quarta-feira, 4 de julho de 2007

SÉRIE RELIGIÕES






















PREFÁCIO

Com esta postagem pretendo abrir uma série de outras tratando do assunto religiões.

Tentarei abordar de forma historico-conceitual, porém nao respeitarei a ordem temporal das crenças.

O tema de abertura é o paganismo, uma vez que dentro dela está uma das manifestações mais antigas da conexão do homem com o divino.

O material na Internet é abundante, e terei de fazer coletâneas daquilo que é relevante de modo a esclarecer cada um dos temas abordados.

Devo admitir que a pessoa que me incentivou a realizar tal empreitada foi o PR Douglas Reis com o Artigo que trata sobre o Jesus histórico, o qual faz parte desta abordagem.

Este trabalho não tem a pretensão de ser um tratado, mas de esclarecer as diversas nuances das principais crenças humanas.

Qualquer fonte que possa enriquecer essa empretada será bem vinda.

Boa leitura a todos.

O PAGANISMO

1- INTRODUÇÃO

A palavra pagão tem origem no latim "paganus": Literalmente, "homem do campo", "camponês" ou "aldeão".

O conceito atual, sinônimo de politeísta, de "idólatra", de "não crente" em Cristo, procede da época imperial Romana, na qual, o cristianismo se converteu em religião oficial do Império.


2- O CONCEITO:

Paganismo é, em verdade, um termo designado, formalmente, à caracterização de alguma religião embasada estirpicamente, a representar a ausência de um profeta.

Apesar da difusão errônea (de que "paganismo" denotaria cultura e ramificações étnicas certeiras), a etmologia expõe o termo latino paganus, como sendo diretamente relacionado à terra e agricultura. Sendo, portanto, Paganismo termo apenas classificativo, quanto a ausência de um profeta, mostram-se pagãs todas religiões de tal característica, podendo ser, entre elas, bastante distintas e contrárias (em quaisquer aspectos). A união pagã, apenas ocorre por partilharem a ausência de um profeta.


3- A CULTURA:

Paganismo significa uma série de tradições marcadas pela devoção à natureza e a crença em vários deuses. Teve suas origens na pré-história onde vários povos praticavam rituais à natureza, pois acreditavam que a Terra era sagrada e seus elementos eram associados à divindades.

Realizavam sacrifícios, oferendas e festivais para homenagear os deuses e também para receber o novo ciclo da natureza.
Majoritariamente (principalmente as ramificações germânicas e célticas), os troncos religiosos pagãos (em maioria europeus) mostram-se lineares quanto a algumas características:

1. Por sua raíz paleolítica, dos tempos de grupos nômades de caçadores-coletores, a principal característica é, sem dúvida, uma forte ligação à terra, à natureza, tida como sagrada e viva.
2. Por sua origem matrifocal, há um sentimento bem claro de corresponsabilidade entre todos os membros da comunidade, ligados por laços de parentesco a uma Ancestral comum - a Grande Mãe.
3. Esse sentimento de ancestralidade é partilhado também com a Natureza e particularmente com os seres-vivos, levando a um fundamental respeito a todas as formas de vida e existência.
4. Por isso, a cultura pagã tem uma relação mágica com a natureza, o que inclui a sexualidade.
5. Noção cíclica do tempo, a partir da ciclicidade dos fenômentos naturais (estações, lunação, movimentos do sol, etc), em contraste à noção linear das culturas de matriz abrâmica...
6. ... e o consequente sentimento de profunda responsabilidade e parceria com a Natureza, tornando os humanos corresponsáveis pela continuidade do círculo.
7. O que, por outro lado, também leva a um profundo respeito pelos antepassados, que sacrificaram sua vida para que a comunidade continue a existir; o que inclui um certo tradicionalismo na produção econômica e nos costumes sociais.
8. Organização social baseada na partilha e na fraternidade.
9. Organização politica matrifocal, onde a rainha e/ou a sacerdotisa é uma função permanente e hereditária, que confere, por associação, legitimidade ao rei.
10. Desenvolvimento de uma medicina natural, baseada nas qualidades curativas das ervas, e xamânica, baseada no poder fértil da Natureza e na relação mágica com a realidade.

Havendo uma enorme diversidade cultural entre as milhares de religiões pagãs, tais características ilustram, apenas, algumas poucas correntes semelhantes. Podendo, de fato, não representar respeitosamente as demasiadas características pagãs de todos continentes e sim de algumas específicas áreas históricas e geográficas.


4- A RELIGIOSIDADE

Dos pontos comuns a todas as sociedades da Cultura Pagã, surgem as características das religiões pagãs, ou seja, dos esquemas que dão forma e concretude à espiritualidade pagã. Talvez possamos listar, com pouca margem de erros, as seguintes:

1. Talvez a principal caractetística da religiosidade pagã seja a radical imanência divina, ou seja, ela se encontra na própria Natureza (o que inclui os humanos), manifestando-se através de seus fenômenos.
2. uma religiosidade baseada no feminino, representado pela Grande-Mãe.
3. O masculino surge a partir dessa referência feminina básica, como filho e consorte e, portanto, só conhecido a partir da Deusa. Talvez por isso a maioria dos povos pagãos não tenham desenvolvido a noção de um "Deus-Pai", embora vejam o Deus como provedor e como educador.
4. A ausência de dualismo, ou seja, não têm noções de opostos e/ou complementares (bem x mal, céu x inferno, matéria x espírito, etc, etc).
5. A ausência desse dualismo também leva à ausência da noção de pecado, inferno e mau absoluto. Como a relação com os deuses é sempre pessoal e direta, a idéia de uma afronta à divindade é tratada também pessoalmente, ou seja, entre o cidadão e a Divindade ofendida. Assim, sem noção de pecado, também não há noção de inferno.
6. A sacralidade da Terra também levou à ausência de templos, o que, no entanto, não impede a noção de Sítios Sagrados, em geral bosques, poços ou montanhas. Templos pagãos são um desenvolvimento muito posterior.
7. A imanência dos deuses e a ideologia da ancestralidade divina, confere à divindade características antropomórficas e as relações tendem a ser de igual para igual, o que pode incluir discussões, brigas, xingamentos, ameaças, etc.
8. O calendário religioso se confunde com o calendário sazonal e agrícola, o que lhe confere um caráter de fertilidade. Portanto, as festividades acontecem nos momentos de mudança e auge de ciclos naturais.
9. Essas relações pessoais humanos-deuses, leva à ausência de dogmatismos e/ou estruturas religiosas padronizadas, havendo, pois, uma grande liberdade de culto: cada cidadão tem liberdade de cultuar dos Deuses em sua casa, da forma que desejarem. Basicamente, é uma religiosidade doméstica ou de pequenos grupos com laços de sangue ou de compromisso. No entanto, os Grandes Festivais são sempre rituais comunitários, pois comprometem todos os membros da comunidade.
10. A relação mágica com a Natureza obviamente se traduz numa religiosidade mágica.
11. A sacralidade da Natureza torna todas as religiões pagãs em religiões de comunhão, ou seja, que não visam dominar a Natureza, mas harmonizar-se com ela. Por isso, também são religiões intuitivas e emocionais. Em geral, os pagãos não "pensam" sobre sua espiritualidade; eles simplesmente a vivenciam.
12. O respeito aos ancestrais e o tradicionalismo que isso implica, faz das religiões pagãs uma experiência de continuidade na egrégora ancestral, ou seja, a repetição dos mesmos ritos, na mesma época, cria a união mística com todos aqueles que já celebraram antes. Nesse momento, o tempo é rompido e se estabelece uma relação mágica com ele também: a repetição do rito torna presente o momento primevo de sua realização e todos aqueles que, ao longo dos séculos, dele tenham participado.
13. A perspectiva cíclica do tempo dá a certeza do eterno retorno. Embora alguns povos tenham desenvolvido a idéia de um "Outro Mundo", a vida pós-morte nunca foi um ideal pagão, pois isso significaria ficar fora do ciclo e, portanto, da comunidade. Assim, o "Outro Mundo" (para aqueles que desenvolveram essa idéia) será apenas uma passagem entre uma vida e o renascimento. O encontro com a Deidade se dá sempre na comunhão com a Natureza, e não no Outro Mundo.

Obviamente, diferentes povos da Cultura Pagã desenvolveram suas liturgias e costumes religiosos típicos, locais e ancestrais, o que pode aparecer como "diferenças" entre religiões. No entanto, essas características básicas permanecem, pois são típicas do Paganismo.


5- TIPOS DE PAGANISMO

Paleo-Paganismo: É o pai do paganismo, uma cultura pagã que no havia sido destruída pela "Civilização e/ou por outra cultura -- Os aborígenes australianos modernos (que provavelmente se converteram em meio pagãos. A antiga religião céltica (Druidismo), as religiões de cultura prepatriarcal da antiga Europa, a antiga religião Norse ou nórdica, religiões nativo-americanas pre-colombinas, etc.

Cívico-paganismo: As religiões das comunidades que envolveram as culturas paleo-pagãs Religiões Clásica Greco-Romana, Religião Egipcia, paganismo do Oriente Medio, Religião Aateca,etc.

Meso-Paganismo: Um grupo, pode ou não constituir uma cultura separada, que foi influenciada por uma cultura conquistadora, mas que pode manter uma prática religiosa independente-- muitas nações Nativo Americanas,etc

Sincreto-paganismo: Similar au mesopaganismo, mas estando submergido a si mesmo na cultura dominante, e adotando as práticas externas e símbolos de outra religião--as varias tradicões Afro-diasporicas (Vudu, Santería,etc.)Cristianismo Culdee,etc.

Neopaganismo: tentativa das pessoas modernas para reconectar com a natureza usando imágens e formas de outro tipo de pagãos, mas ajustando-o ás necessidades das pessoas modernas.


6-CURIOSIDADES

O termo pagão surgiu nos últimos tempos do Império Romano, mas o conceito em que se baseia provém do judaísmo. Os hebreus estabeleciam uma nítida divisão entre o povo eleito por Deus, e os gentios, que posteriormente seriam denominados pagãos. A distinção não era étnica ou política, mas fundamentalmente religiosa; os gentios eram "os povos que não conhecem Iavé". O povo de Israel era o depositário das promessas de Deus, mas as nações poderiam também alcançar essas promessas com o ingresso na comunidade religiosa de Israel. O judaísmo alexandrino foi particularmente aberto nesse sentido, como mostra a tradução grega da Bíblia.

Os primeiros cristãos herdaram dos judeus a idéia de que a salvação estava reservada aos que pertenciam ao povo de Deus mas, na medida em que se estenderam pela Anatólia, Grécia e Roma, acentuaram o sentido religioso dessa pertinência. "Os que são pela fé, são filhos de Abraão" escreveu aos gálatas Paulo, que se proclamava apóstolo dos gentios, enviado para evangelizar as nações -- porque os caminhos de Deus levariam à salvação final de todas elas, reunidas com Israel no povo de Deus.

A Partir do século IV, o cristianismo se tornou religião oficial em Roma. Apesar disto, muitos continuaram fiéis ao seus Deuses e Deusas. Os habitantes do campo eram chamados “paganus” e por não terem aderido ao cristianismo passaram a serem perseguidos a forçados a conversão. A partir desta época todo aquele que não fosse cristão era considerado “pagão”. A transição da Antiga Religião Pagã para a Religião Cristã, aconteceu durante um longo período. Nenhum pagão tornou-se cristão do dia para a noite. Os aristocratas foram menos resistentes, porque percebiam o poder da nova crença, mas os habitantes dos campos (paganus), recusaram-se a aceitar a nova fé. Os sacerdotes do cristianismo passaram a adaptar as festas pagãs. Alguns templos pagãos, pouco a pouco, foram usados pela Igreja. A Igreja Cristã foi se tornando uma poderosa instituição. O que ela não podia destruir da Antiga Religião ela adaptava, trasformando crenças pagãs em cristãs. Foi assim, por exemplo, o que a Igreja fez com o Natal. Nesta época os Romanos festejavam Saturno. Com o tempo, os camponeses começaram a aceitar a doutrina que falava de Jesus, um homem que havia se pendurado numa cruz em favor de seus fiéis. Ele lembrava o Deus Odin que havia se pendurado uma árvore para adquirir a sabedoria das Runas. Com o tempo passaram a associar Maria, mãe de Jesus à Mãe Terra. Durante um período, houve uma fé dupla: acreditavam no novo Deus cristão, mas não abandonavam suas crenças. Sabe-se que muitas orações cristãs foram criadas, baseadas em encantamentos pagãos. Algumas invocavam Jesus e diversos santos e deuses Celtas, à um só tempo. A influência do cristianismo faz-se sentir nas inscrições em que se nota uma clara mistura das duas crenças quando lemos em uma mesma pedra a invocação de proteção ao Deus Thor e, ao mesmo tempo, ao Deus cristão. Não vamos pensar que tal dominação ocorreu de forma pacífica ou rápida. Na verdade, a Igreja Cristã nunca conseguiu extinguir, de fato, as crenças classificadas por ela como pagãs. No final do século XIV, começou a temporada da perseguição aos pagãos, às Bruxas e a tudo que era contrário às crenças cristãs. Durante quase 400 anos, muitas pessoas morreram acusadas de prática de bruxaria.


7 NEOPAGANISMO

O Neopaganismo é um sistema de credos bem diversificado, e tende ao sincretismo, tomando de empréstimo mitos e divindades das mais variadas fontes, muitas vezes sem relação histórica entre si. A ênfase do Neopaganismo na liberdade individual de culto, no entanto, tem como conseqüência a criação do que pode ser descrito como uma religião de caráter altamente pessoal. Isso leva à impressão de que existem tantos credos pagãos quanto seguidores dos mesmos.
Apesar de muitos associarem o Neopaganismo com os cultos Nórdicos e Celtas,este possui uma tremenda variedade de religiões variadas...dentre elas existem até religiões que se Entrelaçam,tendo também vários traços Cristãos,e só não sendo aderidos à este por conter em seu conteúdo termos mais "complexos" e diferenciados das demais. Os Panteões tradicionais no Paganismo são os Europeus , por ter sido o berço das suas crenças.

Obs.: Vale lembrar que na história antiga temos fortes registros que o fundamento paganista e contos tem forte influência no cristianismo , sendo que na conquista católica muito destas culturas foram adaptadas no passado e ainda nos dias atuais , com o objetivo de facilitar a implantação ao culto cristão (que sofre influência de uma cultura onde o homem é o centro religioso, como no oriente médio e demais regiões em que a figura feminina não tinha participação).
Sendo assim o Neo-Paganismo busca a união destes valores religiosos Europeus anterior ao período cristão , com a proposta de resgatar valores originais antes da chegada de outras culturas.


FONTES CONSULTADAS:

http://www.fortunecity.com/roswell/price/138/hispagan.htm
http://www.cacp.org.br/paganismo.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Paganismo
http://www.alunosonline.com.br/religiao/paganismo/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Neopaganismo

3 comentários:

Author disse...


Oi Elyson,

Por favor, tire-me essa dúvida: Isto aqui é "coisa de judeu"? Faz algum sentido, ou trata-se só de mais uma maluquice religiosa? O que você pensa a respeito?

http://www.hebroots.org/hebrootsarchive/9808/9808_m.html

Um forte abraço.

Elyson Scafati disse...

para mim é mais uma maluquice religiosa.

Author disse...


Olá Elyson,

Pois é, cheguei à conclusão de que a maluquice é "cristã" mesmo.

Investiguei o site de onde originou-se a informação, e veja só o seu título: "Hebraic Roots of Christianity Global Network".

Ou seja: Not "Jewish stuff" at all! ;-)


Parece-me óbvio que o contexto no livro de Ezequiel não se refere à formação do Estado de Israel em 1948. Possivelmente, uma interpretação mais lógica e razoável desse texto seria a suposição de que os 390 dias se estenderiam desde a divisão do reino de Israel, em 931 a.C., até aproximadamente 539 a.C., quando caiu a Babilônia - ou seja, no caso, tratar-se-ia meramente da descrição de um evento já cumprido no passado, e não de uma projeção do futuro.

Mas o que realmente me deixa assustado e intrigado é esta sorte de "método" com que esses caras conseguem manipular textos, datas e fatos históricos pra se ajustarem direitinho à interpretação que eles querem dar. Parece-me que essa é mais uma grande especialidade das religiões. E as pessoas, iludidas e impressionadas, acabam acreditando...

A propósito, você poderia me indicar algum bom material para aprofundamento no estudo do Antigo Testamento e da História de Israel? O material de pesquisa de que disponho aqui comigo é muito conservador (desses que falam até em arca de Noé etc.), e gostaria de fazê-lo sob uma ótica um pouco mais crítica e acadêmica.

Obrigado pela atenção e pela ajuda.

Um abraço!