sábado, 7 de julho de 2007

XAMANISMO






















1- INTRODUÇÃO

O Xamanismo é um tipo de religião de povos asiáticos e árticos. Embora a palavra xamã tenha origem na tribo siberiana dos Tugus, não existe origem histórica ou geográfica para o xamanismo, prática religiosa, de cura e filosófica encontrada no mundo todo.

As raízes do xamanismo são arcaicas, e alguns antropólogos chegam a pensar que elas recuam até quase tão longe quanto a própria consciência humana.As origens do xamanismo datam de 40.000 a 50.000 anos, na Idade da Pedra.

Antropólogos têm estudado xamanismo nas Américas; do Norte, Central, Sul. Na África, entre os povos aborígines da Austrália, entre os Esquimós, na Indonésia, Malásia, Senegal, Patagonia, Sibéria, Bali, Velha Inglaterra e ao redor da Europa, no Tibet onde o xamanismo Bon segue a linha do Budismo Tibetano, em todos os lugares ao redor do mundo. Seus traços estão presentes nas Grandes religiões.


O primeiro tratado vem da Sibéria (altaicos, iacutes, buriatas, tungues, vogul, samoiedos, etc.). Uma fonte acredita que os homens/xamãs teriam emigrado durante as grandes glaciações, seguindo rebanhos de renas. Eles passaram pelo estreito de Bering, ou por uma ponte terrestre que ligava os dois continentes e se espalharam pelo mundo.

Tanto no Mexico, USA, Austrália, Africa, America do Sul, Sibéria, etc, é interessante notar similaridade em alguns rituais e na cosmologia de todos esses povos xamânicos no mundo. Faz pensarmos que todos vieram de uma mesma fonte de conhecimento.


Em essência o xamanismo se trata de práticas religiosas, as quais englobam medicina, espiritualidade e filosofia.

O xamanismo é um fenômeno religioso que se supõe ter sua origem na Ásia Central e Setentrional.

Nas regiões árticas norte-européias encontram-se fenômenos xamânicos similares entre os esquimós, bem como entre os índios das Américas do Norte, Central e do Sul.

Há também fenômenos xamânicos nas ilhas da Oceania, na Austrália, no sudeste asiático, bem como na Índia, no Tibet e na China.

Estas práticas parece serem adaptadas a cada cultura, crença, porém, em toda parte, apresenta o mesmo conteúdo mágico, religioso e simbólico.



2- ETIMOLOGIA DA PALAVRA "XAMÃ"


A palavra xamã tem sua raiz na Sibéria, vinda da palavra “saman”, aparentado com o termo sânscrito “sramana” que significa “inspirado pelos espíritos”.

O termo xamã foi adotado, pela antropologia, para se referir a pessoas, sejam do sexo masculino ou feminino, de uma grande variedade de culturas não ocidentais, que antes eram conhecidas como bruxo, feiticeiro, curandeiro, mago, mágico, vidente, sacerdote, pajé, homem da medicina, o terapeuta, o conselheiro, o contador de estórias, o líder espiritual, etc.


Quanto ao xamanismo, este se refere a um conjunto de crenças ancestrais que estabelecem contato com uma realidade oculta, ou estados especiais (alterados) de consciência, a fim de obter conhecimento, poder, equilíbrio saúde para si mesmo e para as pessoas.





3- O XAMÃ


















XAMÃ SIBERIANO



O xamã pode ser homem ou mulher, e sempre há na história pessoal desse indivíduo um desafio, como uma doença física ou mental, que se configura como um chamado, uma vocação. Depois disto há uma longa preparação, um aprendizado sobre plantas medicinais e outros métodos de cura, e sobre técnicas para atingir o estado alterado de consciência e formas de se proteger contra o descontrole.

Segundo a crença, o xamã é alguém capaz abandonar seu corpo, e viajar entre os mundos.

O conhecimento adquirido nessas viagens, com os habitantes de diferentes realidades, entre outras coisas, qualificam o xamã a manter o bem-estar e a cura para eles próprios e para os membros de suas comunidades.

O xamã é definido como "aquele que voa", pois segundo a crença, ele é capaz abandonar seu corpo, e viajar entre os mundos, em busca da excelência espiritual, com o intuito de enxergar a realidade existente por trás dos conceitos e se harmonizar com a vida. Assim, o xamã atravessaria os portais da mente, das emoções, do corpo e do espírito. O xamã é tido como um profundo conhecedor da natureza humana, tanto na parte física quanto psíquica.

Os xamãs tinham um papel importante nas vidas dos membros de suas tribos e eram os protetores e os intermediários entre os humanos e os espíritos.

O treinamento e o desenvolvimento de futuros xamãs demorava vários anos. Tão logo o clã reconhecia um candidato a xamã e o seu direito de se tornar um, era feito um ritual de consagração. Outros rituais também eram obrigatórios quando um Xamã recebia cada um de seus objetos especiais.


4- A PRÁTICA DO XAMANISMO

A prática do xamanismo utiliza-se do trabalho com: ervas, direções sagradas, rituais, jornadas xamanicas, contato com natureza e seres espirituais, ritmos, danças e movimentos corporais, elementos básicos da natureza (água, terra, ar, fogo, cristais, pedras, argila, etc...), cirurgias espirituais e técnicas de cura e purificação dos corpos físico, emocional, mental e espiritual, entre outras coisas.


O foco das práticas do xamanismo centra-se nos ritmos cíclicos da natureza: nascimento, morte e renascimento, a complementaridade masculino e feminino, o contato pessoal individual com ambiente imediato da terra, com as forças da terra do sol, da lua e das estrelas.


No xamanismo ao redor do mundo podemos ver as similaridades que definem as práticas :


- A Busca por estados Alterados de Consciência – Vôo da Alma / Êxtase.

- A capacidade de viajar em espírito assumindo a forma de um animal ou ave, ou diretamente através daquilo a que chamaríamos de experiência fora-do-corpo. Este vôo mágico é um dos fundamentos do xamanismo

- Viagem por mundos paralelos ( Reino dos Espíritos). Mundos invisíveis à realidade ordinária, a fim de guiar espíritos, obter conhecimento espiritual.

- Trabalho como canal de cura, o conhecimento do poder das plantas, pedras, dos espíritos animais e seres da natureza.

- Devoção à Criação : O Sol, a Lua, as Estrelas, o reconhecimento da presença dos deuses em todas as manifestações do Universo.

- Interação com espíritos da natureza.
- Utilização de instrumentos de poder para induzir ao transe /estados alterados de consciência (tambores, maracás, etc)
- Conhecimento sobre o fogo
- Utilização de plantas (purificação, enteógenas, medicinais, magnéticas)
- Canções de Poder
- Danças

- Exercícios respiratórios e dietas
- Exposição de histórias, preleições.


Os xamãs baseiam-se na observação constante da natureza e de seus ciclos a fim de compreenderem a si próprios. Amam e reverenciam os espíritos da natureza reconhecendo os aspectos dos mesmos em si. Buscam nas diferentes energias que ela oferece simbologias de suas forças interiores.


5- XAMANISMO E AS RELIGIÕES

Foi grande a influência do xamanismo nas religiões. Tal influência é visivel conforme os seguintes elementos:
crenças de renascimento, manipulação de animais, os recolhimentos, abstenções, iniciações, batismos, ritos de morte e renascimento, canções sagradas, hinos, danças, transe, exorcismos, sacramentos, invocações, visões, preces, contato direto com divindades e espíritos, circuncisões, tatuagens, raspagens de cabeças, roupas ritualísticas, o conceito de três mundos (Céu, Inferno e Purgatório, por exemplo), uso de formas geométricas como amuletos e símbolos de proteção, subida nas montanhas para adquirir elevação espiritual, entre outros.

Há uma forte influência xamânica na religião de Bön, na Ásia Central, e no Budismo Tibetano, Mongóis e Manchus, algumas dinastias chinesas que até se utilizam substâncias enteógenas.

Práticas xamânicas foram sendo excluídas de muitas culturas, com a propagação do cristianismo, principalmente devido à crise das religiões greco-romanas, onde templos foram destruídos e as cerimônias excluídas, iniciando na idade média até o renascimento pela inquisição católica.

Essa repressão extendeu-se com a colonização espanhola, através dos conquistadores que destruíam as tradições locais, e executando os praticantes. Essas práticas universais sobreviveram clandestinamente a essa repressão, principalmente pelos povos indígenas, o que torna o xamanismo um fenômeno religioso.

As culturas africanas de tradição xamânica desenvolveram um sistema apoiado em deidades, espíritos animais, espíritos ancestrais, anjos, conhecida como Obeah, que se tornou a célula dos praticantes de Vodu próprios . Também as primeiras cosmologias baseadas em visões xamânicas, que incluem conceitos de reinos superiores, inferiores.

As práticas xamânicas influenciaram também as religiões organizadas. Vários aspectos são encontrados em suas práticas místicas e simbólicas. O paganismo grego, influenciado pelo xamanismo, é refletido na mitologia de Medeia, prometeu e, nos Mistérios Eleusianos e outros. Mais tardes essas práticas foram adotadas pela religião romana.

Na Rússia, as tradições xamânicas sobreviveram também, usando o cogumelo amanita muscária e outras plantas indígenas.

Na Austrália, algumas plantas psicoativas (enteógenas) mais suaves foram usadas conjuntamente com a tradição extática de cantar, contar histórias no tempo do sonho.

Nas Américas, uma fonte rica em psicoativos vegetais, criou tradições xamânicas, principalmente através da ayahuasca ou iagé, utilizada por várias tribos na Amazônia e nos Andes o Wachuma (cacto San Pedro) e as folhas de coca. Na América do Norte, o peyote serviu à mesma finalidade sagrada.O tabaco foi usado também como planta cerimonial.

O estado do visionário envolve sempre algum grau de dissolução do ego. Quase toda a religião inclui este elemento em maior ou menor escala na reza de terços, no catolicismo, na expansão do yoga, giro sufi, giras, recitação de mantras, etc. No Vodu ha prática que envolve dançar até a exaustão e assim o corpo perde o controle, para conexão com o divino. Nas tradições tibetanas são usados também os harmônicos vocais, as posturas.

O xamanismo tambem é marcante no tantrismo seguido pelo Budismo Tântrico e pelo o Hinduísmo. O tantrismo prevê a existência dos 7 chakras, ou 7 pontos de poder em nosso corpo sutíl. Os chakras são vistos como microcosmos do Universo.
O iniciado tântrico submete-se à tutela de um mestre, que o ensina, os segredos esotéricos da doutrina. Também o sacerdote do budismo tântrico conta entre seus instrumentos de poder, com um tambor pequeno, seu instrumento ritual para evocar os ancestrais. No rito sexual do tantrismo, o ato, ou maithuna, é considerado um modo de chegar à iluminação.

Quando o xamanismo é comparado com a religião egípcia, as similaridades são grandes : usos de instrumentos de poder, a condução ao mundo dos espíritos com segurança, o enterro com objetos, preparação do corpo dos mortos para o enterro, os paramentos dos sacerdotes para os trabalhos espirituais (trajes de poder, o uso de talismãs e braceletes com peles, dentes e ossos de animais, tambores, pinturas faciais e no corpo

Há também alguns vestígios da influência no taoísmo, que também exalta o ato sexual como espiritualmente benéfico para mulheres e homens.
O taoísmo, em efeito, é o sistema xamânico que mais integra a força feminina. Como se vê na filosofia yin yang, claramente o masculino e o feminino são opostos complementares.
Como a mulher pode ser Yin e necessita intercâmbios com Yang e o mesmo se aplica com o homem.Qualquer contato com a força contrária servirá até certo ponto, mas a maior manifestação se produz no ato sexual mesmo.
Tao significa " O Caminho " e é o caminho das forças naturais. O objetivo do taoísmo era sincronizar-se perfeitamente com a natureza e deixar que suas pulsações atinjam a mente e corpo.
Para conseguir a sincronia com a mente e corpo, recorriam a exercícios de yoga, ginasticas, aos elixires mágicos preparados por alquimistas, regras de dieta, atividade sexual variada; como elementos para melhorar a vitalidade e, finalmente, criar um corpo imortal tão refinado, que poderia abandonar o corpo mortal para compartilhar as bênçãos do Paraíso. Esse estado alterado de consciência é o que faz levantar vôo do mundo material e vencer os limites do espaço/tempo. Esse ser imortal era denominado de “pessoa alada” ou “gente alada”.
O xamanismo era tão incrustado na história da China, que fica difícil a quem atribuir o começo. O soberano Fu Hsi, 3.000 a.C. é representado por uma figura vestida com pele de leopardo, sentado numa pedra, contemplando uma tartaruga que o observa com veneração. Sobre o solo há os 8 hexagramas do I Ching, que foram inspirados pelos desenhos de um casco de tartaruga.

São óbvias as bases xamânicas de todas as religiões orientais. A estreita similaridade entre ela e sua tendência a formarem combinações, levaram através do séculos, um abafamento das diferenças.
As disciplinas tantricas são uma conseqüência de práticas xamânicas adiantadas, onde o ego é suprimido durante o momento do orgasmo. No fim oposto, práticas ascéticas podem ser usadas para conseguir o mesmo efeito que o sexo, privando o corpo dos confortos e mesmo de alimento ou água, para ascender a reinos mais elevados

O Rabbi Gershon Winkler,descreve a relação que se estabelece através da tradição cabalística conhecida como Merkabah As crenças incluem a reencarnação, e na crença que a alma devia atravessar seu ciclo de reencarnação nas "Sete Moradas Celestiais", para ascender à mais alta de todas .
A Cabala segundo os místicos foi fundada pelo próprio Moisés. Veja como Moisés tinha traços xamânicos: utilizava um bastão para oração e fazer prodígios, mexia com forças da natureza, subia na montanha para falar com Deus, etc”.

A arvore da Vida e a Montanha (Sinai, por exemplo) são metáforas comuns para descrever as jornadas xamânicas. Como a montanha dos xamãs, a Cabala une os Três Mundos, como se demonstra no sonho de Jacó. Os temas que dão origem na cabala aos "lugares sagradas feitos com pedras", onde os profetas iam buscar a sua visão (Busca da Visão).
Podemos ver o Rabino como uma versão judaica equivalente ao xamã. Um curador, um homem de conhecimento, um guia espiritual. A Cabala é tão rica quanto a maioria das tradições xamânicas, compartilhando a terra, os elementos, a opinião que toda a criação é viva e consciente, que os planetas, as pedras, o sol e lua, são seres conscientes vivendo com sabedoria e alma.
No segundo-século Rabino Me'ir chamou o sol "meu irmão" "todas as árvores," ensinam os rabinos antigos, o e todos os seres vivos" Os planetas e as estrelas têm suas próprias canções. Os Hebreus não tinham ainda o Torah, eles aprendiam tudo que necessitaram saber dos animais . Pergunte aos animais e ensiná-lo-ão; e os pássaros do céu, e informá-lo-ão. Ou fale à terra e mostrá-lo-á; e os peixes do mar declarar-lhe-ão.
Este xamanismo judeu atribui importância enorme aos quatro sentidos, chamando-os ru'chot do ar'ba, ou "quatro ventos," também hebreu para "quatro espíritos," forçando a natureza orgânica, viva dos quatro sentidos.
Cada vento ou sentido são designados um animal a águia no norte, no búfalo no oeste, o ser humano no sul, e no leão no leste. Einayim, Bamidbar, Cada vento tem também guarda do espírito (que, quando invocado por vários invocações hebraicas e aramaico, traz a dádiva desse vento particular.Os atributos destes guardiãos dos quatro espíritos são cura, reflexão, conforto, e visão.

Dizem muitas tradições que o ser humano nos primórdios, podiam se comunicar com animais e que havia um estado de confiança e amizade entre o homem e a fera. Algumas lendas judaicas afirmam que em todos os sentidos o mundo animal tinha uma relação com Adão diferente da relação que tinha com seus descendentes. Não somente conhecia a linguagem do homem, mas também respeitava a imagem de Deus, e tinha medo do primeiro casal humano, e tudo isso mudou para o seu contrário depois da queda do homem.
Na Cabala existem os Caminhos que vão para o Céu (Arvore da Vida). Cada caminho é simbolizado por um animal.
O primeiro grupo de caminhos são chamados de Caminhos da Personalidade e os símbolos animais são: o crocodilo, o golfinho, o leão, o gavião, o pavão, o urso e o lobo. No Caminho Da Individualidade ou do Eu Superior tem: o cavalo e o cachorro, o bode e o burro, o escorpião e o lobo. No Caminho do Adeptado: o elefante, rinoceronte, leão, a águia e o escorpião. Nos Caminhos do Espírito: o cachorro, castor, carneiro e coruja, o caranguejo e a tartaruga, o touro. Nos Caminhos da Divindade: o pardal, o pombo e o cisne, a andorinha e o macaco, a águia e o homem. São essas as vinte e duas estradas que correspondem aos arcanos maiores.

Entre os vikings, o seidr, em muitos casos, foi descrito como uma feitiçaria realizada para “ferver” certos objetos imputados de poderes mágicos, sendo basicamente utilizado como um rito adivinhatório ou para assassinato, ou ainda como prescreve Boyer, relacionado a três ações básicas: prever o futuro, aprisionar, causar doenças/desgraças ou matar. A tradução do termo varia segundo os pesquisadores, mas geralmente é interpretada como sendo canto. Tratava-se de um ritual mágico de tipo divinatório e profético, com conotações xamanistas e uma arte mágica criada pela deusa Freyja. Era um tipo de magia extática com transe, êxtase do celebrante e cantos da assembléia, geralmente realizada durante a noite e praticada sobre uma plataforma chamada de assento para encantamento (seiðhjallr). A sua realização era conectada com sons mágicos ou encantamentos, e a melodia era considerada bonita para os ouvidos. Também compreendia fórmulas mágicas para chamar tempestades e todos os tipos de injúrias, metamorfoses e predições de eventos futuros. Criada pela deusa Freyja, era praticada especialmente por mulheres chamadas seiðkonur (sing. Seiðkona). Para Neil Price seria antes de tudo uma forma de extensão do espírito e de suas faculdades, enquanto que para Zoe Borovsky a performance do seiðr simbolizaria o modelo vertical de universo (cosmológico) da árvore Yggdrasill. Como para o xamã, a praticante de seiðr devia descer ao mundo dos mortos para relatar os ensinamentos que buscam os vivos e para efetuar certos malefícios. A magia nórdica era tanto praticada por homens quanto por mulheres, com uma nítida especialização feminina. As Sagas estão repletas de práticas mágicas, mas maiores detalhes sobre o ritual do seidr são desconhecidos.

No Brasil, o xamanismo é constante em todas as etnias indígenas brasileiras, sendo o xamã conhecido como pajé na língua tupi.

O Xamanismo ou Pajelança Tupi é a comunicação com os encantados através de cânticos, danças e utilização de instumentos musicais (maracá, zunidores) para captura e afastamento de espíritos malignos tipo mamaés, anhangás, utilização do jejum, restrições dietéticas, reclusão do doente, além de uma série de práticas terapêuticas que incluem: o uso do tabaco (o pajé fuma grandes cachimbos), aplicação de calor e defumação, massagens, fricções, extração da doença por sucção/ vômito, escarificação no tórax e locais inflamados com bico, dentes de animais ou fragmentos de cristais – houve época que essa última técnica associou-se à medicina dos cirurgiões barbeiros e aplicadores da sanguessugas (Hirudus medicinalis ou bicha como era conhecida no Brasil antigo) e as terapias por aplicação de ventosas atualmente uma prática em extinção.

Entre os índios Guarani Kaiová a comunicação do xamã com as divindades e os ancestrais acontece através do canto e dança. Em algumas tribos da América do Sul além de rituais com música, e dança há utilização de plantas psicoativas.

No Brasil apesar da tradição multi-étnica dos ameríndios observa-se que muitas das práticas do xamanismo ou pajelança se "fundiram" com rituais católicos, espíritas e africanos (crenças de afro-descendentes) conhecidos em algumas regiões como pajelança cabocla, culto aos encantados, toré, catimbó, candomblé de caboclo, culto a Jurema.

Generalizações sobre as práticas etnomédicas ameríndias ou de qualquer outra região do planeta são perigosas porque existe certa especificidade em cada sistema de crenças mítico-religioso e/ou prática cultural destinada à recuperação da saúde.

Por outro lado a comparação nos permite ampliar o conhecimento sobre uso de plantas, uso de técnicas de êxtase ou mesmo sobre esse conjunto de práticas, ditas primitivas, que nos permitem conhecer e controlar estados de consciência, controlar emoções, modificar sentimentos e curar doenças, organizado sob a forma de um conhecimento empírico, aparentemente não lógico.

Segundo o antropológo Levi-Strauss o "pensamento selvagem" diferencia-se do conhecimento científico por ser analógico, basear-se na introspecção (intuição) em lugar da observação e lógica de contradições.

Nos sistemas etnomédicos dos amerídios encontramaos o uso de plantas psicoativas como a Jurema (Mimosa nigra; M. hostilis), a Ayahuasca ou Hoasca (Banisteria caapi & Psichotria viridis), o Paricá (Piptadenia peregrina, P. macrocarpa), o Tabaco (Nicotina tabacum). A utilização de produtos animais como as secreções do anuro Phyllomedusa bicolor além de técnicas de sangria, exposição ao fogo (calor), defumações, restrições de alimentação e de práticas sexuais.

Se incluirmos a América do Norte e Central, da definição de ameríndio, encontraremos mais plantas psicoativas como a Datura (D. stramonium) e cactos (Lophophora Williamsii); além de fungos ou cogumelos (Psilocibe e Stropharia) e técnicas semelhantes à sauna (câmaras de suar – suadouros). Alguns antropólogos chamam atenção para especificidade das medicinas das antigas civilizações Inca e Asteca especialmente a primeira que inclui práticas cirúrgicas como trepanações do crânio com finalidade neurocirúrgica não completamente esclarecida (descompressão de tumores, hematomas, hemorragias?).

A medicina inca sofisticada farmacopéia inclui enteógenos misturados com pelo menos uma dezena de plantas curativas ou plantas mestras (plantas professoras). As etnias Callawaya e Aymarás conservaram e desenvolveram grande parte de sua farmacopéia. Houve em algumas regiões associação com práticas européias de hidroterapia e medicina natural como no Chile, Manuel Lazaeta Acharan (1881-1959) – bastante conhecido no Brasil pela nova geração de médicos naturalistas.


6- EPÍLOGO

Além das tradições aqui selecionadas, há inúmeras outras em diversas partes do mundo, cada qual com seus padrões tradicionais de devoção.
É difícil escrever a história primitiva das religiões, pois não se sabe ao certo o que teria levado as pessoas a terem o pensamento religioso.

Contudo, podemos perceber que, a partir de um exame nas manifestações religiosas atuais, todos os povos possuem cinco crenças inatas:

1- existe um ser supremo;
2- este ser supremo tem de ser venerado;
3- o ser supremo exige uma vida virtuosa;
4- as pessoas devem conhecer seus erros e malefícios e se arrepender;
5- quem recusar-se a se arrepender será punido após a morte.

Há também sete dimensões passíveis de serem encontradas em todas as religiões:

1 prática e ritual;
2 experimental e emocional;
3 narrativa e mítica;
4 doutrinária e filosófica;
5 ética e legal;
6 social e institucional;
7 material (arte, arquitetura e locais sagrados).

De acordo com as cinco crenças inatas e com as sete dimensões religiosas, é plausível que todas as religiões do mundo tenham tido um ponto de partida a partir do momento que passamos a tentar decifrar os mistérios da natureza que nos cercavam.
Desse modo, o sagrado surge como uma força sobrenatural que habita um ser ou coisa, dando a este superioridade e poder ante aos demais.

As primeiras religiões são panteístas, isto é nela tudo são deuses e estes se encontram espalhados pela natureza. São assim denominadas imanentes.
Quanto às religiões teístas, estas são transcendentes, ou seja, os deuses estão separados do mundo natural. Vivem noutro mundo e agem sobre o nosso.

O xamanismo pode então ser denominado como uma crença imanente, uma vez que os deuses e os objetos sacros se encontram nesse mundo, na natureza e, ao mesmo tempo, transcendente, pois os rituais conferem ao xamã o poder de viajar pelo mundo dos espíritos.

Por ser considerada a forma de manifestação religiosa mais antiga dos seres humanos, não é de se estranhar que o xamanismo guarde esses dois elementos em suas características.

Não sabemos ao certo quando ou por que tenha surgido. Somente se sabe que pode ter sido o ponto de partida para todas as formas de união entre o homem e divino.


REFERÊNCIAS

BOWKER. John. O livro de Ouro das Religiões. Ediouro.

BOWKER. John. Para Entender as Religiões. Ed. Ática.

CHAUÍ Marilena. Convite à Filosofia. Ed. Ática.

CZAPLICKA. M. A. Xamanismo Origens e mistérios. Ed. Tahyu

http://www.netfenix.com.br/adonai/pagina.asp?p=65

http://www.xamanismo.com.br/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Xamanismo




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