terça-feira, 8 de setembro de 2009

O Mistério do Sexo Parte 15

9.6 - Willian Hamilton (1936 - 2000); O Darwin do século XX:

Além de suas contribuições seminais para o entendimento da evolução do sexo e da seleção sexual, Hamilton desenvolveu uma brilhante e rigorosa teoria matemática das bases genéticas e evolucionárias do altruísmo por meio da seleção de parentes (kin selection) e aptidão inclusiva (inclusive fitness), conceitos que infelizmente têm sido usados abusivamente pela sociobiologia e pela psicologia evolucionária.

Seu brilho foi tal que o britânico Richard Dawkins, outro grande evolucionista, escreveu que “W.D. Hamilton é um bom candidato para o título do darwinista mais gabaritado desde o próprio Darwin”.

Acontece, às vezes, de grandes homens de ciência cometerem grandes erros. Sempre agressivo e polêmico, Hamilton desenvolveu durante a década de 1990 a teoria excêntrica e idiossincrática de que o vírus HIV havia evoluído a partir de vacinas orais de poliomielite contaminadas, usadas na década de 1950.

Em 2000 ele organizou uma excursão científica ao Congo para investigar sua hipótese. Durante a viagem ele contraiu malária, que evoluiu para forma cerebral. Hamilton foi transferido de volta à Inglaterra para tratamento, mas faleceu após seis semanas de hospitalização, com uma hemorragia cerebral.

É triste e curioso que esse grande evolucionista, que tanto contribuiu para o entendimento do papel evolucionário dos parasitas, tenha sucumbido exatamente ao Plasmodium falciparum, um parasita de extraordinária relevância evolucionária, pois acompanha a humanidade desde os seus primórdios.

Hamilton foi enterrado na Inglaterra. Nisso, não foi obedecido seu desejo, expresso no artigo intitulado “My intended burial and why” [‘Meu enterro desejado e por quê’], de ser enterrado em uma floresta brasileira.


“Deixarei um pedido no meu testamento para que meu corpo seja carregado para o Brasil e para essas florestas [...] e estes grandes besouros Coprophanaeus me enterrarão. Eles penetrarão em minha carne e a comerão; na forma de cria deles e minha, escaparei da morte. […] Zumbirei no lusco-fusco como uma grande mamangaba. Serei muitos, zumbindo como um enxame de motocicletas, alçarei voo, corpo ao lado de corpo no ar, voando na selva sob as estrelas, suspensos sob esses belos élitros [asas dos coleópteros] que teremos nas nossas costas. Finalmente, também reluzirei como um escaravelho violeta sob uma pedra.”

Essa é a idéia de imortalidade de um verdadeiro evolucionista...

Outro estudo extraído daqui, ratifica a questão da vantagem da reprodução sexuada em detrimento da reprodução assexuada, conforme segue:


9.7- Você gosta de sexo? Agradeça a um parasita.

Há muito se pergunta por que o sexo se tornou tão importante, mesmo quando a vida evoluía com criaturas se reproduzindo assexuadamente.

Essas criaturas nem precisavam encontrar um parceiro. Enquanto isso pode parecer nada divertido, certamente é eficiente, fazendo com que a capacidade de reprodução de um número de organismos possa ser dobrada.

Então por que a reprodução eventualmente evoluiu para transformar o sexo como o conhecemos? Uma teoria afirma que tudo possa ter sido uma reação a parasitas. Sabe, o problema sobre a reprodução sem sexo é que você cria clones, e clones e mais clones.

Cada organismo tem o mesmo DNA, com uma ou outra mutação causada pelo tempo. Se um parasita descobrisse como explorar uma vulnerabilidade dos organismos, a espécie inteira estaria condenada.

Para resolver isso, o sexo com parceiros diferentes faz combinações de DNA e cria indivíduos geneticamente únicos.

Parasitas podem matar vários organismos, mas é provável, deste modo, que alguns indivíduos sejam menos vulneráveis ao ataque, e a espécie continua a sua vida normalmente. Tudo isso já era teorizado, mas o verdadeiro teste para qualquer teoria está na natureza.

Nos últimos dez anos, cientistas estudaram a Potamopyrgus antipodarum, uma lesma da Nova Zelândia, que tem reprodução assexuada e sexuada.

Os pesquisadores contaram a população das lesmas e o número de infecções parasitárias sofridas por cada variedade.

Os clones estavam saudáveis no início do estudo, mas se tornaram cada vez mais suscetíveis a parasitas.

Com o número de infecções por parasitas aumentando, o número de lesmas desse tipo diminui, enquanto algumas populações de lesmas do tipo clonado desapareceram completamente.

Enquanto isso, a população de lesmas com reprodução sexuada permaneceu mais estável. Isso, de acordo com os pesquisadores, é exatamente o padrão previsto pela hipótese dos parasitas.

“A ascensão e declínio dessas linhagens exclusivamente femininas foi rápida e consistente com a previsão dos parasitas sobre o sexo”, afirma Jukka Jokela, do Instituto de Ciência Aquática e Tecnologia da Suíça, que participou do estudo.

“Estes resultados sugerem que a reprodução sexual provê uma vantagem evolucionária em ambientes com muitos parasitas”, diz Jokela.

Tais resultados se somam a um estudo realizado em 2005 com leveduras, sendo que aquelas que realizavam a reprodução sexuada se saíram melhor na procriação quando estavam sem alimentos que aquelas que realizavam reprodução sem sexo.

Dessa forma este estudo vem a confirmar a teoria de que sexo representa uma grande vantagem evolutiva, seja na proteção contra parasitas, seja contra as adversidades do meio ambiente, confirmando a Teoria da Rainha Vermelha e do Bobo da Corte como não mutuamente excludentes.

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