domingo, 30 de maio de 2010

Fundamentalismo cristão e a embrulhada na aposta de Pascal















Um tema sob a denominação de “Estão Avacalhando a Aposta de Pascal”, extraído daqui, muito me intrigou em sua argumentação.

O autor do texto aparenta não conhecer o contexto em que tal aposta fora feita por Blaise Pascal, uma vez que faz uma tremenda embrulhada, demonstrando um conhecimento nulo no que concerne à teoria dos sistemas e sua aplicação dentro dos diversos planos do conhecimento humano e ao próprio contexto em que fora formulada a aposta.

A Aposta de Pascal se encontra no título 233 de Pensamentos, obra de Blaise Pascal. Quem quiser conhecer a vida deste brilhante pensador, basta acessar aqui.

A obra Pensamentos, em si se trata de uma série de considerações pessoais acerca da fé professada por Pascal. No entanto, o autor deixa claro que não pretende ter a logicização da fé, mas que apenas devemos crer pelo simples fato de crermos.

Quem tiver a curiosidade de ler esta magnífica obra (sim, magnífica, não estou de gozação), poderá perceber que se trata de um grande esforço deste pensador em justificar suas crença, o Jansenismo, frente à Igreja Católica.

O Jansenismo era uma doutrina não muito bem vista pela Igreja. Assim, suas idéias eram um tanto que antagônicas às da Igreja de sua época e, portanto, por ela não muito bem aceitas. O Jansenismo possuía um viés político e de postura dogmática extremada. Ou seja, não estava aberto a novidades.

Assim, a aposta em si e a obra Pensamentos foram delineadas no contexto jansenista, o que acaba por caracterizá-la como uma visão fechada do que pode ser deus, o além e a alma. A aposta representa o seguinte raciocínio: “se A e B, então C, do contrário D" o que será visto mais adiante.

A aposta de Pascal possui 3 premissas:

Uma é a imortalidade da alma e a outra e o fato de crer-se no deus bíblico. Ambas lhe concedem a glória divina se a terceira premissa se verificar (a existência do tal deus bíblico).

Mas vejamos:

Caso sejamos imortais, para termos um pós-vida e creiamos neste deus ou deuses durante nossas vidas e, após a morte, o que garante que no além encontraremos um deus ou deuses? Veja que uma premissa (ser imortal ou crer neste deus ou deuses) não garante que este deus ou deuses exista (am).

Quanto à aposta, Pascal brinca com as probabilidades, sob o seguinte raciocínio:

Se eu tiver uma chance de ganhar a vida eterna (o infinito) em milhões de outras chances em que nada ganharei, vale a pena apostar.

Segue a aposta de Pascal, conforme extraído de Pensamentos:

*Se você acredita em Deus e nas Escrituras e estiver certo, será beneficiado com a ida ao paraíso.


* Se você acredita em Deus e nas Escrituras e estiver errado, não terá perdido nada.

* Se você não acredita em Deus e nas Escrituras e estiver certo, não terá perdido nada.

* Se você não acredita em Deus e nas Escrituras e estiver errado, você irá para o fogo eterno.


A aposta de Pascal se denomina argumento ad baculum ou da força, bem como é um falso dilema, pois somente dá duas opções (crer ou não no deus judaico-cristão -o deus que Pascal reconhecia).

Entretanto, contrariu sensu ao que o texto sob crítica faz, não podemos simplesmente ignorar outros sistemas religiosos e tomar esta aposta com apenas duas alternativas: crer no deus cristão ou não crer.

Não adianta fazer um corte metodológico, como propõe o autor do texto, a fim de que a aposta se restrinja ao deus reconhecido por Pascal. Isso seria ignorar os demais sistemas religiosos.A aposta, em si, trata realmente em se crer ou não no deus cristão.

Devemos reconhecer e ter compreensão histórica de que este deus era o único reconhecido pelo sistema religioso europeu, vigente e ratificado à época do filósofo. Assim, a aposta pode claramente ser direcionada não somente àqueles que professavam (às escondidas) outros cultos, mas também a ateus viventes nas regiões européias.

Atualmente, não podemos encerrar esta aposta apenas para o mundo cristão, o único que era reconhecido como verdadeiro e obrigatório de ser seguido pela sociedade em que Pascal vivia e para o contexto no qual ela foi proposta por seu autor.

Afinal, houve o contato com muitas culturas e todos sabemos que onde os.cristãos chegaram, impuseram suas crenças sob a espada contra os que resistiram e dando uma condição de seres inferiores àqueles que a adotaram.

Há que se considerar também que em solo europeu havia certa proibição em se professarem outros credos que divergissem daquilo que a Igreja dizia (os judeus que o digam, os hereges e as brigas entre protestantes e, católicos, idem).

Portanto, para a atualidade, em que temos de conviver com a diferença, uma vez que finalmente entenderam a liberdade de crença como um direito fundamental da pessoa humana (isso não é um pleonasmo, é corrente seu uso no direito), há que se considerarem os diversos sistemas religiosos em todas as suas nuances, sejam eles do passado anteriores a Pascal, de acordo com nossas descobertas arqueológicas, sejam aqueles posteriores ao filósofo.


A aposta de Pascal deveria, em tese, ser vislumbrada à luz de cada um destes sistemas, o que demonstraria suas falhas gritantes em termos de ser logicamente válido, bem como no que concerne na veracidade das premissas adotadas (verdadeiras apenas para o pensamento judaico cristão islâmico e, com reservas).

Por exemplo:

Sistema judaico: não aceitam o novo testamento como escrituras.

Sistema Islâmico: idem e, ainda, possuem o corão como escrituras.

O que dirá de sistemas como o budista, o afro, o indígena o das religiões do extremo oriente, etc.


O falso dilema de Pascal:

Conforme a existência de outros sistemas religiosos e, por Pascal ter ignorado o que eles propõem, após a morte (reencarnação, vagar pela terra, descanso eterno, finalismo, ida ao valhala, ao samsara, às nuvens, ao mar, as estrelas), que se traduz em não necessariamente ir-se ao céu ou ao inferno, a aposta em si é um falso dilema.

Na verdade a aposta de Pascal exclui outras hipóteses como:existirem outros deuses; qual a forma correta de se adorar este deus que ela descreve; se em vez de céu e inferno, como pregam os cristãos protestantes existir um mundo dos mortos, como pensavam os gregos; ou a existência de um mundo dos espíritos, segundo os espíritas; ou ainda a existência de um purgatório, como dizem os católicos; ou a existência de diversos níveis de evolução espiritual como dizem os budistas e hinduístas.

Quando confrontamos a proposta de crença no deus que Pascal reconhece como verdadeiro, se estivermos errados quanto a este deus? E caso seja outro ou outros que estiver/ estiverem no comando?

A aposta de Pascal mais uma vez se esvai.

Ou seja, de raciocínio lógico (validade/invalidade), bem como na concretude de suas premissas, para a variedade de sistemas religiosos existentes (veracidade/falsidade), o argumento em si não possui nada. É uma falácia.

Não nego ser a aposta dele valida ao sistema do cristianismo, também com ressalvas, uma vez que no catolicismo existe uma zona de reabilitação da alma, denominada de purgatório.

Não vejo ser a descrença em deus ou nas escrituras como um pecado que levaria diretamente ao inferno, pois tal pecado seria bem mais leve que muitos pecados dignos do purgatório.

Dessa forma, somente sistemas religiosos que ignoram outros sistemas e que assumem a sua verdade como aquela acima de tudo é que consideram a aposta de Pascal não somente válida sob o ponto de vista lógico, como verdadeira quando do exame das premissas adotadas.

Em suma, admiro Pascal pelo seu gênio na matemática e na física, bem como pela beleza de suas obras filosóficas, mesmo considerada toda a apologia religiosa existente em Pensamentos.No entanto, sua aposta sequer deve ser entendida como algo que mereça credibilidade, exceto naqueles segmentos onde se esteia o fundamentalismo de certas seitas menores do cristianismo.


Como disse um colega lá do Clube Cético:

Mesmo que se queira dar uma enorme "colher de chá" para a Aposta de Pascal e partir da hipótese de que o deus da aposta é esse e que você o está cultuando da forma correta (já que muitas seitas cristãs partem do princípio de que são a única verdadeira e as outras são heresias - você vai para o inferno só por não ser seguidor da "interpretação" correta), ela ainda sofre de um problema mortal.

Parte do princípio de que Deus é tão desesperado por adoração que vai automaticamente mandar para o paraíso um cristão falso que o adora apenas por não ter nada a perder. Se existe mesmo o tal deus judaico-cristão não há qualquer garantia de que ele vai se comportar dessa forma mesquinha tão típica dos humanos.

Então, partindo disso, eu poderia dizer que a aposta tem mais dois resultados possíveis:Se você aposta na crença e Deus não gosta desse tipo de atitude mercenária, você vai para o inferno tal qual o ateu.

Se você aposta na crença e Deus não só não gosta dessa atitude mercenária como a considera um pecado mortal e, por outro lado, dá enorme valor a franqueza e honestidade de caráter, você vai para o inferno por sua hipocrisia e o ateu vai para o céu.
Claro, se eu não quiser dar tanta "colher de chá", surgem outras possibilidades interessantes. Por exemplo, já pararam para pensar na hipótese de que talvez Deus tenha profundo ódio por quem o adora da forma errada e segue heresias das falsas interpretações do verdadeiro cristianismo (seja ele qual for) e esteja pouco se importando com os ateus, já que eles não o adoram, mas também não o ofendem com falsos cristianismos?

Nesse caso é mais seguro ser ateu. Ser cristão seria como brincar de roleta-russa com 5 balas no tambor, enquanto ser ateu é roleta-russa sem balas.
Se fosse possível provar a existência de Deus por meio de argumentos não seria necessária qualquer aposta. Isso porque ela é antes de tudo um argumento do tipo "Ok, você venceu! Não posso te provar que Deus existe. Mas pelo menos você tem que concordar comigo que o mais sensato a fazer é acreditar na sua existência, "just in case"". Ou seja, é apenas uma tentativa final desesperada de cooptar o seu interlocutor quando a sua argumentação em prol da divindade falha por absoluta falta de qualquer evidência.


Como disse outro colega:

Em Philosophy & Phenomelogical Research, um artigo de Larimore Nicholl, considera o argumento de Pascal como imoral e epistemologicamente irresponsável e critica os utilitaristas por apoiá-lo.

O próprio raciocínio de Pascal ao meu ver vai contra os fundamentos (ao menos os expostos) cristãos... acreditar para tirar proveito do mesmo dentro da concepção católica não garantiriam uma ascensão divida.

Mas se seguirmos o raciocínio dele, e se levarmos em consideração a infinidade de religiões e deuses, o que melhor garantiria uma boa pós-vida (levando também em consideração que se Deus existir ele não se importar em crer por oportunismo) seria não ter uma religião e crer numa força genérica, compreensiva e boa. Pois seria um tiro no escuro apostar na existência de algum Deus intolerante do tipo: "acredita em mim vai pro céu, acredita em outro vai pro inerno".

Caso acredite num deus genérico, bom e compreensivo, certamente compreenderá que na Terra existem tantas religiões que seria impossível escolher alguma, e por ser genérico você não perderá ou se reprimirá por dogmas impostos... logo não teria o que perder, mas teria o que ganhar.

Conclusão:

Assim, há que se considerar que o contexto da aposta de Pascal é cristão jansenista e não ecumenista, o que a anula de pronto frente às diferenças hoje existentes em termos religiosos. Portanto, temos de analisar o texto de acordo com seu contexto e, jamais, aplicá-lo indiscriminadamente a qualquer situação, da vida, da sociedade, de culturas, ou realidade, como fazem certas marcas de cristão.

A aposta vale, desde que o indivíduo seja um cristão jansenista ou um fundamentalista protestante. sem o mínimo de senso crítico. Todavia, ela perde seu valor se colocada frente aos diversos sistemas culturais, filosóficos, sociais e religiosos hoje reconhecidos e frente à dinamicidade social, o que não mais permite tal corte metodológico, como fizera Pascal ao propô-la.

Mas, analisemos: Seria este o tema da aposta de Pascal?

“Independente de ser quem você é de fato, basta acreditar que está tudo certo”.

Acredito que se existir algum deus, não é nada disso. O que será visto e pesado, serão suas atitudes e o que de fato existe em seu interior.

Então, faço um apelo a todos, inclusive aos religiosos hipócritas:

Removam suas máscaras de bonzinhos para os outros, principalmente para aqueles do seio de vossa igreja; apostem em ser pessoas boas, francas, éticas, solidárias e sinceras. Porém, jamais tenham tais atitudes para barganhar com os deuses e sim para fazer do nosso mundo um mundo melhor.


Stupid Design

Dr. Neil De Grasse Tyson fala neste vídeo sobre o "Design Inteligente" melhor classificado como Design Estúpido.

Vejamos porque:





O Dr. Neil deGrasse Tyson é um astrofísico norte-americano e, desde 1996, o Diretor do Planetário Hayden no Museu Americano de História Natural em Manhattan's Upper West Side.

Tyson escreveu, ao longo de sua carreira profissional, diversos livros populares sobre astronomia. Já participou de diversas séries televisivas sobre o Universo. Ele foi condecorado com a Distinguished Public Service Medal, a maior honra civil conferida pela NASA.

Seu site oficial se localiza aqui.