terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

CRÍTICAS SEM FUNDAMENTO - Parte I

INTRODUÇÃO:

Um artigo denominado
NÃO, ELE VIVE PARA SEMPRE! Apresenta uma série de impropriedades e argumentos falaciosos a fim de sustentar uma posição religiosa como algo racional e superior às demais que existem.

Tal artigo comete falhas filosóficas, lógicas e científicas, porém busca de uma forma sem qualquer sentido e com argumentação paupérrima atacar a biologia evolutiva e a sua forma naturalista de pensar.

Também busca estabelecer a religião como o bastião da moralidade e da verdade acima de tudo, valendo-se de uma argumentação extremamente calcada em falácias e sofismas.

Vejamos (escritos do artigo entre colchetes):


[Sam Harris: por que ele não começa a desafiar sua própria crença com o devido rigor?

Cada vez mais autores procuram desacreditar o Cristianismo. Obviamente, não se trata de um fenômeno da pós-modernidade; entretanto, parece haver um esforço consciente para varrer a religião de Jesus, de uma vez por todas, o que ganha força com a maciça promoção da mídia. Quem está à frente de uma nova investida nesse sentido é o filósofo Sam Harris, autor de alguns trabalhos anti-cristãos. Propomos efetuar uma leitura crítica das opiniões desse autor, conforme divulgadas na edição de Outubro da revista Galileu.[1] Ao mesmo tempo, apresentamos alguns argumentos, visando validar a racionalidade do Teísmo Cristão.]

Bem, de início, a proposta do Sr. Douglas soa descabida, no que concerne a validar a racionalidade do Teísmo Cristão, o qual é tão “racional” quanto qualquer forma de teísmo ou crença religiosa que existe neste mundo.

Esta simplesmente ocorre com argumentos lógicos emprestados dos gregos, sendo que aquilo que não era interessante varreu-se para debaixo do tapete.

Todavia, para se entender o cristianismo e sua base filosófico- religiosa temos de fazer uma viagem na história do pensamento mítico, religioso egípcio, persa, babilônio, acadiano, sumeriano, cristão propriamente dito, a fim de entendermos sua base religiosa.

Em termos filosóficos, teremos de fazer uma viagem à Grécia dos pré-socráticos, de Sócrates, Platão e Aristóteles, para chegarmos ao período helenístico e ao encontro entre o pensamento grego, o judaico e o romano, a fim de traçarmos as bases para entendermos a sistematização do pensamento cristão durante a idade média, onde conheceremos dentre outros personagens Agostinho e Tomas de Aquino.

Mas isto será um tópico futuro.


[Sem fugir à regra de reportagens desta estirpe, DM levanta um questionamento sugestivo, a respeito da sobrevivência da religião, sem oferecer contraponto algum para que o leitor analise as coisas por si mesmo. Não deixa de ser curioso que Sam Harris ganhe destaque, enquanto por aqui ninguém ouve falar de Alvin Plantinga ou William Lane Craig, para ficarmos com dois exemplos. Ambos são influentes filósofos, bastante respeitados nos círculos acadêmicos. Também são cristãos militantes, que escrevem artigos e participam de debates sobre temas ligados à Religião. Por que eles sequer são citados? Talvez a pergunta, posta de modo impertinente, fosse: reproduzir, com isenção, os argumentos pró-Cristianismo ajudaria a vender revista na mesma proporção que divulgar idéias contrárias a essa religião? É muito fácil marcar gols na ausência do time adversário.
Vale lembrar que Harris é estupendamente credenciado pela revista ("[...] o ensaísta norteamericano Sam Harris, estudou filosofia em Standford e concluiu doutorado em neurociência sobre como o cérebro lida com a crença. Isso deu a ele base necessária..."); ora, se o número de PHDs é credenciamento, valeria exaltar William Dembski, preponente do Desing Inteligente: Dembski possui títulos em Matemática, Filosofia e Teologia!]


Craig é um apologista cristão cuja capacidade em falar idiotices é espantosa. Começa em tentar dar a cara de algo racional ao cristianismo. Craig se tornou um debatedor profissional cuja missão é refutar argumentos ateístas e contrários a sua fé. Porém seus argumentos, a meu ver, não passam de falácias. Vejamos:

Craig sempre está pronto a construir todo o tipo de argumento que cristãos adoram ouvir e comemorar que ele é o máximo. O debate entre ele e Ehrman demonstra claramente que Craig não é sério.

Craig procurou provar que o Cristo ressuscitou valendo-se da argumentação referente aos quatro fatos, sendo os três primeiros bíblicos e somente o último realmente histórico sobre a vida de Jesus:

Seu sepultamento por Arimatéia;
O tumulo vazio;
As visões post-mortem;
O surgimento da fé cristã.

Dessa forma, com base nestas hipóteses, Craig conclui pela ressurreição. Ou seja, ele não pensou na hipótese dos três fatos anteriores terem sido mera invenção.

Mesmo que haja menções sobre estes supostos fatos fora da bíblia, estas são questões de cunho duvidoso, no que se refere a sua veracidade, pois, ao que parece, foram acrescentadas pelos copistas, muito tempo depois.

Quanto ao surgimento da fé, não é confirmação de que Jesus ressuscitou, como a fé egípcia não confirma que O mundo dos mortos e a peleja Osíris X Apep existiu ou existe.

Quanto a Ehrman, eis sua afirmação no curso do debate: “O que nós temos são relatos escritos décadas depois dos eventos por pessoas que ouviram histórias em circulação, e não é de maneira nenhuma difícil imaginar alguém inventando esta história.”

Em parte alguma de seus livros Ehrman diz ser o sepultamento de Jesus um fato histórico e confiável.

Além disso, Craig usou uma matemática pós-apocalíptica altamente obscura (uma aplicação esdrúxula do teorema de Bayes, ao que pude entender) para provar a existência de deus (fala sério).

Sua conclusão é o argumento grego (pitagórico, platônico e aristotélico), mesclado com a argumentação ontológica de Agostinho e as 5 vias de Tomás de Aquino.

Ehrman, como bom conhecedor que é do cristianismo primitivo, foi muito profissional e acadêmico (como é do seu feitio) durante o debate.

Craig ao contrário se baseou em retórica vazia, pois expõe argumentos ao gosto da fé dos espectadores.

Craig alega em seus argumentos que a improbabilidade do genoma humano ter surgido naturalmente é ínfima e, portanto isto é uma "evidência" de que deus existe, conforme ele mesmo diz. Então pela concepção de Craig, tudo que é infimamente improvável, na natureza, se torna evidência de que deus existe.

Craig afirma que quando do Big Bang, deus colocou lá todos os meios para que a vida existisse. Ou seja, subentende-se é um brilhante retorno ao princípio antrópico (é aonde ele chega).

A argumentação de Craig é sempre a mesma: isto que está escrito não é bem isto que significa ou se você não pode explicar ou é muito improvável, então deus existe. Ou seja, Craig sabe como envolver o seu oponente em uma teia de falácias e mentiras.

Craig é especialista em rebater argumentos com respostas aparentemente lógicas, porém sem qualquer fundamento, técnica muito utilizada por cristãos. Suas falácias mais comuns são:

Apelo à autoridade; apelo à novidade; exposição ao ridículo; argumento da ignorância; argumento ad popolum; ofuscar o interlocutor com ciência e matemática mal aplicadas; falácias da parte pelo todo; apelo à emoção; bulverismo; bola de neve; circularidade; alarde à vitória, paralogismos, falácia de Hoyle, argumento ad consequentiam, dentre outras.

Quando não profere falácias ou sofismas (como no debate com Atkins), vale-se de argumentos filosóficos como se estes fossem científicos, ofuscando-os com teoria da probabilidade.

No vídeo "O Delírio de Dawkins" (aqui e aqui), as análises de Craig, são extremamente falhas.

Craig afirma que a explicação da explicação da explicação leva a uma sucessão infinita de explicações, e que por isso a ciência seria incapaz de explicar qualquer coisa. "Isso iria destruir a ciência", ele afirma.

Mas a partir de que Craig afirma que a Ciência seria destruída caso partamos para uma explicação de uma explicação?

Neste ponto, Craig ardilosamente confunde Ciência com religião, ou seja, aceita-se uma afirmação qualquer como resolução final. "Se não temos resposta para uma pergunta mais profunda, então devemos aceitar somente a explicação inicial". Isso é comum quando são apresentados quaisquer conceitos novos.

Se alguém explica determinado fenômeno, sob uma perspectiva, não significa que não exista uma explicação mais profunda para tal. Pode-se admitir que a primeira explicação é a mais profunda, mas esta será somente mera opinião.

Caso se busque uma explicação mais profunda para esta explicação, isso não implica que a ciência seja incapaz de explicar o determinado fenômeno. Mas, isso se trata do método científico, uma vez que a ciência é zetética, calcada no conceito grego de verdade denominado de alethea, no qual a verdade se assenta no conceito de evidência fática.

Diferentemente, ciências como filosofia e direito se assentam no conceito romano de véritas que se trata do poder argumentativo retórico (também oriundo da filosofia grega), bem como estabelecem dogmas como pontos de partida para determinados raciocínios. Mas mesmo assim, não dispensam esclarecimentos a fim de se conhecer como fora estabelecido o ponto de partida para o desenvolvimento da argumentação.

Quanto à religião esta se calca no conceito de revelação ou emunah, o qual, por uma questão de fé, dispensa maiores explicações de seus mistérios. Ou se crê ou não se crê nos dogmas apresentados pela crença, sem que se exija qualquer explicação sobre eles.


Assim, a visão apresentada por Craig em se dogmatizar uma explicação que deve assumir um caráter zetético, está completamente errada, pois aniquila o método científico e torna a ciência uma questão de mera argumentação e revelação, sem dar qualquer importância à força das evidências que respaldem a certeza do que se trata o fenômeno observado.

Craig sempre admite um Criador para explicar a existência de algo complexo como a melhor explicação (explicação valida por default). Assim, ele afirma que, se não existe nenhuma explicação melhor, a explicação que exclui questionamentos mais profundos é a que deve ser admitida como melhor.

Ou seja, a visão de Craig aqui respalda o repúdio ao questionamento que o DI e o Criacionismo afirmam ser irrelevante: “Quem é, quem criou e como o criador foi criado?”

Ou seja, é puro argumento da ignorância.

Sem qualquer critério, Craig assume que a mente de deus não é material, e por isso não é composta por partes, o que o levaria a idéia de simplicidade.

Ao assumir tal idéia, Craig implicitamente dogmatiza, que uma mente divina, por não ser material, não é formada por partes, ou seja, assume que a mente de deus é algo simples. Mas qual as evidências de Craig para assumir tal ponto de partida?

Craig acusa Dawkins de que ele parte da perspectiva referente a que o criador tem que ser tão complexo quanto o Universo criado, e que isso é 'claramente falso'.

Mas, segundo o que obviamente se percebe, é 'claramente falso' baseado em uma crença pessoal do próprio Craig, que no caso é a crença de que "a mente de deus é imaterial, e, portanto, não é formada por partes" que se opõe à crença pessoal de Dawkins (se ele cresse em deus) de que a mente do criador deveria ser algo complexo.

Ou seja, neste pondo a discussão não está mais no mundo científico. Aqui vale a discussão filosófica assentada na argumentação retórica. Em resumo, nem um lado nem outro chegará a uma verdade científica, pois o objeto discutido é externo ao escopo abraçado pela ciência.

Craig critica Dawkins porém cai, de forma inversa, no mesmo pecado em que condena a parte criticada.

Todavia, a conclusão firmada por Craig é no mínimo absurda. "Se a mente de deus é imaterial, logo ela não é formada por partes". Como Craig sabe que a mente de Deus é imaterial? O que o leva a concluir que o imaterial funciona (se funciona) como um todo ou é formado (se realmente é formado) inteiramente e não por partes?

Assim, nos raciocínios gerados por Craig existem premissas baseadas em pura fé particular do indivíduo, e como sendo questões de pura fé, são baseadas em absolutamente nada.

Ou seja, nada do que Craig afirma sequer possui respaldo filosófico, uma vez que apresenta o ponto estanque do dogma religioso, onde cessam as discussões; dirá respaldo científico.

Em resumo, Craig é um picareta disfarçado de intelectual, ou seja, é um mentiroso profissional que trata argumentação teológica e filosófica como se fossem científicas e pautadas pelo formalismo lógico e não pela lógica dialética.

Eu somente peço a Craig o seguinte: uma única evidência concreta de seu deus da mentira, não via argumentos filosóficos, mas sob uma visão estritamente científica.

Já Dembski, a todo custo tenta demonstrar a verdade de duas teorias completamente inconsistentes: a teoria da complexidade especificada e a lei da conservação da informação (aqui).

Ambas, indiretamente, buscam respaldar a prova do design, que é um método de demonstração de que o DI é válido por default, o que significa dizer que em não se aplicando o acaso e a TE, automaticamente, o DI está validado. Em resumo, é o mais puro argumento da ignorância.


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