, onde é objeto de culto. Os moradores da região acreditam que o objeto é uma pegada de seus antepassados, conhecida popularmente por "pisada do inca".

A pegada foi encontrada no ano passado e é estudada desde então. O objeto, que está petrificado, mostra cinco dedos cuja forma demonstra que o ser que o gerou era bípede, segundo o podólogo Guillermo Lazcano disse à agência ANSA.

Se é um objeto de culto, a tal pegada poderia ter sido esculpida por civilizações pré-incas ou pelos próprios incas antes de se estabelecerem como um povo autoctone.

Há também o fato de que não foram encontrados fosseis humanos nem de seus antepassados que datem de 15 milhões de anos (meio do Mioceno).

Os fósseis do Sahelanthropus Tchadensis datam de 7 milhões de anos, que pode ser o hominídeo mais antigo da linhagem humana (mais ou menos pelo final do Mioceno).

Vale expormos quais foram os períodos da Era Cenozóica a fim de situarmos a "descoberta" de Arce e Miranda e o primeiro ser considerado como um hominídeo:

O nome atribuído ao Período “Terciário” é um nome informal utilizado para denominar os Períodos oficiais denominados Paleogeno e Neogeno, excluindo-se deste último as Épocas do Pleistoceno e Holoceno, que segundo a correspondência com a denominação informal, são conhecidos como Quaternário, indicando as Épocas mais recentes da cronologia geológica.

Utilizando-nos das denominações informais, o Período Terciário se estende desde 65 a 1,8 milhões de anos quando surgem os primeiros ancestrais do homem.

O Terciário é dividido em cinco Épocas:

o Paleoceno, de 65 a 54 milhões de anos, tem seu início marcado por uma grande regressão marinha, a Pangea já estava em um estágio avançado de divisão privilegiando a diferenciação endêmica das espécies;

o Eoceno, de 54 a 33 milhões de anos, caracteriza-se por uma grande instabilidade tectônica e seu período se inicia com uma transgressão marítima (avanço do mar para o interior do continente);

no Oligoceno, que se estendeu desde 33 a 23 milhões de anos, houve um progressivo resfriamento do mar em algumas regiões e, é nessa Época também, que começam a surgir os primeiros primatas;

o Mioceno, de 23 a 5 milhões de anos, caracteriza-se pela adaptação final de espécies marinhas como as focas, baleias, etc;

e Plioceno, 5 a 1.8 milhões de anos, é a época onde se formaram o mar Negro, o mar Cáspio e o mar de Aral depois da última transgressão marinha, glaciações são comuns nessa época que se encerra com o aparecimento do primeiro ancestral do homem.

O último Período da escala geológica, o Quaternário, se iniciou a 1.8 milhões de anos e dura até hoje.

Dividido em duas Épocas, o Pleistoceno e o Holoceno, esse Período não difere muito do anterior sendo caracterizado por diversos períodos de glaciação intensa que alteraram, principalmente, a flora e, pela predominância de grandes mamíferos.

Sua primeira Época, o Pleitstoceno (1.8 a 0.01 milhões de anos), caracteriza-se pelo surgimento do homem, mas, alguns cientistas discordam que essa característica seja suficiente para demarcar uma Época.

O Holoceno não possui uma datação muito precisa, pois seu limite inferior se baseia no fim da última glaciação, porém, este foi gradativo ficando acordado, então, que esta Época tenha seu início há 10.000 anos.

Dessa forma, é duvidoso que tal pegada seja pertencente a um ser humano entre 5 e 15 milhões de anos e, mesmo que pertença a uma humanidade anterior, uma vez que sequer há vestígios de que esta suposta "humanidade anterior" tenha existido.

Aqui e aqui há uma declaração a respeito das descobertas de Arce e Miranda, abaixo transcritas:


Like rotting, festering zombies, some creationist tricks just won't die. Even though every case of supposed "human tracks" found near dinosaur tracks in Mesozoic rock that I can think of has been disproved (the tracks often being little more than the result of some creative chiseling) the idea that traces of humanity have been found alongside non-avian dinosaurs continues on. The most famous case is that of the tracks found near Glen Rose, Texas (see the numerous Talk Origins pages about the find and the book Bones for Barnum Brown by R.T. Bird), the human tracks being sculptures or misinterpreted theropod metatarsal tracks, but now a new case of paleontological fraud has cropped up in Bolivia.

According to an article released yesterday Jorge Miranda and Freddy Arce are claiming that they have discovered a 5-15 million year old footprint near Lake Titicaca. According to Arce this footprint creates major problems for evolution, and I suppose his logic is that since the alleged print is several times older than the Laetoli footprints, looks more modern, and is on the wrong continent, evolutionary theory goes out the window.

Looking at photos of the footprint, though, it's difficult to see why this "discovery" is being taken seriously. At best it's a modified feature in the rock, at worst a complete sculpture, but either way it looks like a cartoon version of a foot. (Think of those big, ugly feet that used to be on some people's vans in decades past.) The footprint is fraudulent and this probably isn't the first time that Freddy Arce has been involved in suspect endeavors involving ancient history. While I was not able to find much, Arce also has been involved with the "Pokotia Inscriptions." These inscriptions on a sculpture are claimed to be Sumerian by Arce and others, therefore placing the Sumerians in South America. Like the footprints I suspect these inscriptions have been forged and do not show what Arce and others claim.

In all fairness I have no idea if Arce is a creationist; I wouldn't be surprised but I haven't seen much to either confirm of refute it. Still, these fraudulent footprints illustrate that there are still people who will try to "fix" history to best fit their ideas of what it should be and I hope Arce's claims are quickly buried.

Brian Switek is an ecology & evolution student at Rutgers University.

Embora seja a opinião pessoal deste estudante, compactuo com ela, uma vez que as imagens das pegadas, bem como as controversas afirmações de Arce e Miranda não possuem qualquer evidência plausível que as apóiem, embora os criacionistas, como na tirinha abaixo alardeiam tais "descobertas" como se fossem algo já devidamente confirmado.










Ao idealizador da tirinha resta-me uma pergunta:

Se realmente a pegada tiver entre 5 e 15 milhões de anos, certamente atesta a não veracidade de relato da Gênesis da Terra ter sido criada há 6.000 anos.







E agora José?????? Será que tal pegada corrobora a criação e o dilúvio, conforme o relatado em Gênesis?



CONCLUSÃO:

Até que haja uma evidência concreta em contrário, considero a descoberta de Arce e Miranda como um "hoax", uma vez que não houve qualquer concretude nas afirmações por eles prestadas, principalmente no que se refere à idade da peça.








Acredito que o "Cético" não seja tão cético assim, uma vez que deposita sua fé em artigos soltos sem qualquer comprovação que mereça credibilidade sob a ótica científica.




Assim, aconselharia ao "Cético" aventar a hipótese da pesquisa ora realizada ser uma fraude, em vez de direcionar seus questionamentos exclusivamente contra os métodos de datação e contra a árvore evolutiva do homem.

Basta comparar todo o estudo realizado nestes dois campos, bem como as evidências que os corroboram em detrimento do que foi realizado quanto à pegada boliviana.

Há que se ter uma boa dose de ceticismo quanto à pesquisa de Arce e Miranda.