quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O Mistério do Sexo Parte 19 (Ufa!! a última!!!)

11 - CONCLUSÃO:

A existência do sexo tem desafiado a mente de grandes evolucionistas desde o século passado. Muitas hipóteses foram propostas tentando identificar o principal benefício da reprodução sexuada.

Muitas obtiveram certa popularidade por algum tempo, mas depois foram deixadas de lado. Outras foram revistas e voltaram ao cenário científico após terem sido quase esquecidas.

A teoria da Rainha Vermelha, desde sua apresentação, foi inúmeras vezes desafiada, o que é demonstrado pelo grande número de trabalhos já publicados a seu respeito. No entanto, ao que tudo indica, a Rainha Vermelha, assim como Alice, continuam correndo à frente de seus adversários.

Os parasitas evoluem constantemente para maximizar sua infecciosidade e otimizar sua virulência, enquanto os hospedeiros tentam, por sua vez, evoluir rapidamente minimizar essas propriedades dos parasitas. Se um deles conseguir uma vantagem evolucionária significativa, isso poderá levar à extinção do outro.

A bem da verdade, se parasitas tivessem desenvolvido consciência, a última coisa que iriam desejar seria a morte de seu hospedeiro. Sem hospedeiro, sem lar e sem alimento.

Assim, o sistema imunológico dos hospedeiros tentará combater os parasitas que aos poucos vão se modificando para driblar o contra-ataque do organismo e, assim, sucessivamente.

Dessa forma, parasitas bem sucedidos e hospedeiros bem sucedidos estão sempre em um “equilíbrio” competitivo, no qual não há perdedores nem vencedores definitivos, apenas a co-evolução constante que mantém o status quo. Esse equilíbrio foi denominado de a dinâmica da Rainha Vermelha.

À primeira vista, a co-evolução de parasitas e hospedeiros pode não parecer bem balanceada, pois sabemos que os parasitas evoluem mais rapidamente do que os hospedeiros, por três motivos: maior tamanho populacional, tempos de geração mais curtos e elevadas taxas de mutação. Por essa lógica, os parasitas deveriam ganhar sempre.

Entretanto, sabemos que isso não é o que ocorre em populações naturais. A solução para esse aparente paradoxo foi fornecida pela primeira vez pelo grande evolucionista inglês William D. Hamilton (1936-2000), que mostrou que o equilíbrio podia ser mantido se os hospedeiros adotassem a reprodução sexuada.

Em reproduções assexuadas (onde não há troca de gametas), indivíduos se reproduzem praticamente produzindo clones de si mesmos, como é o caso de bactérias. Obviamente, nada na natureza é perfeito, apesar de parecer tudo lindinho a um primeiro momento. Reproduções assexuadas proporcionam pouca variação genética.

Em contrapartida, quando você tem uma reprodução sexuada (com troca de gametas), genes do pai se combinam com genes da mãe. Nem sempre dá pra se prever como será essa combinação e o que vai resultar dela.

A taxa de ariação genética é muito maior e, portanto, maior probabilidade de termos proles com variabilidade genética maior. Se somarmos a isso o fator das mutações, elevamos essa variabilidade, tornando cada hospedeiro um ambiente singular para o parasita e dificultando a sua adaptação.

Assim, mesmo que o pai não tenha resistência a um determinado agente infeccioso, características maternas poderão compensar isso, dando aos filhos maiores chances de combater as infecções.

Claro que essa combinação também poderá acarretar numa doença genética; na natureza nada é perfeito.

Ainda assim, geralmente esse mecanismo é tão eficiente que permite que o hospedeiro tenha resistência natural à infecção por parasitas que ele sequer encontrou. A partir desse raciocínio, Hamilton propôs que, evolucionariamente, o sexo emergiu como uma estratégia para lidar com parasitas e que representa uma real vantagem para as espécies.

O sexo propiciou uma melhor adaptação e condição de sobrevivência, indivíduos que se reproduziam sexuadamente tiveram melhores capacidades de continuarem vivos e gerarem mais descendentes.

Como vimos, seres humanos e seus parasitas, muito especialmente o Plasmodium, estão há milênios aprisionados no processo coevolucionário antagonístico constante da Rainha Vermelha.

Mas a nossa espécie é a única que tem consciência da própria evolução. E ela desenvolveu uma nova maneira mais rápida e eficiente de evoluir, por meio da cultura.

A evolução cultural é muito mais rápida e eficiente que a biológica, pois não depende de transmissão genética vertical. Em vez disso, ela recorre ao uso da linguagem e do aprendizado para transmissão vertical bidirecional (de pais para filhos e vice-versa) e também transmissão horizontal (entre indivíduos não-aparentados).

Nesse sentido, a evolução cultural é altamente “contagiosa” e se tornou muito mais importante para a espécie humana que a evolução biológica. A evolução cultural permitiu o desenvolvimento da ciência e da medicina e, mais recentemente, levou ao estudo detalhado e elucidação dos genomas do ser humano e de seus principais parasitas.

Pode parecer otimismo excessivo, mas é possível que o estudo detalhado da constituição genômica de seus inimigos parasitas finalmente permita ao Homo Sapiens adquirir a vantagem evolucionária que lhe permita escapar do jugo da Rainha Vermelha.

Também vale citar que os avanços tecnológicos nos permitirão ocupar os mais diversos ambientes, seja aqui mesmo na Terra, seja em outros mundos, nos fazendo também escapar das artimanhas do bobo da corte.


Desse modo, tratar a origem do sexo como algo que somente uma entidade sobrenatural ou infinitamente inteligente pudesse ter idealizado é uma grande tolice que não explica nada.

A função deste argumento da ignorância é “chutar” o problema adiante sem resolvê-lo além de gerar mais dúvidas que somente seriam respondidas por questões teológicas, as quais não fazem parte do escopo científico.

Argumentos retóricos como faz o criacionismo e a sua “carinha” nova, o DI, não são nada quando se tratam de ciência. Estes argumentos não podem estar baseados em meras convicções pessoais, mas em observações e confirmações científicas, conforme tentamos fazer ao longo deste trabalho.

Podemos especular, mas de forma alguma estas especulações devem ser tomadas como verdades absolutas acima de tudo. A verdade, que jamais pode ser entendida como absoluta, o que a tornaria imune a qualquer contestação, somente ganha respaldo por meio das devidas confirmações de nossas hipóteses.

A partir das confirmações ou não confirmações de nossas hipóteses é que construímos as teorias, as quais a todo tempo são submetidas a testes que não importa se as sustentarão ou as rechaçarão.

O que importa é que nos aproximemos da verdade objetiva a fim de podermos entender como a natureza funciona, assim nos aproximando de verdades universais sob determinadas condições. E.G. água ferve a 100o C a 1 atm, ao nível do mar seja no Japão, Austrália, França, Brasil, Sibéria ou Madagascar.

Os desígnios dos deuses, jamais devem ser considerados como respostas plausíveis aos questionamentos da natureza e da vida, pois estão presentes no subjetivismo de cada cultura e de cada indivíduo, não se tratando, de forma alguma, de verdades universais, mas de verdades absolutas a cada um dos círculos culturais onde se originaram. Tais concepções de deuses e seus desígnios seriam muito diferentes, no Japão, Austrália, França, Brasil, Sibéria ou Madagascar.

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