domingo, 19 de outubro de 2008

Nova pérola cristã

[CrerParaVer-g.jpg]


O mercado de livros cristãos em prol da defesa de suas crenças é algo que me parece alarmante. Todavia sua temática e a famosa BO (boa para otários), pois a argumentação possui falhas lógicas e impropriedades de raciocínio, além de demonstrar falta de conhecimento no que concerna à metodologia utilizada pela ciência.

Eis mais uma das pérolas do cristianismo:

Sabe aquele ditado popular de que os melhores perfumes estão nos menores frascos? Às vezes, isso também é verdade em relação aos livros. Em apenas 63 páginas, Ken Taylor dá seu recado no Crer Para Ver (Editora Textus), livreto que aborda, entre outras coisas, a possibilidade da realidade dos milagres, a importância dos pressupostos, a existência de Deus, a experiência cristã, as evidências da ressurreição de Jesus e a revelação na Bíblia. Taylor é o tradutor da paráfrase A Bíblia Viva e fala com propriedade e concisão dos temas mencionados.



Algumas citações de seu opúsculo:


"Afirmar que já se provou que todas as coisas seguem as leis naturais significa dizer que tudo já foi observado. Isso não é verdade. No caso dos milagres nas Escrituras, as observações das testemunhas oculares, tanto crédulas quanto céticas, encontram-se registradas, e é impossível conseguir mais detalhes dos eventos."

Ninguém, desde que seja sério, no campo das ciências jamais fez tal afirmativa. Quanto a testemunhas oculares, o monstro do lago Ness, o chupa cabras, vampiros, yetis, pé grande e lobisomens também as possuem.
Daí, afirmar que tais relatos são verdadeiros, há um longo percurso.


"A questão mais importante é saber se o Deus pessoal dos cristãos existe. Se Ele existe, os milagres são não apenas concebíveis, mas devem ser esperados."

Partindo-se do pressuponsto que Deus exista, na versão judaico-cristã-islâmica, não sei até que ponto milagres seriam obras exclusivamente do Deus Cristão, ou de outros deuses ou mesmo de entidades malígnas.

Caso tais supostos milagres ocorram em outras formas de crenças, (deus Ganesh que bebe leite, visões de Fátima, curas milagrosas por meio de óleo bento, curandeirismo, etc) cristãos, principalmente evangélicos, são os primeiros a afirmar que tais fenômenos não passam de obras do mal.

Como separar um suposto milagre como obra de Deus ou de Lúcifer? Se este ser é tão ardiloso, como não saber que foi ele quem atendeu ao chamamento do indivíduo? Como não saber se é ele quem domina as crenças que cegam a humanidade? Como não saber se é ele o patrocinador de toda essa intensa religiosidade que ocorre principalmente no mundo cristão? Como saber se a inspiração bíblica ou de outros livros sagrados não foi dada por ele ou por seus assistentes a fim de ludibriar os pobres humanos?

Nossa subjetividade seria suficiente para elucidar tal problema? Creio que não e, aqui paira uma sombra de dúvidas.

"Quando um cientista racionalista afirma que não é possível saber sobre Deus, ele não declara um fato, e, sim, a conclusão lógica de seu pressuposto: já que não é possível examinar Deus com os sentidos, Ele não pode ser conhecido. Mas talvez existam outras formas de conhecer as coisas. ... Deus enviou seu Espírito para informar-nos, e Seu Espírito investiga e nos revela todos os segredos mais profundos de Deus."

Não é possível descartar a idéia de qualquer deus ou ente sobrenatural. Todavia, volto a repetir, a probabilidade de sua existência é baixa, uma vez que se estudarmos os fenômenos a fundo, certamente descobriremos causas naturais ou fraudes, exatamente como tem ocorrido ao longo dos anos.

Um exemplo, é o milagre de Lanciano. Como há estudiosos que afirmam que o conteúdo do invólucro é carne humana com sangue tipo AB se este se encontra lacrado?

É o gato da caixa de Schröedinger.

"É impossível provar que Deus não existe como uma pessoa. O motivo disso é a lei da lógica: é impossível provar uma negativa."

Qualquer negativa é impossível de ser provada, assim como qualquer afirmativa o é, desde que o tal fenômeno afirmado jamais tenha ocorrido ou sido observado.

Peguemos um exemplo semelhante ao de Dawkins dado em Deus um Delírio:

Afirmo que existe uma xícara em órbita de Marte. Como posso provar isso? Ou vou até Marte e encontro a tal xícara ou descubro um meio indireto de detectá-la (um super telescópio).

Um exemplo prático é dizer que há vida em Europa. Há quem acredite e há quem não acredite (este acreditar em termos científicos) em tal teoria, uma vez que cada grupo expões suas razões apoiando um lado e outro dela.

"Negar, com base no método científico, a existência de uma esfera na qual, pela definição, ele não se aplica é adotar uma postura totalmente ilógica. Um pensador que passa a agir assim deixou de ser objetivo. O preconceito se apoderou dele."

Exatamente, mas afirmá-la como uma verdade objetiva (alethea), além de ilógico, é insensato. O melhor a fazer é deixar o caso aberto, exatamente como é a postura agnóstica. Há que se colherem evidências antes de se tecer qualquer afirmação a respeito da plausibilidade dos fenômenos ditos como milagres serem considerados como paranormais.

E, para mim, a melhor de todas: "Parece ser muito mais fácil se acreditar em um Deus que criou homem e mulher do que em uma mutação simultânea que produziu um macho e uma fêmea humanos em uma mesma geração, em um mesmo local."

Para mim, o raciocínio tecido por Ken Taylor se denomina limitação de pensamento enclausurado no dogmatismo religioso que de científico não possui nada.

É mais fácil chutar a bola para os deuses ou para os entes sobrenaturais que tentar entender o que ocorreu, a fim de compreender as causas de determinado fato acontecer ou ter ocorrido na natureza.

Além de dar trabalho (muito estudo e observações), pode-se não chegar a resposta alguma por meio da pesquisa científica, muitas vezes nos obrigando a agurdar novas tecnologias.


Para elucidar: o sexo não apareceu pela primeira vez em humanos como parece no sentido da frase, mas quando passou a haver trocas de genes entre bactérias primitivas.

Em breve conclusão, Sören Kierkegaard tinha razão: a verdade é aquilo em que acreditamos como verdade, ou seja, para nós a verdade é a verdade objetiva, aquela que foge aos parâmetros científicos.

Para Kierkegaard está associada à ideia de que a religião é, no seu fundamental, não uma persuasão da verdade de uma doutrina, mas sim a dedicação a uma posição que é inerentemente absurda, ou que dá "ofensa", o termo usado por Kierkegaard.

Nós obtemos a nossa identidade ao acreditar em algo que ofenda profundamente a nossa mente, o que não é uma tarefa fácil. Para existir, teríamos de acreditar e acreditar em algo que seja ominosamente difícil de acreditar.

Esta é a essência do processo existencialista em Kierkegaard, que associa a fé com a identidade.


Dessa forma, a subjetividade está na nossa fé (o mundo do dever ser e da emunah) e não na metodologia científica que busca a objetividade do mundo do ser (a alethea).

Assim, acho que a metáfora do perfume abordada no início do texto, não é muito apropriada, pois este perfume (o perfume do dogmatismo) pode cheirar um pouco mal se aplicado da forma errada.








Nenhum comentário: