quarta-feira, 4 de julho de 2007

Quem foi Jesus?

Uma análise resumida do que os escritores antigos dizem sobre Ele.

Por Pr. Douglas Reis





















A chamada "busca do Jesus Histórico" demandou 200 anos de estudos acadêmicos, desde que H.S. Reimarus teve seus estudos postumamente publicados, em 1778.

Tal empreendimento criticava a historicidade da Bíblia, buscando separar o "mito" bíblico de quem realmente foi Jesus.

É claro que houve uma forte influência do racionalismo por detrás. Afinal, os teólogos não podiam conceber um Jesus que realizasse a espécie de milagres que a narrativa canônica lhe atribui, apesar de não duvidarem que alguém chamado Jesus realmente teria existido.

Após o período em que, pelas mãos de Harnack e outros liberais do século XIX, Jesus tinha ganho contornos contemporâneos, Albert Schweitzer publicou The quest of the Historical Jesus.

Neste volume, Schweitzer refutou as vidas de Jesus que haviam sido escritas, reconhecendo que Jesus foi alguém diferente do homem moderno.

Curiosamente, quase no mesmo período, a religionsgeschichtliche Schule realizou estudos paralelos sobre a influência que os primeiros cristãos sofreram de mitos pagãos ao "construírem" o Jesus milagroso do Novo Testamento.

Em anos posteriores, já não se podia considerar (falando da perspectiva da crítica de forma) quase que nenhum Evanfgelho como digno de confiabilidade histórica!

Em resumo, podemos dizer que imperava a idéia de que a tradição oral a respeito de Jesus sofreu adições posteriores, justamente para se adequar às necessidades da igreja primitiva; além disso, os evangelistas teriam incorporada mitos pagãos ou sofrido a influência deles ao escreverem sobre Jesus, chegando alguns teólogos (Rudolf Bultmann, em destaque) a abolir a possibilidade de milagres, concluindo que muito pouco nos evangelhos seria histórico (na concepção moderna do termo).

Um detalhe: nem todos os críticos de forma (os mais radicais) mantinham as mesmas posições de Bultmann, apesar de suas idéias terem grande repercussão.

Pense um pouco: se realmente formos excluir os milagres de Jesus, suas declarações de divindade e duvidar dos eventos neo-testamentários que nos pareçam impossíveis de terem tido lugar, o que sobraria do Novo testamento seria um volume muito escasso!!

O próprio Bultmann realizou o feito em seu Jesus and the world (1934), trabalho que em forma de um folheto(!).

O interessante é que todo esse trabalho exegético, baseado em pressupostos listados anteriormente, tornam ainda mais inviável saber quem foi Jesus; porque, se duvidamos do Novo Testamento, como provar que Jesus de fato existiu?

Há referências dentro da história a Sua Pessoa? E como analisar a historicidade do Novo testamento e testar sua credibilidade?

Sobre referências extra-bíblicas a Jesus: além de Josephus, há outras, que devem ser devidamente consideradas.

Nenhum escritor romano das décadas próximas a Cristo - Velleius Paterculos (década de 30), Fedro (década de quarenta), Sêneca, Lucano, Gaio Petrônio, Pérsio, Plínio o Velho, Ascônio Pediano Cursio Quinto (décadas de 50 e 60), Tácito, Josefo (década de setenta e oitenta), Estácio, Quintiliano, Juvenal (década de 90) - teria realmente interesse em escrever em Cristo e sua história ocorrida em uma província problemática de Roma!

Mas há outros a serem considerados, que mencionam Jesus em seus escritos: Thallus e Phlegon, o próprio Josefo, Plínio, o jovem, Cornélio Tácito, Adriano, Suetônio, Luciano de Samosata, Mara Bar-Serapion.

Thallus:

apesar de seus escritos não terem sobrevivido até nossa época, é um dos primeiros a citar Jesus; sobreviveram poucos fragmentos de suas obras e citações destas existem na patrística (os escritos dos chamados "pais da igreja", escritores e líderes cristãos dos primeiros séculos).

Provavelmente, ou Thallus escreveu na década de 50 ou no final do primeiro século. Ele se refere à cruz e ás trevas que a acompanharam.

"Thallus, no terceiro livro das suas histórias, explica esta escuridão como um eclipse do sol - sem justificativa, em minha opinião", relatou Júlio, o Africano, em cerca de 221 a.D. (cf.: Justino Mártir, Primeira apologia).

E, de fato, não existe eclipse solar por ocasião da Lua cheia, como foi a Páscoa em que Cristo morreu. Thallus também se refere a este evento como tendo ocorrido em 29 a.D.; provavelmente, ele desloca a data buscando uma explicação naturalista para a escuridão que acompanhou o evento.

Phlegon, em cerca de 140 a.D., escreveu obra similar a de Thallus, discorrendo sobre o mesmo evento (as trevas durante a crucificação).

Outro escritor romano, Philopon, no 6° século, disse "E sobre estas trevas... Phlegon as recorda nas Olympiads (título de sua história)".

Apesar de termos certo cuidado ao nos referir a Phlegon, que apresenta algumas inexatidões em seus relatórios, e, embora seja cedo para querermos concluir algo, o que as referências nos sugerem é que o relato da crucificação não era posto em dúvida, nem mesmo que um estranho fenômeno acompanhara o evento - trevas - para o qual buscou-se explicações razoáveis.

Sobre Josefo, quero dedicar mais tempo posteriormente.

Plínio, o jovem (Plinius Secundus): em carta ao imperador trajano, fala dos cristãos em sua província; escrita provavelmente em 112 a.D. (quando Plínio era governador da Bitínia), fornece informações sobre o cristianismo. Vou tentar citar a parte mais importante para o nosso assunto, pois o documento é bem extenso!














Jesus segundo construção
a partir do sudário





Vamos lá:

Eles afirmam, porém, que toda a sua culpa, ou o erro, era terem o hábito de se reunir num certo dia fixo, antes do amanhecer, para cantar em versos alternados um hino a Cristo, como se fosse um deus, e se comprometerem com juramento solene, a não realizar qualquer ato perverso, jamais cometer qualquer fraude, roubo ou adultério, jamais faltar à sua palavra, ou negar uma promessa quando chamados a cumpri-la [...]"

Muitas coisas, dentro do documento, que infelizmente, parece ser extenso demais para ser citado na íntegra, confirma dados do Novo Testamento, dando veracidade histórica ao quadro das igrejas apresentado pelo NT.

Mas o que ele acrescenta para nós? Além de mostrar que para os primeiros crentes Jesus era considerado Deus, ele demonstra de forma impressionante que dentro dos primeiros 80 anos de cristianismo algumas pessoas estavam tão convencidas a respeito da morte e ressurreição de Cristo a ponto de enfrentarem as autoridade romanos e darem até sua vida por causa disto.

Antes de continuar, quero dizer que me senti em falta: o tempo foi contra mim ontem e não pude realizar aquilo a que me propuz. Obrigado, de antemão, pela compreensão!

Deixe-me saudar o meu débito:

Cornélio Tácito:nascido ao redor de 52-55, é tido como um dos mais dignos de crédito entre os historiadores da Antiguidade, especialmente pelo raro senso de acuidade ao examinar as fontes.

Em seus Anais, c.c.116 a.D, fala do incêndo de Roma, obra de Nero. Vou procurar citar um trecho que acredito estar mais dentro de nosso assunto:

"[...] Por consequinte, Nero, para se livrar dos rumores, acusou de crime e castigou com torturas exageradas aquelas pessoas, odiosas por suas práticas vergonhosas, a quem o vulgo chama cristãos. Cristo, autor desse nome, foi castigado pelo procurador Pôncio Pilatos, no reinado de Tibério; e a fatal superstição, reprimida por um pouco, irrompeu novamente, não só na Judéia, sede original desse mal, porém por toda a cidade [Roma], para onde de toda parte tudo quanto é horrível ou vergonhoso aflui e cai na moda."

O estilo da passagem tem sido apontado como o de Tácito, e não há razões suficientes para duvidar da autenticidade do documento.

Provavelmente, Tácito "atualiza" os títulos oficiais, empregando as nomenclaturas correntes em sua própria época (daí chamar Pilatos de "Procurador", um título corrente a partir do final do século I).

Tácito usa os registros oficiais, e, com o fim de explicar a õrigem dos Cristãos, chama o Seu Mestre de Cristo (se a fonte do historiador fossem os próprios cristãos, ele teria empregado "Jesus" no lugar de "Cristo").

Além disso, Tácito afirma sua informação como um fato histórico, não como um mero boato.

Eu havia dito que era comum os cristãos (desde a época de Pedro aos pais da igreja) desafiarem seus preponentes a conferirem os fatos por si mesmos. Os primeiros apologistas como Tertuliano, faziam menção a um registro seculares que confirmavam detalhes da vida de Jesus. Parece que Tácito uso como fonte primária estes mesmos registros. Aliás, por ser cidadão romano, deve ter tido acesso aos melhores documentos disponíveis.

Outra evidência de que o historiador romano não tratava de um boato: nos anais 4.10, quando refuta um boato específico, afirma ter se reportado às "mais numerosas e fidedignas autoridades". (perdão, se você me permite, quero fazer uma digressão: acho válido, em termos de comparação, notar que Lucas, ao escrever seu evangelho, tem uma postura semelhante; cf. Lc 1:1-4).

Tácito é tão criterioso que registra os conflitos em suas fontes. (cf. 15:38, versões diferentes sobre o grande incêndio em Roma). Ele também critica muitas de suas fontes (Anais 4.57, 15.53, 13.20). E evita dar opinião quando outros não o fazem.

Bem, creio que há motivos para aceitarmos esta passagem de Tácido como digna de crédito: assim, pela pena do romano, no período da década de 60, havia cristãos perseguidos em Roma, apenas 30 anos depois da morte de Cristo, cristãos que acreditavam que a história de Jesus (vida, morte, ressurreição) era baseada em fatos reais, pelos quais valia a pena serem perseguidos.
Suetônio: historiador romano e cronista da casa Imperial, escreveu em c.c.120 a.D. nos disse que "Desde que os judeus estavam promovendo distúrbios constantes por instigação de Chrestus, ele os expulsou de Roma".

Chrestus poderia ser qualquer um, até o nome de um escravo grego! Chrestus é um nome grego; muitos judeus recebiam nomes gregos (p.ex.André, Filipe), mas há pouca probabilidade de que este, em especial, fosse nome de um judeu (Josefo, por exemplo, não menciona Chresto). Foneticamente, esta grafia teria um som muito semelhante a Cristo.

Este trecho tem um paralelo com a narrativa de Atos 18 (especialmente vs. 12-17). É razoável que a pregação cristã dirigida aos judeus causasse indisposições de ânimos entre esse povo, motivo da posterior expulsão de todos os judeus de Roma.

Quando o relator anotou o motivo da balbúrdia, deve ter grafado Chrestus, com a grafia mais familiar do que Christus. 70 anos mais tarde, Suetônio, consultando o registro, teria anotado o episódio.

Isso indica que cerca de 16 a 20 anos depois da morte de Cristo, havia cristãos em Roma (a expulsão de judeus foi em 49 a.D) testemunhando sobre Sua vida, morte e ressurreição.

Luciano de Samosata: o satirista romano escreve:

"Os cristãos, como todos sabem, adoram [creio que é válido dizer que "adoração" demonstra devoção, reverência, o tipo de comportamento e sentimento que se tem em relação a um deus] um homem até hoje - o distinto personagem que iniciou seus novos rituais - e foi crucificado por causa disto... Vejam bem, essas criaturas mal orientadas começam com a convicção geral de que são imortais para sempre, o que explica o desprezo pela morte e a dedicação voluntária de si mesmos, tão comuns entre eles. Foi também impresso sobre eles, pelo seu legislador original, que são todos irmãos, a partir do momento em que são convertidos; e negam os reis da Grécia, adoram o sábio crucificado, e vivem segundo as suas leis. Tudo isto eles aceitam pela fé, como resultado de desprezarem todos os bens materiais, considerando-os simplesmente como propriedade comum." Life of Nero, p. 16.

Pelo tom negativo, pode-se perceber que temos alguém aqui que, a despeito de dizer o que diz, não o faz para defender os cristãos!

Mara Bar-Serapion: pouco depois de 70 a.D. (data da destruição de Jerusalém), um sírio que, ao que aparece, era um filósofo estóico, escreveu da prisão ao seu filho:

"Que vantagem os atenienses tiveram ao matar Sócrates? A fome e a praga caíram sobre eles como castigo do seu crime. Que proveito os habitantes de Samos tiveram ao queimarem Pitágoras? Num momento a sua terra foi coberta pela areia. Que vantagem os judeus tiveram ao executarem o seu Rei sábio? Logo após disso o seu reino foi destruído. Deus vingou com justiça esses três homens sábios: os atenientes morreram de fome; os samianos foram destruídos pelo mar; os judeus, arruinados e expulsos da sua terra, vivem completamente dispersos. Mas Sócrates não morreu para sempre; ele continuou vivendo nos ensinos de Platão. Pitágoras não morreu para sempre; ele continuou vivendo na estátua de Hera. Nem o Rei sábio morreu para sempre; ele continuou vivendo nos seus ensinamentos."

Claro que as informações sobre Atenas e samos estão incorretas; mas pelo teor, dá para perceber que o autor não e um cristão (porque nivela Sócrates, Pitágoras e Jesus, tratando-os como homens sábios; também, e isso é essencial para identificá-lo como não cristão, Serapion nada diz sobre uma ressurreição).


BIBLIOGRAFIA
Bruce,F. F. Merece confiança o Novo Testamento? São Paulo: Edições Vida Nova, 1965 (eu sei que existe uma edição mais nova, mas não consegui localizá-la; tente direto com a editora. Se eu ainda o tivesse, o enviaria a você. É um volume bem completo, que ainda serve de referência aos estudos do Novo Testamento).

Paroschi, Wilson - Crítica Textual do Novo Testamento, Edições Vida Nova, São Paulo, 1993. (o autor é um dos mais proeminientes teólogos brasileiros sobre Novo Testamento).

Um outro, que seria mais uma curiosidade: já que falamos tanto sobre Jesus e seu contexto, vou indicar um dos melhores livros que já li sobre Jesus, sua mensagem e cultura: As Parábolas de Lucas, de Kenneth E. Bailey ; Editora Vida Nova. Satisfaz o acadêmico, mas é acessível para todos. É um marco.

Espero, sinceramente, que lhe sejam úteis, de alguma forma.

5 comentários:

Author disse...


Gostei do post!

Amigo, quando tiver um tempinho, por favor responda-me a seguinte pergunta: Você acredita em Jesus?

Questiono isso não para saber se você crê em Jesus como Messias ou salvador da humanidade (é óbvio que não, né?... rsrs); mas sim porque, entre os ateus com quem tenho tido a oportunidade de entrar em contato, tenho percebido três tipos de posicionamentos distintos quando o asssunto é a historicidade de Cristo:

1. Há quem reconheça que ele realmente existiu; e que, embora não fosse um deus encarnado, era um homem sábio e bondoso, ou um líder notável, ou alguém muito à frente do seu tempo, etc. etc. etc.;

2. Há quem sustente que até há algumas boas razões para se pensar que ele tenha existido, porém não podemos afirmá-lo com segurança;

3. Há, ainda, quem seja mais "radical" nesse ponto, negando veementemente a existência dele. Para essa ala, Cristo é apenas um personagem lendário e nada mais. Os que defendem esse ponto-de-vista costumam alegam que as fontes extra-bíblicas que o mencionam (tais como os escritos de Flávio Josefo, por exemplo), teriam sido falsificados e/ou adulterados tardiamente por motivos políticos e/ou ideológicos; e que, portanto, tais fontes não seriam merecedoras de crédito.

E você, o que me diz? Qual a sua opinião a respeito?

De antemão, muito obrigado pela atenção.

Um forte abraço!

Elyson Scafati disse...

O personagem Jesus pode ter existido sim a seu tempo. Todavia, a época em que ele vivera havia muitos candidatos a messias.

Jesus e suas "habilidades fantásticas" não passam de uma bricolagem de mitos, ou seja reunem-se vários personagens de sua época e atribuem a um deles todas as características dos demais.

Sim, muito de Flávio Josefo foi adulterado, pois o texto onde ele fala de Jesus é desconexo com o restante e, tampouco, um judeu o chamaria de "nosso senhor", pois isso seria uma blasfêmia, punível com o banimento da comunidade judaica e mesmo um possível apedrejamento.

Se dependesse de seu apostolado, o mito de Jesus teria morrido como tantos outros, mas teve um cara, para quem eu tiro meu chapeu como um marqueteiro de primeira: Paulo de Tarso - PT.

Digamos que este camarada sofria de sérios dramas de consciência, até que um acidente o transformou. Podemos ver tal acidente não como algo real, mas no sentido metafórico de uma visão após uma cegueira ideológica.

Dai, o PT reformulou todo o cristianismo a seu modo e deu no que deu, pois o PT era um radical extremista e misógino (acho até que era um gay inrustido - nada contra os gays; apenas contra quem não assume o que é).

Não vejo Jesus como um messias salvador, mas como um cara anos luz além de seu tempo, com uma visão reformadora das religiões do passado e com uma nova compreensão da vida que até hj parece não ter sido compreendida.

Acredite, nada do que disseram que ele disse foi dito por ele, mas pelo PT. Leia Bart Ehrman - O que Jesus disse e o que ele não disse.

A salvação, meu amigo, está aqui mesmo. É vc ser um cara bom, não ter ódio, servir a quem necessita, dar a quem precisa, levar uma palavra amiga a um desesperado, uma possibilidade de cura a quem sofre, comida a quem tem fome, justiça a quem foi injustiçado, dentre outras coisas boas.

Salvar-se não é sentar a bunda no banco de uma igreja, dar dízimo, decorar a bíblia, tentar converter os outros e falar ou defender um monte de idiotices, mentiras e sandices como vemos por ai (sim criacionistas e sua trupe de patetas fundamentalistas).

Jesus jamais disse creiam em mim para ser salvos, mas disse vá e não peques mais (pecar contra vc e contra os outros).


É isso

Céu e inferno não existem. Nós os criamos dentro de nossas mentes. É nossa escolha viver e morrer neles.







Author disse...


Elyson, a despeito de mais uma de suas brilhantes argumentações, você acabou por tocar num ponto crítico especialmente sensível para mim (e possivelmente - creio eu - também para outras milhões de pessoas ao redor do mundo), algo que tem me ocupado os pensamentos já por algum tempo...

Refiro-me ao fato de você ter dito que a salvação consiste basicamente em duas coisas, a saber: “ser bom” e “praticar o bem” (afirmação esta com a qual, diga-se de passagem, eu concordo em gênero, número e grau).

Ocorre, porém, que nem sempre nós, seres humanos falíveis e mortais como somos, “praticamos o bem” necessariamente porque "somos bons". Antes, muitas vezes, nós nos vemos agindo desta forma simplesmente porque temos a convicção racional de que aquilo é a coisa certa a se fazer; e fazemos assim até mesmo quando sentimos, no mais íntimo do nosso coração, que o nosso real desejo é agir exatamente da forma oposta (ou seja, fazer a coisa errada).

Então, vem a questão: Como você, particularmente, enxerga essa problemática da "boa razão" versus os "maus ímpetos" do espírito humano? Existiria alguma solução para amenizar tão gritante divórcio? Seria possível harmonizar as duas coisas para que um dia nós chegássemos não apenas a fazer o bem exteriormente (por convicção de valores e princípios), mas também para que fôssemos bons internamente? Se sim, como?

Uma vez mais, grato pelo carinho e disposição em conversar. Estou ciente, é claro, de que você não é especialista em psicologia do comportamento humano; mas, ainda assim, gostaria muito de ouvir sua opinião ainda acerca desse assunto.

Forte abraço!

Elyson Scafati disse...

Vinícius:

[Então, vem a questão: Como você, particularmente, enxerga essa problemática da "boa razão" versus os "maus ímpetos" do espírito humano?]

A resposta é simples: somos humanos e como tais temos desejos e sentimentos. mas estes são reprimidos por regras sociais, religiosas e de direito.

Muitos querem ser vistos fazendo o bem porque lhes trará crédito frente aos outros. Alguns decidem fazê-lo por meremente querter barganhar com os deuses um lugar no paraíso e outros o fazem por mero senso ético.

[Existiria alguma solução para amenizar tão gritante divórcio?]


Deixar de ser humano e se tornar deus (embora ele tenha feito várias cagadas).

[Seria possível harmonizar as duas coisas para que um dia nós chegássemos não apenas a fazer o bem exteriormente (por convicção de valores e princípios), mas também para que fôssemos bons internamente? Se sim, como?]

Sim, se existir o além. Basta vc morrer e decidir se tornar um espírito iluminado.

Author disse...


Achei impagável esta sua resposta: "Basta vc morrer e decidir se tornar um espírito iluminado." Mas você não se emenda mesmo, hein?! kkkkk

É, meu chapa! Então, por enquanto, o jeito é seguirmos levando a vida aqui da melhor forma que conseguirmos, conformados (ou não) com nossa miserável condição humana. Depois disso, a gente vê se ainda tem algo mais pra rolar (ou não) por lá também...

Parabéns pelo gênio humorístico aguçado. Se fosse deus, eu certamente iria querer ter alguém como você no meu paraíso, para batermos um bom papo e darmos boas risadas juntos.

Forte abraço!