domingo, 23 de dezembro de 2012

OS ARGUMENTOS DO DESESPERO DE UM CRIACIONISTA: AGORA CONTRA TEORIAS ACERCA DO UNIVERSO - parte 2




Neste ponto do trabalho, vale uma digressão acerca do princípio antropico.



 

O PRINCÍPIO ANTRÓPICO

Sob a definição do princípio antrópico, expressão cunhada pelo astrofísico Brandon Carter, da Universidade de Cambridge, em 1973, tudo o que há no universo é condizente com a presença do ser humano. Ou seja, o único universo plausível é aquele que possui seres humanos.




A ideia acerca do princípio antrópico se refere a que as constantes físicas básicas do universo são “finamente sintonizadas” para permitir que existamos e se não fossem tão precisamente sintonizadas, nós não estaríamos aqui para observá-las. 

Isso leva a uma versão mais cientificamente sofisticada do argumento do design, com Deus como um sintonizador encarregado:


premissa 1 - Os valores das constantes físicas, o equilíbrio entre matéria e antimatéria e várias outras leis da física são necessárias para os seres humanos existirem;

premissa 2 - Seres humanos existem;



conclusão 1 - A física deve ter sido finamente sintonizada para os valores constantes a fim de possibilitarem a nossa existência;

conclusão 2 - Portanto o sintonizador, Deus, existe.



O salto das premissas 1 e 2 para a conclusão 1 é o aspecto mais fraco do princípio antrópico, por ser uma tautologia.

Ou seja, as coisas são como são porque se fossem diferentes não seriam como são (Bob Park).




Em outras palavras, se as constantes ou leis do universo fossem diferentes, formas de vida diferentes poderiam se desenvolver, possivelmente até mesmo ao ponto onde elas deveriam estar discutindo a sintonia fina que permitiria  elas existirem.


Quanto à conclusão 2, é uma falácia non sequitur.  



Há algumas variações de definição do princípio:

  Princípio Antrópico Forte: O Universo deve ser de tal forma que possa conter observadores, em algum estágio de sua evolução. O universo deve apresentar as propriedades que permitem o desenvolvimento da vida. 

Ou seja, é um argumento circular, como a vida existe porque as constantes fundamentais e as leis de natureza permitiram o seu desenvolvimento, logo a vida existe porque as constantes fundamentais e as leis de natureza devem ser tais que a vida possa existir. 

Os valores das constantes físicas fundamentais incompatíveis com a vida e a vida inteligente são proibidas;



 Princípio Antrópico Fraco: O Universo se comportou de tal forma que pôde nos conter. Em outras palavras, as grandezas físicas e cosmológicas que observamos precisam assumir valores compatíveis com o surgimento de vida baseada em carbono possa evoluir e pela exigência de que o universo é velho o suficiente para esta já ter evoluído.




 Princípio Antrópico Final: O Universo tem como finalidade produzir seres vivos, ou seres humanos.

Esta versão diz que o processamento de informação inteligente tem que entrar em existência no universo, e, uma vez entrado em existência, nunca desaparecerá. 


Esta forma de princípio antrópico tem em Frank Tipler o seu principal proponente, conforme o livro "A Física da Imortalidade"



 Vale ver também seu livro "The Anthropic Cosmologicval Principle", um livro enorme e as infindáveis equações, impenetráveis para um leigo, que tentam demonstrar o "projeto inteligente" do universo.

 O que impressiona em ambos os livros é a argumentação do autor, uma vez que as equações nada tem a ver com o tema princípio antrópico.

Princípio Antrópico Participativo: A existência de observadores confere existência ao Universo. Ao que parece é um solipismo.




  

A DESCRIÇÃO DO PRINCÍPIO ANTRÓPICO:
 
O princípio antrópico prevê também que o nosso universo é apenas um dos vários que existiriam num “multiverso”, sendo sua outra faceta uma criação especial (ler  "O princípio antrópico e o debate entre ciência e religião").  


Victor Stenger (Is the Universe fine-tuned for us?) considera este raciocínio falacioso, uma vez que podemos ter diferentes vias para que um universo venha a existir e mesmo ter vida, conforme veremos adiante.

Assim, o princípio antrópico (extraído daqui) é a crença, por parte de alguns físicos, de que seja virtualmente impossível que numerosos fatores no início do universo, que teriam de ser coordenados de forma a produzir um universo capaz de sustentar formas avançadas de vida, pudessem ser obra do acaso.

Essa crença é tida por alguns como boa evidência de que este universo foi provavelmente criado por um ser muito poderoso e inteligente (provavelmente chamado Deus). 


 

 Se a massa do universo e as intensidades das quatro forças básicas (eletromagnetismo, gravidade e forças nucleares forte e fraca) fossem diferentes, ou se não tivessem passado por "ajuste fino" para trabalhar em conjunto da forma que o fazem, o universo, como o conhecemos, não existiria. Poderia ser de outra forma como veremos mais adiante.




Um delicado equilíbrio de constantes físicas é "necessário para que o carbono e outros elementos químicos após o lítio, na tabela periódica, sejam produzidos nas estrelas". 

 Resumindo, é preciso que muitas coisas aconteçam em conjunto para existirmos (as chamadas "coincidências antrópicas"). Aparentemente, alguns físicos acham estranho existirmos justamente no momento da história do universo em que poderíamos existir.


O físico Victor Stenger resume o princípio antrópico desta forma:



... a vida terrestre é tão sensível aos valores das constantes fundamentais da física e às propriedades do ambiente que mesmo a menor mudança em qualquer delas significaria que a vida, como a vemos ao nosso redor, não existiria. Diz-se que isso revelaria um universo no qual as constantes físicas da natureza são perfeitamente ajustadas e delicadamente balanceadas para a produção da vida. Segundo o argumento, são muito pequenas as chances de que qualquer conjunto inicialmente aleatório de constantes correspondesse ao conjunto de valores que elas têm em nosso universo. Logo, é excessivamente improvável que esse ato de equilíbrio preciso seja resultado de um acaso irracional. Em vez disso, um Criador inteligente, e certamente pessoal, provavelmente fez as coisas, de propósito, do jeito que são. (Para uma boa visão geral dos detalhes do suposto ajuste fino, veja o artigo de Stenger "As Coincidências Antópicas: Uma Explicação Natural").





Outra forma de descrever o princípio antrópico é popular entre os que esperam conciliação entre ciência e fé:

Os físicos tropeçaram em sinais de que o cosmo foi feito sob medida para a vida e a consciência. Descobriu-se que, se as constantes da natureza - números imutáveis, como a força da gravidade, a carga de um elétron e a massa de um próton - fossem minimamente diferentes, átomos não se manteriam juntos, estrelas não brilhariam e a vida jamais teria surgido. (Sharon Begley, Newsweek, July 1998.)


De qualquer forma, a improbabilidade de algo que já aconteceu é um tanto enganosa e, enfim, irrelevante. Como diz John Allen Paulos:

 

... a raridade, por si só, não é necessariamente evidência de nada. Quando alguém recebe uma mão de bridge de 30 cartas, a probabilidade de que tenha recebido aquela mão específica é de menos que uma em 600 bilhões. Mesmo assim, seria absurdo que alguém recebesse aquelas cartas, examinasse com cuidado, calculasse que a probabilidade de recebê-las seria menor que uma em 600 bilhões e então concluísse que não recebeu exatamente aquela mão, já que é tão improvável. (Innumeracy: Mathematical Illiteracy and its Consequences)


Seria ainda mais absurdo declarar que um milagre deve ter acontecido e que uma força inteligente de dimensões sobrenaturais deve ter atuado por detrás de toda mão de bridge.


Como não temos nada com o que comparar o nosso universo, no entanto, parece presunçoso afirmar que sabemos qual a improbabilidade estatística da ocorrência dos fatores que eram necessários para que ele existisse.

E se houver muitos universos? O nosso poderia ser bastante comum e não exigir nenhum tipo de Ajustador Fino.

 Além disso, não parece implicar a existência de um projetista argumentar que existimos no único momento da história do universo em que podemos percebê-lo, e que se determinado número de fatores tivesse sido diferente não estaríamos aqui agora. 

Não implica a existência de um projetista o fato de que, bilhões de anos atrás, não poderíamos ter existido e tanto o universo como nós seriam um delírio então. 

Nem implica nada o fato de que, em poucos bilhões de anos, este planeta começará a morrer e, poucos bilhões de anos após isso, não haverá nenhuma possibilidade de vida aqui.  


Sobre o tema em questão, vale a leitura do livro "The Cosmic Landscape- String Theory and the Illusion of Intelligent Design", de Leonard Süsskind, o pai da teoria des cordas.






 A teoria de Süsskind afirma não ser necessário qualquer desenho inteligente associado ao princípio antrópico.



 Neste livro, Süsskind explica que as leis da física são precariamente equilibradas, e se o valor de uma constante fosse ligeiramente diferente a vida, como a conhecemos não existiria. 

Para explicar a improbabilidade ridícula de tudo isso ter acontessido, alguns físicos voltaram-se para o "princípio antrópico": o universo parece perfeitamente adaptado para nós, porque se não fosse, não estaríamos aqui para observar. 

A lógica subjacente a este argumento envolve o quadro de leis potenciais da física, todo um conjunto de dimensões extras realcionado à física de partículas que, ao que parece, não são tão imutáveis assim.

 Neil deGrasse Tyson, diretor do Hayden Planetarium do American Museum of Natural History em New York, quando este diz que livros como os de Tipler são fruto de homens brilhantes que aproveitam o filão "Deus" para encher as respectivas contas bancárias.




Em resumo, teses acerca do ordenamento do universo não passam de metafísica, não são falseáveis e, tampouco, podem ser consideradas como científicas, uma vez que apresentam um ponto estanque além do qual não se pode ir.  





2 comentários:

Ramon disse...

Eu sinceramente queria saber o que sintonizou o universo onde Deus foi criado ou evoluiu, e do sintonizador do sintonizador de Deus. Há vida pode ser considerada algo raro ou algo abundante no Universo, ao que tudo indica a vida simples como bactérias seja abundante. Mas a de se pensar que para que ocorra as reações químicas certas e na ordem correta para surgir a molécula de dna é de uma probabilidade de 1/13000000000, ou seja, a vida a que tudo indica é uma anômala ao universo mas nem por isso deixou de existir

Anônimo disse...

Parabéns pelo post! vou dar uma olhada no resto do blog, já tá nos favoritos aqui.